quarta-feira, 29 de julho de 2009

A MANILHA VAI SECA (67): Vaza cortada

Já nem me lembro em que data se começou a dar como certa a candidatura de Pedro Santana Lopes à Câmara Municipal de Lisboa. Mas foi há muito, muito tempo…

Durante largos meses, Santana esteve, por norma, num silêncio expectante, que nada parecia condizer com a sua personalidade expansiva. Só que o menino-guerreiro não esteve a dormir e, inteligentemente, foi estudando a matéria e preparando bem a lição, sabendo que o seu adversário principal é um homem que, por ter tido direito a somente meio mandato (Costa foi eleito apenas nas Intercalares de 2007), beneficiaria ainda de um certo estado de graça.

Tal como eu previ, o primeiro debate entre ambos centrou-se na questão dos números das dívidas e gastos da edilidade alfacinha. António Costa sabia que essa arma seria fundamental para encostar Santana Lopes às cordas, mas… com alguma surpresa, o menino-guerreiro parece ter-se tornado adulto e decidiu estudar bem as contas para poder ter uma resposta e, sobretudo, capacidade de contra-ataque. Tal foi visto no debate entre ambos, mas, sobretudo, antes do frente-a-frente, com Santana a sair parcialmente ilibado da acusação de ter atirado Lisboa para a ruína. De repente, toda a gente parece ter-se esquecido de episódios infelizes como os três milhões gastos na transferência das instalações da EPUL para Alvalade, num apontamento de despesismo que me chocou. Mas os números têm esta particularidade de englobarem tudo num só bolo, generalizando e apagando factos. Santana sabe disso e jogou esta carta, cortando a vaza a um desprevenido António Costa, que também soube usar os números para ganhar popularidade entre alfacinhas e não só.

Não sei se Santana Lopes é a melhor escolha para a Câmara de Lisboa, até porque, atrás dele, vêm umas criaturas chamadas santanistas, que, em certos casos, ampliam largamente os defeitos do mestre, sem terem as qualidades deste. Mas, quanto a Santana, elogio o facto de fazer bem os trabalhos de casa, qual aluno aplicado que quer ter 20 no exame.

Posso apontar-lhe inúmeros defeitos, mas Santana é, pelo menos, um homem que gosta e conhece Lisboa. Esse amor pela cidade que pretendemos governar é, quando a mim, um dado essencial, que, infelizmente, não se encontra em muitos presidentes de Câmara. Costa também deve gostar de Lisboa, mas, desde a primeira hora, não lhe senti aquele afecto genuíno pela cidade que sinto em Santana Lopes, apesar de ambos terem nascido na Capital.

Quando se aliou a Helena Roseta e José Sá Fernandes, António Costa partiu do princípio que a luta pela edilidade alfacinha não ia ser uma questão de favas contadas. E estava certo. Santana é mais forte do que algumas das suas fragilidades dão a entender.

1 comentário:

Francisco Castelo Branco disse...

Tiveram os dois o mesmo tempo á frente da camara.
Isso faz com que seja facil para os lisboetas fazerem uma analise lucida do trabalho de ambos..

Apesar de Lopes ter deixado a camara num caos financeiro acho que Costa nao fez nada em termos de obras e melhorias da cidade
O discurso do "primeiro arrumar a casa", é para aqueles que normalmente fazem pouco

Vai ser dificil e muito renhido...