domingo, 26 de julho de 2009

A MANILHA VAI SECA (64): O significado de Miguel Vale de Almeida e Joana Amaral Dias

(Entre os dois, escolho a imagem dela - por motivos óbvios)

Os nomes que irão integrar as listas distritais do PS nas eleições para a Assembleia da República têm dado muito que falar, especialmente devido a algumas opções bastante curiosas.

Uma das escolhas mais, digamos, polémicas, foi a de Miguel Vale de Almeida, ex-dirigente do Bloco de Esquerda, antropólogo, professor universitário e conhecido activista pela defesa dos direitos de Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgéneros (LGBT), sendo ele próprio homossexual assumido. Esta escolha tem muito que se lhe diga, tanto do lado do PS, como do lado do próprio Vale de Almeida.

Em primeiro lugar, continua nítido o medo do PS em relação ao BE, esse «papão» de votos que engorda a cada eleição que disputa, sempre às custas dos socialistas. Ao «contratar» um ex-dirigente do BE, o PS faz uma micro-aproximação a este eleitorado. Mas esta escolha é ainda menos inocente quando nos lembramos das famosas declarações de Manuela Ferreira Leite em relação ao casamento entre pessoas do mesmo sexo, palavras essas que demonstram que, entre a comunidade LGBT, o PSD não deverá conseguir muitos votos. Sócrates já se apercebeu desta fragilidade do PSD e tratou de chamar a si um activista nesta área, o que lhe poderá render uns quantos votos. Neste particular, o PS tenta, nitidamente, cortar as vazas ao BE, popularmente conhecido como o grande defensor dos direitos dos LGBT (aliás, matéria que figura no programa do partido para as Legislativas). Resta saber se este antropólogo será mesmo uma mais-valia para o PS no Parlamento.

Quanto a Miguel Vale de Almeida, antes um crítico acérrimo do PS, esta integração numa lista do PS (ainda que no sétimo lugar) faz mais sentido do que se possa pensar. Acredito que esta mudança de camisola possa ter desiludido algumas pessoas, mas Miguel Vale de Almeida é homossexual e, como tal, discriminado em tudo e mais alguma coisa pela sua orientação sexual (acreditem que há alunos que não gostam dele pelo simples facto de ser gay). Por muito que o BE possa ser o partido mais genuíno na defesa dos direitos dos LGBT, a verdade é que a força política liderada por Francisco Louçã está ainda muito longe de poder formar Governo e assim levar os seus ideais avante. Já o PS está bem mais próximo de poder continuar a ser Governo a partir de Setembro e assim aprovar o casamento entre pessoas do mesmo sexo (isto se Sócrates cumprir o prometido no Congresso de Espinho). Vale de Almeida não está a ser instrumentalizado pelo PS, pelo menos da forma inocente que muitos poderiam pensar. Ele está, isso sim, a defender os seus próprios direitos - seus e de milhares de pessoas em Portugal.

Já o alegado convite a Joana Amaral Dias, a verificar-se, será algo bastante mais… grave. E cínico. E hipócrita. E sexista, diria mesmo. Sim, estamos a falar de uma ex-dirigente do BE, o que pode interessar ao PS, na medida em que será uma forma de entrar no eleitorado que, nos últimos anos, se virou para o Bloco. Mas, tirando isso, o PS tem quadros suficientes para formar listas de deputados ou governos sem ter que ir pedir batatinhas a outros partidos. Se lhe interessa Joana Amaral Dias é porque esta psicóloga e professora universitária tem aquela carinha que Deus lhe deu e que chama a atenção de muitos homens (e mulheres, se falarmos de bissexuais ou lésbicas). No fundo, se esse convite existir (o BE diz que sim, o PS nega), os socialistas estariam apenas a mostrar que estavam interessados, antes de tudo o mais, na (bonita) imagem de Joana Amaral Dias. Seria mesmo caso para se dizer que o PS queria Joana Amaral Dias por causa dos seus lindos olhos.

Se quiserem outro motivo para «contratar» Joana Amaral Dias, eu apontaria uma forma de silenciar as mordazes e insistentes críticas desta colunista aos partidos do Bloco Central e, em particular, ao PS (e ao Governo, pois claro). Mas, se existir essa justificação, temos um caso de tentativa de censura encapotada, o que ainda piora mais o quadro. Vale-nos o facto de, a ser verdade, o mesmo ter sido rejeitado pela própria visada.

Em ambos os casos, a questão da imagem que o PS passa para o eleitorado é um dado fundamental. Mas isso não surpreende num Governo liderado por José Sócrates, homem que muito se preocupa com a sua imagem (em vários sentidos), ao ponto de desleixar ao máximo a imagem dos seus pares de Governo.

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