terça-feira, 21 de julho de 2009

ESPADAS QUE PICAM (16): Pacheco ainda tem razão

No seu Abrupto, José Pacheco Pereira dedicou um post inteiro à chegada do Homem à Lua. O texto em si é excelente e, numa altura em que muitos se entretêm a criticar José Pacheco Pereira, eu opto antes por elogiar o autor de tão bom pedaço de prosa.

No seu post, Pacheco Pereira conta-nos onde estava a 20 de Julho de 1969 e os meandros da vida de um aluno de Filosofia que tentava estudar para um exame dificílimo do 1.º ano da licenciatura, no momento em que o célebre passo para a Humanidade é dado. A dada altura, diz-nos: “como era habitual na época, os professores ensinavam muito em função daquilo que tinha sido a sua tese e pouco se afastavam desse terreno que lhes era familiar”.

Pois, “como era habitual na época”.

Só na época, em 1969?

Não, infelizmente, não.

Bem sei que há docentes universitários minimamente que se esforçam por criar programas para as cadeiras que dêem aos alunos uma visão minimamente abrangente sobre um conjunto de temas. Para estes, o meu aplauso. Só que, para mal dos pecados do ensino superior, também há muitos que continuam exactamente como em 1969: Se a tese de mestrado e/ou doutoramento foi sobre a plantação de cebolas em Celorico da Beira na primeira metade do Século XX, certo é que, em toda a santa aula, a plantação de cebolas terá de vir à baila, mesmo que estejamos a falar de uma cadeira de Direito Administrativo. Conheço bastantes casos assim.

Isto ajuda a explicar porque é que, actualmente, existe a impressão que os licenciados saem de uma qualquer faculdade com níveis de conhecimento rudimentares. Com professores destes, não há milagres, mas as favas, essas, são pagas pelos estudantes e, indirectamente, pelos pais destes e pelo próprio mercado de trabalho.

Ainda há gente assim no ensino superior. Temo dizê-lo: Muita gente. O que é pena. Pacheco tem razão no que diz e teria mais razão se utilizasse um tempo verbal diferente.

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