quarta-feira, 1 de julho de 2009

A MANILHA VAI SECA (39): Em que mundo vives tu, Mariano?

Durante o 3º Fórum Espacial Português, Mariano Gago, o ilustre senhor de bigodes que tutela a Ciência, a Tecnologia e o Ensino Superior, saiu-se com um conjunto de declarações verdadeiramente lapidares: “Se hoje tivermos que fixar uma meta de cientistas na população activa, essa meta não pode ser outra que não o dobro da média europeia. Esse é o nível que atingiram o Japão e os Estados Unidos e a média de alguns dos países mais desenvolvidos da Europa. (…) Para resolver um problema, o problema não está à espera de saber se o país é grande ou pequeno. Tem de haver para aquela equipa e laboratório um número de pessoas suficiente com capacidade para resolver os problemas”.

Ao longo da vida, não poucas vezes considerei que, entre o Ensino Superior e a realidade propriamente dita, distava um mundo inteiro. Mas, sinceramente, não esperava que o homem que tutela esta área estivesse ainda mais distante da realidade.

O que sucede é que muitos cientistas portugueses são, na verdade, meros bolseiros, que investigam a troco de um punhado de moedas. Muitos não usufruem dos tradicionais direitos e regalias que são atribuídos aos demais trabalhadores (falo, por exemplo, dos comuns subsídios ou descontos para a Segurança Social), sendo relegados para a mera condição de precários. Para muitos investigadores, dar aulas é a única solução para poderem usufruir daquelas regalias mínimas que permitem a alguém fazer aquelas coisas básicas, como comprar uma casa, adquirir um carro, ter filhos… e por aí adiante. Mas quem opta pelo ensino, não pode, de forma alguma, ser cientista a tempo inteiro, porque o dia não tem 48 horas e o cérebro necessita de uns bons 480 minutos diários de descanso.

Se, em Portugal, tratamos os nossos investigadores como merda, não esperemos que haja muita gente a querer enveredar por este caminho… pelo menos, neste país cada vez mais mal frequentado.

Por isso, Mariano, se queres mesmo ter muitos cientistas em Portugal, experimenta, antes de tudo o mais, viver uns seis meses a recibos verdes, com um ordenado substancialmente inferior àquele que auferes pelo teu cargo e sem as devidas regalias que te atribuem. Depois, logo conversamos…

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