sexta-feira, 31 de julho de 2009

A MANILHA VAI SECA (69): Arroz de empato (técnico, pois claro)

A estranha expressão “empate técnico” continua bastante em voga, embora, na verdade, a mesma tenha um significado algo vago. Por norma, em sondagens eleitorais, costuma falar-se em empate técnico quando, estatisticamente, o erro máximo da amostra é superior à diferença percentual entre dois candidatos. Só que uma sondagem que inclui indecisos (para além de votos brancos e nulos) parte de uma base que, no dia das eleições, não tem representação, já que a indecisão não tem forma de ser exprimida em termos de votos - pode, quanto muito, resultar em abstenção.

De acordo com a mais recente sondagem RR/SIC/Expresso (feita pela Eurosondagem), esta situação aplica-se, actualmente, ao PS (33 por cento das intenções de voto) e ao PSD (31,1 por cento), para uma margem de erro de 3,04 por cento. Se não leram ainda os números da sondagem, refiro já que o BE aparece com 10 por cento, a CDU com 9,4 e o CDS-PP com 8,5. O número de indecisos anda pelos 22,8 por cento.

Independentemente do dito empate técnico, e descontando os possíveis erros subjacentes a qualquer sondagem, parecem bastante óbvias algumas tendências. Em primeiro lugar, estas eleições vão ser disputadas voto a voto, sendo que qualquer escândalo, declaração mal medida, incidente ou descoberta jornalística pode fazer pender a balança para um dos lados. Por outro lado, parece notório que os dois partidos do Bloco Central poderão não atingir 70 por cento dos votos, havendo também alguma dispersão pelas outras forças com representação parlamentar. Em termos de estabelecimento de coligações e acordos, as coisas podem complicar-se bastante, excepto se houver mesmo uma reedição do Bloco Central (cenário que, bem vistas as coisas, não pode ser completamente descartado, como já disse várias vezes).

No entanto, relembro que, nas Legislativas, o que conta mesmo é o número de deputados eleitos pelos vários círculos, através do Método d’Hondt. Isto explica porque é que há maiorias absolutas com menos de 50 por cento dos votos, embora, neste momento, essa hipótese pareça remota.

Seja como for, esta aproximação entre PS e PSD deverá, por um lado, produzir uma campanha extremamente animada, mas, por outro lado, deverá conduzir a trocas de insultos e acusações de parte a parte que nada dignificarão a política portuguesa. São também esperados muitos escândalos descobertos, por acaso, nesta altura, embora se reportem a factos acontecidos há alguns anos. Vai haver muita lavagem de roupa suja e uma crispação ideológica entre supostos bons e alegados maus. Teremos, igualmente, muito ruído por nada, como sucedeu no caso do convite a Joana Amaral Dias pelo PS, que, apesar de ter feito as delicias de comentadores e bloguistas, mais não foi do que um chinfrim dos diabos por nada.

As próximas semanas prometem muito barulho e uma ou outra ideia de jeito. Os debates poderão ter algum peso no resultado final de 27 de Setembro, mas tenho cá uma bola de cristal que me diz que serão os golpes baixos a definir quem vence e quem perde. Quanto às sondagens, depois das Europeias, vão deixar de influenciar o eleitorado da forma que o faziam anteriormente.

quinta-feira, 30 de julho de 2009

A MANILHA VAI SECA (68): Um metro de puro nojo

Quase nem nos apercebemos, mas as redes de transportes públicos, para além de servirem directamente as populações, são também um símbolo de desenvolvimento e de orgulho para uma cidade. Aliás, isto é de tal modo verdade que, durante largos anos, havia um complexo de superioridade de Lisboa em relação ao Porto (e de inferioridade no sentido inverso) por causa do metropolitano.

A secretária de Estado dos Transportes, Ana Paula Vitorino, tem sido o rosto do Governo no que toca à expansão das redes de metropolitano. Está presente em todos os anúncios oficiais e, discretamente, realiza as suas acções de propaganda a favor do Governo, mostrando como este Executivo é moderno e evoluído, apostando na expansão do metropolitano, esse símbolo do urbanismo e da modernidade.

Só que, meus amigos, esta Manilha vai seca e os trunfos que saltam são só duques, ternos e quadras.

Lembro-me de, no início de 2008, Ana Paula Vitorino ter anunciado a extensão da Linha Azul do Metropolitano de Lisboa até à Reboleira, num evento onde aproveitou também para falar da futura linha de metropolitano de superfície a unir os concelhos da Amadora e de Odivelas, ambos já servidos pelo metro alfacinha. Curiosamente, neste evento, ninguém mencionou a questão das datas, pelo que posso ter a esperança de que esta linha possa vir a ser utilizada pelos meus netos… que só nascerão daqui a muitos, muitos anos (ainda sou demasiado novo para ser avô).

Mais recentemente, veio o anúncio da chegada do metropolitano ao concelho de Loures. Na verdade, tal já estava previsto há muito tempo, uma vez que a expansão da Linha Vermelha entre o Oriente e o Aeroporto irá dar origem às estações da Encarnação (em Lisboa) e de Moscavide (que já pertence a Loures). Mas, neste caso, o anúncio referia-se à chegada da Linha Vermelha a Sacavém e da Linha Amarela ao Infantado… em 2014 e 2015, respectivamente. Ou seja, mesmo que o próximo Governo seja do PS, este não verá a conclusão das duas linhas acima citadas.

E já que o metro anda nas horas, é chegada a vez de Ana Paula Vitorino (sempre ela) anunciar que a Linha Azul vai atingir o Hospital Amadora-Sintra em 2015, num projecto que vai dar também origem às estações da Atalaia e Amadora-Centro.


Ainda não perceberam onde quero chegar, pois não?

Ora bem, vejamos quem são os edis dos municípios abarcados por todos estes projectos. Na Amadora, reina um socialista, Joaquim Raposo. Em Loures, é rei e senhor o vaidoso do bigode lustroso, Joaquim Teixeira, também ele do PS. Já em Odivelas, temos como edil uma senhora, Susana Amador… que, surpresa, é do PS. Ou seja, temos muitas obras do futuro para beneficiar concelhos geridos por socialistas, mas ninguém equaciona, em tempo algum, expandir o Metropolitano de Lisboa para o concelho de Sintra, que bem pode ser o mais populoso do país, mas que tem de pagar pelo facto de ser gerido por um social-democrata: Fernando Seara. Mete nojo, não mete?

Mas para que não seja só o PS a meter nojo, aqui vai outra história deste género. Já que falamos de Fernando Seara, convém lembrar que este careca sorridente tem o curioso hábito de favorecer certas freguesias em detrimento de outras. As outras, as menosprezadas, são as que se atreveram a votar no PS, quando, em Sintra, quem manda é a coligação PSD/CDS-PP/PPM/MPT. Lembram-se da escola básica em Monte Abraão cujo tecto ruiu a meio de uma aula? Pois é, a escola tinha um ano (sim, leram bem) e foi o único investimento visível deste executivo camarário numa freguesia onde a presidente da Junta, a socialista Maria de Fátima Campos, é totalmente hostil a Fernando Seara.

Percebem agora porque é que digo que sinto nojo dos partidos? Por muito que haja pessoas de valor aqui e ali, as lógicas de conquista de poder acabam por engolir as poucas coisas boas que vão sendo feitas, atirando os cidadãos para um pântano de incredulidade e nojo.

NÃO JOGAS COM O BARALHO TODO (1): A verdade sobre Sócrates

Com esta história de dar 200 euros por cada bebé, descobrimos todos que, afinal, José Sócrates não nos quer foder. Quer-nos a foder.

PENSAMENTOS DO BURRO EM PÉ (14): Mentira

“O sucesso é algo que me estará, para todo o sempre, vedado. Falta-me o dom da mentira.”

Dr. Mento

ESPADAS QUE PICAM (18): A verdade é um pouco assim

Diz-se, popularmente, que, em muitas áreas, o que é verdade hoje, pode deixar de sê-lo amanhã. O estranho regresso de Michael Schumacher à Fórmula 1 (no lugar do acidentado Felipe Massa) é bem um desses casos levados à letra.

No dia 28 de Julho, Willi Weber, manager do heptacampeão do Mundo, disse taxativamente ao The Daily Mail (traduzido): “Quem quer que se sente no carro [de Felipe Massa] na próxima corrida em Valência, não será Michael Schumacher. Tenho 100 por cento de certezas. Tenho 200 por cento de certezas”.

Pois.

Um dia depois, a Ferrari anunciou oficialmente que Michael Schumacher seria o substituto de Felipe Massa enquanto este último não estivesse em condições de voltar a pilotar, sendo que o regresso do piloto alemão teria lugar já no GP da Europa, a disputar na pista citadina de Valencia. Com que então, “200 por cento de certezas”

Na política, nos negócios, no desporto e em muito mais áreas, a verdade é, cada vez mais, algo muito relativo. Mente-se por tudo e por nada, mente-se com a mesma naturalidade com que se bebe um copo de água. Mas ninguém assume que mente: todos dizem que as circunstâncias é que mudaram.

Pois.

Circunstâncias.

Com o Acordo Ortográfico, “circunstâncias” até poderia passar a sinónimo de “mentira”. E “verdade” seria sinónimo de “Abominável Homem das Neves” - todos já ouviram falar de ambos, mas ninguém confirma que um ou outro exista.

Depois deste episódio, olho para Manuela Ferreira Leite e para a sua suposta política de verdade e penso que das duas uma: ou a mulher mente ainda mais do que os outros todos juntos ou é mesmo uma ave rara no mundo da política (e no mundo em geral). Vai na volta e até nem precisaremos de muito tempo para saber… pois, a verdade. Sim, essa mesma.

quarta-feira, 29 de julho de 2009

A MANILHA VAI SECA (67): Vaza cortada

Já nem me lembro em que data se começou a dar como certa a candidatura de Pedro Santana Lopes à Câmara Municipal de Lisboa. Mas foi há muito, muito tempo…

Durante largos meses, Santana esteve, por norma, num silêncio expectante, que nada parecia condizer com a sua personalidade expansiva. Só que o menino-guerreiro não esteve a dormir e, inteligentemente, foi estudando a matéria e preparando bem a lição, sabendo que o seu adversário principal é um homem que, por ter tido direito a somente meio mandato (Costa foi eleito apenas nas Intercalares de 2007), beneficiaria ainda de um certo estado de graça.

Tal como eu previ, o primeiro debate entre ambos centrou-se na questão dos números das dívidas e gastos da edilidade alfacinha. António Costa sabia que essa arma seria fundamental para encostar Santana Lopes às cordas, mas… com alguma surpresa, o menino-guerreiro parece ter-se tornado adulto e decidiu estudar bem as contas para poder ter uma resposta e, sobretudo, capacidade de contra-ataque. Tal foi visto no debate entre ambos, mas, sobretudo, antes do frente-a-frente, com Santana a sair parcialmente ilibado da acusação de ter atirado Lisboa para a ruína. De repente, toda a gente parece ter-se esquecido de episódios infelizes como os três milhões gastos na transferência das instalações da EPUL para Alvalade, num apontamento de despesismo que me chocou. Mas os números têm esta particularidade de englobarem tudo num só bolo, generalizando e apagando factos. Santana sabe disso e jogou esta carta, cortando a vaza a um desprevenido António Costa, que também soube usar os números para ganhar popularidade entre alfacinhas e não só.

Não sei se Santana Lopes é a melhor escolha para a Câmara de Lisboa, até porque, atrás dele, vêm umas criaturas chamadas santanistas, que, em certos casos, ampliam largamente os defeitos do mestre, sem terem as qualidades deste. Mas, quanto a Santana, elogio o facto de fazer bem os trabalhos de casa, qual aluno aplicado que quer ter 20 no exame.

Posso apontar-lhe inúmeros defeitos, mas Santana é, pelo menos, um homem que gosta e conhece Lisboa. Esse amor pela cidade que pretendemos governar é, quando a mim, um dado essencial, que, infelizmente, não se encontra em muitos presidentes de Câmara. Costa também deve gostar de Lisboa, mas, desde a primeira hora, não lhe senti aquele afecto genuíno pela cidade que sinto em Santana Lopes, apesar de ambos terem nascido na Capital.

Quando se aliou a Helena Roseta e José Sá Fernandes, António Costa partiu do princípio que a luta pela edilidade alfacinha não ia ser uma questão de favas contadas. E estava certo. Santana é mais forte do que algumas das suas fragilidades dão a entender.

JOKER (11): Poesia popular

Joana, boa moça e moça boa,
De olho azul, de cor de mar,
Deixa todo o homem à toa,
Deixa todo o homem a sonhar.

Joana, boa moça todos os dias,
Tinha dono, era a moça do Xico,
Homem sem demais alegrias,
Douto pobre, mas quase rico.

Certo dia, no meio da praça,
Passou um velho de Lisboa.
E olhando ele p’ra tanta graça,
Disse então à boa moça boa:

“Levava-te daqui para fora,
Fazia de ti mais que princesa,
Fujamos, sem mais demora,
Que a tenho mais que tesa!”

Foi-se a Joana com o idoso,
Ficou o Xico a esbracejar,
Mas um dia, volta ao pouso
Joana dos olhos cor de mar.

Gritou então o Xico irado:
“Não mais serás dirigente!”
Ficou ele ainda mais amuado,
Ficou ela mais longe da gente.

Só que Joana, mui pecadora,
Tinha mais um pretendente.
Era filósofo de hora a hora,
Era mentiroso indulgente.

Sorrindo para a moça do Xico,
Veio ele e então questionou:
“Pois que sou um homem rico,
O que a ti, bela Joana, te dou?”

“Vai-te daqui, filho de Barrabás,
Leva promessas e palavrinhas,
Sois corno e mau, sois Satanás,
Que cose seu pano com más linhas!”

Foi então a arrependida Joana
Relatar tudo a seu marido,
Que logo pegou na sua catana,
Dizendo: “Ele está mas é fodido!”

Houve sangue, houve lamentos,
Mas o filósofo até não morreu.
Virou-se ele para outros intentos
E nos braços de Miguel adormeceu.


(Está uma bela merda, eu sei)

terça-feira, 28 de julho de 2009

JOKER (10): O quinto poder (não levar a sério, por favor)

Quero fazer um novo blogue.

Quero fazer um blogue de apoio.

Quero fazer um blogue de apoio a qualquer coisa.

Já há blogues de esquerda, de direita, de centro, de extrema-direita, de extrema-esquerda.

Falta um blogue de extremo centro.

Faltava, porque vou criar um.

Um blogue de apoio ao movimento de extremo centro.

Que vai ser Governo.

Um dia destes.

Crio um perfil.

Como sou (bem, fui) jornalista, tenho credibilidade.

Todos os jornalistas têm credibilidade.

Todos os jornalistas têm um blogue.

Todos os jornalistas criticam a falta de credibilidade dos outros jornalistas que têm um blogue.

E eu passo a ser jornalista, com blogue, com credibilidade e com acusações de falta de credibilidade.

Crio o blogue.

Posto umas larachas e, em seguida, vou aos blogues de esquerda, de direita, de centro, de extrema-direita e de extrema-esquerda insultar toda a gente.

Em seguida, os bloguistas dos blogues de esquerda, de direita, de centro, de extrema-direita e de extrema-esquerda vêm ao meu blogue insultar-me e chamar-me de cabrão para baixo.

Depois, falo um post a queixar-me dos insultos de que fui alvo e de como os bloguistas dos blogues de esquerda, de direita, de centro, de extrema-direita e de extrema-esquerda são gente sem sentido democrático.

Entretanto, os bloguistas dos blogues de esquerda, de direita, de centro, de extrema-direita e de extrema-esquerda voltam ao meu blogue para dizerem que eu é que não tenho sentido democrático, que sou um fascista, um salazarista, um comunista, um motocilista e mais uns istas.

Amuo.

Posto mais umas larachas e, em seguida, vou aos blogues de esquerda, de direita, de centro, de extrema-direita e de extrema-esquerda insultar toda a gente.

As visitas ao meu blogue passam a fasquia de um milhão.

A Visão faz uma reportagem sobre o meu blogue.

A Sábado faz uma reportagem sobre o meu blogue.

Os blogues de esquerda, de direita, de centro, de extrema-direita e de extrema-esquerda dizem que a Visão e a Sábado não têm credibilidade.

A SIC descobre que existem blogues.

A SIC faz uma reportagem sobre a blogosfera e fala de mim.

Passo a barreira dos 10 milhões de visitas.

Passo a ter patrocínios da Sumol, EDP-Energias Renováveis, Vodafone, Galpenergia, Nissan, BES e Escapes Caravalho.

Ganho dinheiro.

Vou de férias para a Polinésia Francesa.

Faço um post sobre as minhas férias na Polinésia Francesa.

Os blogues de esquerda, de direita, de centro, de extrema-direita e de extrema-esquerda insultam-me por passar férias na Polinésia Francesa.

Vou aos blogues de esquerda, de direita, de centro, de extrema-direita e de extrema-esquerda insultar toda a gente que não passa férias na Polinésia Francesa e que tem inveja de quem tem bom gosto o suficiente para passar Férias na Polinésia Francesa.

Sou convidado para uma BlogConf.

Masturbo-me dez vezes depois de receber o convite.

Vejo o Sócrates em carne e osso.

Faço-lhe perguntas e ele responde-me.

Ele tem medo de mim.

E não se atreve a criticar-me.

A não ser quando está no seu blogue, a coberto de um pseudónimo.

Coisa que não uso, pois claro.

Sou importante.

Sou mais um na blogosfera.

SOU MEMBRO DO QUINTO PODER.

Ámen.

PENSAMENTOS DO BURRO EM PÉ (13): O bom e o mau

“Eu é que sou bom, tu é que és mau. Será sempre assim.”

Dr. Mento

A MANILHA VAI SECA (66): Estou triste

Sim, estou triste. Mas não estou bem triste. Triste é uma palavra forte. Estou, talvez, decepcionado. Muito decepcionado. Mesmo. Estou tão decepcionado (e, quiçá, triste) que sinto ganas de matar aquele velhaco barrigudo a golpes de catana.

Eram altas as minhas expectativas em relação ao discurso de Alberto João Jardim em Chão da Lagoa, mas o gordo mal-encarado não deve ter bebido o suficiente e fez um daqueles discursos… bem, fez um discursozinho que poderia ter sido feito por um qualquer. Essa de dizer que quem não cumpre promessas não pode governar Portugal seria digna de uma Manuela Ferreira Leite. Banal, banal, banal. O velho está a ficar velho. Já não diz duas de jeito. Ou melhor, diz. O que é grave. É o Alberto João Jardim, pá.

Onde é que estão os cubanos colonialistas do continente? Onde é que estão os filhos-da-puta dos jornalistas? Onde é que está o Marítimo que tinha o pássaro na mão e deixou-o foder? Onde é que estão o regabofe e o ramerrame dos jacobinos de Lisboa? Onde é que estão os fascistas vestidos de socialistas, que roubam milhões e milhões de euros à Madeira? Onde é que está a região autónoma comparada a uma prostituta cara e de gostos finos que alguém tem de manter?

Um discurso de Alerto João Jardim em Chão da Lagoa sem coisas destas, não pode ser um discurso de Alberto João Jardim. Já imaginaram Jerónimo de Sousa a discursar no final do Avante! sem utilizar a expressão “as malfeitorias deste Governo”? Não, não pode ser.

Bem, no meio de tanto mais-do-mesmo, valha-nos o PND-Madeira e o seu dirigível, abatido a tiros de caçadeira. Mas preferia que tivesse sido o próprio Jardim a fazê-lo, empunhando a espingarda em palco diante das câmaras de televisão. Esse, sim, seria o Jardim que todos (julgamos que) conhecemos: malvado e sem respeito pelos outros, boçal e violento, cruel e impiedoso, malcriado e antidemocrático.

Alberto João Jardim gastou os cartuchos todos que tinha antes do Chão da Lagoa. Está velho, acabado, gasto. Diz coisas que não chocam, que não ferem, que não aviltam, que não indignam (muito). Parece um político igual aos outros, um mangas-de-alpaca da pseudo-modernidade, daqueles que gosta de citar Dostoievski e que promete mundos, mas que não tem fundos para cumprir promessas.

Reforma-te quanto antes, Alberto. Um dia destes, estás a prometer 150 mil novos empregos.



Nota: Alberto João Jardim deve andar a ler o ONZE DE ESPADAS. Depois de eu ter dito que as palavras dele em Chão da Lagoa não tinham qualquer real importância, o velho decidiu também não dar importância às suas palavras em Chão da Lagoa. É um dia triste para a stand-up comedy nacional. Estou de luto.

Nota II: Como é óbvio, este post não é para ler cem por cento a sério.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

JOKER (9): O programa secreto do PSD para as Eleições Legislativas (em rigoroso exclusivo planetário)

O ONZE DE ESPADAS teve acesso ao programa eleitoral que o PSD vai apresentar para as eleições de 27 de Setembro. É bem provável que o programa que Manuela Ferreira Leite mostre aos portugueses seja um pouco diferente, mas uma série de fontes anónimas dentro do PSD mostrou ao Dr. Mento o verdadeiro programa eleitoral social-democrata, o qual sairá do papel para a prática se as hostes laranja conseguirem vencer as Legislativas.

Aqui vai o programa (em rigoroso exclusivo em toda a Via Láctea e, quem sabe, em toda a Europa):




1 - Imediatamente após a tomada de posse do novo Governo, a democracia será suspensa por seis meses, para que possam ser realizadas as necessárias reformas à evolução do país.

2 - Findos os seis meses de suspensão da democracia, a citada suspensão será revogada até que estejam em prática todas as reformas necessárias à evolução do país ou até que a Dra. Manuela Ferreira Leite sofra grave um acidente com uma cadeira de lona enquanto trata dos pés.

3 - Todos os homossexuais (que passarão a ser denominados de «panascas» ou «camionistas», consoante estejamos a falar de machos ou fêmeas) serão enviados para as Berlengas sem alimento e sem direito à obtenção de géneros vitais. Com esta medida, cria-se um local onde os panascas e as camionistas poderão viver em paz e sossego, longe da vista das pessoas de bem, que desejam procriar e encher Portugal de criancinhas.

4 - Todos os ucranianos e cabo-verdianos residentes em Portugal, independentemente da sua orientação sexual, serão igualmente enviados para as Berlengas, onde terão a seu cargo a construção das necessárias infra-estruturas para tornar a ilha habitável. Também não terão direito a víveres ou à obtenção destes.

5 - Todos os membros e simpatizantes da Quercus serão igualmente enviados para as Berlengas, depois de a associação ambientalista vir a público denunciar o grave crime ambiental que o Governo pretende cometer naquele arquipélago que se avista de Peniche. Os membros e simpatizantes de organizações subversivas como a Amnistia Internacional, a Solidariedade Imigrante ou a SOS Racismo serão para lá enviados em seguida. Alimentos e bens de primeira necessidade não lhes serão facultados, dado que o controle das finanças públicas não permite tais luxos.

6 - Vinte mil funcionários públicos serão executados em praça pública, de modo a reduzir a despesa do Estado e a controlar o défice das finanças públicas, seguindo à risca as directrizes do Banco Central Europeu.

7 - Um decreto ministerial decretará que o PS deixou o país de tanga. Um segundo decreto, que também não necessitará de ser apreciado na Assembleia da República (afinal, a democracia deverá estar suspensa), decretará o fim da crise.

8 - O companheiro José Manuel Durão Barroso será reeleito para a presidência da Comissão Europeia. Caso algumas nações ou forças políticas pretendam apresentar um candidato alternativo, o Estado português lança uma ameaça: enviar o Alberto João Jardim para o Parlamento Europeu.

9 - Com excepção do Governo e da Presidência da República, todos os demais serviços do Estado serão privatizados, sendo que os funcionários públicos que não forem absorvidos pelas novas entidades privadas deverão ser enviados para as Berlengas, ou, em alternativa, executados a golpes de machado e usados como fertilizante.

10 - As verbas angariadas com a privatização dos serviços do Estado serão usadas para apoiar a Região Autónoma da Madeira e as piquenas e médias empresas.

11 - O Ministério da Cultura será extinto. Não faz cá falta. Cultura é coisa de panascas e camionistas.

12 - As verbas anteriormente destinadas à Cultura serão usadas para apoiar a Região Autónoma da Madeira e as piquenas e médias empresas.

13 - A interrupção voluntária da gravidez vai voltar a ser ilegalizada, como forma de promover os apoios a clínicas espanholas e inglesas, que, recorde-se, são também piquenas e médias empresas.

14 - O divórcio será ilegalizado. Anteriores divórcios realizados serão considerados nulos à luz de Deus e do Espírito Santo. Ámen.

15 - Os partidos com a seta virada para o céu ou com as setas viradas para Deus poderão receber donativos em dinheiro vivo sem qualquer registo da sua proveniência. As piquenas e médias empresas poderão, se assim o entenderem, apoiar estes mesmos partidos com contribuições em cheque, dinheiro vivo ou por transferência bancária; também são aceites géneros, designadamente viaturas de cor preta.

16 - Serão dados apoios excepcionais às piquenas e médias empresas.

17 - Um decreto proibirá o investimento público. A construção de uma rede ferroviária de alta velocidade, de uma nova travessia sobre o Tejo ou de um novo aeroporto de Lisboa será concessionada a piquenas e médias empresas através de concurso público. As piquenas e médias empresas que contribuírem para o prestimoso funcionamento dos partidos com as setas viradas para o véu ou para Deus terão acesso a vencer os supracitados concursos públicos através do ajuste directo.

18 - Se o PSD for obrigado a fazer uma coligação com o CDS-PP, todos os estudantes de todos os graus de ensino serão obrigados a cantar o hino nacional antes do início das actividades lectivas de cada dia e antes mesmo de darem duas arrochadas na professora por causa de um telemóvel. Findo o cântico, serão igualmente obrigados a proferir, em voz convicta, a seguinte saudação: “VIVA PORTUGAL, VIVAM AS PIQUENAS E MÉDIAS EMPRESAS, VIVA!”

O EDITOR VAI A JOGO (11): Sem partidos, sem inteiros

Com a aproximação das Eleições Legislativas e Autárquicas, temos assistido ao nascimento de novos blogues de índole política, por norma, a favor ou contra este ou aquele partido. Muitos desses blogues contam, entre os seus colaboradores, com membros de outros blogues bastante conhecidos, que assim encontram espaço para discorrerem sobre as suas ideias ou filiações políticas.

Nada contra. A Internet é um espaço de liberdade e a Constituição dá-nos espaço para sermos acérrimos defensores de quem bem entendermos e de quem acharmos que é a melhor opção para conduzir os destinos de Portugal e dos seus órgãos autárquicos. Se feito com ponderação e educação, o debate de ideias pode ajudar-nos a perceber melhor as ideias de cada um dos partidos (e respectivos candidatos) que irá a votos em Setembro e Outubro. A todos estes blogues (sou visitante de muitos deles), desejo a melhor sorte do Mundo e muitos e bons posts.

Contudo, numa altura em que o debate político e a defesa das respectivas damas vai tornar-se cada vez mais aceso, convém fazer um esclarecimento quanto ao ONZE DE ESPADAS: Esta mesa não apoia quem quer que seja. Aqui, todos estão sujeitos ao escrutínio do Dr. Mento, que elogia, critica e analisa quem bem entender e quando bem entender, sem distinções partidárias. Como já o disse anteriormente, José Sócrates, Manuela Ferreira Leite e os demais líderes partidários são pessoas, são humanos, têm virtudes e defeitos. Interessa-me, sobretudo, analisar essas mesmas virtudes e defeitos, deixando a escolha final a cada um de vós.

Esclareço igualmente que não tenho qualquer filiação partidária, apesar de, em temos, ter estado filiado num dado partido (não interessa qual). Com o passar do tempo, desiludi-me com esse mesmo partido e, em grande medida, com muitas das pessoas que dominam a actual vida política portuguesa, as quais fazem questão de deixar na sombra gente de muito, muito valor. Além do mais, sou uma pessoa de princípios e estes incluem valores como a liberdade (de acção e de pensamento), os direitos humanos, a solidariedade e o progresso social, económico, tecnológico e ambiental. Bem sei que quase todos os partidos andam com estes valores na ponta da língua, mas também sei que muitos são metidos na gaveta logo na primeira oportunidade.


Nota final: Entretanto, reparei que muitos dos meus últimos posts têm andado em torno do PS (e nem sempre de forma muito elogiosa). Que não seja por isso. Sai um JOKER para o PSD. Há golpes de espada para uns, há golpes de espada para todos.

PENSAMENTOS DO BURRO EM PÉ (12): Ego

“Há pessoas tão egocêntricas, que, quando constantemente criticadas por tudo e todos, aceitam isso como uma conspiração invejosa contra a sua brilhante alma.”

Dr. Mento

JOKER (8): Senhor deputado, o senhor deputado sabe, senhor deputado, que eu também vou ser senhor deputado, senhor deputado

Minhas amigas e meus amigos, minhas senhoras e meus senhores.

Venho, por esta forma, comunicar-vos, a título puramente oficial e em primeiríssima mão, que um ilustre partido político português, cujo nome não vou revelar, endereçou, à minha douta pessoa, um honroso e mui estimado convite para integrar as suas listas de candidatos a deputados à Assembleia da República. Trata-se, sublinho, de um lugar perfeitamente elegível, com a ressalva de, caso o partido em questão vença as Eleições Legislativas, eu poder receber novo convite, desta feita para ocupar um qualquer lugar no novo Governo que nascerá dos resultados do sufrágio popular de 27 de Setembro.

Perante tão elogioso convite endereçado à minha genial, divina e modesta pessoa, confesso-vos que, numa primeira fase, me senti inclinado a declinar tão maravilhosa proposta, ainda para mais, feita por um partido de enormes pergaminhos na defesa da democracia e do bem-estar dos portugueses. Bem sei que a deusa Fortuna está cega e surda para as minhas preces e que a minha alma se arrasta por centros de emprego fétidos e imundos, mas senti que, em Portugal, haveria gente ainda menos qualificada do que eu para ocupar um lugar na Assembleia da República, o local onde se sentam os representantes da vontade do povo. Contudo, deitando ambos os joelhos por terra, um ilustre representante do citado partido implorou para que aceitasse. “Tu és o mais douto, os mais brilhante, o mais sábio de entre todos os que se julgam doutos, brilhantes e sábios”, disse-me o dirigente, com a face molhada em lágrimas.

Decidi então aceitar. Mas jurei a mim mesmo que, nos próximos meses, iria trabalhar com afinco para estar ao nível dos deputados da Nação, o que, sei-o bem, me obrigará a um substancial esforço até poder estar entre os piores. E para vos provar que estou mesmo apostado em me tornar um verdadeiro eleito digno de ter o meu lugar no célebre hemiciclo do Palácio de São Bento, anuncio, desde já, que, no próximo mês de Agosto, ao invés de ir a banhos, irei estar deitado numa mesa de operações para proceder à amputação de metade do meu encéfalo e à remoção integral da minha coluna vertebral.

Diante do espelho, ensaio já as minhas falas.

- Se o meu partido perder as Legislativas e for para a oposição: “Senhor primeiro-ministro, o senhor primeiro-ministro sabe, senhor primeiro-ministro, que o senhor primeiro-ministro está a mentir, senhor primeiro-ministro, porque aquilo que o senhor primeiro-ministro disse, senhor primeiro-ministro, não é verdade, senhor primeiro-ministro. O senhor primeiro-ministro disse uma coisa na semana passada, senhor primeiro-ministro, mas agora, senhor primeiro-ministro, o senhor primeiro-ministro vem dizer justamente o contrário, senhor primeiro-ministro. Em que é que ficamos, senhor primeiro-ministro?”

- Se o meu partido vencer as Legislativas e formar Governo: “Senhor deputado, o senhor deputado sabe, senhor deputado, que aquilo que o senhor deputado diz agora, senhor deputado, é o contrário daquilo que fez quando o seu partido estava no Governo, senhor deputado. Um dia, senhor deputado, o senhor deputado diz uma coisa, senhor deputado, mas, quando são os outros a dizer o mesmo, senhor deputado, o senhor deputado vem e diz o contrário, senhor deputado. O senhor deputado, senhor deputado, é que está a mentir aos portugueses, senhor deputado, e o senhor deputado sabe, senhor deputado, que não está a dizer a verdade, senhor deputado. Porque este Governo, senhor deputado, é um Governo que faz, senhor deputado, ao contrário do seu Governo, senhor deputado, que deixou o país de tanga, senhor deputado e o senhor deputado faz essa cara mas sabe que é verdade, senhor deputado.”

Contudo, quero aqui salientar que, apesar de ter aceite um convite que me irá guindar para a Assembleia da República e, quiçá, até mesmo para um cargo ministerial, jamais deixarei de ser a mesma pessoa que todos conheceram. Jamais me deixarei corromper, seja no que for, e sempre pautarei a minha acção e palavras, seja neste blog, seja no dia-a-dia, pela isenção, pela justiça, pela verdade. A propósito, já vos disse que ainda está para nascer um primeiro-ministro que faça mais por Portugal do que José Sócrates?

domingo, 26 de julho de 2009

CARTAS DO QUINTO NAIPE (4): Nós e o Universo

(Mais uma dose de nostalgia pura)

Desconheço que sentimento de nostalgia se terá apoderado de mim, mas o que é certo é que, nos últimos tempos, andava dominado por um desejo irresistível de voltar a abrir um livro que, de certa forma, marcou a minha infância. Confesso que o julgava perdido para sempre e até já tinha equacionado a possibilidade de procurar um exemplar nalgum alfarrabista ou, quem sabe, no e-bay, onde tudo se compra e tudo se vende (menos a própria mãe). Felizmente, o dito livro não estava perdido e, quase por milagre, encontrei o meu «menino» na casa da minha mãe - e sem qualquer esforço.

O título completo é pomposo: Nós e o Universo - Da imensidão do espaço aos píncaros das montanhas às entranhas da Terra e ao fundo dos mares. O título original, em inglês, não é menos simples: About the big sky, about the high hills, about the rich earth ... and the deep sea (só encontrei a capa deste, mas a da edição portuguesa é bastante semelhante). O autor é o Joe Kaufman e a edição original é de 1978; em Portugal, a Verbo editou-o somente em 1982.

Muitos foram os livros infantis que me passaram pelas mãos, mas este foi dos que mais gostei. As informações eram bastante completas para um livro infantil (apesar de algumas, como as referentes a Plutão, estarem já desactualizadas), os textos eram apelativos, os conteúdos eram ricos e interessantes e as ilustrações bem simpáticas (os bonecos estavam sempre a sorrir, o que ajuda a cativar qualquer um).

Os planetas, as estrelas, o Sol, a Lua, a Gravidade, o ar, o tempo, as nuvens, os relâmpagos, os trovões, os tornados, os furacões, as tempestades de neve, as estações do ano, o clima, as planícies, os montes, os planaltos, as montanhas, os desertos, as árvores, as florestas, as selvas, as zonas polares, os continentes, o subsolo, as grutas, as rochas, os minerais, os cristais, a água, os oceanos - tudo isto e muito mais estava lá, bem explicado e de forma a cativar a criança que há muito deixei de ser (ou não). Brilhante, no mínimo.

Não sei se, hoje em dia, já não se fazem livros assim. Quero acreditar que sim, que o meu filho também terá algo como um Nós e o Universo actualizado e adaptado ao século XXI. Se não tiver, o pai empresta-lhe o dele.

PENSAMENTOS DO BURRO EM PÉ (11): Insegurança

“Somos obrigados a colocar grades nas janelas e a fazer das nossas casas prisões, apenas porque a justiça não mete na prisão aqueles que nos obrigam a meter grades nas janelas.”

Dr. Mento

A MANILHA VAI SECA (65): Uma simples curiosidade a propósito de nomes (um texto verdadeiramente inútil)

Enquanto redigia o post anterior, veio-me à mente um facto curioso relacionado com Miguel Vale de Almeida, Joana Amaral Dias e os nomes «oficiais» dos políticos portugueses. O texto que se segue é apenas uma mera curiosidade inútil, mas que serve para desmistificar uma questão relacionada com nomes à esquerda e à direita, a qual até já foi parodiada pelos Gato Fedorento.

Diz-se que, por tradição, um político de esquerda deve utilizar apenas um nome e um apelido - por norma, o primeiro e último, respectivamente. Se olharmos para os partidos do lado esquerdo do hemiciclo, encontramos inúmeros exemplos que corroboram esta «tradição»: Jerónimo de Sousa, Manuel Alegre, Francisco Louçã, António Guterres, Miguel Portas, Odete Santos, Ana Drago, João Soares, Mário Soares, Jorge Sampaio, Bernardino Soares, Fernando Rosas, Ana Gomes, António Costa, Heloísa Apolónia, Vítor Constâncio, Álvaro Cunhal, Jaime Gama, Elisa Ferreira, Luís Fazenda… e por aí adiante.

Já na direita, em especial no PSD, as supostas «regras» são bem diferentes, com o privilégio pela opção de um nome (muitas vezes omitido no dia-a-dia) e dois apelidos. E não faltam exemplos desta «tradição»: Manuela Ferreira Leite, Aníbal Cavaco Silva, Francisco Pinto Balsemão, Francisco Sá Carneiro, Pedro Santana Lopes, Joaquim Magalhães Mota, Nuno Morais Sarmento, Paula Teixeira da Cruz, Luís Marques Mendes, António Carmona Rodrigues, Marcelo Rebelo de Sousa… e ficamos por aqui. Aceitável, no PSD, é ainda a «norma» dos dois apelidos antecedidos por dois nomes, como sucede com José Manuel Durão Barroso ou José Pedro Aguiar-Branco.

Curiosamente, o CDS-PP nunca foi englobado na regra dos de nome-apelido ou na de nome-dois apelidos, havendo uma certa divisão em matéria de nomes. Assim, de um lado, encontramos Adelino Amaro da Costa, António Bagão Félix (que, na verdade, só foi militante por pouco tempo), José Ribeiro e Castro, Jaime Nogueira Pinto, Miguel Anacoreta Correia, Luís Nobre Guedes e até Diogo Freitas do Amaral (que há muito deixou de contar pela direita). Mas os adeptos do nome-apelido também têm muita força, como comprovam Paulo Portas, Nuno Melo, Celeste Cardona, Manuel Monteiro, Telmo Correia ou Diogo Feio.

Contudo, a verdade verdadeira é que esta suposta «regra» dos nomes nunca teve qualquer cunho oficial, facto que explica porque é que existem bastantes excepções em ambos os lados (sobretudo, no PS e no PSD). Com apenas dois nomes, encontramos sociais-democratas como Paulo Rangel, Isaltino Morais, Valentim Loureiro, Pedro Lynce, Miguel Cadilhe, Leonor Beleza, Fernando Nogueira, Fernando Seara, António Capucho, Rui Rio, Álvaro Barreto, Fernando Negrão, António Mexia, Roberto Carneiro… e há muitos mais.

Já na esquerda, o que não falta são políticos a utilizar a regra de um nome e dois apelidos, a começar por Eduardo Ferro Rodrigues, Fernando Teixeira dos Santos, Guilherme d’Oliveira Martins, Nuno Severiano Teixeira, Francisco Nunes Correia, Augusto Santos Silva, Pedro Silva Pereira (neste caso, Pedro nem é o primeiro nome dele, mas sim o segundo), José Vieira da Silva, António Correia de Campos, Joaquim Pina Moura, José Vera Jardim, Luís Capoulas Santos, António de Almeida Santos… ou, se quiserem acrescentar mais dois nomes, temos os protagonistas do post anterior, Miguel Vale de Almeida e Joana Amaral Dias.

Em ambos os lados, há igualmente aqueles que optam por dois nomes e um apelido, como Maria de Lurdes Rodrigues, Luís Filipe Menezes, Alberto João Jardim ou Luís Filipe Pereira.

Claro que, nesta lista, falta um nome óbvio: O do actual primeiro-ministro. Sucede que o cavalheiro em questão utiliza, por norma, os seus dois nomes próprios, situação que é bastante rara, mas não totalmente inédita, já que, por exemplo, os deputados comunistas António Filipe e Miguel Tiago também o fazem.

A MANILHA VAI SECA (64): O significado de Miguel Vale de Almeida e Joana Amaral Dias

(Entre os dois, escolho a imagem dela - por motivos óbvios)

Os nomes que irão integrar as listas distritais do PS nas eleições para a Assembleia da República têm dado muito que falar, especialmente devido a algumas opções bastante curiosas.

Uma das escolhas mais, digamos, polémicas, foi a de Miguel Vale de Almeida, ex-dirigente do Bloco de Esquerda, antropólogo, professor universitário e conhecido activista pela defesa dos direitos de Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgéneros (LGBT), sendo ele próprio homossexual assumido. Esta escolha tem muito que se lhe diga, tanto do lado do PS, como do lado do próprio Vale de Almeida.

Em primeiro lugar, continua nítido o medo do PS em relação ao BE, esse «papão» de votos que engorda a cada eleição que disputa, sempre às custas dos socialistas. Ao «contratar» um ex-dirigente do BE, o PS faz uma micro-aproximação a este eleitorado. Mas esta escolha é ainda menos inocente quando nos lembramos das famosas declarações de Manuela Ferreira Leite em relação ao casamento entre pessoas do mesmo sexo, palavras essas que demonstram que, entre a comunidade LGBT, o PSD não deverá conseguir muitos votos. Sócrates já se apercebeu desta fragilidade do PSD e tratou de chamar a si um activista nesta área, o que lhe poderá render uns quantos votos. Neste particular, o PS tenta, nitidamente, cortar as vazas ao BE, popularmente conhecido como o grande defensor dos direitos dos LGBT (aliás, matéria que figura no programa do partido para as Legislativas). Resta saber se este antropólogo será mesmo uma mais-valia para o PS no Parlamento.

Quanto a Miguel Vale de Almeida, antes um crítico acérrimo do PS, esta integração numa lista do PS (ainda que no sétimo lugar) faz mais sentido do que se possa pensar. Acredito que esta mudança de camisola possa ter desiludido algumas pessoas, mas Miguel Vale de Almeida é homossexual e, como tal, discriminado em tudo e mais alguma coisa pela sua orientação sexual (acreditem que há alunos que não gostam dele pelo simples facto de ser gay). Por muito que o BE possa ser o partido mais genuíno na defesa dos direitos dos LGBT, a verdade é que a força política liderada por Francisco Louçã está ainda muito longe de poder formar Governo e assim levar os seus ideais avante. Já o PS está bem mais próximo de poder continuar a ser Governo a partir de Setembro e assim aprovar o casamento entre pessoas do mesmo sexo (isto se Sócrates cumprir o prometido no Congresso de Espinho). Vale de Almeida não está a ser instrumentalizado pelo PS, pelo menos da forma inocente que muitos poderiam pensar. Ele está, isso sim, a defender os seus próprios direitos - seus e de milhares de pessoas em Portugal.

Já o alegado convite a Joana Amaral Dias, a verificar-se, será algo bastante mais… grave. E cínico. E hipócrita. E sexista, diria mesmo. Sim, estamos a falar de uma ex-dirigente do BE, o que pode interessar ao PS, na medida em que será uma forma de entrar no eleitorado que, nos últimos anos, se virou para o Bloco. Mas, tirando isso, o PS tem quadros suficientes para formar listas de deputados ou governos sem ter que ir pedir batatinhas a outros partidos. Se lhe interessa Joana Amaral Dias é porque esta psicóloga e professora universitária tem aquela carinha que Deus lhe deu e que chama a atenção de muitos homens (e mulheres, se falarmos de bissexuais ou lésbicas). No fundo, se esse convite existir (o BE diz que sim, o PS nega), os socialistas estariam apenas a mostrar que estavam interessados, antes de tudo o mais, na (bonita) imagem de Joana Amaral Dias. Seria mesmo caso para se dizer que o PS queria Joana Amaral Dias por causa dos seus lindos olhos.

Se quiserem outro motivo para «contratar» Joana Amaral Dias, eu apontaria uma forma de silenciar as mordazes e insistentes críticas desta colunista aos partidos do Bloco Central e, em particular, ao PS (e ao Governo, pois claro). Mas, se existir essa justificação, temos um caso de tentativa de censura encapotada, o que ainda piora mais o quadro. Vale-nos o facto de, a ser verdade, o mesmo ter sido rejeitado pela própria visada.

Em ambos os casos, a questão da imagem que o PS passa para o eleitorado é um dado fundamental. Mas isso não surpreende num Governo liderado por José Sócrates, homem que muito se preocupa com a sua imagem (em vários sentidos), ao ponto de desleixar ao máximo a imagem dos seus pares de Governo.

sábado, 25 de julho de 2009

PENSAMENTOS DO BURRO EM PÉ (10): A Verdade (III)

“Ele jamais mente. Limita-se a apresentar a verdade através de um prisma um pouco diferente.”

Dr. Mento

A MANILHA VAI SECA (63): Com uma quina de trunfo não ganhas o jogo

José Sócrates está a desiludir-me. O outrora animal político, ágil e habilidoso nas suas jogadas, vai tentar ganhar esta sueca com duques, ternos, quadras e quinas de trunfo. Ou seja, com palha. E mal jogada.

Durante a apresentação do programa eleitoral do PS, Sócrates anunciou que, caso seja reeleito, dará acesso à integração profissional a cerca de 25 mil jovens, que, pela sua carreira contributiva, não têm acesso ao subsídio de desemprego. Tudo bem, a medida é boa, mas… escassa, muito escassa.

Em Portugal, há cerca de um milhão de trabalhadores a recibos verdes (alguns, verdadeiros), pelo que o número de pessoas sem acesso ao subsídio de desemprego é incrivelmente superior a 25 mil almas. Por outro lado, a questão dos apoios apenas aos jovens dá que pensar, já que há gente com 40 e 50 anos sem acesso a uma prestação essencial para a sobrevivência digna de muitas pessoas e, por vezes, das respectivas famílias. Ainda por cima, já se sabe que quem tem mais de 35 anos, terá dificuldades muito superiores em encontrar um emprego (especialmente, um emprego daqueles que tem contrato de trabalho, descontos para a segurança social e todas as regalias oferecidas a quem não é tratado como escravo).

Trocando por miúdos, o nosso primeiro-ministro oferece umas missangas aos nativos de Portugal e espera que estes pobres indígenas lhe dêem o seu voto. Ainda por cima, ele não oferece, limita-se a prometer as tais missangas (apenas a alguns, pois claro) que esqueceu ali, no navio, mas que vai buscar já, já, já.

Hum…

Sabes, Zé, assim, não vais lá. E, se queres que te diga, ainda passas pela vergonha de veres o PS ultrapassado pelo BE ou pela CDU se continuas a tratar os portugueses como uns pobres selvagens mansos e pouco espertos. É que, não sei se sabes, a malta lá da esquerda não está a oferecer missangas nos seus programas eleitorais - eles estão mesmo a dar jóias aos portugueses, coisa que tu reservas só para os teus amigos da Mota-Engil e companhia. Só que o Jorge Coelho, meu amigo Zé, só vota uma vez.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

PENSAMENTOS DO BURRO EM PÉ (9): Chorar

“Se chorasse sempre que devia, a subida dos oceanos já seria uma realidade e Lisboa a nova Atlântida.”

Dr. Mento

DOIS DE PAUS (3): Bernardino Soares (condicional à existência de filtragem)

Certa vez, o ilustre deputado comunista Bernardino Soares disse, ao Diário de Notícias, uma frase que chocou o Mundo: “Tenho dúvidas que a Coreia do Norte não seja uma democracia”. Acrescentou ainda o cavalheiro «encornado» por Manuel Pinho ter “muitas reservas em relação à filtragem da informação feita pelas agências internacionais”.

Ok.

Vamos partir do princípio que a notícia que vou relatar em seguida possa ter sido alvo de uma estranha “filtragem da informação feita pelas agências internacionais”. Isto quer dizer que, à luz deste princípio, o que passo a citar pode ser verdade… ou não.

Um grupo de activistas denunciou que Ri Hyon Ok, uma mulher cristã de 33 anos, foi executada publicamente em Junho, por, alegadamente, ter distribuído a Bíblia. A dita senhora foi igualmente acusada de espiar para a Coreia do Sul e para os Estados Unidos e ainda de organizar dissidentes. Como se não bastasse a execução, um dia depois da morte de Ri Hyon Ok, os pais, marido e três filhos da senhora foram enviados para um campo-prisão para políticos na cidade de Hoeryong, sendo que, com alguma sorte, ainda se escapam à execução por actos que não foram cometidos por eles.

Bem, se isto é mentira, existe uma gigantesca propaganda mundial anti-Coreia do Norte, que nos enche a cabeça de mentiras sobre um país justo, livre e democrático.

Mas, se isto é verdade, meu caro Bernardino, só me apetece dizer uma coisa: ÉS UM MONTE DE MERDA SEM NOME. Se isto é verdade, meu caro Bernardino, não me venhas dizer que o Sócrates é um ditador e que o PSD é um amontoado de fascistas, quando tu vens defender gente desta, que comete os crimes mais hediondos de uma forma que só me faz lembrar a Santa Inquisição, de tão má memória e de tanta vergonha para a História da Humanidade.

Por isso, meu caro Bernardino, sugiro-te que viajes até Pyongyang e nos digas a nós, portugueses, se a Coreia do Norte é mesmo um paraíso injustiçado pela propaganda ocidental ou se, pelo contrário, não passa de um país amordaçado por um regime carniceiro. Investiga, pergunta sobre este caso, tenta apurar a verdade. Se te executarem em público, ficaremos a saber que, afinal, até estavas enganado e tiveste o final que mereceste ao defender o que não pode ser defendido.

Mas, enquanto não decides dar um saltinho até Pyongyang (e até nos fazias um favor, tornando Portugal um país ligeiramente mais habitável), deixo-te a mais desonrosa nomeação deste blog, sempre com a ressalva de a notícia poder não ser verdadeira: O DOIS DE PAUS.

quinta-feira, 23 de julho de 2009

A MANILHA VAI SECA (62): O (outro) perigo da regionalização

O PS vai revelando, a conta-gotas, o seu programa eleitoral para a próxima legislatura. A bancada parlamentar socialista voltou a reforçar que o tema do casamento entre pessoas do mesmo sexo vai figurar no programa do PS, tal como a criação de cinco regiões administrativas.

A regionalização é um tema razoavelmente bem escolhido para este programa, até porque o PSD não pode atacar a ideia (caso contrário, Alberto João Jardim seria chamado à baila) e o PCP até é a favor. O problema é bem outro. Em 1998, quando esta questão foi levantada pelo Governo de António Guterres, o homem dos mil diálogos decidiu levar a regionalização a referendo… e viu a ideia derrotada. Se Sócrates insistir em avançar com a regionalização pela via legislativa, sem direito a consulta popular, vai, decerto, ser acusado pela oposição de ser anti-democrático e de se estar nas tintas para o sufrágio popular (se bem que, ao incluir este tema no seu programa eleitoral, o PS está, em parte, a sufragá-lo). Mesmo aqueles que defendem a regionalização, não vão deixar de atacar o PS pela ausência de referendo e haverá mesmo quem se lembre do caso da ASAE, que, airosamente, se escapou ao crivo dos deputados da Nação e acabou ferida de inconstitucionalidade.

Sócrates já deveria ter percebido que a sua fúria reformista, mesmo que tenha toda a razão do Mundo (e, às vezes, tem alguma) não pode ser feita à custa de tudo e de todos. Estamos em democracia e, neste sistema político, um partido que deixa uma bola a saltar na área, arrisca-se a sofrer golo.

PENSAMENTOS DO BURRO EM PÉ (8): Bondade

“Desconfiem das pessoas que aparentam ser muito boazinhas. Madre Teresa de Calcutá só há uma… e já morreu.”

Dr. Mento

quarta-feira, 22 de julho de 2009

PENSAMENTOS DO BURRO EM PÉ (7): Os partidos

“Os partidos zelam pelo asseio da Nação. Lavam dinheiro e roupa suja.”

Dr. Mento

A MANILHA VAI SECA (61): O exemplo de Barrancos e uma Estrela que caiu em Sintra de pára-quedas

O PSD já deu por encerrado o processo de escolha das candidaturas às Eleições Autárquicas de 11 de Outubro. Neste momento, já estão definidas as candidaturas para os 307 concelhos onde os sociais-democratas irão apresentar-se a votos, havendo apenas um único concelho que não contará com um candidato e listas do PSD: Barrancos.

Em declarações à Lusa, o coordenador da comissão autárquica social-democrata, Manuel Castro Almeida frisou que, “em Barrancos, temos três militantes. Poderíamos inventar um candidato, isso seria muito fácil para o PSD, mas seria um candidato a fingir porque não traduziria uma opção local”. “Optámos pela natureza local das eleições locais e por uma política de verdade. Não há projecto local, não há candidatos locais”, explicou ainda.

Esta postura do PSD não deixa, de certa forma, de ser meritória. Em Barrancos, o PSD tem uma expressão quase nula e, sem projecto ou sem gente para concorrer, não vale a pena inventar um candidato de fora para marcar presença nas Autárquicas. Barrancos é uma vila alentejana longe de tudo e todos, muito mais próxima de Espanha do que do resto do Alentejo, ao ponto de, em tempos idos, as crianças apenas aprenderem a falar português quando iam para a escola - antes de se sentarem nos bancos da escola, os petizes falavam apenas o peculiar castelhano de Barrancos, que, garanto-vos, não é fácil de perceber. Se o PSD inventasse um candidato de fora da terra, este seria sempre olhado como um pára-quedista, um gajo qualquer que apareceu ali, vindo do nada, a tentar a sua sorte nesta Câmara esquecida nos confins do Alentejo.

Contudo, seria interessante se o PSD e outros partidos aplicassem o exemplo de Barrancos a outros concelhos. Sim, porque o que não falta por aí é gente que se candidata a uma dada Câmara apenas porque foi ali que conseguiu arranjar uma vaga, que, com um pouco de sorte, até termina em tacho. E há inúmeros exemplos de pára-quedistas, que, sem fazerem a mais pequena ideia de onde estão, se candidatam a Câmaras Municipais.

Querem um exemplo? Lembremos o glorioso dia em que Edite Estrela, candidata à Câmara Municipal de Sintra, foi fazer campanha pelo PS para Queluz de Baixo, que não só não pertence à cidade ou à freguesia de Queluz, como também não integra o concelho de Sintra, mas sim o de Oeiras. Edite Estrela aceitou o repto para liderar os destinos de um concelho que conhecia tão bem como eu conheço os princípios básicos da termodinâmica nuclear aplicada à engenharia genética. E ganhou porque o anterior edil, o social-democrata Rui Silva, foi das piores coisas que algum dia passou por qualquer órgão autárquico no Portugal democrático.

Esta história passou-se em Sintra, com a candidata do PS. Mas, se percorrermos o resto do país, decerto iremos encontrar outros exemplos semelhantes, provenientes deste e doutros partidos. E se formos às listas distritais para a Assembleia da República, veremos pérolas destas como grãos de areia numa praia… e não estou a falar de uma praia da Costa de Caparica (OK, a piada era desnecessária).

PENSAMENTOS DO BURRO EM PÉ (6): O Mundo

“O Mundo é, actualmente, um local muito mal frequentado, ao ponto de se tornar insuportável. Tanto que devemos deixar de lamentar os que partem, para passarmos a chorar os que ficam.”

Dr. Mento

terça-feira, 21 de julho de 2009

ESPADAS QUE PICAM (17): Machismo... só que ao contrário

Não é segredo para ninguém que a política portuguesa tem sido, por tradição, dominada pelo sexo masculino. Contudo, nos últimos anos, temos assistido a uma tentativa de mudar um pouco este estado de coisas, o qual, em parte, é de louvar. Deve haver igualdade entre sexos e não posso estar mais de acordo com isso. Mas o que se quer é uma igualdade natural e não uma coisa inventada à pressão para enfiar mulheres na política apenas porque sim.

As quotas para mulheres e as respectivas posições destas nas listas eleitorais são um bom exemplo dessa igualdade artificial. A mulher A fica à frente do Homem B na lista do partido C porque há uma lei que diz que é assim e ponto final. Não interessa se o Homem B é mais ou menos competente do que a Mulher A, o que vale é meter mulheres nos lugares que lhe estão destinados.

Pior ainda é a ideia do actual presidente da Câmara de Faro, José Apolinário, que, nas listas do PS nas próximas Autárquicas, decidiu meter mais mulheres do que homens (cinco a quatro, para sermos mais exactos). Se o fez, deveria ter ficado calado - escolhia os nove nomes que achasse mais competentes para liderar a capital do Algarve (cidade que me é muito querida), independentemente de estes serem homens ou mulheres. Se se vangloria de ter mais mulheres nas listas, está a subvalorizá-las, uma vez que uma lista maioritariamente masculina não mereceria qualquer comentário.

Que fique bem claro: Sou totalmente a favor da presença de mulheres na política. Mas que estas estejam nas listas partidárias por serem as PESSOAS mais competentes e não devido ao sexo. Isso é uma forma de machismo ao contrário.

E para finalizar este texto, tiro o chapéu a mulheres como Manuela Ferreira Leite, que ocupam lugares de destaque sem truques artificiais. Sim, porque a Dama de Espadas do PSD lidera o partido que lidera porque os seus companheiros «laranja» acharam que ela era a melhor PESSOA (sem sexo ou género) para o fazer. E pode ser que, a partir de Setembro, ela seja também a segunda mulher a chefiar um Governo em Portugal, depois de Maria de Lurdes Pintassilgo, embora, seja a primeira a ocupar tal cargo na sequência de um acto eleitoral. Novamente, se vencer, será porque os portugueses acham que ela é a melhor PESSOA para liderar os destinos do país, independentemente se, no meio das pernas da pessoa em questão, está um pénis ou uma vagina.

ESPADAS QUE PICAM (16): Pacheco ainda tem razão

No seu Abrupto, José Pacheco Pereira dedicou um post inteiro à chegada do Homem à Lua. O texto em si é excelente e, numa altura em que muitos se entretêm a criticar José Pacheco Pereira, eu opto antes por elogiar o autor de tão bom pedaço de prosa.

No seu post, Pacheco Pereira conta-nos onde estava a 20 de Julho de 1969 e os meandros da vida de um aluno de Filosofia que tentava estudar para um exame dificílimo do 1.º ano da licenciatura, no momento em que o célebre passo para a Humanidade é dado. A dada altura, diz-nos: “como era habitual na época, os professores ensinavam muito em função daquilo que tinha sido a sua tese e pouco se afastavam desse terreno que lhes era familiar”.

Pois, “como era habitual na época”.

Só na época, em 1969?

Não, infelizmente, não.

Bem sei que há docentes universitários minimamente que se esforçam por criar programas para as cadeiras que dêem aos alunos uma visão minimamente abrangente sobre um conjunto de temas. Para estes, o meu aplauso. Só que, para mal dos pecados do ensino superior, também há muitos que continuam exactamente como em 1969: Se a tese de mestrado e/ou doutoramento foi sobre a plantação de cebolas em Celorico da Beira na primeira metade do Século XX, certo é que, em toda a santa aula, a plantação de cebolas terá de vir à baila, mesmo que estejamos a falar de uma cadeira de Direito Administrativo. Conheço bastantes casos assim.

Isto ajuda a explicar porque é que, actualmente, existe a impressão que os licenciados saem de uma qualquer faculdade com níveis de conhecimento rudimentares. Com professores destes, não há milagres, mas as favas, essas, são pagas pelos estudantes e, indirectamente, pelos pais destes e pelo próprio mercado de trabalho.

Ainda há gente assim no ensino superior. Temo dizê-lo: Muita gente. O que é pena. Pacheco tem razão no que diz e teria mais razão se utilizasse um tempo verbal diferente.

PENSAMENTOS DO BURRO EM PÉ (5): A Verdade (II)

“As verdades são como os chapéus: Há muitas.”

Dr. Mento

segunda-feira, 20 de julho de 2009

CARTAS MARCADAS (3): Ana Jorge

"Querida Aninhas:

Espero que esta carta te vá encontrar, a ti e aos teus, de boa saúde. Afinal, de saúde percebes tu ou não fosses tu a mulher que trata da saúde aos portugueses. Pelo menos, é o que dizem…

Bem sei que há muito que não dou notícias, mas, sabes, lembrei-me de ti no outro dia, enquanto via um filme em casa com os gaiatos. Estava muito bem a ver o Madagáscar 2 quando, de repente, chego àquela cena em que o Melman, a girafa hipocondríaca, descobre que as girafas do Quénia não têm médicos. “E então, como é que fazem quando têm uma gripe?”, pergunta ele, ao que lhe respondem: “Vamos para os morredouros… e morremos”.

Ora, tu, que passas a vida a lutar contra as farmácias, os farmacêuticos, a indústria farmacêutica, as associações de farmácias, as associações da indústria farmacêutica, os consumidores de fármacos e sabe-se lá mais quem, estás de mãos e pés atados por causa da porcaria da Gripe A. Queres dizer à malta que está tudo bem, que não se passa nada e que não há motivos para alarme, mas a porra da gripe anda nas horas e tu ficas com cara de tacho. Se alguma criancinha bate a bota antes das eleições por causa da Gripe A, o teu amigo Sócrates bem pode dizer adeus ao Governo e aos tachos todos, que mais ninguém vota no PS. Desconfio que até o Berloque de Esquerda vos passa à frente.

Mas sei que estás lixada com esta merda toda. Queres que os gajos dos medicamentos se vão todos foder, mas a malta, à rasca, quer toda emborcar Tamiflu e vacinas e o raio mais que as parta. Ou seja, vai tudo dar carcanhol às farmácias a às farmacêuticas, que é o mesmo que engordar gulosos. Bem fizeste tu, que não arranjaste vacinas para toda a gente, nem as deixas à disposição desses maricas antes da altura crítica das gripes. Esses panascas deviam era ter vivido nos tempos do Doutor Salazar, quando a malta era rija e ia trabalhar para o campo com as gripes todas de A a Z - se morressem, paciência.

Além do mais, Tamiflu rima com cú. Cheira-me a uma boa merda…

Essa malta que arranjou a porra da Gripe A devia era fazer como as girafas: Escavavam um morredouro, metiam-se lá dentro com a cabeça de fora e morriam. Simples, pá, simples. Pronto, acabava-se logo a Gripe A. E vai na volta, morriam também uns quantos desempregados e já não davam tantas dores de cabeça ao Viera da Silva, que arranca os poucos cabelos que tem a tentar arranjar umas novas fórmulas estatísticas que lhe permitam fazer desaparecer com mais uns quantos milhares de gajos e gajas das listas oficiais do desemprego.

Olha, agora que digo isto, vou mas é escavar o meu morredouro, para quando apanhar a Gripe A. Se quiseres, escavo um para ti também, que és uma gaja fixe e até nem deixas os panascas darem sangue. Esses mariconços que vão mas é dar sangue à mãezinha deles. Mas não faças mal às fufas, que todo o homem gosta de ver duas gajas a paparem-se uma à outra e o sangue delas não deve fazer mal algum. Paneleiros é que não! Que nojo!

Olha, amiga, vou ter que ir. Resta-me desejar-te felicidades e que apanhes a Gripe A quanto antes, que, nestas coisas, mais vale despachar já o assunto. Ainda para mais, lá para o final de Setembro, vais ter trabalho que não acaba mais a arrumar as tuas coisas no Ministério da Saúde. Não te preocupes, que, se souber de algum emprego para ti, eu telefono, mas já sei que menos do que administradora não executiva na Caixa Geral de Depósitos não te serve.

Muitos beijinhos sem máscara,


Dr. Mento”

PENSAMENTOS DO BURRO EM PÉ (4): Preconceito (I)

“Ninguém é preconceituoso. Excepto em relação a todos os que não são como nós.”

Dr. Mento

domingo, 19 de julho de 2009

A MANILHA VAI SECA (60): Costa não pode ser como Sampaio?

A aliança entre António Costa e Helena Roseta para as Eleições Autárquicas em Lisboa pôs muita gente a falar sobre as eventuais consequências políticas deste acordo, até porque a vereador do movimento Cidadãos Por Lisboa garantiu o segundo lugar na lista do PS, ainda que tendo estatuto de independente.

Antes mesmo do anúncio oficial, houve logo quem suspeitasse que, caso Costa avançasse para uma candidatura à liderança do PS, deixaria Roseta como edil de Lisboa. Na conferência de imprensa de apresentação do acordo, Helena Roseta abordou esse tema, o qual já figurava no memorando do acordo entre PS e Cidadãos por Lisboa: “As substituições ocasionais dos eleitos serão feitas de modo a garantir que o eleito de uma força política é sempre substituído por outro da mesma força política. Para efeitos do nº 2 do artigo14º da lei eleitoral autárquica (substituição definitiva do Presidente da Câmara “em caso de morte ou doença que determine impossibilidade física ou psíquica, de perda de mandato ou de opção por função incompatível”), o primeiro independente indicado pelo movimento CPL assegurará que a substituição recaia no seguinte da lista, indicado pelo PS”.

Acho muito bem que estas questões sejam esclarecidas - por escrito e publicamente - para não haver quaisquer dúvidas. Mas, tirando isso, deu-se demasiada importância a esta questão e Pedro Santana Lopes foi logo o primeiro a fazê-lo. Santana entende que esta discussão tem a ver com o pressuposto de que José Sócrates vai perder as Legislativas e sair da liderança do PS, a qual será disputada por António Costa. Para o menino-guerreiro, tudo isto é uma gigantesca desconsideração em relação a Sócrates e aos próprios lisboetas.

O problema é que Santana só tem razão em parte. Neste momento, existe a possibilidade de o PS perder as Legislativas, certo? Se os socialistas forem derrotados a 27 de Setembro, Sócrates pedirá automaticamente a sua demissão do cargo de secretário-geral do PS, o que faz sentido quando a primeira figura de um Governo vê o seu programa e acções governativas derrotados nas urnas (só Santana é que não entende isso, mas isso são contas do peculiar rosário do senhor). Ora, se Sócrates se demitir, António Costa posiciona-se como uma boa escolha para ocupar a liderança dos socialistas e, quanto a isso, parece haver um certo consenso.

Só que o cargo de secretário-geral do PS não é incompatível com o de presidente da Câmara Municipal de Lisboa - Jorge Sampaio acumulou os dois cargos e não veio mal algum ao Mundo por causa disso. Mesmo no PSD, o anterior líder, Luís Filipe Menezes, era líder do partido e, ao mesmo tempo, governava o terceiro concelho mais populoso do país.

Daí que a questão da eventual saída de Costa da Câmara para a liderança do PS seja, na verdade, uma falsa questão. Mesmo.

A MANILHA VAI SECA (59): Querem continuar a ser pobres?

Um dos truques políticos mais curiosos é uma espécie de chantagem que certos políticos fazem com o eleitorado, sendo que, neste capítulo, José Sócrates é mestre na arte de ameaçar subtilmente o eleitorado.

Por isso, no encerramento do Fórum Novas Fronteiras 2009-2013, no Porto, o secretário-geral do PS anunciou que o programa eleitoral dos socialistas vai incluir um novo subsídio para as famílias, sendo que a nova prestação social (que, obviamente, já não é para esta legislatura) irá beneficiar os casais que trabalham e têm filhos, mas cujo rendimento per capita do agregado familiar é inferior ao limiar da pobreza.

No discurso em que fez este anúncio, Sócrates abordou inúmeras vezes as políticas sociais desenvolvidas por este Governo. De súbito, fez-me lembrar o seu antecessor (e colega de Governo), Eduardo Ferro Rodrigues, que, nas legislativas de 2002, não parava de enaltecer as medidas sociais do Executivo de António Guterres. Se Ferro falasse do novo aeroporto de Lisboa, chamar-lhe-ia “aeroporto social” - aliás, ele próprio liderou o Ministério do Equipamento Social, uma designação à socialista para a pasta das Obras Públicas. Claro que Sócrates não falou em “aeroporto social”, mas andou pela mesma linha, ao lembrar a criação do complemento social para idosos e do abono pré-natal e os aumentos do salário mínimo nacional, do abono de família e da acção social escolar.

Só que as palavras de Sócrates são como uma espécie de ameaça escondida ao eleitorado. Não vou discutir se estas medidas sociais são boas ou más, até porque iniciativas deste género são sempre como as moedas: Têm dois lados. Basta ver uma das grandes criações de Guterres, o Rendimento Mínimo Garantido.

Basicamente, o que o primeiro-ministro quer dizer é algo como: “Se votarem em nós, o Governo vem, dá subsídios e ajuda os pobrezinhos. Se votarem no PSD, vêm os mauzões da direita e tira-nos isso tudo, para deixarem as criancinhas a passar fome”. Sócrates nunca diz quem paga esses subsídios (não interessa se são justos ou injustos), porque, se o fizesse, uma parte do eleitorado fugiria a sete pés do PS. A verdade, quando a há, fica sempre pela metade.

Esta estratégia de acenar com os papões da direita costuma produzir bons frutos para a esquerda (e até para o PS), ao ponto de, para alguns sectores menos informados da população, o Governo de Durão Barroso ter ficado conhecido como o carrasco do Rendimento Mínimo Garantido, quando o que fez foi, na verdade, mudar-lhe o nome e alterar um pouco as condições de acesso à dita prestação.

Quando a campanha eleitoral começar mesmo a sério, vamos voltar a ouvir falar nos papões da direita, nos mauzões que querem um Estado mínimo que se está a cagar para toda a gente, menos para uma pequena clique que transacciona favores e dinheiros de forma mais ou menos legal, mas sempre imoral. Muitos dos que se dizem de esquerda (e há tantos assim no PS) adoram este tipo de discurso maniqueísta e, muitas vezes, recheado de inverdades.

Querem um exemplo? Na segunda volta das presidenciais de 1986, muita gente no PCP pôs a correr os mais incríveis boatos do que aconteceria a Portugal se Freitas do Amaral ganhasse as eleições, havendo quem dissesse que iríamos voltar aos tempos de Mr. Salazar. E foi assim que muita gente, mesmo não gostando de Mário Soares, lá entregou o seu voto vitorioso ao fundador do PS. 19 anos depois, o mesmo Freitas do Amaral que era pior do que Salazar acabou num Governo do partido do Soares que salvou o país do fascismo.

O tempo é um excelente conselheiro, meus amigos.

PENSAMENTOS DO BURRO EM PÉ (3): Sofrimento

“O valor exacto do limite de sofrimento do ser humano é exactamente o mesmo valor da sua capacidade de auto-destruição”.

Dr. Mento

sábado, 18 de julho de 2009

A MANILHA VAI SECA (58): O impacto de Chão da Lagoa

Há quem lhe chame ditador, vigarista, malcriado, boçal e o diabo a sete, mas não falta quem lhe gabe a obra feita e a determinação. O que é verdade é que ninguém fica indiferente a Alberto João Jardim, o enfant terrible da política portuguesa, que, volta e meia, faz declarações de pôr os cabelos em pé a um santo. Na festa anual do PSD/Madeira, em Chão da Lagoa, costumam surgir discursos dos mais incríveis que há memória em Portugal, alguns deles ofensivos para os continentais, para todos os portugueses e, por vezes, até para os madeirenses.

Só que Jardim tem a importância que tem porque todos dão às suas palavras demasiada importância. Por mim, já deixei de dar para esse peditório e vejo o discurso de Chão da Lagoa como um dos melhores momentos de stand-up comedy do ano. Ainda por cima, Jardim, quando fala, nunca está sóbrio, o que torna a coisa ainda mais divertida e surpreendente (e o homem consegue ser dos poucos bêbados que não é chato e não diz que ama toda a gente).

Mas… sendo assim, porque é que se dá tanta importância às palavras de um barrigudo mal-encarado com uma tosga daquelas?

Meus amigos, este ano, a festa de Chão da Lagoa realiza-se a 26 de Julho.

Estão bem a ver a data? É em pleno Verão, altura em que, nas redacções de todo o país, o pessoal se contorce para arranjar notícias de jeito que possam fazer as primeiras páginas. Se houver muitos incêndios, dá para encher páginas com isso, mas, se chover um bocadinho em pleno Agosto, a coisa fica preta. É que até a porcaria da Assembleia da República está de férias (ou seja, não há cornos, nem deputados remetidos para o caralho) e não há debates para animar a malta. Se os conselhos de ministros que se forem realizando não tiverem nada de jeito, pior ainda. Como não dá para ter reportagens bombásticas todos os dias, a realização de uma primeira página nesta época torna-se uma tarefa algo penosa.

É neste contexto que surge Chão da Lagoa. Jardim aproveita um certo vazio de coisas novas no mundo da política para dizer o que lhe der na real gana. E di-lo mesmo com o intuito de chocar, para ganhar protagonismo, para ser manchete. Se o dia em questão for particularmente morto em termos noticiosos, Jardim tem umas quantas primeiras páginas garantidas com um par de bujardas contra este e contra aquele e contra tudo o que mexe.

É simples, demasiado simples. E, em rigor, pouco importante.

A MANILHA VAI SECA (57): PS, oportunismo e realidade

Já várias referi que considero o interesse de José Sócrates pelo casamento entre pessoas do mesmo sexo como uma estratégia puramente eleitoralista, marcada por um cinismo que me choca. Afinal, o PS chumbou os projectos do BE e do PEV para legalizar o casamento entre pessoas do mesmo sexo (acusando ambos os partidos de oportunismo político) e, logo em seguida, Sócrates anunciou justamente que o matrimónio entre homossexuais seria uma realidade na próxima legislatura. Ou seja, Sócrates quis usar os homossexuais como forma de piscar o olho a uma série de socialistas descontes, que, cada vez mais, vão pôr a cruzinha no BE (desde sempre, o partido mais genuíno na defesa dos LGBT). E convém sublinhar que, em Portugal, cerca de dez por cento da população será homo ou bissexual, o que, na hora de contar os votos, pode dar um jeito do caneco.

O que é verdade é que este Governo se está nas tintas para os homossexuais, ao ponto de o Ministério da Saúde proibir estes de poderem dar sangue. Mas só os homossexuais masculinos, para a discriminação ser mesmo a sério. Afinal, já não bastavam todas as discriminações que os homossexuais já sofriam. Agora têm mais esta: São considerados um grupo de risco, apesar de a SIDA estar a alastrar, curiosamente, entre heterossexuais. Neste particular, não deixa de ser interessante verificar que os bissexuais (mesmo masculinos) e as lésbicas não constituem grupos de risco. Ou seja, quem tiver relações sexuais com mulheres, mesmo que também tenha com homens, está na boa. Fazer sexo só com homens é que não, que isso faz mal.

No fundo, o que se passa é que Ana Jorge, a titular da pasta da Saúde, é, na verdade, tão homofóbica como Manuela Ferreira Leite, que, como se sabe, é uma homofóbica declarada. Ora, se o PS nos oferece um Governo com posturas homofóbicas e se isso choca alguém (a mim choca-me), mais vale votar no PSD… ou no BE.

Em tempos, achei que José Sócrates iria fazer uma ponta final de mandato verdadeiramente enérgica, de molde a vencer as Legislativas ou, pelo menos, para tentar vender cara a derrota. Só que Sócrates é uma coisa, os seus ministros são outra, apesar de caber ao líder do Governo a escolha da sua equipa. Ao optar por gente pouco qualificada do ponto de vista político, Sócrates conseguiu brilhar como o número um do Governo, mas agora arrisca-se a deitar tudo a perder. É que, depois dos cornos de Manuel Pinho, esta homofobia declarada de Ana Jorge é mesmo boa para deitar votos no lixo… ou nos dois principais adversários na corrida de 27 de Setembro.

sexta-feira, 17 de julho de 2009

A MANILHA VAI SECA (56): Alvo muito bem definido

A estratégia não é nova. Tem qualquer coisa como dez anos de vida.

Ao longo de uma década de existência, o Bloco de Esquerda tem sobrevivido graças aos descontentes com o rumo que o PS tem vindo a tomar. Foi assim em 1999, quando, nas Legislativas, os dois deputados eleitos pelo BE roubaram a esperada maioria absoluta ao PS de António Guterres, o qual ainda aparentava ser um pouco mais socialista do que o PS de José Sócrates.

Mais do que uma soma de três forças políticas (UDP, PSR e Política XXI) com uns quantos intelectuais de esquerda, o BE começa, cada vez mais, a querer ser o PS que muitos socialistas gostavam de ter, mas não têm. Apesar de, em muitos aspectos, o BE ainda se assemelhar aos velhos partidos de esquerda radical (designadamente ao PCP), a estratégia do partido de Francisco Louçã passa, antes de tudo o mais, por ir esvaziando este PS onde o socialismo repousa numa gaveta secreta do Largo do Rato. E uma simples parcela de um discurso de Louçã em Lisboa revela-nos bem que os descontentes com o PS são um alvo mais do que definido: “É preciso esquerda, uma esquerda solidária, socialista, que saiba o que quer e que lute pelo que quer”.

“Uma esquerda solidária, socialista”. Gostei do pormenor do “socialista”. É como se Louçã dissesse sem dizer: “Socialistas, olhai para o Bloco de Esquerda, o verdadeiro partido socialista”.

É verdade que o BE poderia captar votos do PCP, partido que, ao longo dos anos, tem resistido à mudança de forma absolutamente heróica e sem mexer uma vírgula nos seus ideais. E digo heróica porque o Mundo mudou - e muito - mas o PCP consegue manter-se bem vivo, mesmo algo anacrónico. Só que Louçã sabe que o eleitor tradicional do PCP não é muito dado a mudanças e, entre os eleitores ferrenhos dos comunistas, há gente a quem fará muita confusão que pessoas do mesmo sexo possam casar-se ou que os animais (especialmente os touros) possam ter direitos.

Não quero com isto afirmar que o BE é mesmo um novo PS, até porque as linhas programáticas de ambos os partidos estão demasiadamente afastadas (o PS, até na sua própria génese, é demasiado parecido com o PSD para poder ser confundido com o Bloco). Mas Francisco Louçã, hábil, sabe que é ali, entre os descontentes do PS, que estão os votos.

É a política, meus amigos.

PENSAMENTOS DO BURRO EM PÉ (2): A verdade (I)

“Há muitas maneiras de se dizer a verdade e outras tantas maneiras de não se dizer a verdade.”

Dr. Mento

A MANILHA VAI SECA (55): A poncha que leva fel em vez de mel

Alberto João Jardim cumpre, presentemente, o seu derradeiro (será?) mandato à frente do Governo Regional da Madeira. Como tal, estamos a falar de uma figura que, em termos de carreira política, já nada tem a ganhar ou a perder, após, no ano passado, ter equacionado uma candidatura à liderança do PSD, que, como logo percebeu, nunca seria vencedora.

Diabolizado por uns, idolatrado por outros, Jardim é uma das mais estranhas criaturas que algum dia ocupou um lugar de topo na vida política portuguesa. E isso explica um conjunto recente de atitudes de Mr. Madeira, que, fingindo ser um solícito social-democrata sempre pronto para ajudar o partido, decidiu, isso sim, fazer a vida negra aos seus companheiros. Basicamente, Jardim anda numa de “estou-me a cagar para isto tudo” e, no âmago do seu ser, sentiu chegada a hora de uma pequena vingança contra Manuela Ferreira Leite, a mulher que lidera o PSD nacional e que venceu umas eleições que ele nunca conseguiria ganhar.

Todos sabem que Alberto João Jardim odeia comunistas e que, se pudesse, mandaria matar todos os militantes do PCP. Todos sabem que Alberto João Jardim gostaria de fazer da Madeira alguma coisa como um jovem, que vai morar para a sua própria casa e faz vida de independente, jamais autorizado que os pais se metam na sua vida, mesmo quando são os progenitores a pagar todas as contas.

Até aqui, Jardim conteve-se nas suas palavras. Nunca pediu que a Constituição proibisse o comunismo ou que o representante da República Portuguesa na Madeira deixasse de existir. Mas agora, o velho folião está-se a cagar para o que possam pensar e diz o que bem lhe dá na gana, ao ponto de defender o comboio de alta velocidade, quando se sabe que Manuela Ferreira Leite diz que esse é um projecto para abandonar.

As referências à suposta abolição do comunismo foram cirurgicamente escolhidas por Jardim, que (alegadamente) dá enormes provas de falta de tacto democrático… justamente no partido onde a líder, numa gafe descomunal, referiu a suspensão da democracia por seis meses em Portugal (sei o sentido das palavras da senhora na altura e sei que não era isto que ela queria dizer, mas foi esta a impressão que passou para a opinião pública). Ao mesmo tempo, numa altura em que o PSD esconde os velhos sinais de desunião depois da vitória nas Europeias (os sabujos do costume já sentem o cheiro a tacho), vem Jardim desdizer o que diz Ferreira Leite, fazendo ressurgir o fantasma do partido onde todos enfiam facas nas costas uns dos outros.

Trocando tudo isto por miúdos, Jardim está a ser um grande filho-da-puta. E até tremo ao pensar que discurso o velho gordo e feio fará em Chão da Lagoa, quando tiver Manuela Ferreira Leite ao seu lado. É que, por acaso, quando discursa na festa do PSD/Madeira, Jardim nunca está sóbrio. Longe, disso.

quinta-feira, 16 de julho de 2009

PENSAMENTOS DO BURRO EM PÉ (1): Pessoas e moedas

"As pessoas são como as moedas, têm uma cara e uma coroa. Mas, por norma, mostram-nos, em primeiro lugar, a face mais bonita e só depois o reverso da mesma."

Dr. Mento

segunda-feira, 13 de julho de 2009

A MANILHA VAI SECA (54): Vai uma poncha à pescador, Manuela?

Ainda me consigo surpreender.

Em tempos, critiquei a postura das elites do PSD, que, por se acharem elites, evitavam ao máximo o contacto directo com o povo desdentado e suado, de gentes que exibem farfalhudos bigodes e bocas com falta de uns quantos dentes. Entre aqueles que julgam pertencer a uma elite dentro do PSD (e a uma elite dentro do próprio país) temos a própria líder do partido, Manuela Ferreira Leite.

No ano passado, Miss Política de Verdade optou por não marcar presença da tradicional Festa do Pontal, que, no coração de um Algarve que concentra quase todo o Portugal de Agosto, costumava marcar a reentré política do PSD em clima de festejo popular. Em vez de se misturar com o povo que cheira a sardinhas e a suor, Ferreira Leite escondeu-se na higiénica Universidade de Verão do PSD, em Castelo de Vide, onde as elites do PSD debatem os problemas e as soluções para o país bem longe do povo que o habita. Nada contra a existência de um fórum onde um dos maiores partidos debate o que pretende para Portugal, mas tudo contra uma postura de “nós somos a elite, nós somos bons, nós não nos misturamos com a gentalha”.

Só que isto foi em 2008 e 2009 é ano de muitas eleições. Vai daí, Ferreira Leite decide que, para poder ganhar as simpatias do eleitorado, tem de mudar urgentemente aquela imagem de pessoa distante, sisuda, altiva e pouco acostumada aos contactos com as gentes do povão. José Sócrates, Paulo Portas, Jerónimo de Sousa e Francisco Louça não têm quaisquer problemas em apertar a mão aos descamisados e não se furtam mesmo a dois dedos de conversa com alguns populares que encontram no caminho.

Não sei se Ferreira Leite já se sente mais à vontade nos contactos com a população ou se esta imagem é algo artificial, mas sinto que, da parte da líder do PSD, há uma vontade clara de vencer as Legislativas em Setembro. Por isso, Miss Política de Verdade vai marcar presença em Chão da Lagoa, a popularucha festa do PSD-Madeira onde, todos os anos, Alberto João Jardim, tolhido pelos desígnios de Baco, de umas quantas ponchas e algumas nikitas, vocifera as maiores barbaridades contra o Governo (seja ele qual for), contra Lisboa e contra os portugueses de Portugal Continental. Jardim sente-se bem entre o povo e não tem quaisquer problemas em beber uns canecos no meio das gentes que cheiram a sardinha assada. Ferreira Leite vai ter de se habituar e, se calhar, até vai ter que mandar abaixo uma poncha à pescador diante da maior participação de sempre em Chão da Lagoa (o secretário-geral dos sociais-democratas madeirenses estima que estejam lá 40 mil pessoas, o que se traduz num público superior ao de muitos festivais de Verão).

Não tenho a certeza se Ferreira Leite vai estar também na Festa do Pontal, mas, por esta altura, já nada me surpreende. É junto do povo que muitos vão ganhando votos e Paulo Portas sabe, melhor do que ninguém, como é que isso se faz.

ESPADAS QUE PICAM (15): A instrumentalização da boa-fé dos resistentes

Numa empresa em queda livre, há quem entenda que todos os expedientes são válidos para manter o barco à tona. Um dos expedientes mais comuns é, infelizmente, o dos salários em atraso, uma solução que gera inúmeros problemas ao trabalhador, que, para além de não ter como cumprir as suas obrigações mensais (as contas da água, da luz, dos seguros, dos empréstimos para a casa e carro, entre outros), vê-se numa situação em que continua a ter de arcar com as despesas normais para ir trabalhar (transportes, combustíveis ou refeições, por exemplo), mas sem ver um chavo por um período de tempo indeterminado.

Como é óbvio, o Código do Trabalho prevê este tipo de situações e determina que, “quando a falta de pagamento pontual da retribuição se prolongue por período de 60 dias sobre a data do vencimento, o trabalhador, independentemente de ter comunicado a suspensão do contrato de trabalho, pode resolver o contrato”. De acordo com a Lei 35/2004 de 29 de Julho (Regulamentação do Código do Trabalho), o trabalhador nesta situação tem direito, entre outras coisas, à respectiva indemnização e ao subsídio de desemprego.

Até aqui, nada de mais. Se o trabalhador tem três meses de salários em atraso (os tais 60 de atraso sobre a data de vencimento), rescinde unilateralmente o seu contrato e vai à sua vida, sem perder os direitos que teria se fosse a entidade patronal a rescindir.

O problema é que, em casos como este, há sempre aqueles que optam por ficar a aguentar o barco, mesmo tendo a lei do seu lado (conheço vários casos assim, sendo que eu próprio já me encontrei, a dada altura, numa situação destas).

As razões que levam alguns trabalhadores a continuar a trabalhar mesmo sem ordenados são muitas. Em primeiro lugar, conheço quem sinta pavor perante a mudança, diante desse desconhecido que é a condição de desempregado. Mas há também quem fique por não querer ficar desocupado em casa, mesmo com algum dinheiro no bolso (do subsídio de desemprego, entenda-se). Haverá quem rejeite a rescisão pela vergonha social de perder o emprego, que, cada vez mais, se confunde com o próprio indivíduo em si. Há os que se mantêm para finalizar um estágio, totalmente obrigatório em certas categorias profissionais. Mas, sobretudo, os que ficam, fazem-no sempre tendo em mente a esperança de que se trata apenas de uma fase passageira e que as coisas poderão melhorar no futuro.

Esta boa-fé (e esperança) dos resistentes é, muitas vezes, instrumentalizada pelo patronato, que, em tempos de crise, vê aqui uma janela de oportunidades para poder reduzir despesas (com os ordenados que deixaram de ser pagos) e continuar a ter o trabalho feito, o qual, em princípio, gerará sempre algum lucro. Quando tal acontece, os atrasos de um mês passam a atrasos de dois meses e, rapidamente, crescem para três, quatro, cinco, seis meses. Nestas alturas, há até empresas que conseguem apresentar serviços a preços inacreditavelmente competitivos, já que a mão-de-obra não tem, na prática, qualquer custo com remunerações (embora os trabalhadores acreditem que sim).

Sei, por experiência própria, qual o desfecho destas histórias de atrasos sucessivos no pagamento de remunerações: No final (provavelmente, no momento em que for decretada a falência ou fecho da empresa), os trabalhadores perceberão que foram ludibriados e ficarão a arder com largas somas em dinheiro. E assim há alguns que se aproveitam da boa-fé de outros, para, em nome da crise, fazerem mais algum lucro.

Enquanto as entidades fiscalizadoras não tiverem mão pesada para situações como a que acabei de descrever, continuaremos a assistir a sucessivos atropelos aos direitos dos trabalhadores e ao próprio Código do Trabalho. E, uma vez mais, faço questão de frisar: As fugas ao Código do Trabalho, mais do que meras questões laborais, constituem também um problema de cidadania, de liberdades e direitos dos cidadãos.

domingo, 12 de julho de 2009

A MANILHA VAI SECA (53): Outro que se posiciona

Até ao dia 7 de Junho, a ideia de uma derrota do PS nas Eleições Legislativas deste ano parecia uma possibilidade verdadeiramente remota, apesar de, aqui e ali, sinais claros de descontentamento popular anunciarem que o vento poderia começar a soprar para outro lado. Depois, veio o dia das Eleições Europeias e, num ápice, a ideia de uma derrota de José Sócrates e/ou de uma vitória de Manuela Ferreira Leite começou, rapidamente, a ganhar forma.

Ao sentirem que os dias de ouro de José Sócrates podem estar a chegar ao fim, muitas correntes e grupelhos internos do PS (demasiado parecidos com os que existem no PSD) começaram logo a contar espingardas à pressa, tendo em vista que, no dia 27 de Setembro, as coisas podem correr mal e os socialistas perderem as eleições. Se Sócrates sair derrotado daqui a dois meses e meio, certo é que, logo na noite das eleições, anunciará a sua demissão do cargo de secretário-geral do PS.

No post anterior, falei-vos da minha suspeita em relação à possibilidade de António Costa entrar na eventual corrida para a liderança do PS. Mas o que vos digo é que outro nome forte do PS pode igualmente entrar na corrida e estamos a falar, nem mais, nem menos, do que em Manuel Alegre.

Sócrates e Alegre começaram por disputar as Eleições Directas do PS (juntamente com João Soares), que levaram à vitória do primeiro sobre o segundo. Em seguida, foi o chumbo a uma candidatura presidencial de Alegre em detrimento de uma nova investida de Mário Soares. Depois de Alegre ter ficado à frente de Soares nas Presidenciais e de quase ter obrigado Cavaco Silva a ir a uma segunda volta, o deputado-poeta passou a ter uma ideia palpável da sua influência dentro do PS e na própria sociedade, pelo que começou a assumir uma postura de subgrupo dentro do próprio partido. Basicamente, Alegre imagina-se como o homem que poderá retirar o socialismo da gaveta, fazendo com que o PS regresse aos dias da pureza original.

Agora que Sócrates começa a patinar na sua corrida para um segundo mandato, Alegre posiciona-se como o seu possível sucessor, apesar de já ter batido na fasquia dos 73 anos. O artigo de opinião que o deputado-poeta publicou no Expresso deixa o gato escondido com o rabo de fora, apesar de o texto começar com uma espécie de apelo ao voto no PS contra o alegado terror que se avizinha se Manuela Ferreira Leite for eleita: “Nas europeias, não foi o PSD que teve um aumento significativo de votação, foi o PS que perdeu grande parte da sua base social, a ponto de, pela primeira vez, ter ficado aquém de um milhão de votos. Várias vezes falei de um buraco negro na esquerda. A soma da abstenção com os resultados do BE e do PCP mostram que esse buraco se situa na área do PS. Não é crível que personalidades de direita consigam recuperar para o PS o eleitorado que este perdeu para a abstenção e para a esquerda. Os socialistas não podem ter um discurso emprestado. Não se combate o liberalismo ultra com o liberalismo suave. Nem se vence o PSD com ex-ideólogos do PSD. Ainda é possível dar a volta. Mas algo tem de acontecer. Apesar dos erros, a bandeira do PS não está no chão. Mais política e menos marketing. Mais socialistas e menos figurantes. Um pouco mais de esquerda. Ou, como diria Mário Cesariny, "um acordar". Para que um dia destes não estejamos a perguntar-nos como é que se perdeu mais uma oportunidade e como é que um país maioritariamente de esquerda pode acabar uma vez mais a ser governado pela direita”.

Trocando por miúdos, Alegre, que não integrará as listas do PS nas próximas Legislativas (é a primeira vez que vai ficar de fora desde que há democracia em Portugal), parece pouco ou nada convencido com a capacidade de José Sócrates para vencer as eleições. Alegre bem diz que “a bandeira do PS não está no chão”, mas escusa-se a falar de José Sócrates, como que, implicitamente, responsabilizando o actuar líder por uma eventual derrota (e é por isso que surge o apelo “mais política e menos marketing”).

Claro que José Sócrates ainda não está derrotado. Mas, perante essa possibilidade, Alegre e Costa vão reunindo trunfos e apoios, preparando-se para a eventualidade de, no dia 27 de Setembro, o PS ficar sem líder. É que ninguém que ser apanhado com a Manilha seca na mão no momento em que o Ás saltar para cima da mesa…

sexta-feira, 10 de julho de 2009

A MANILHA VAI SECA (52): Hum… pois, sei… estou a ver… sim, é “o PS de António Costa”

José Sá Fernandes, advogado e vereador independente na Câmara de Lisboa, admitiu uma convergência com “o PS de António Costa” nas próximas Eleições Autárquicas, caso o actual edil alfacinha aceite as propostas da Associação Cívica «Lisboa é Muita Gente».

Hum…

Pois é, o Sá Fernandes disse “o PS de António Costa”. Expressão interessante. Especialmente, quando ainda está na moda a expressão “o PS de José Sócrates”.

Pois, ainda está na moda. Mas, vai na volta, pode deixar de estar. Especialmente, se “o PS de José Sócrates” perder as eleições. Nesse caso, podemos ter “o PS de António Costa”.

Porque não?

O que eu sei é que, volta e meia, “o PS de António Costa” se lembra de criticar “o PS de José Sócrates”, isto apesar de António Costa já ter integrado o Governo de José Sócrates (e de ambos terem sido colegas nos Governos de António Guterres). Sei que a moção apresentada pelo movimento de Carmona Rodrigues, a criticar a exclusão da edilidade alfacinha da administração do Metropolitano de Lisboa, foi aprovada também com os votos do PS, sendo que António Costa aproveitou a deixa para atacar Mário Lino, seu antigo colega de Governo. Sei também que António Costa já critica a Lei das Rendas, ele que a defendeu nos tempos em que era ministro do Governo que agora ataca.

Tudo isto para chegarmos a um ponto: António Costa começa, lenta e eficazmente, a demarcar-se do Governo que outrora integrou.

Mas… porque o faz? Bem, se António Costa tem espírito auto-crítico, decerto reconhecerá que, como ministro da Administração Interna, foi uma verdadeira lástima e uma das piores coisas que já aconteceu a esta tutela (as razões que me levam a afirmar tal coisa seriam merecedoras de outro post). Mas, sobretudo, parece-me estar em causa uma absoluta falta de crença de Costa numa vitória do PS nas próximas Legislativas; sendo assim, e jogando no seguro, o edil de Lisboa opta por se demarcar de um Governo em nítida queda, ao qual, curiosamente, já pertenceu. José Sócrates? Não conheço esse senhor e nunca me foi apresentado…

Contudo, tenho cá um dedinho que me diz que o presidente da Câmara Municipal de Lisboa está mais interessado noutros voos. Sentindo próxima a queda de José Sócrates, Costa começa a distanciar-se do Governo e do rumo por ele tomado tendo em vista um eventual assalto à liderança do PS, isto no caso de Sócrates ser derrotado a 27 de Setembro (o que implicaria a demissão voluntária do actual líder socialista).

Tudo isto são meras suposições, análises feitas em cima de quase nada. Mas aquele “o PS de António Costa”, dito por Sá Fernandes, soou-me a profético. Vai na volta, sou eu que estou a ver pestanas em ovos…

… ou não.