terça-feira, 30 de junho de 2009

A MANILHA VAI SECA (38): Dois estilos

Quem segue esta casa de jogo gerenciada pelo triste Dois de Paus que vos escreve, decerto já terá percebido que sou clara e totalmente a favor do casamento entre pessoas do mesmo sexo e clara e totalmente contra toda e qualquer forma de homofobia.

Talvez pelo facto de a religião escasso peso ter tido na minha educação, olho para o casamento não como um meio para procriar e fazer esse algo chamado constituir família, mas sim como um enlace onde a felicidade deve ser o valor fundamental. Por isso, não me faz qualquer confusão que dois homens ou duas mulheres decidam dar o nó. O que me faz confusão é que o Estado continue a negar esse direito a uma percentagem da população (estima-se que dez por cento dos portugueses sejam, de alguma forma, bissexuais ou homossexuais), que, na verdade, apenas deseja ser feliz – e, ainda por cima, estamos a falar de uma felicidade que em nada afecta os casamentos heterossexuais (como o meu, por exemplo).

Mas não é sobre o matrimónio entre pessoas do mesmo sexo que versa este post. Na verdade, introduzi este tema como forma de vos mostrar as diferenças de estilo entre Manuela Ferreira Leite e José Sócrates, depois de, em posts anteriores, ter analisado os pontos de convergência entre ambos.

Já sabemos que Sócrates e Ferreira Leite têm visões opostas sobre o tema. Mas a forma como demonstram essas diferenças leva-nos a uma outra diferença fulcral.

Passo a explicar.

Na sua primeira entrevista televisiva como presidente do PSD, Manuela Ferreira Leite teceu uma série de comentários altamente homofóbicos, dizendo mesmo que estava a discriminar os casais compostos por pessoas do mesmo sexo porque estes eram diferentes (e, subentende-se, inferiores) dos casais de pessoas de sexo diferente. Para Miss Política de Verdade, o casamento serve para fazer meninos e ponto final. Não se fala em felicidade, compreensão, carinho, companheirismo e, sobretudo, em amor (tudo conceitos que deverão ser completamente estranhos à senhora).

Por seu turno, José Sócrates, no último congresso do PS, anunciou que o casamento entre pessoas do mesmo sexo iria ser uma realidade na próxima legislatura, sendo esta uma forma de seguir os passos da vizinha Espanha (pelo menos, neste campo) e de acabar com uma discriminação que não faz qualquer sentido numa sociedade evoluída, tolerante e integradora.

Dito assim, seria fácil pensar que estou totalmente de acordo com Sócrates e absolutamente em desacordo com a quase-septuagenária que lidera do PSD.

Desenganem-se.

Uma vez na vida, Manuela Ferreira Leite foi frontal e directa. Não há como ser enganado: a mulher é homofóbica e preconceituosa, revelando uma mentalidade conservadora e ultramontana ao extremo. Para mim, que não gosto de homofóbicos, preconceituosos, conservadores e ultramontanos, não há problema: não voto na senhora e ponto final. Mas que ninguém diga que foi enganado.

Já Sócrates revela-se muito mais oportunista e bem menos frontal. Meses antes do Congresso de Espinho, Sócrates e o PS chumbaram propostas do BE e d’«Os Verdes» para legalizar o casamento entre pessoas do mesmo sexo, alegando que tais projectos vinham embebidos num flagrante oportunismo político. Meses depois, é o PS quem fala num projecto semelhante aos que havia chumbado e criticado, que há de ser apresentado e posto a votação quando Sócrates bem o entender e quando lhe der mais jeito. Ou seja, a igualdade de direitos e a felicidade de muitos milhares de pessoas podem esperar mais um bocadinho, até uma altura em que for conveniente, do ponto de vista político, às hostes do Largo do Rato. Se, em altura alguma da próxima legislatura, este assunto for conveniente ao PS, o mesmo será metido na gaveta (provavelmente, a mesma onde o partido tem guardado, há largos anos, o socialismo). Além do mais, está totalmente fora de questão aprovar projectos de outros partidos sobre este assunto, mesmo que as propostas sejam idênticas à que o PS pretende lançar - se os homossexuais querem casar, que o façam segundo um projecto-lei apresentado apenas e exclusivamente pelos socialistas.

Como já aqui disse, a minha visão sobre este tema é totalmente oposta à de Manuela Ferreira Leite, a quem, mentalmente, chamei de “puta” para baixo quando ouvi as célebres declarações sobre o casamento homossexual. Todavia, aprecio a sinceridade da senhora. Quanto a Sócrates, torço o nariz ao oportunismo e cinismo que revestem as suas posições sobre o assunto.

São dois estilos, meus amigos…

segunda-feira, 29 de junho de 2009

A MANILHA VAI SECA (37): Os prós e os contras de qualquer decisão

Cavaco Silva tinha de tomar uma decisão sobre a data para as Eleições Legislativas. Optou por marcá-las para 27 de Setembro, duas semanas antes das Autárquicas, que foram marcadas pelo Governo para 11 de Outubro.

Pessoalmente, até concordo com a decisão do Presidente da República, embora consiga ver vantagens e desvantagens em ambas as opções. Cavaco, que ouviu os seis partidos com assento parlamentar, teve igualmente de pesar muitos prós e contras.

Por isso, decidi fazer um exercício mental e tentar analisar os prós e contras de ambas as opções em cima da mesa e cheguei a estas opções (se descobrirem mais, por favor, apitem na caixa de comentários):

ARGUMENTOS A FAVOR DAS ELEIÇÕES NO MESMO DIA

- Numa altura de crise, seria necessário pagar apenas uma vez aos membros que irão integrar as mesas de voto.

- Os orçamentos das campanhas poderiam sofrer alguns cortes, já que os líderes partidários poderiam aproveitar um comício local para falar na mesma altura em que os candidatos às autarquias locais; por exemplo, se Manuela Ferreira Leite fosse fazer campanha em Sintra, poderia aproveitar para realizar acções conjuntas com Fernando Seara, o que sempre daria para poupar alguns cobres.

- Não perturbaria, duas vezes, o normal funcionamento das aulas em muitas escolas, logo no início de mais um ano lectivo.

- As Eleições Autárquicas costumam ser as mais participadas. A junção das Legislativas no mesmo dia seria uma forma de combater a abstenção nestas últimas.

- Realizar Eleições Autárquicas e Legislativas no mesmo dia, com quatro boletins de voto por eleitor (um para a Assembleia da República, outro para a Câmara Municipal, outro para a Assembleia Municipal e outro para a Assembleia de Freguesia) poderia ser uma prova de maturidade democrática para todo um povo e um elogio à sociedade civil; a confusão entre candidatos pode não ser assim tão grande quando recordo que, nas últimas Autárquicas, o PS venceu as eleições para a Assembleia de Freguesia onde moro (cuja presidente da Junta tem feito um óptimo trabalho), embora o PSD tenha sido, na mesma freguesia, a força mais votada para a Câmara e para a Assembleia Municipal - ou seja, os eleitores mostraram que sabem quem estão a eleger e souberam separar as águas.

ARGUMENTOS CONTRA AS ELEIÇÕES NO MESMO DIA

- Com campanhas simultâneas, iria gerar-se um enorme ruído de informação, com muita gente a não perceber se é x ou y quem promete uma nova estrada, uma nova escola, um novo centro de saúde, um novo hospital. Isto levaria, por exemplo, que os tempos de antena fossem um molho de brócolos sem nome e que as campanhas falassem, ao mesmo tempo, de fontanários em Serpins da Beira e de linhas ferroviárias de alta velocidade em bitola europeia como projecto estruturante ou ruinoso para o País.

- Os partidos iriam apelar ao voto de uma forma indiferenciada, desvalorizando os projectos locais em prol das campanhas nacionais. Por exemplo, o PS viria com a história de que era o partido que combate a crise, apelando a um voto generalizado, que não faz qualquer sentido quando existem 308 projectos concelhios e 4260 projectos a nível de freguesias, embora só haja um projecto de Governo nacional e de linha de acção para a bancada parlamentar.

- Quem, por impulso, sentir uma raiva enorme do Governo e quiser penalizá-lo fortemente, pode sentir-se tentado a votar, por exemplo, no PSD, nos quatro boletins de voto (o que poderia levar muita gente a fazer coisas como votar em Santana Lopes para a Câmara de Lisboa como forma de penalizar José Sócrates, o que, convenhamos, não faz qualquer sentido). A exploração deste sentimento anti-Governo e anti-Sócrates era o motivo inconfessável que levou o PSD a desejar ardentemente que as eleições se realizassem todas no mesmo dia.

- Os votos nas autárquicas poderiam, por outro lado, reproduzir-se nos votos para as Legislativas. Isto favoreceria também o PSD, mas o PS e a CDU também teriam a ganhar, já que têm uma boa expressão autárquica. Já o CDS-PP e o BE, que têm boa representação nacional e menor dimensão autárquica, poderiam ser penalizados no meio da confusão.

- Em muitos concelhos, há coligações entre partidos que não se repetem a nível nacional. Imaginemos, por exemplo, a campanha em Lisboa, Sintra ou Cascais, onde PSD e CDS-PP concorrem coligados e são muito amigos e tentemos transportar esta realidade para o País, onde tal aliança não existe, nem existirá; imaginemos Paulo Portas em campanha nestes concelhos, a dizer qualquer coisa como: “Aqui, o PSD é bom e é nosso amigo, mas, no resto do país, é uma merda de partido” (as palavras não serão estas, mas a ideia está lá).




Nota final: Este exercício é uma forma de demonstrar que cada opção tem coisas boas e más. Em política, tal como no futebol, são comuns as opiniões extremadas, as clubites agudas e uma posição de “eu estou certo, tu estás errado e és uma merda”. Nada disso. Se reflectirmos bem, a maior parte das opções que fazemos têm sempre prós e contras e ambos devem ser bem ponderados. Saliento que este exercício pode ser uma boa forma de pensarem bem em quem votar nas duas eleições que se adivinham - como não há candidatos perfeitos, analisem bem cada candidatura, pesem bem o que gostam e o que não gostam em cada uma e deixem que a balança do vosso intelecto vos dê um resultado final.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

ESPADAS QUE PICAM (10): Três meses dedicados às pessoas bonitas (ou, pelo menos, que se julgam esbeltas)

Com uma enorme dose de humor autocrítico, Nuno Markl costuma dizer que a época do ano que mais o fascina é o Inverno, já que as grossas camisolas de lã lhe permitem disfarçar a flácida barriga que o atormente. Como, no último ano, engordei mais quilogramas do que poderia algum dia imaginar (o stress, o sedentarismo, a alimentação desequilibrada e duas idas à mesa de operações não ajudaram), sei bem qual é o sentimento de que fala Nuno Markl.

Curiosamente, em declarações à Lusa, a psicóloga clínica Sandra Santos Vilaça afirma que há perturbações do comportamento que são “mantidas ou precipitadas” nesta altura do ano, na qual “há uma maior exposição do indivíduo” e “uma maior revelação de si próprio em relação a outros”. Ir à praia a ostentar uma barriga flácida como a minha é, por si só, um gesto de autocrítica (que aceito e tendo corrigir) e autoflagelação.

Porém, a psicóloga alerta também que, “quando passa o Verão, passa esta necessidade de exposição e o problema também passa, teoricamente”, mas, se durante o tempo mais frio, as questões não ficarem resolvidas, as “pessoas tornam-se reincidentes e, por vezes, com um grau de patologia muito mais evidente”.

Na adolescência, época em que olhamos para o nosso corpo em mutação como se mais nada existisse, estas perturbações podem ser ainda mais evidentes e deixar marcas na auto-estima para toda a vida.

O Verão é a estação das pessoas bonitas. É por isso que os ginásios recebem mais e mais inscrições nos meses que antecedem as idas à praia, como se todos lutassem desesperadamente por estar bonitos e em forma quando chegar a altura em que as escassas vestimentas revelam todas as nossas fragilidades estéticas. Algumas fragilidades, como a gordura em excesso, podem ser combatidas com muito exercício físico, mas outras, como manchas na pele ou até mesmo o tamanho do peito, são mais difíceis de resolver.

No Verão, mostramos mais de nós mesmos, mas, ao fazê-lo, o que está em causa não é o julgamento dos outros (que, muitas vezes, se estão a marimbar para nós), mas sim o julgamento que fazemos de nós próprios, criado com base num suposto julgamento que os outros irão fazer.

O Verão é uma estranha época de clivagem. Eleva a autoconfiança dos que já se sentem autoconfiantes (às vezes, tocando o narcisismo), mas destrói completamente a auto-estima dos que já têm a auto-estima em baixo.

O Verão é uma época de extremos, que se voltam a juntar na estação que representa o outro extremo climatérico: o Inverno, que, com as suas grossas camisolas de lã e casacos quentinhos, volta a uniformizar um pouco a auto-estima de bonitos e feios, gordos e magros.


Ah! Pois, há aqueles que dizem que se estão nas tintas para o seu aspecto físico e que convivem bem com o espelho. Na verdade, não estão, mas, fazendo de políticos em campanha eleitoral perante o seu próprio subconsciente, criam essa mentira piedosa na qual começam a acreditar.

CARTAS SEM NAIPE (2): Fim de ciclo, fim de moda, fim de revivalismo, fim de tudo, FIM!

Confesso que nunca fui apreciador da música do senhor (mesmo!), apesar de lhe reconhecer qualidades como bailarino e showman e de saber perfeitamente que o Thriller (a faixa título do álbum mais vendido do senhor) revolucionou a forma de fazer videoclips. Nunca lhe apreciei a personalidade extravagante, nem o vedetismo e sempre me perguntei porque conseguia vender tanto quando, para mim, o cavalheiro não era nada de especial musicalmente. Sempre foi essa a minha opinião, respeito quem pensar de forma diferente (provavelmente, a maior parte das pessoas), mas não é pelo facto de ele ter partido do mundo dos vivos que vou vê-lo de forma diferente.

Para o bem e para o mal, era daquelas figuras que esteve sempre presente na vida de quem passou pelos anos 80 (especialmente, quem era jovem nesta década louca e de gostos estranhos).

Não senti pela morte de Michael Jackson o mesmo que senti, por exemplo, quando, há alguns anos, cheguei a Portugal de lua-de-mel e soube que Quothon (aliás, Tomas Forsberg) tinha morrido aos 39, também ele vítima de um coração que se recusou a colaborar. Mas não coloco Jackson e Quorton no mesmo patamar: o segundo era, para mim, uma referência musical e um dos ídolos de juventude (sentimento que não morreu quando percebi que, ao contrário das lendas, não tocava todos os instrumentos nos seus álbuns); já o primeiro era uma referência colectiva, cuja presença nos anos 80 foi tão marcante e constante que até me esqueci que, afinal, o homem já tinha 50 anos.

A actual década, que está quase a findar, aprendeu a recordar, apreciar e quase idolatrar as loucuras dos anos 80, depois de a década de 90 ter considerado a sua antecessora como uma fase de mau gosto e parola, ao mesmo tempo que quase venerava os anos 70; na próxima década, quase que aposto que vamos voltar a ouvir Nirvana a toda a hora e a usar aquelas camisas de flanela à Kurt Cobain. A tournée de regresso de Michael Jackson seria uma espécie de despedida do revivalismo dos 80's na forma de despedida (musicial) de um dos maiores íncones pop da década, mas quis o destino que milhões de fãs (nos quais não me incluo) ficassem sem esse gostinho. A vida e as modas não passam de ciclos e Michael Jackson há muito que deixara de ser uma moda. Agora, deixou também de pertencer ao mundo dos vivos. Que descanse em paz.

quinta-feira, 25 de junho de 2009

ESPADAS QUE PICAM (9): Onde estão as estrelas?

Contemplar um céu nocturno polvilhado de estrelas e mais estrelas (embora muitas sejam planetas) é um daqueles prazeres que, por mais que tente, não consigo descrever por palavras. Por mais ateu que seja, é no momento em que olho para o céu que percebo a pequenez do meu ser diante da grandeza do Universo, esse todo abstracto e repleto de mistérios, essa entidade que quase se confunde com a divindade.

No entanto, esse é um prazer que raras vezes tenho. Para vos ser sincero, da janela do escritório cá de casa, vejo, isso sim, betão, betão e mais betão. Nada que me inspire, nada que me tire do estado depressivo em que, não raras vezes, me encontro. Porém, mesmo que quisesse contemplar o céu estrelado, tal prazer ser-me-ia vedado. Eu sou um dos muitos europeus que já não conseguem ver a Via Láctea.

No momento em que estas linhas são escritas, decorre em Sevilha a iniciativa Starlight, evento onde a real dimensão do problema da poluição luminosa foi posto a nu desta forma: 99 por cento dos europeus não conseguem observar as estrelas a partir das suas casas.

Em traços gerais, a poluição luminosa deve-se “à dispersão de luz na atmosfera durante a noite. A sua causa principal é a perda de quase 40 por cento de toda a luz artificial gerada na terra que, pela forma como está colocada, deixa escapar o fluxo de luz muito além da área a ser iluminada. Esse brilho nocturno acaba por ser prejudicial para o ambiente, consumindo mais energia do que é necessário e impedindo a visão dos objectos na Via Láctea, nomeadamente as estrelas” (citação de um texto da Lusa).

Ver as estrelas, mais do que um mero prazer banal, é um gesto de reflexão, um momento de poesia introspectiva, um instante de adoração divina (mesmo para um ateu como eu, sublinho). Sem esse prazer, deixamos de ser gente, somos resumidos a meros pedaços de carne e vísceras encaixotados entre paredes de betão.

A MANILHA VAI SECA (36): Treinadores sem jogadores, mercado de transferências parado até Outubro

(Nota: Este post é um mero devaneio, um exercício de especulação pura e simples, pelo que deve ser entendido como isso mesmo)

No momento em que escrevo estas linhas, será ainda muito arriscado apostar em quem irá vencer as Eleições Legislativas de Outubro (serão mesmo em Outubro?).

É certo que, neste acto eleitoral, o que está em causa é a eleição dos 230 deputados, oriundos de 20 círculos eleitorais, que irão representar a nação. Todavia, todos nós encaramos as Legislativas como o momento em que, nas urnas, os portugueses irão escolher o próximo primeiro-ministro (que, de acordo com a Constituição, mais não é do que o líder do partido que mais deputados eleger, que é convidado pelo Presidente da República a formar um Governo).

Nas Eleições Autárquicas, a escolha do executivo camarário é algo bem mais transparente, já que a lista candidata integra tantos nomes quantos os vereadores que são eleitos para uma dada edilidade. Ou seja, nas Autárquicas, cada força política define, antes da ida às urnas, os nomes que, em caso de vitória, irão governar o município. Nas Legislativas nada disso se passa, posto que o líder de cada partido é apenas um eventual cabeça-de-lista num dado distrito, que, se for convidado a formar Governo, irá escolher uma equipa formada por quem lhe der na real gana (recordo que os ministros e secretários de Estado não necessitam de ter sido eleitos deputados, podendo até ser figuras externas ao partido).

Isto significa que, nas Legislativas, exercemos o nosso dever cívico tendo em mente um dado treinador para o país em vista e, ao mesmo tempo, confiamos na sua sabedoria e discernimento para a escolha de um plantel vencedor.

A tanto tempo das Legislativas, torna-se difícil descortinar quais os jogadores que poderão vir a ser contratados, em caso de vitória, por José Sócrates ou Manuela Ferreira Leite. Mas, tal como no futebol, um pouco de especulação pode sempre ajudar a tentarmos adivinhar qual será o plantel eleito por cada clube.


DISPENSAS:
Se o PS vencer as Legislativas, a lista de dispensas do «mister» José Sócrates deverá contemplar os nomes de quatro jogadores que, apesar de muito utilizados, apresentaram um rendimento desastroso ao longo das últimas quatro épocas, com inúmeras perdas de bola e demasiados passes falhados. Falo de Maria de Lurdes Rodrigues, Mário Lino, Manuel Pinho e Jaime Silva. Nunes Correia, pouco utilizado, também deverá deixar o plantel, havendo ainda enormes dúvidas quanto às capacidades dos atletas Vieira da Silva (o desemprego não pára de aumentar e o IEFP, tal como a Segurança Social, mal conseguem funcionar em condições), Rui Pereira (a criminalidade disparou e não conseguiu reatar o diálogo com os sindicatos e associações das várias forças policiais, o que significa que se mantém a desastrosa situação deixada por António Costa) e Alberto Costa (não preciso dizer como está a jogar a dona Justiça., pois não?). Pontos de interrogação na permanência de Ana Jorge, Nuno Severiano Teixeira, José António Pinto Ribeiro. Augusto Santos Silva relaciona-se mal com os adeptos e com os membros de outros clubes e pode ter a continuidade em causa. Quanto a Teixeira dos Santos, diz a especulação que pode ir jogar para o Banco de Portugal, justamente para a posição ocupada, há largos anos, por Vítor Constâncio, cujo rendimento tem sido posto em causa… todos os dias, a todas as horas.

MANUTENÇÕES:
Mariano Gago é dos mais consensuais e deve manter-se. Pedro Silva Pereira também tem boas hipóteses, mas é possível que passe a jogar noutra posição, mesmo como adaptado. Luís Amado também deve ficar e, se calhar, na mesma posição (ou regressando à posição agora ocupada por Severiano Teixeira, se este for dispensado e se Sócrates não arranjar ninguém para o lugar).

CONTRATAÇÕES:
Do lado do PS, António Vitorino destacou-se demasiado no Novas Fronteiras e mostra-se como um possível 10 para a equipa de Sócrates. Pode jogar na Defesa (já esteve lá entre 1995 e 1997), mas é possível que ocupe uma posição mais atacante e de mais relevo (vejo-o, por exemplo, na Justiça). Se for contratado, certo é que terá a braçadeira de capitão (ou seja, será ministro de Estado). Não me surpreendia se Guilherme d'Oliveira Martins, que está a jogar bem no Tribunal de Contas, voltasse a vestir a camisola do Governo, em especial se Teixeira dos Santos for mesmo transferido para o Banco de Portugal.

Nas hostes do PSD, Manuela Ferreira Leite promete um plantel totalmente novo face ao que se viu nas equipas treinadas por Cavaco Silva, Durão Barroso ou Santana Lopes (a líder «laranja» jogou nas duas primeiras). É provável que surjam muitos jogadores da formação, daqueles que jamais estiveram no plantel principal, o que vai merecer a acusação, por parte da oposição, de que “este Governo vai ser formado com nomes desconhecidos” (é sempre assim). José Pedro Aguiar Branco, que esteve na Justiça na equipa de Santana Lopes, parece bem posicionado para um lugar de destaque (provavelmente, novamente na Justiça). Paulo Rangel (que foi secretário de Estado no Governo de Santana) assumiu que pode deixar o Parlamento Europeu se o PSD vencer as Legislativas, o que significa que é candidato a um lugar de peso na equipa. Atrevo-me ainda a adivinhar outra possível contratação: José Pacheco Pereira. Hum… nunca vi este senhor a defender algo com tanto afinco como a liderança de Manuela Ferreira Leite (às vezes, até me parece o Augusto Santos Silva do PSD) e nada me espantaria se o metessem na equipa titular, apesar de todos julgarem improvável tal hipótese. Sei não…


Nota: Se houver uma nova AD (ou uma aliança PS/CDS-PP), certo é que Paulo Portas vai entrar para a equipa titular, seja em que posição for.

quarta-feira, 24 de junho de 2009

A MANILHA VAI SECA (35): Vamos a jogo, meninos, vamos a jogo

Há alguns dias, alertei-vos para a necessidade de não se deixarem deslumbrar pelo novo Sócrates humilde que surgiu na última entrevista que deu à SIC. Na altura, disse-vos igualmente que o actual primeiro-ministro, depois de uns valentes dias a jogar à defesa (com o autocarro estacionado à porta da baliza) iria partir para o contra-ataque quanto antes.

Hoje, dia 24 de Junho, José Sócrates foi, pela última vez nesta legislatura, ao Parlamento, para participar no tradicional debate quinzenal com os deputados da nação. E, como manda a tradição, lá surgiram novos anúncios de novos apoios sociais, para tentar adoçar a boca ao eleitorado, que, no dia 7, mostrou estar demasiado amargurado com este Governo.

Assim sendo, segundo anunciou José Sócrates, haverá “um aumento extraordinário em dez por cento do valor de todas as bolsas de acção social escolar no ensino Superior”, sendo que “esta medida beneficia um em cada cinco estudantes, num total de 73 mil; e o aumento anual da bolsa poderá chegar aos 700 euros no caso dos estudantes mais carenciados que estejam deslocados da sua família”.

Parece-vos bem?

Mas há mais: “Os estudantes bolseiros da acção social que se encontrem em mobilidade internacional ao abrigo do programa Erasmus vêem aumentado em 50 por cento o valor da sua bolsa Erasmus, mantendo totalmente o direito à bolsa de acção social durante a estada no estrangeiro”.

O homem está generoso, não está?

E podemos continuar com “a redução em 50 por cento da assinatura mensal dos transportes urbanos, que hoje abrange os alunos até aos 18 anos, passará também a beneficiar os estudantes do Ensino Superior, qualquer que seja a instituição, pública ou privada. O passe será válido em mais de 120 operadores de transportes a nível nacional, a que acrescem os transportes de iniciativa municipal que a ele aderirem. Estamos perante uma medida que apoia as famílias em despesas essenciais, ao mesmo tempo que incentiva o uso dos transportes públicos”.

Há muito que os apoios sociais são um dos trunfos mais usados pelo PS. Durante toda a campanha para as Legislativas de 2002, Ferro Rodrigues fartou-se de falar no Rendimento Mínimo Garantido (actual Rendimento Social de Inserção) como uma das bandeiras dos Governos de António Guterres, dos quais, aliás, Ferro fez parte. José Sócrates poderá partir para a campanha eleitoral seguindo a mesma linha, mas com muito mais apoios concedidos (praticamente, podemos dizer que houve novos apoios anunciados a cada debate quinzenal na Assembleia da República).

Sócrates é um animal político e garanto-vos que, até às Legislativas, vai-se fartar de distribuir benesses como bombons. Esta táctica tem especial revelo quando Manuela Ferreira Leite opta pelo discurso de “não há dinheiro para nada, nada se faz, nada se dá”. Claro está, Ferreira Leite já acenou com a diminuição da despesa pública para poder reduzir impostos, mas, se querem saber a minha opinião, neste campo, Sócrates vai antecipar-se a Miss Política de Verdade…

A Manilha vai seca (34): Duques, Ternos e Quadras para Sintra

As próximas Eleições Autárquicas vão ser as primeiras em que o mais populoso concelho do País não será Lisboa, mas sim Sintra. O facto de, neste momento, estarmos a falar do concelho onde mora mais gente (e gente a mais, digo eu), deveria levar as várias forças políticas à escolha de candidatos de primeiríssima linha, mas Sintra é um município estranho onde acontecem coisas estranhas.

Na verdade, Sintra é o concelho onde os partidos (refiro-me, sobretudo, aos do Bloco Central) deixam Duques, Ternos e Quadras em vez de Reis, Manilhas e Ases.

Do lado do PS, a escolha recaiu em Ana Gomes, a eurodeputada que muita notoriedade ganhou pelo barulho que fez em torno dos voos da CIA. Mais recentemente, Ana Gomes esteve envolvida numa polémica, juntamente com Elisa Ferreira, por causa do facto de ser cabeça-de-lista à Câmara de Sintra escassos meses após ter integrado e ter sido eleita pela lista do PS ao Parlamento Europeu.

O simples gesto de Ana Gomes em querer manter-se num lugar elegível para o Parlamento Europeu quando vai disputar as Autárquicas em Sintra mostra, para muitos, a táctica de jogar pelo seguro. Contudo, se pensarmos bem, mostra, isso sim, que Ana Gomes acredita tanto numa vitória em Sintra como em ganhar o Euromilhões e que o próprio PS sente que, no concelho mais populoso do País, nada há a fazer.

A escolha de Ana Gomes é tanto mais curiosa quando a própria concorreu à liderança da concelhia local… e perdeu. Curiosamente, uma das «bandeiras» que Ana Gomes tentou apresentar na sua candidatura à concelhia de Sintra foi a possibilidade de Fátima Campos, a conhecida presidente da Junta de Freguesia de Monte Abraão (sim, a autarca que travou uma luta duríssima contra a REN por causa da Linha de Muito Alta Tensão Famões-Trajouce), ser a cabeça-de-lista do PS para a Câmara de Sintra. Curiosamente, Ana Gomes usou Fátima Campos como «isco» para ver se conseguia ganhar a concelhia, mas não perguntou à própria se estaria interessada - e, de facto, Fátima Campos não está para isso (quem a conhece, surpreender-se-ia com o oposto). Ou seja, o PS escolhe para a Câmara um nome que, internamente, já havia sido derrotado.

Isto significa que, salvo alguma catástrofe, a Câmara de Sintra continuará a ser liderada pelo ilustre benfiquista Fernando Seara e pela Coligação Mais Sintra (PSD/CDS-PP/PPM/MPT).

Porém, em 2001, a história era diferente. Na época, ninguém, no seu perfeito juízo, apostava numa derrota do PS e de Edite Estrela em Sintra, sendo que mesmo as primeiras projecções de resultados (feitas com base nas sondagens à boca da urna, as mais fiáveis que se produzem) davam como mais provável a vitória da estrelinha cor-de-rosa. Para surpresa de muitos, foi, na verdade, Fernando Seara quem ganhou, ele que aceitara concorrer a Sintra numa perspectiva de fazer campanha, perder e ir à sua vida. Só que o benfiquista de plantão ganhou e teve de fazer pela vida em Sintra (mesmo perdendo dinheiro com esta opção, como ele próprio confessou a alguém próximo do vosso Dr. Mento).

Pelo meio, tivemos a candidatura de João Soares em 2005. Sim, é um nome forte, mas… sabem, nesta altura, já o filho do fundador do partido tinha perdido as Autárquicas em Lisboa (em 2001, para Pedro Santana Lopes) e as Directas no PS (para José Sócrates). Sintra foi mesmo um último recurso e uma boa maneira de o habilidoso Sócrates atirar o seu antigo adversário (e o segundo grande nome da corrente soarista dentro do PS, logo atrás do pai) para uma derrota capaz de o incapacitar politicamente para todo o sempre. Meses depois, com a derrota de Mário Soares nas Presidenciais, ficou escrito o epitáfio do poder dos soaristas dentro do PS.

ESPADAS QUE PICAM (8): O silêncio não basta

No dia 25, às 17h00, a Cruz Vermelha Portuguesa promove, no Palácio Rocha do Conde d’Obidos, um minuto de silêncio em memória de todas as vítimas de conflitos e catástrofes dos últimos 150 anos. De acordo com um press-release que me chegou às mãos (ou melhor, ao e-mail), esta iniciativa servirá também para lançar a campanha «O nosso mundo. A sua acção.» (http://www.ourworld-yourmove.org/), a qual consiste, num apelo “a agir face aos actuais desafios humanitários”.

Tenho o maior respeito do Mundo pela Cruz Vermelha, mas o silêncio não basta. Aliás, não quero um minuto de silêncio que seja um SILÊNCIO CULPADO (Lídia, não vais levar a mal que cite o teu blogue, mais ainda quando estás de férias). E as dez razões apresentadas pela Cruz Vermelha para um minuto de silêncio (iniciativa que muito respeito) merecem, da minha parte, muito barulho, para que todos as escutem em todos os cantos do Mundo.

Aqui vão as dez razões (o texto foi ligeiramente corrigido e, por isso, deixa de ter aspas de citação), que citam dados de várias ONG’s:

- Actualmente, existem mais de 2,6 mil milhões de pessoas vulneráveis, correspondentes aos 40 por cento da população mundial que vivem com menos de dois dólares por dia. Adicionalmente, dezenas de milhões encontram-se em risco devido à crise financeira mundial.

- 18 milhões de pessoas (50 mil por dia) estão a morrer devido a causas relacionadas com a pobreza.

- Mais de 250 milhões de pessoas são afectadas anualmente por desastres relacionados com o clima, sendo que mais de 98 por cento destes fenómenos ocorrem nos países em desenvolvimento. No contexto das alterações climáticas, mais de 344 milhões de pessoas encontram-se expostas a ciclones tropicais.

- Mil milhões de pessoas estão a viver actualmente em bairros pobres urbanos. A população mundial neste tipo de bairros pode atingir cerca de 1,5 mil milhões de pessoas no ano 2020.

- Cerca de 963 milhões de pessoas no mundo têm fome. Todos os dias quase 16 mil crianças morrem devido a causas relacionadas com a fome, uma criança a cada cinco segundos.

- Mais de mil milhões de pessoas nos países em desenvolvimento têm um acesso inadequado à água e 2,6 mil milhões não possuem saneamento básico.

- Nos últimos dez anos, o número de crianças mortas pela diarreia excedeu o número total de pessoas falecidas em conflitos armados desde a Segunda Guerra Mundial.

- As doenças relacionadas com a falta de higiene custam aos países em desenvolvimento cinco mil milhões de dias de trabalho por ano.

Todos os anos, a malária afecta 500 milhões de pessoas e ceifa um milhão de vidas (três mil crianças por dia).

- Actualmente, 42 milhões de pessoas vivem com SIDA e oito mil morrem diariamente devido à doença.

terça-feira, 23 de junho de 2009

ESPADAS QUE PICAM (7): A justiça, a investigação criminal e o cotão debaixo do tapete (a regra do “não se passa nada”)

Porque é que, hoje em dia, sentimos que não podemos confiar na Justiça e na eficácia e celeridade da investigação criminal?

Este sentimento não nasce hoje e o problema também não é de agora.

Dois exemplos?

A 4 de Dezembro de 1980, o pequeno Cesna onde viajavam entre outros, o primeiro-ministro Francisco Sá Carneiro e o Ministro da Defesa Adelino Amaro da Costa, sofre um acidente em Camarate. Todos os ocupantes do avião morreram.

Atentado ou acidente? Ainda hoje, subsistem as dúvidas. Se houve negligência na manutenção do Cesna, de quem foi a culpa? Não se sabe. Se houve atentado, quem mandou matar Sá Carneiro e Amaro da Costa e que motivos levaram a tal acto? Não se sabe.

Ora, quando o primeiro-ministro morre e todos sacodem a poeira e ninguém quer saber o que se passou, tal significa que ninguém está acima da ineficácia da Justiça. Morreu, está morto, não há Justiça para ninguém.

Outro bom exemplo é o caso das FP-25, grupo terrorista de extrema-esquerda, que, recorde-se, ceifou vidas através dos expedientes mais covardes e bárbaros (algo típico e inevitável em se tratando de uma organização terrorista). Em 1996, aprovou-se uma amnistia para os presos do caso FP-25, quase equiparando actos terroristas a multas de trânsito perdoadas. O próprio caso em si nunca foi totalmente esclarecido, demonstrando, tal como no Caso Camarate, um certo incómodo por parte de certos sectores da vida pública (não necessariamente política) em relação a esta história.

No fundo, Camarate e as FP-25 podem ser equiparadas aos Ballet Rose, o enigmático caso de pedofilia que envolvia altas figuras do Estado Novo e sobre o qual nunca se soube muito (designadamente, nunca foram tornadas públicas as personalidades envolvidas). Os Ballet Rose aconteceram durante o Estado Novo, mas a Justiça parece não ter evoluído por aí além deste 1974.

Em Portugal, permanece a regra da sujidade que fica debaixo do tapete, a norma do “não se passa nada”.

Sabemos que há coisas más, mas ninguém admite as coisas más, ninguém quer investigar as coisas más, porque gente há que quer que não se saiba tudo sobre as coisas más feitas por pessoas más, sobre as quais nada sabemos porque nada podemos saber sobre as coisas más que as pessoas más fazem.

Desde 1974, há liberdade. E a liberdade de alguns (mas quem?) dizerem que sabermos apenas o que devemos saber (uma liberdade que, na verdade, já existia no Estado Novo).

Agora, pensem em muitos outros casos judiciais famosos e tentem adivinhar o desfecho que terão.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

ESPADAS QUE PICAM (6): Não devia existir orgulho LGBT

No fim-de-semana que agora findou, teve lugar mais uma marcha do orgulho LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e trangéneros), a qual, segundo a organização terá sido a maior algum dia realizada em Portugal.

É com profunda tristeza que verifico que estas marchas ainda se realizam. Por mim, deveriam fazer tanto sentido como uma marcha do orgulho heterossexual.

Numa sociedade evoluída, a orientação sexual de cada um não deveria ser sinónimo de orgulho ou de vergonha. Numa sociedade evoluída, a existência de várias orientações sexuais deveria ser vista como algo perfeitamente normal, banal, corriqueiro. Numa sociedade evoluída, não haveria marchas para dar mais visibilidade a certas orientações sexuais, porque lésbicas, gays e bissexuais seriam considerados tão normais como os heterossexuais (os únicos que, infelizmente, são considerados normais aos olhos de uma sociedade ainda demasiado agarrada a estereótipos absurdos).

Numa sociedade evoluída, cada um deveria saber respeitar que o outro pode ser diferente de nós e que é essa diversidade (de orientações sexuais e não só) que torna o Mundo mais rico. Todos somos pessoas, todos somos iguais nas nossas diferenças.

Apesar de tudo, tenho esperança que estas manifestações do gay pride conduzam justamente à morte… do gay pride. Mas, para isso, teremos que esperar que a tal sociedade evoluída se decida a instalar-se de vez na esmagadora maioria (ou na totalidade) dos países do Mundo.

CARTAS DO QUINTO NAIPE (2): Tape trading

(O regresso do saudosismo)

Hoje, graças à Internet, muitos já nem fazem uma ideia do que foi, em tempos, o tape-trading.

Para quem não sabe, vou contar-vos como foi.

Nas décadas de 80 e 90, como ainda não existia o YouTube, as bandas de garagem tinham mais dificuldades em divulgar o seu trabalho, ainda que, tal como hoje, o principal canal de exibição fossem os pequenos concertos ao vivo em bares, alguns deles espeluncas inimagináveis. Contudo, havia sempre quem fosse a um desses concertos e ficasse interessado pelo trabalho da banda e quisesse ouvir algo num suporte… físico, digamos.

Nestes tempos, as gravações de demos em estúdio não eram assim tão frequentes e, normalmente, aconteciam numa fase em que a banda, já minimamente solidificada, andava em busca de uma editora que quisesse oferecer-lhe um contrato. Por isso, muitas bandas optavam pela gravação de demos altamente artesanais, que, não raras vezes, eram cassetes com ensaios ou com pequenos concertos ao vivo. Não eram poucas as vezes que estas demos (então chamadas demo-tapes, já que o suporte mais utilizado era a velhinha cassete) apresentavam uma qualidade de gravação de meter medo ao susto.

Por vezes, as bandas chegavam mesmo a vender estas demos por um sistema de mercado paralelo chamado tape trading, o qual funcionava muito à base da confiança. Basicamente, alguém conseguia o endereço de um dos membros da banda e escrevia-lhe uma carta a perguntar como fazer para arranjar uma demo; o tal membro da banda respondia-lhe, dizia que a demo custava x, o fã enviava novamente uma carta, desta feita com dinheiro para pagar a demo e os custos de envio da mesma e recebia, passado uns dias, uma encomenda com a dita cassete.

Hoje, numa época em que todos desconfiamos de todos, este sistema seria impensável, embora alguns nostálgicos ainda o mantenham - por nostalgia pura e dura, sublinhe-se.

Muitas demos acabavam por ser copiadas vezes sem conta, totalmente à revelia da própria banda, que, no entanto, podia criar bases de fãs nos locais mais díspares do Mundo. As próprias bandas ofereciam, muitas vezes, cópias de gravações de ensaios ou concertos (e, por vezes, até mesmo de demos gravadas em estúdio) aos amigos, para que estes as mostrassem a outros amigos, que, por seu turno, iriam gravar (em cassete) essa mesma demo, mostrando a outros amigos, que iriam gravar a demo…

Estão a perceber como tudo funcionava, não estão?

Nas décadas de 80 e 90, quando a Internet não existia ou era ainda escassamente utilizada a nível doméstico, o passa-palavra era fundamental para a afirmação de uma banda. Muitos dos actuais monstros do rock conseguiram afirmar-se desta forma, sendo que algumas demos iniciais de certas bandas devem valer autênticas fortunas para os coleccionadores.

Ao escrever estas linhas, lembrei-me de inúmeras destas demos que me iam mostrando aqui e ali, algumas delas gravações de ensaios de bandas de amigos meus. Hoje, olho para trás e, lembrando-me do entusiasmo com que muitos me mostravam essas demos (onde andam os Arcadian Desires? E os Quest?), fico a pensar que, definitivamente, aqueles eram tempos de um certo romantismo e de grande carolice, fruto daquele sonho que ainda hoje persegue muitos adolescentes em todo o Mundo: ser uma rock star.

domingo, 21 de junho de 2009

VALETE DE COPAS (4): O meu segredo

Há alguns dias, a Marta, do blogue Primeiro estranha-se… depois entranha-se (o link está na lista ao lado), dizia num comentário nesta mesa de jogo: “Vou tentado ultrapassar o tamanho do vazio que a falta de da escrita me faz! Talvez o silêncio da escrita resulte do grito do Ipiranga que o cérebro deu, na tentativa de se regenerar! Tenho para mim que isto sucede a quem pensa em tudo e todos ao mesmo tempo e se esquece de olhar para dentro de vez em quando...”

E finalizava pedindo-me que partilhasse o antídoto para a crise de inspiração que atravessava, um sentimento que, na época, eu também partilhava.

Pois bem, aqui vão dois medicamentos para as crises de inspiração.

Um dos grandes entraves ao normal funcionamento da minha mente era o facto de ter inúmeros assuntos pendentes para resolver. Quando resolvi esses assuntos, senti-me mais leve, mais solto, mais… livre. Basicamente, quebrei as amarras do stress e da preocupação.

A segunda receita é composta por um medicamento de auto-ajuda que comecei a tomar em Maio de 2008. Sempre que se fala em auto-ajuda, muitos pensam em livros como «O Segredo». Na verdade, os meus livros de auto-ajuda são dois manuais de yoga, que, ultimamente, passaram a ser complementados com aulas.

Hoje em dia, existem ainda inúmeros preconceitos e ideias erradas em relação ao yoga (há quem confunda esta prática, por exemplo, com a meditação, que é apenas uma disciplina do yoga). Na verdade, o yoga foi das melhores descobertas que fiz na vida e, actualmente, vou para as aulas com um sorriso nos lábios (e volto com uma sensação de paz e vitalidade). O yoga é um pouco como o Red Bull, já que revitaliza corpo e mente, mas a sua prática leva-nos muito além disso. Para quem tem uma vida marcada pelo stress e pelo sedentarismo, diria mesmo que o yoga é essencial. Mas esse é um caminho que cada um terá que descobrir por si próprio.

Não vos quero explicar exaustivamente o que é e o que pode fazer o yoga por vós. Se quiserem perceber até que ponto o yoga pode ser uma forma de auto-ajuda, deixo-vos uma frase: “A mente comanda o corpo e nós comandamos a mente”. Ouço esta frase sempre que estou perante um asana (postura ou exercício) que, à partida, julgo que o meu corpo não conseguirá realizar.

Os livros de auto-ajuda são, muitas vezes, formas de anestesiar a mente. Ensinam-nos que o querer é tudo e nós deixamo-nos ficar sentados no sofá a querer alguma coisa, mas sem mexer uma palha. Para muitas pessoas, acabam por ser livros de auto-ilusão.

O yoga ensina-nos o querer, mas obriga-nos a fazer e ainda nos mostra inúmeros outros caminhos. Se estamos em stress, ensina-nos a esvaziar a mente. Se somos sedentários, obriga-nos à prática de exercício físico (superficialmente, os asanas também são exercícios, embora sejam muito mais do que isso). Se estamos ansiosos, ensina-nos a controlar a respiração e a irrigar melhor todo o corpo. Se estamos hiperactivos, ensina-nos a relaxar.

Deixo-vos, pois, este conselho. E garanto-vos: faz muito bem à saúde e até pode ser uma alternativa para aqueles que se sentem incompletos no ginásio.

A MANILHA VAI SECA (33): Má metáfora de um mau líder

Admito: na minha humilde (mas não socrática) opinião, Luís Filipe Menezes, como presidente do PSD, foi um erro de casting ao nível da escolha de Pedro Santana Lopes para suceder a Durão Barroso.

Sim, eu sei que o homem lá tem as suas virtudes como presidente da Câmara Municipal de Gaia. Mas, como líder partidário, foi um fiasco sem nome.

Repetiu, vezes sem conta, que tinha as bases do partido do seu lado, mesmo que estivesse a falar de um punhado de presidentes de concelhias e de inúmeros parasitas que pululam pelas estruturas locais do PSD a ver se farejam um tacho aqui ou ali. Mudou o tradicional logótipo do PSD e envolveu-o num fundo azul, que quase me fez pensar que Menezes queria levar o partido à dimensão do CDS-PP. Tal como Sócrates, deu primazia à comunicação em detrimento do conteúdo, mas fê-lo de uma forma que envergonharia o actual primeiro-ministro, que ainda diz duas de jeito no meio de muita propaganda. As suas intervenções públicas tinham, por norma, lugar depois das 21h00 (às vezes, bem depois disso), o que significa que o líder da oposição falava depois dos principais telejornais terem fechado, quando o país estava já todo a ver as novelas da noite (argh!). Escolheu Pedro Santana Lopes para líder da bancada parlamentar do PSD, mas o ex-primeiro-ministro, pelo seu passado político recente, acabou por ser uma presa demasiado fácil para o astuto José Sócrates nos debates quinzenais na Assembleia da República. A aposta na Cunha Vaz para liderar a sua estratégia de imagem produziu frutos notáveis, como a necessidade de Menezes se fazer transportar em carros pretos… sem dúvida, uma questão central quando mais de um quinto da população portuguesa vive na pobreza.

Um dia, Menezes fartou-se das lutas internas e, numa prova cabal de que não tinha estofo para o cargo que ocupava, bateu com a porta numa declaração feita à meia-noite, quando boa parte do país já dormia. Na altura, prometeu uns meses de silêncio sobre a situação no PSD, mas acabou por abrir a boca para criticar meio mundo cedo demais. Disse também que, com as bases na sua mão, o candidato que apoiasse seria o escolhido pelo partido - no final, apoiou Pedro Santana Lopes, que acabou em terceiro lugar nas directas que elegeram Manuela Ferreira Leite e puseram Pedro Passos Coelho na ribalta.

Provas de que Menezes é, na verdade, um flop de todo o tamanho podem ser encontrada até nas mais pequenas coisas. Num debate recente no Clube dos Pensadores de Mr. Joaquim Jorge, Menezes, referindo-se à nova postura de suposta humildade de José Sócrates, considerou que o primeiro-ministro “está a correr grave risco de se descaracterizar completamente”. E adicionou uma curiosa metáfora: “Se Schwarzenegger e Stallone se virassem para a comédia, perdiam 80 por cento dos fãs”.

Pois é, Luís, a metáfora saiu-te mal. Os dois senhores que citaste já tiveram passagens pela comédia - e nada recentes, diga-se em abono da verdade. O Stallone já fez o «Stop! Or My Mom Will Shoot» (tudo bem, foi um fiasco, apesar de eu até não achar o filme nada mau dentro do género), do mesmo modo que o Arnold Schwarzenegger já fez filmes como o «Twins» ou o «Kindergarten Cop». Já tu, Luís, não terás bíceps que te recomendem para filmes de acção, mas terias futuro na comédia (foste uma anedota como líder do partido) e no drama (a tua prestação à frente do PSD foi trágica).

sábado, 20 de junho de 2009

A MANILHA VAI SECA (32): Ainda sobre a insegurança de Sócrates (adenda ao post anterior)

Confesso que escrevi o post anterior de madrugada, numa altura em que o meu cérebro pouco prodigioso trabalhava já aos solavancos. Aliás, este vício noctívago meu é um mal de que padecem muitos textos, que acabam por apresentar erros e gralhas de palmatória (o sono é inimigo da perfeição).

Sucede que, no post anterior, não referi um dos aspectos mais marcantes da insegurança de Sócrates.

Quando entrou para a Assembleia da República, o actual primeiro-ministro era apenas um engenheiro técnico. Ou seja, era um humilde bacharel em engenharia, num hemiciclo onde licenciados, mestres e doutores predominam.

Homens como Jerónimo de Sousa (que não tem estudos superiores) ou Manuel Monteiro (que liderou o CDS numa época em que ainda não tinha concluído a licenciatura) jamais se importaram de integrar a elite dos 230 sem terem um diploma bonito para pendurar na parede. Mas Sócrates, mesmo tendo estudos superiores (o bacharelato é o mais pequeno grau académico), sentiu sempre essa insegurança de não ter a licenciatura. Por ser engenheiro técnico, era chamado pelos seus pares de “engenheiro”, quando, na verdade, não estava inscrito na Ordem - aliás, com tal bacharelato, não podia estar inscrito.

Isto explica o que terá levado José Sócrates, já membro do Governo de António Guterres, a tentar arranjar uma licenciatura em engenharia. A qualquer custo e pelas vias mais sinuosas. Conseguiu o diploma, é certo, mas a sua licenciatura tirada à pressa acabou por lhe custar demasiado caro em termos de reputação. Foi a primeira grande ferida na sua honra pessoal (se é que ele dá importância a isso), que deixou uma cicatriz profunda nos seus medos e inseguranças.

A partir deste episódio, Sócrates (apoiado pelo seu fiel Augusto Santos Silva) desencadeou um conjunto de perseguições aos jornalistas, responsabilizando-os, instintivamente, por uma mancha enorme na sua honra.

Conheço algumas pessoas que desempenham cargos de grande responsabilidade sem terem uma licenciatura. Em muitas delas, reconheço este tipo de comportamento, fruto de recalcamentos, estigmas (especialmente o de não ter a licenciatura) e de inseguranças escondidas nos locais mais recônditos da alma humana.

Certa vez, o antropólogo Pedro Prista disse, em plena aula, algo como isto: “A alma humana está cheia de tempestades, abismos e contradições”.

Sócrates, homem inteligente e vivo, está cheio de tempestades, abismos e contradições.

Mas não seremos todos nós um pouco como Sócrates?

A MANILHA VAI SECA (31): Não foi a vaidade, não foi a arrogância, foi a insegurança

Depois do desaire eleitoral de 7 de Junho, tornou-se um lugar-comum afirmar que foi a arrogância que perdeu José Sócrates.

Permitam-me que discorde: foi, isso sim, uma mescla de vaidade com muita insegurança.

Um dos maiores problemas deste PS absurdamente centrado na figura do seu líder é a incapacidade de criar espaço para outras figuras para além do secretário-geral. Sendo um homem extremamente vaidoso e algo egocêntrico, Sócrates quer ser o único a brilhar, mas, ao mesmo tempo, conhece como ninguém as suas próprias fragilidades. Não falo de eventuais rabos-de-palha (como a licenciatura da Universidade Independente), mas sim de fraquezas internas, de inseguranças que só ele conhece e que só ele consegue disfarçar como ninguém.

Sócrates é um homem inseguro.

E isso percebe-se em inúmeros detalhes.

O fecho desmesurado de urgências hospitalares, escolas e blocos de partos no interior do país faz-me lembrar que o nosso primeiro-ministro está registado como tendo nascido em Vilar de Maçada, no concelho transmontano de Alijó, apesar de, em rigor, ter vindo ao Mundo no Porto, na freguesia de Miragaia. Quando se vive em grandes cidades (especialmente em Lisboa), sei bem como as pessoas oriundas de pequenas terras do interior são estigmatizadas, como se, na verdade, fossem bichos raros. Só para vos citar um exemplo, tive professores que se referiam a um colega meu como “o madeirense”, quase como se falássemos de um estrangeiro no meio dos anónimos e obrigatórios lisboetas. Adivinho que, de alguma forma, Sócrates deverá ter sentido esse estigma nalgum momento da sua infância ou adolescência, facto que justifica uma certa raiva contra o interior… que, de repente, ficou quase sem maternidades.

Sócrates deve ter amaldiçoado os pais pelo facto de estes não o terem registado no Porto (onde, de facto, nasceu), embora acredite que, no âmago do seu ser, ele desejasse mesmo ser lisboeta - de preferência, de São Sebastião da Pedreira.

Estas inseguranças de Sócrates acabam por se reflectir em inúmeros outros aspectos e que começam logo na escolha do elenco ministerial deste Governo: não há uma única figura que lhe faça sombra. Na verdade, Sócrates parece ter algum prazer em escolher pessoas politicamente pouco aptas para cargos ministeriais, que, ao contrário do que algumas pessoas pensam, não são lugares puramente técnicos, mas sim políticos. Manuel Pinho, Mário Lino, Jaime Silva, Maria de Lurdes Rodrigues ou Augusto Santos Silva são cinco exemplos de pessoas que nunca deveriam ter assumido uma pasta ministerial, posto que, do ponto de vista comunicacional e de habilidade política, são verdadeiras nulidades (o que não invalida que não possam ter bons conhecimentos técnicos sobre as áreas que tutelam, embora isso seja uma exigência mais flagrante quando falamos de secretários de Estado).

Contudo, os nomes que acima citei não têm total responsabilidade nos insucessos que lhes são atribuídos. Isto porque Sócrates, através de um hábil jogo de luzes e sombras, reserva para si mesmo um dado papel na governação e, para os seus subordinados, outro papel completamente diferente.

Vamos a um exemplo.

Quando se fala de recuperação de escolas (uma das melhores apostas em termos de Educação), quem é que dá a cara? José Sócrates. Quando se fala da distribuição de Magalhães, que pretendem ser uma interessante arma de combate ao analfabetismo informático, quem é que dá a cara? José Sócrates.

Porém, quando se fala de um Estatuto do Aluno cheio de imbecilidades, quem é que dá a cara? Maria de Lurdes Rodrigues, a besta. Quando se fala da caótica avaliação dos professores, quem é que dá a cara? Maria de Lurdes Rodrigues, a que merece ser chamada de puta para baixo.

Assim se percebe que José Sócrates reclama para si as medidas simpáticas e deixa para os seus subordinados as tarefas ingratas, mesmo que tenha responsabilidades em todas as decisões. Reconheço que Sócrates é o melhor elemento do elenco governativo (não vale a pena escamotearem esta realidade), mas também sei perceber que ele faz tudo para parecer muito melhor do que realmente é.

Por isso, sempre que pensarem em José Sócrates como um arrogante animal político, lembrem-se: debaixo da pele de lobo, está um cordeiro amedrontado. O problema é que esta questão de peles e medos tem consequências para o País…

JOKER (5): Dossier secreto sobre a nova cadeia de hotéis de charme em Lisboa

O ONZE DE ESPADAS orgulha-se de apresentar, aos seus ilustres e mui estimados frequentadores, o dossier secreto sobre os novos hotéis de charme que vão polvilhar Lisboa de turistas e de… pois, de charme.

O nosso blog, mantido por uma vasta equipa de colaboradores altamente bem informados (composta pelo sábio Dr. Mento e respectivo ego) teve acesso, em rigoroso exclusivo mundial (e, quem sabe, nacional), a documentos altamente e totalmente secretos sobre a nova cadeia de hotéis de charme que está prestes a nascer na capital mais bonita deste nosso bonito Portugal.

HOTEL S(E)BENTO: Instalada num antigo convento recentemente remodelado, esta unidade hoteleira promete trazer a Lisboa doses verdadeiramente cavalares de animação. De acordo com o projecto, este vai ser o primeiro hotel do país a contar com os préstimos de artistas das mais variadas áreas do entretenimento, desde poetas a contadores de histórias, passando por palhaços, malabaristas, ilusionistas, contorcionistas, trapezistas e engolidores de sapos. Para os apreciadores de espectáculos com animais, não faltarão as habituais touradas e circos de feras, embora, num registo mais soft, possamos também apreciar as habilidades de alguns cãezinhos amestrados e os bucólicos balidos da carneirada que pasta por estas paragens. Com cinco dos melhores chefs de Portugal na cozinha, as várias especialidades gastronómicas serão, obrigatoriamente, servidas num fumegante tacho.

POUSADA FLOR DO RATO: Por si só, o nascimento desta bonita pousada cor-de-rosa vai criar 150 mil novos postos de trabalho, maioritariamente na construtora Mota-Engil, à qual foi já adjudicada, por ajuste directo, a empreitada das obras de remodelação do edifício. Em total contraste com a arquitectura exterior, o interior será uma viagem até aos tempos da Grécia clássica, não faltando sequer um (agora) humilde filósofo de serviço a tentar rebater os argumentos dos pensadores sofistas de outras cores que não o cor-de-rosa. Todavia, um reparo: se as suas acomodações não forem do seu agrado não peça o livro de reclamações, já que há um augusto cão raivoso, de seu nome Silva, que mostra logo o dente a quem mostrar desagrado (e não vale a pena darem-lhe carne fresca). Consta que um famoso declamador possa, volta e meia, aparecer a espaços para declamar uns quantos versos de sua autoria, mas, segundo apurámos, o homem da voz de trovador anda meio zangado com o dono da pousada. Para quem quiser aprimorar o seu francês, pode contar com aulas particulares do Dr. Soares… isto se ele não estiver a dormir a sesta. Ao que apurámos, uma estadia de duas noites dá direito a talões de desconto no Freeport de Alcochete, onde, ao que dizem as más-línguas, as luvas em pura lã inglesa são caras (quatro milhões de euros o par).

HOTEL DO SENHOR SILVA: Esta unidade hoteleira é verdadeiramente recomendada a todos aqueles que sofrem de insónias crónicas e medicamente incuráveis, já que o seu proprietário, um algarvio que nunca se engana e raramente tem dúvidas, gosta de receitar aos seus hóspedes insones alguns dos seus melhores discursos. Na decoração desta unidade hoteleira predominam os tons cor-de-laranja, numa mescla de elementos oriundos do Algarve com uns laivos de inspiração da Capadócia. Este hotel tem também um eficaz serviço de recados (o proprietário da Pousada Flor do Rato que o diga), mas todas as reclamações arriscam-se seriamente a ser vetadas. Para os que quiserem conhecer melhor os recantos mais recônditos de Lisboa, recomendamos os excelentes roteiros do hotel.

HOTEL HOGWARTS À LAPA: Mais do que um hotel, este estabelecimento é uma escola de magia, onde uma ilustre feiticeira (por demais apelidada de bruxa) ensina os seus alunos a baixar impostos e a ajudar as “piquenas e médias empresas” com truques de magia simples. Para os iniciados, as aulas de ilusionismo serão um must, com Madame Forreta Leite a ensinar como baixar o défice das finanças públicas recorrendo a truques simples (e possíveis de realizar nas nossas próprias casas), como a venda de património. Há igualmente cursos de dizer a verdade e aulas particulares para engolidores de elefantes. No campo da animação, todas as noites terão lugar jogos bem divertidos, como um em que os participantes têm de enfiar o maior número de punhais nas costas dos seus adversários, sem que eles próprios apanhem uma facada. Há sessões de stand-up comedy com um senhor madeirense, que é também responsável pela venda de charutos cubanos e pela preparação das ponchas. O hotel dispõe de serviço de cabeleireiro (a cargo do senhor Lopes, que lançou um curioso corte masculino, com o cabelo bem comprido na zona da nuca) e de uma agência bancária do BPN - em cujo interior poderemos mesmo encontrar duas frondosas árvores (uma Oliveira e um Loureiro) que secam tudo em seu redor.

(Em breve, poderemos ter mais informações sobre a mais nova cadeia hoteleira de Lisboa)

sexta-feira, 19 de junho de 2009

A MANILHA VAI SECA (30): A primeira derrota eleitoral de José Sócrates (o homem que quis perder as Autárquicas e as Presidenciais para poder vencer)

Acham mesmo que José Sócrates perdeu todas as eleições desde as Legislativas de 2005?

Não. Na verdade, por vezes, Sócrates ganhou perdendo. Como ele engana tão bem, meus amigos.

Após conquistar a primeira maioria absoluta do PS em 2005, José Sócrates, aparentemente, tem tido uma série de desaires eleitorais. É certo que ganhou as Regionais dos Açores (que não têm expressão nacional, tal como as da Madeira) e as Intercalares em Lisboa (que também não devem ser extrapoladas para o resto do país). Mas, ao mesmo tempo, Sócrates terá perdido as Autárquicas de 2005 e as Presidenciais de 2006, ambas disputadas numa altura em que o Governo actual ainda estava em estado de graça.

Sucede que Sócrates, habilidoso animal político, é um homem nada linear nas suas apostas. E a sua grande aposta passava por obter o controle total do partido, enfraquecendo ao máximo das várias facções que se degladiam pelo poder. Manuela Ferreira Leite que aprenda alguma coisa com este senhor.

Nas Autárquicas, Sócrates lançou João Soares para a Câmara de Sintra (estamos a falar do concelho que, actualmente, é o mais populoso do país). Apesar de até ter feito uma boa campanha, Soares «filho» perdeu para a Coligação Mais Sintra (PSD/CDS-PP/PPM/MPT) de Fernando Seara, que, ainda por cima, conseguiu a maioria absoluta. Em Lisboa, a capital, avançou Manuela Maria Carrilho, que perdeu depois de uma campanha verdadeiramente desastrosa.

Sucede que João Soares foi adversário de José Sócrates nas directas do PS e era ainda um dos nomes mais fortes da corrente soarista, liderada pelo próprio pai, ex-dono e fundador do partido. Já Manuel Maria Carrilho foi sempre um outsider perigoso, que chegou a desafiar a liderança de António Guterres, tendo-se transformado num acérrimo crítico do guterrismo que outrora integrou.

Ou seja, com a derrota de Soares e Carrilho, Sócrates enfraqueceu a oposição interna. Mas faltava ainda tirar uma pedra do sapato, que, nos tempos finais do Cavaquismo, foi uma das grandes vozes críticas do PS de oposição de António Guterres. Falo-vos, claro está, de Mário Soares.

Ao optar por Soares, Sócrates pretendeu atirar o velho Buda do PS para uma derrota que iria enfraquecer definitivamente o poder do fundador no seio do partido. Após a derrota de João em Sintra, a derrota de Mário contra Cavaco foi o desfecho ideal para Sócrates… ou seria, se Manuel Alegre não tivesse ganho mais protagonismo do que seria expectável num homem que, supostamente, já teria passado o auge da sua carreira política. Na verdade, neste momento, apenas a facção de Alegre tem alguma voz dentro do PS, mas Sócrates sabe que pode sempre tentar silenciar o deputado-poeta com as promessas de uma candidatura presidencial contra Cavaco Silva em 2011.

Tudo isto para dizer que as Autárquicas e as Presidenciais foram um acto de bluff puro e duro por parte de José Sócrates, que nem pareceu muito incomodado com as derrotas. Pudera…

Em 2007, as Intercalares de Lisboa foram ganhas pelo PS, que assim fica com António Costa a ganhar calo para poder suceder, futuramente, a José Sócrates. Todavia, estamos a falar de uma figura que fica nitidamente em stand-by.

Por isso, a derrota nas Eleições Europeias foi o primeiro fiasco a sério de José Sócrates, que até se envolveu na campanha numa tentativa de segurar as pontas diante de uma prestação desastrada da Vital Moreira. No entanto, a escolha do professor de Coimbra foi uma opção do próprio Sócrates, que não via no Avô Cantigas de trazer por casa um adversário directo ao seu esplendor e poder. Esta opção de Sócrates acabou por se revelar um fiasco, já que não evitou que o PSD assumisse a dianteira, do mesmo modo que não conseguiu estancar o crescimento do BE; a juntar a tudo isto, CDU e CDS-PP aumentaram também as suas votações.

Os resultados de 7 de Junho deverão levar José Sócrates a alterar a sua estratégia. Com o poder consolidado dentro do PS, o senhor com nome de filósofo estuda agora a próxima jogada, sendo certo que, desta feita, será ele quem irá ser (quase) directamente escrutinado. Fico curioso por saber que cartas irá jogar…

A MANILHA VAI SECA (29): O largo tacho que exala um doce aroma a poder (e a um Bloco Central cada vez mais vivo)

Não deixem que vos ceguem os olhos da mente.

Como ser democrático que sou, respeito sempre todas as opiniões, mas aqueles que defendem que não vai haver um novo Bloco Central decerto estarão a analisar a questão de um ponto de vista demasiado imediatista. Se nos afastarmos um pouco da lufa-lufa das notícias que caem a cada momento, podemos ter uma perspectiva diferente sobre o assunto, em especial quando nos abstraímos da clubite partidária.

As Eleições Europeias ditaram que não vai haver um Bloco Central? Desenganem-se. A questão continua em cima da mesa, tão fresca e viçosa como antes. Só se evita falar dela para evitar que, sobretudo, o BE continue a engordar à custa dos descontentes (um Bloco Central por antecipação iria levar ainda mais gente ao pensamento de "votar no PS ou no PSD é a mesma coisa, as políticas vão ser exactamente iguais e eu estou farto/a desta gente").

Em primeiro lugar, convém não analisar os resultados das Europeias como se estivéssemos a falar de legislativas. As Europeias elegem 22 eurodeputados através de um círculo único, ao passo que as Legislativas elegem 230 deputados através de 20 círculos eleitorais, sendo os eleitos apurados pelo Método de Hondt (ou D’Hondt, como é vulgar ver-se). Nas Legislativas, a maioria absoluta (que não tem grande sentido nas Europeias) alcança-se com 116 deputados.

Contudo, dá para perceber que há uma nítida tendência de enfraquecimento dos partidos do Bloco Central (PSD e PS) e um engordar das franjas (CDU, BE e CDS-PP). Isto pode levar a que uma aliança entre um partido do Bloco Central com um dos outros possa não atingir a tão desejada maioria absoluta. Ou seja, neste momento, sem termos ainda resultados concretos, é demasiado cedo para falarmos de uma coligação entre PSD e CDS-PP.

Esta perda de influência do Bloco Central e a dispersão de votos perdidos pelo PS por dois partidos (CDU e BE) pode conduzir justamente a uma situação em que o Bloco Central possa ser a única solução de governabilidade. É certo que há sempre o recurso aos entendimentos parlamentares caso a caso, mas, numa situação como a que foi acima descrita, tal poderá obrigar a acordos com dois partidos de cada vez; no caso do PS, tal é bastante mais fácil, mas, no tocante ao PSD, apenas apertando a mão ao PS será possível sair de um impasse, já que o PCP e o BE têm uma natural aversão a aprovar propostas de um Governo liderado por gente que não esteja filiada numa Internacional marxista.

Realço também que, se for Manuela Ferreira Leite a vencer as eleições nas circunstâncias acima descritas, o Bloco Central ganha mais viabilidade, dada a já referida dificuldade em estabelecer acordos com mais do que um partido. Mas somente o resultado das Legislativas poderá dar uma resposta cabal a estas perguntas. Tudo vai depender do número de mandatos obtidos por cada força política.

Os que defendem que Manuela Ferreira Leite e José Sócrates são figuras incompatíveis, podem estar descansados, porque, como já disse anteriormente, o que perder passa a ser carta fora do baralho. Se o PSD não vencer, Pedro Passos Coelho (ou outro qualquer, como Nuno Morais Sarmento) vai mexer este mundo e o outro para a realização de directas e de um novo congresso para destituir Ferreira Leite… isto se Miss Política de Verdade não se demitir entretanto. Na verdade, se o PSD não vencesse as Europeias, certo é que Passos Coelho avançaria imediatamente para a luta pela liderança.

No caso do PS, se Sócrates perder, sendo ele o rosto do Governo, terá de se demitir. Aí, grandes convulsões irão abalar o PS, havendo a forte possibilidade de António Costa (sinceramente, não acredito em Manuel Alegre) acabar como secretário-geral dos socialistas.

Com António Costa ou Pedro Passos Coelho na liderança do partido perdedor, poderá ser bastante mais fácil um entendimento de Bloco Central, até porque ambos são figuras moderadas, sem aqueles grandes radicalismos clubistas que encontramos, por exemplo, num Augusto Santos Silva. No entanto, tudo vai depender de quem for guindado para a liderança do partido perdedor das Legislativas, embora, sinceramente, eu aposte num moderado de visão desenvolvimentista, europeísta, progressista, relativamente jovem (com menos de 60 anos, portanto) e de cunho mezzo neoliberal, mezzo social-democrata.

Por outro lado, um acordo entre socialistas e sociais-democratas vai levar a uma simpática distribuição de tachos que agradará a ambos os lados da contenda. E aí, problemas como o do Provedor de Justiça poderão resolver-se imediatamente com um aperto de mão e um par de sorrisos cínicos.

É o doce aroma do poder, meus amigos.


Nota adicional: Com esta análise, não quero estar aqui a defender ou a criticar um eventual Bloco Central. Também não quero estar a dizer taxativamente que o mesmo irá concretizar-se. Seguindo a política desta mesa de jogo, quero apenas mostrar-vos apenas que, apesar de não se falar deste tema como há algumas semanas, o Bloco Central continua a ser uma realidade. A suposta polarização entre PS e PSD é um mito, alicerçado numa análise imediatista. É sobre isso que preferia que reflectissem. Ainda assim, convém frisar, mais uma vez, que só com o resultado das Legislativas é que a política de alianças poderá finalmente começar a desenhar-se com nitidez. Até lá, tudo são meros cenários… que podem (ou não) passar a ser realidade.

A MANILHA VAI SECA (28): Sócrates, o grego

Lembram-se como é que a Grécia ganhou o Euro’2004? Preparem-se, porque José Sócrates está pronto para usar uma táctica semelhante nas Legislaivas’2009.

Depois da goleada sofrida nas Eleições Europeias, o secretário-geral do PS parece um homem novo, mais sereno, mais dialogante, mais calmo, menos arrogante. Puro engano, meus amigos, puro engano. Ele está a atirar-vos areia para os olhos, o que, de resto, é uma especialidade dele. Cada gesto de Sócrates tem sempre múltiplas leituras.

A entrevista do primeiro-ministro à SIC representa um Sócrates a jogar com três centrais, dois laterais e dois trincos. Ou seja, a jogar completamente à defesa, com o autocarro estacionado à porta da baliza; sobram, portanto, dois extremos e um ponta de lança, que, nestes últimos tempos, parecem ausentes do jogo. Por agora, joga-se para o empate e venha daí um ponto, até porque o PSD não está a jogar grande coisa e não desenvolve jogadas de ataque que façam suar a defesa ou que dêem trabalho ao guarda-redes.

Parecem. Quando chegar a altura certa, um dos extremos vai recuar no terreno, apanha a bola, desenvolve o contra-ataque rapidíssimo, cruza para o ponta de lança e… se as coisas correrem bem, o guarda-redes está batido.

Não percebi ainda se Sócrates vai lançar o seu contra-ataque em pleno mês de Agosto (altura em que, devido à falta de notícias com que se debatem todos os jornais e telejornais, qualquer novidade tem sempre mais espaço) ou já em Setembro, numa altura em que o país volta a acordar para a realidade, depois de umas semanas de barriga para o ar ao sol. Cada timing tem as suas vantagens e desvantagens, que, decerto, serão friamente ponderadas por um Sócrates que já não é rei e senhor do campo de jogo.

A única coisa que sei é que Sócrates vai, de certeza, anunciar medidas extraordinárias nos próximos meses. E não me surpreendia se fosse uma descida do IVA de 20 para 19 por cento, embora o actual primeiro-ministro seja homem para ir muito além disso numa tentativa desesperada de ganhar votos. Não me espantava nada que chegasse mesmo ao cúmulo de dar um subsídio de desemprego a todos os trabalhadores precários (ou seja, a recibos verdes) ou que estendesse a atribuição desta prestação social para além do prazo normal, numa medida que, decerto, iria atirar a Segurança Social para a ruptura, mas que, ao mesmo tempo, seria do agrado de muitos eleitores - em especial daqueles que, desesperados e como forma de protesto, votaram no BE nas Europeias.

Enfim, deixo à vossa imaginação como se processará o contra-ataque de Sócrates e do PS.

Depois, se Sócrates tiver sentido táctico, deverá aguentar o jogo até ir a penálties e explorar as enormes fragilidades do guarda-redes adversário. Como tal, deverá forçar Manuela Ferreira Leite para um debate a dois, que, se for rejeitado pela líder do PSD, deixará a nada simpática senhora na condição de covarde. Se Ferreira Leite aceitar o duelo, perderá logo no primeiro momento em que abrir a boca, posto que lhe faltam a capacidade discursiva, a linguagem gestual, a rapidez de raciocínio, a pujança vocal e a argúcia do seu adversário; em compensação, a líder do PSD tem o dom nato de, em poucas palavras, dizer as maiores alarvidades do Mundo (Lembram-se dos homossexuais? Das obras para ucranianos e cabo-verdianos?).

Por isso vos digo: gostem ou não do senhor, não dêem Sócrates por derrotado. Ele ainda tem pernas para correr até ao final dos 90 minutos.


(Ok, hoje troquei as cartas por futebol. Só para variar um pouco)

quinta-feira, 18 de junho de 2009

A MANILHA VAI SECA (27): Jogaste a Manilha e o teu parceiro não tinha o Ás (ou os 10 pontos gentilmente ofertados por Paulo Rangel ao CDS)

Se recuarem alguns posts, verão que, apesar de elogiar o tacto político de Manuela Ferreira Leite na escolha do cabeça-de-lista do PSD para as Eleições Europeias, não deixo de apresentar algumas reservas quanto à figura de Paulo Rangel.

Apesar de reconhecer algumas qualidades ao dito senhor, não imagino Rangel como a nova estrela do PSD ou da política portuguesa. Se querem mesmo saber, lembro-me, há algum tempo, de uma entrevista que este senhor deu onde menosprezava ao máximo dos direitos dos animais, o que, confesso, me despertou uma certa antipatia pelo sujeitinho. Na verdade, reconheci logo no estilo de Rangel algo que me fez lembrar o pior de Manuela Ferreira Leite: a capacidade de criar milhares (ou milhões) de inimigos com um par de frases. Ferreira Leite conseguiu conquistar o ódio de imigrantes e homossexuais, Rangel ganhou o asco dos defensores dos animais. Se eu fosse dirigente do PSD, desfazia os fracos crânios de ambos a golpes de bengala.

Durante a campanha para as Europeias, Rangel até se portou razoavelmente bem e evitou tenazmente meter o pezinho na argola, coisa que o seu principal rival, o douto Vital Moreira em Coimbra doutorado, se fartou de fazer. Porém, agora que as eleições estão ganhas, Rangel decidiu tirar a mordaça e soltou logo uma daquelas alarvidades que me fazem colocar enormes pontos de interrogação em relação às capacidades políticas deste cavalheiro.

Ao sugerir que o caminho mais provável para o PSD será uma coligação com o CDS-PP, Paulo Rangel está a admitir publicamente que o seu partido não vai conseguir a maioria absoluta, o que é uma boa maneira de desmoralizar as hostes laranja (que, depois de 7 de Junho, andavam com a moral nos píncaros do Universo). Ao mesmo tempo, Rangel dá ao CDS-PP um importante trunfo eleitoral, com Paulo Portas a poder dizer aos seus: “Vejam, vamos voltar para o Governo! Não façam voto útil no PSD para derrubar o Sócrates, votem logo em nós!”

Recordo-vos que, em 2002, Portas usou esse mesmo trunfo como forma de captar mais eleitorado, ainda que Durão Barroso nada tivesse dito acerca de eventuais coligações com quem quer que fosse. Na verdade, em 2002, Portas abordou o tema de uma coligação com o PSD para obrigar Barroso… a coligar-se com o CDS-PP, se não quisesse ficar totalmente isolado num Parlamento hostil. Agora, em 2009, Portas nem se precisa dar a esse trabalho, porque um ex-militante do seu partido já o fez por si.

Além do mais, há uma fatia do eleitorado do PSD que não suporta o CDS-PP e/ou Paulo Portas e que poderá muito bem optar por dar o seu voto a outro partido. Por exemplo, ao PS...

Paulo Rangel será o próximo líder do PSD? Não. Não lhe falta comer muita papa Maizena. Falta-lhe, isso sim, uma mordaça na boca, para não dizer mais disparates.

O EDITOR VAI A JOGO (9): A crise acabou

Não.

Esperem.

Sim, a verdade é que a crise acabou.

Mas é a minha crise.

Crise de inspiração.

Não.

Não estou a citar o Manuel Pinho.

Eu sei que esta mesa de jogo nunca teve grande nível (mais por culpa do dono do que devido aos frequentadores, que são gente de respeito).

Mas ainda não desci ao nível de um Manuel Pinho.

Isso é baixo demais.

Apesar de usar uma frase que ele usou.

Mas isso não significa que a minha inteligência (que é escassa, confesso) tenha descido a níveis de Manuel Pinho.

Isso seria grave demais.

Ainda assim, poderia ser pior.

Poderia ter citado o Augusto Santos Silva.

Mas o Augusto Santos Silva não poderia escrever este post.

Aliás, desconfio que ele nem sabe escrever.

Nem ele, nem o Manuel Pinho.

OK, CHEGA DE MERDAS E VAMOS AO QUE INTERESSA: OS POSTS ESTÃO DE VOLTA.

(E com uma subtil remodelação cromática pelo caminho)

sábado, 13 de junho de 2009

VALETE DE COPAS (3): A crise chegou aqui

Há muito tempo que o vocábulo “crise” tomou conta de Portugal, país onde tudo se justifica com esta palavra. Agora, é chegada a minha vez.

A crise apoderou-se de mim.

Se, por mero acaso, notaram que esta mesa de jogo andou sem grande movimento nos últimos dias, tal deveu-se, sobretudo, ao facto de ter tirado uns dias para descansar, para estar próximo dos que me são queridos (que quase me obrigaram a relaxar), para ir à praia e para me dedicar a uma das minhas maiores paixões recentes: o yoga. Basicamente, estive afastado de quase tudo o que me enche a mente, embora tenha tomado contacto com a realidade noticiosa do país e do Mundo através de uma ou outra leitura diagonal.

Contudo, agora que me volto a sentar diante de um teclado, sinto que as palavras não fluem. De súbito, as ideias secaram, os raciocínios emperraram, o cérebro entrou em modo de descanso. Quiçá, resquícios dos últimos meses, que, em termos profissionais, foram incrivelmente duros, desgastantes e nada compensadores (nem sequer chegaram a ser um teste à minha capacidade de resistência).

Estou em crise. De inspiração. No fundo, esta é a prova de que nunca passei de um falso jornalista. Os jornalistas nunca têm - e nem podem ter - falta de inspiração. Isso é mal de escritor. Isso é um mal da minha gente, na verdade.

Estou em crise.

Talvez poste um pouco menos nos próximos dias.

Ou talvez não.

Não sei.

A crise não me deixa saber.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

A MANILHA VAI SECA (26): Quem tem medo do bloco mau?

(Já detectei uma gralha tenebrosa neste texto. A mesma foi corrigida. Peço desculpa. Devo ter desligado o cérebro por instantes)


Confesso que os resultados do Bloco de Esquerda nas Eleições Europeias não me surpreenderam minimamente. Espantei-me, isso sim, com as percentagens avançadas por muitas sondagens, que, apesar de reconhecerem um crescimento do BE, indicavam que o partido de Francisco Louçã se ficaria pelos dois eurodeputados e abaixo da margem simbólica dos dois dígitos.

Há muito que desconfiava solenemente destas sondagens, que, suspeito, poderão ter tido o dedo de gente ligada ao Bloco Central. E quem me deu essa indicação não foram pessoas ligadas a empresas de sondagens (que, até prova em contrário, continuam a ser credíveis, apesar de falíveis), mas sim o PS e o PSD. Havia no ar demasiados sintomas de que o BE poderia incomodar, e muito, os rabos gordos e acomodados do Bloco Central, que não querem entregar as suas teias de influências a gente fora do «sistema».

Há muito que percebi o incómodo de alguns posts (no Abrupto) e declarações de José Pacheco em relação a um Bloco de Esquerda apresentado como um papão que, se não fosse travado, iria conduzir Portugal à mais profunda ruína. Em blogues de gente ligada ou com simpatias pelo PSD, o mesmo sentimento, as mesmas palavras, a mesma ira contida e não disfarçada, a mesma diabolização. Em muitos destes espaços, o sentimento continuou ontem à noite.

Esta diabolização do BE serve, sobretudo, para escamotear a grande derrota do PSD nas Europeias: a incapacidade de roubar votos de descontentes com o PS. É, neste momento, um ponto fraco do PSD e as hostes sociais-democratas deveriam reflectir seriamente sobre esta matéria, ao invés de elegerem terceiros à categoria de vilões - aliás, a táctica da diabolização deu asneira da grossa quando Vital Moreira e o PS decidiram apostar nela em força.

Responsabilizarem o BE pela criação de uma situação de ingovernabilidade do país é um disparate sem pés nem cabeça e um desrespeito pela vontade do eleitorado. Mais pessoas (muitas delas, tradicionais eleitores do Bloco Central) votaram no BE porque vêem nele uma alternativa, uma oportunidade de mudança e um programa que lhes agrada. Desrespeitar isso é desrespeitar a vontade do principal órgão de soberania em Portugal: o eleitorado.

Quanto ao PS, os sinais são muito anteriores e tiveram um dos seus pontos altos na escolha de Vital Moreira para cabeça-de-lista nas Europeias. Um ex-comunista para tentar roubar votos à dita extrema-esquerda. Uma aposta destas (ao invés da opção por um moderado) mostra, silenciosamente, que o BE é uma ameaça real (ao domínio eleitoral recente do PS e dos partidos do Bloco Central). Depois, seguiram-se muitas críticas acesas ao Bloco, que mais me pareciam declarações de medo do que acusações com pés e cabeça.

Por fim, o lançamento de uma lei de levantamento do sigilo bancário em Conselho de Ministros e a aprovação, por parte do PS, de uma proposta semelhante apresentada pelo BE na Assembleia da República. Este episódio surge semanas após Sócrates ter anunciado, para a próxima legislatura, a legalização do casamento entre pessoas do mesmo sexo, que, como se sabe, é uma das bandeiras do Bloco.

Estes dois últimos exemplos mostravam, há alguns meses, um PS a tentar colar-se desesperadamente ao BE, para tentar ver se salvava uma eventual transferência de votos para as hostes de Francisco Louçã.

Suspeito que, internamente, PS e PSD dispunham, há muito tempo, de sondagens que apontavam para um crescimento fortíssimo e sustentado do BE. Ambos tentaram atirar areia para os olhos, mas, no final, o povo foi quem mais ordenou.

Agora, se querem recuperar os votos que fugiram para o BE, só posso dar um conselho às gentes do PS e PSD: TRABALHEM MAIS E MELHOR. Em democracia, o poder não é um direito conquistado à nascença por partido algum.

A MANILHA VAI SECA (25): A Dama de Espadas que quer comer o Ás de Copas

As Eleições Europeias podem ser entendidas, do ponto de vista nacional, como um cartão amarelo ao PS, ao Governo e, sobretudo, a José Sócrates. Mas desengane-se quem achar que Manuela Ferreira Leite iniciou agora a sua caminhada vitoriosa para as Legislativas.

Não estou a dizer que a senhora não vai ganhar as eleições. Nada disso. Mas não vai ser nada, nada, nada, nada, nada, nada, nada fácil.

Há, sobretudo, um momento que será particularmente difícil para Manuela Ferreira Leite: quando for desafiada para um debate com José Sócrates. É claro que a líder do PSD pode optar por fugir a confrontos directos com adversários (e, se calhar, era o melhor que fazia), mas isso seria passar ao eleitorado uma mensagem de covardia e de incapacidade de enfrentar, olhos nos olhos, verdadeiros grandes problemas.

Por outro lado, se optar debater com José Sócrates, há que contar com os parquíssimos dotes de oratória da líder social-democrata, que, ainda por cima, terá pela frente um poderoso orador, um verdadeiro encantador de serpentes. Se houver um debate a cinco (com Francisco Louçã, Jerónimo de Sousa e Paulo Portas metidos na molhada), Ferreira Leite nem sequer se conseguirá fazer ouvir (a sua voz não é possante) e sairá do embate como a clara e óbvia derrotada.

No dia-a-dia de campanha, a elitista Ferreira Leite terá de apertar a mão a gente suja, cumprimentar descamisados e dar dois beijinhos a peixeiras. Não, não a estou a ver a fazer isto e, se o fizer, não terá aquele desembaraço de Paulo Portas, Jerónimo de Sousa, Francisco Louçã… e, claro está, do sempre temível José Sócrates.

Se optar por realizar apenas asseados comícios e polidas palestras, Ferreira Leite estará novamente em desvantagem. E acredito, sinceramente, que a líder do PSD se balde à popularucha Festa do Pontal (e, já agora, à de Chão de Lagoa, na Madeira), optando antes por uma cinzenta Universidade de Verão em Castelo de Vide, onde as elites do PSD se masturbam asseadamente e debatem entre si ideias para o futuro, sem se terem de misturar com o povo sujo e imundo, de farfalhudos bigodes e falhas dentárias, que tresanda a suor, sardinha assada e salada de tomate.

Mas há pior: quem acompanha os debates quinzenais de José Sócrates na Assembleia da República sabe que o nosso primeiro-ministro é mestre na arte de tirar um trunfo da manga. Se o debate é sobre educação, Sócrates anuncia um complemento subsidiário e social de solidariedade para as famílias carenciadas dos alunos mais carenciados, mesmo que o dito abono, na verdade, apenas se aplique a jovens do sexo masculino chamados Zacarias ou Zebedeu. Com estes trunfos de última hora e umas palavras bem estudadas (aquele homem deve falar com o reflexo no espelho), Sócrates tem conseguido aguentar brilhantemente as investidas da oposição, ainda que necessite de corrigir uma falha grave: os seus discursos, transbordantes de energia e positivismo, são inacreditavelmente repetitivos.

Ora, até às Legislativas, Sócrates vai ter tempo para tirar muitos trunfos da manga. Se tiver, por exemplo, de baixar o IVA de 20 para 19 por cento (“para ajudar as famílias carenciadas e as empresas através de um incentivo ao consumo, que ajudará a criar mais emprego”, dirá ele), não tenham duvidas que nada deterá Sócrates, ainda que estes bónus possam arruinar completamente as finanças públicas portuguesas.

Por isso, meus amigos, não comparem Europeias com Legislativas. Para um Valete de Espadas (Paulo Rangel) foi fácil derrotar o mísero Dois de Paus do PS (Vital Moreira). Mas, nas Legislativas, a Dama de Espadas do PSD (Ferreira Leite) vai ter de comer o Ás de Copas do PS (Sócrates), o que, convenhamos, não será tarefa fácil. Além do mais, Sócrates é homem para pôr na mesa uma carta fora do baralho, como… um ONZE DE COPAS.

A MANILHA VAI SECA (24): O Valete de Espadas contra o Dois de Paus

De ilustre desconhecido (pelo menos, para quem não acompanha minimamente o que se passa nas sessões da Assembleia da República) a nova estrela da política portuguesa foi um pequeno passo. Há mesmo quem o aponte como o novo Ás de Espadas, o futuro senhor dos sociais-democratas, o estratega e lutador que guiará o país a uma era de plena prosperidade.

Como as coisas mudam.

Paulo Rangel foi apresentado ao eleitorado como um pobre Dois de Espadas, solução de recurso de uma líder partidária que não conseguia tirar da manga Ases e Manilhas de trunfo. Já Vital Moreira, ilustre ex-comunista e douto docente da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, iluminava-nos a alma com o seu sorriso terno e estudado, devidamente rematado com uma fisionomia de Avô Cantigas, que nos remetia para a ideia de estarmos diante do verdadeiro Rei de Copas do PS.

Puro engano.

Em pouco tempo, o Rei de Copas do PS transfigurou-se num quezilento e trauliteiro Dois de Paus, que, rapidamente, tomou para si o seguinte discurso: “Nós, PS, somos bons e salvadores da pátria! Vós, os demais, sois merda!” Sucede que, só com os votos da militância, o PS não vai a lado algum. Na verdade, as campanhas eleitorais não servem para masturbar os militantes do PS (que, em princípio, têm o voto garantido), mas sim para tentar captar eleitores que até andam a votar noutros lados. Se chamamos esses eleitores de “merda” (ou de corruptos, trauliteiros e anti-europeistas, como fez Vital), é melhor não contarmos com a simpatia destas gentes.

Tudo isto para dizer que Vital Moreira, homem que esteve demasiados anos afastado da política, foi tudo menos inteligente nesta campanha. Vou mesmo dizê-lo: FOI BURRO! Com todas as letras.

Apesar de haver uma significativa parcela de votantes que terá decidido optar pelo PSD como forma de penalizar o Governo de José Sócrates, o que é certo é que o mau resultado do PS deve-se, e muito, à miserável campanha do seu Dois de Paus.

Quanto a Rangel, desenganem-se os que o deidificam por causa da vitória nas Europeias. Na verdade, o Valete de Espadas do PSD teve apenas de fazer a sua campanha tranquilamente e de, tacticamente, jogar à defesa (com dois laterais, três centrais e um par de trincos), evitando cometer erros graves e aproveitando os erros grosseiros do adversário. Este foi, isso sim, o grande mérito de Paulo Rangel.

Mas esta foi uma vitória de Valete, não de Ás.

Contudo, a julgar pela manutenção dos dois eurodeputados do CDS-PP e pelo reforço de votos na CDU e no BE (sobretudo neste último), dá para perceber que, afinal, havia muita gente furiosa com o PS, Vital Moreira e, como é óbvio, José Sócrates.

E é aqui que se percebe que, afinal, Paulo Rangel até pode ser considerado como um derrotado destas eleições, já que não conseguiu capitalizar mais votos de descontentes. Com as benesses que o PS deu, Rangel e Ferreira Leite poderiam ter feito ainda melhor…

… ou, se querem saber, poderiam ter feito MUITO melhor.

A baliza esteve quase sempre sem guarda-redes e a defesa parecia estar embriagada. Com adversários destes, ganhar por 1-0 é perder. Se acham mesmo que Paulo Rangel é a nova estrela da política portuguesa...

A MANILHA VAI SECA (23): Ah, pois, eu sabia mas não queria dizer…

Antes mesmo de Manuela Ferreira Leite ter anunciado quem seria o cabeça-de-lista do PSD para as Eleições Europeias, já choviam críticas de toda a parte. Quando Paulo Rangel foi anunciado, choveram ainda mais críticas, ao ponto de o pântano onde os sociais-democratas chafurdavam se ter transformado num fétido lago de merda.

Na época, inúmeros analistas políticos e jornalistas (e bloguistas, já agora) consideraram a escolha de Paulo Rangel para cabeça-de-lista como um disparate monumental da líder social-democrata, já que o até então líder da bancada parlamentar do PSD era uma figura desconhecida do grande público, sem a projecção de um Luís Marques Mendes ou de um Marcelo Rebelo de Sousa (nomes que chegaram a ser amplamente falados, se bem se recordam). Houve muito quem também criticasse o facto de Manuela Ferreira Leite ter optado por divulgar o cabeça-de-lista às Europeias muito depois dos seus principais adversários na corrida ao Parlamento Europeu.

Curiosamente, no dia em que Paulo Rangel foi anunciado, elogiei, numa coluna de opinião (não digo onde a publiquei), a opção política de Manuela Ferreira Leite. Apesar de não gostar minimamente da senhora, confesso que fiquei favoravelmente surpreendido com o tacto político de uma figura que, reconheço, até então julgava ser um calhau com olhos. Foi a partir deste momento que reconheci que estava a subestimar a senhora e comecei a dar mais crédito a Ferreira Leite, apesar de continuar a achá-la homofóbica, racista e nada transparente nas suas políticas supostamente de verdade.

O que me levou a elogiar Paulo Rangel quando quase ninguém o fazia? Várias coisas.

Em primeiro lugar, é preciso ter em linha de conta que, com Legislativas e Autárquicas no horizonte mais próximo, nenhum partido vai querer jogar Ases e Manilhas numa vaza que muitos portugueses nem sequer sabem para que serve. Por isso, a generalidade dos partidos opta antes por lançar Valetes e Damas, que, ainda assim, têm de fazer alguns bons e saborosos pontos. Paulo Rangel ainda não é um Ás do PSD, mas pareceu-me um excelente Valete, com a vantagem de ser bastante jovem e de não estar conotado (e queimado) com anteriores governos de Cavaco Silva ou Durão Barroso (apesar de ter sido secretário de Estado no efémero executivo de Pedro Santana Lopes). Em suma, era uma figura pouco gasta, que representava, ao mesmo tempo, renovação e juventude, algo que figurões como Luís Marques Mendes não poderiam apresentar. Além do mais, por ser um homem de Manuela Ferreira Leite, Rangel evitava que um eventual sucesso nas Europeias não ficasse totalmente dissociado da líder, como sucederia no caso de Marques Mendes ou Marcelo avançarem - na verdade, se estes dois últimos vencessem, muita gente acharia que eles seriam melhores líderes do que a própria Ferreira Leite, o que só iria agravar a instabilidade dentro do PSD. Por fim, lembro-me (e é pena não ter o texto comigo) de elogiar o timing do anúncio - por ser demasiado tardio, pôs toda a gente a falar da escolha de Paulo Rangel e deu visibilidade a um candidato que muito carecia dela.

Há coisa de dois meses (quando esta mesa ainda nem um projecto era), consegui ver tudo isto. Tenho pena que muitos dos que falam em Rangel como a nova estrela da política portuguesa (há quem diga que será o futuro líder do PSD) não tenham percebido as vantagens deste candidato em tempo devido, sendo que as mesmas poderiam ser descortinadas com um pouco de reflexão sobre o assunto.

Na verdade, essa necessidade de reflexão é que me leva a não comentar os resultados das Europeias demasiadamente em cima do apuramento dos resultados. Até porque, se reflectirmos bem, os resultados escondem muitas verdades ocultas…