
Como as coisas mudam.
Paulo Rangel foi apresentado ao eleitorado como um pobre Dois de Espadas, solução de recurso de uma líder partidária que não conseguia tirar da manga Ases e Manilhas de trunfo. Já Vital Moreira, ilustre ex-comunista e douto docente da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, iluminava-nos a alma com o seu sorriso terno e estudado, devidamente rematado com uma fisionomia de Avô Cantigas, que nos remetia para a ideia de estarmos diante do verdadeiro Rei de Copas do PS.
Puro engano.
Em pouco tempo, o Rei de Copas do PS transfigurou-se num quezilento e trauliteiro Dois de Paus, que, rapidamente, tomou para si o seguinte discurso: “Nós, PS, somos bons e salvadores da pátria! Vós, os demais, sois merda!” Sucede que, só com os votos da militância, o PS não vai a lado algum. Na verdade, as campanhas eleitorais não servem para masturbar os militantes do PS (que, em princípio, têm o voto garantido), mas sim para tentar captar eleitores que até andam a votar noutros lados. Se chamamos esses eleitores de “merda” (ou de corruptos, trauliteiros e anti-europeistas, como fez Vital), é melhor não contarmos com a simpatia destas gentes.
Tudo isto para dizer que Vital Moreira, homem que esteve demasiados anos afastado da política, foi tudo menos inteligente nesta campanha. Vou mesmo dizê-lo: FOI BURRO! Com todas as letras.
Apesar de haver uma significativa parcela de votantes que terá decidido optar pelo PSD como forma de penalizar o Governo de José Sócrates, o que é certo é que o mau resultado do PS deve-se, e muito, à miserável campanha do seu Dois de Paus.
Quanto a Rangel, desenganem-se os que o deidificam por causa da vitória nas Europeias. Na verdade, o Valete de Espadas do PSD teve apenas de fazer a sua campanha tranquilamente e de, tacticamente, jogar à defesa (com dois laterais, três centrais e um par de trincos), evitando cometer erros graves e aproveitando os erros grosseiros do adversário. Este foi, isso sim, o grande mérito de Paulo Rangel.
Mas esta foi uma vitória de Valete, não de Ás.
Contudo, a julgar pela manutenção dos dois eurodeputados do CDS-PP e pelo reforço de votos na CDU e no BE (sobretudo neste último), dá para perceber que, afinal, havia muita gente furiosa com o PS, Vital Moreira e, como é óbvio, José Sócrates.
E é aqui que se percebe que, afinal, Paulo Rangel até pode ser considerado como um derrotado destas eleições, já que não conseguiu capitalizar mais votos de descontentes. Com as benesses que o PS deu, Rangel e Ferreira Leite poderiam ter feito ainda melhor…
… ou, se querem saber, poderiam ter feito MUITO melhor.
A baliza esteve quase sempre sem guarda-redes e a defesa parecia estar embriagada. Com adversários destes, ganhar por 1-0 é perder. Se acham mesmo que Paulo Rangel é a nova estrela da política portuguesa...
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