segunda-feira, 8 de junho de 2009

A MANILHA VAI SECA (24): O Valete de Espadas contra o Dois de Paus

De ilustre desconhecido (pelo menos, para quem não acompanha minimamente o que se passa nas sessões da Assembleia da República) a nova estrela da política portuguesa foi um pequeno passo. Há mesmo quem o aponte como o novo Ás de Espadas, o futuro senhor dos sociais-democratas, o estratega e lutador que guiará o país a uma era de plena prosperidade.

Como as coisas mudam.

Paulo Rangel foi apresentado ao eleitorado como um pobre Dois de Espadas, solução de recurso de uma líder partidária que não conseguia tirar da manga Ases e Manilhas de trunfo. Já Vital Moreira, ilustre ex-comunista e douto docente da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, iluminava-nos a alma com o seu sorriso terno e estudado, devidamente rematado com uma fisionomia de Avô Cantigas, que nos remetia para a ideia de estarmos diante do verdadeiro Rei de Copas do PS.

Puro engano.

Em pouco tempo, o Rei de Copas do PS transfigurou-se num quezilento e trauliteiro Dois de Paus, que, rapidamente, tomou para si o seguinte discurso: “Nós, PS, somos bons e salvadores da pátria! Vós, os demais, sois merda!” Sucede que, só com os votos da militância, o PS não vai a lado algum. Na verdade, as campanhas eleitorais não servem para masturbar os militantes do PS (que, em princípio, têm o voto garantido), mas sim para tentar captar eleitores que até andam a votar noutros lados. Se chamamos esses eleitores de “merda” (ou de corruptos, trauliteiros e anti-europeistas, como fez Vital), é melhor não contarmos com a simpatia destas gentes.

Tudo isto para dizer que Vital Moreira, homem que esteve demasiados anos afastado da política, foi tudo menos inteligente nesta campanha. Vou mesmo dizê-lo: FOI BURRO! Com todas as letras.

Apesar de haver uma significativa parcela de votantes que terá decidido optar pelo PSD como forma de penalizar o Governo de José Sócrates, o que é certo é que o mau resultado do PS deve-se, e muito, à miserável campanha do seu Dois de Paus.

Quanto a Rangel, desenganem-se os que o deidificam por causa da vitória nas Europeias. Na verdade, o Valete de Espadas do PSD teve apenas de fazer a sua campanha tranquilamente e de, tacticamente, jogar à defesa (com dois laterais, três centrais e um par de trincos), evitando cometer erros graves e aproveitando os erros grosseiros do adversário. Este foi, isso sim, o grande mérito de Paulo Rangel.

Mas esta foi uma vitória de Valete, não de Ás.

Contudo, a julgar pela manutenção dos dois eurodeputados do CDS-PP e pelo reforço de votos na CDU e no BE (sobretudo neste último), dá para perceber que, afinal, havia muita gente furiosa com o PS, Vital Moreira e, como é óbvio, José Sócrates.

E é aqui que se percebe que, afinal, Paulo Rangel até pode ser considerado como um derrotado destas eleições, já que não conseguiu capitalizar mais votos de descontentes. Com as benesses que o PS deu, Rangel e Ferreira Leite poderiam ter feito ainda melhor…

… ou, se querem saber, poderiam ter feito MUITO melhor.

A baliza esteve quase sempre sem guarda-redes e a defesa parecia estar embriagada. Com adversários destes, ganhar por 1-0 é perder. Se acham mesmo que Paulo Rangel é a nova estrela da política portuguesa...

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