sexta-feira, 19 de junho de 2009

A MANILHA VAI SECA (30): A primeira derrota eleitoral de José Sócrates (o homem que quis perder as Autárquicas e as Presidenciais para poder vencer)

Acham mesmo que José Sócrates perdeu todas as eleições desde as Legislativas de 2005?

Não. Na verdade, por vezes, Sócrates ganhou perdendo. Como ele engana tão bem, meus amigos.

Após conquistar a primeira maioria absoluta do PS em 2005, José Sócrates, aparentemente, tem tido uma série de desaires eleitorais. É certo que ganhou as Regionais dos Açores (que não têm expressão nacional, tal como as da Madeira) e as Intercalares em Lisboa (que também não devem ser extrapoladas para o resto do país). Mas, ao mesmo tempo, Sócrates terá perdido as Autárquicas de 2005 e as Presidenciais de 2006, ambas disputadas numa altura em que o Governo actual ainda estava em estado de graça.

Sucede que Sócrates, habilidoso animal político, é um homem nada linear nas suas apostas. E a sua grande aposta passava por obter o controle total do partido, enfraquecendo ao máximo das várias facções que se degladiam pelo poder. Manuela Ferreira Leite que aprenda alguma coisa com este senhor.

Nas Autárquicas, Sócrates lançou João Soares para a Câmara de Sintra (estamos a falar do concelho que, actualmente, é o mais populoso do país). Apesar de até ter feito uma boa campanha, Soares «filho» perdeu para a Coligação Mais Sintra (PSD/CDS-PP/PPM/MPT) de Fernando Seara, que, ainda por cima, conseguiu a maioria absoluta. Em Lisboa, a capital, avançou Manuela Maria Carrilho, que perdeu depois de uma campanha verdadeiramente desastrosa.

Sucede que João Soares foi adversário de José Sócrates nas directas do PS e era ainda um dos nomes mais fortes da corrente soarista, liderada pelo próprio pai, ex-dono e fundador do partido. Já Manuel Maria Carrilho foi sempre um outsider perigoso, que chegou a desafiar a liderança de António Guterres, tendo-se transformado num acérrimo crítico do guterrismo que outrora integrou.

Ou seja, com a derrota de Soares e Carrilho, Sócrates enfraqueceu a oposição interna. Mas faltava ainda tirar uma pedra do sapato, que, nos tempos finais do Cavaquismo, foi uma das grandes vozes críticas do PS de oposição de António Guterres. Falo-vos, claro está, de Mário Soares.

Ao optar por Soares, Sócrates pretendeu atirar o velho Buda do PS para uma derrota que iria enfraquecer definitivamente o poder do fundador no seio do partido. Após a derrota de João em Sintra, a derrota de Mário contra Cavaco foi o desfecho ideal para Sócrates… ou seria, se Manuel Alegre não tivesse ganho mais protagonismo do que seria expectável num homem que, supostamente, já teria passado o auge da sua carreira política. Na verdade, neste momento, apenas a facção de Alegre tem alguma voz dentro do PS, mas Sócrates sabe que pode sempre tentar silenciar o deputado-poeta com as promessas de uma candidatura presidencial contra Cavaco Silva em 2011.

Tudo isto para dizer que as Autárquicas e as Presidenciais foram um acto de bluff puro e duro por parte de José Sócrates, que nem pareceu muito incomodado com as derrotas. Pudera…

Em 2007, as Intercalares de Lisboa foram ganhas pelo PS, que assim fica com António Costa a ganhar calo para poder suceder, futuramente, a José Sócrates. Todavia, estamos a falar de uma figura que fica nitidamente em stand-by.

Por isso, a derrota nas Eleições Europeias foi o primeiro fiasco a sério de José Sócrates, que até se envolveu na campanha numa tentativa de segurar as pontas diante de uma prestação desastrada da Vital Moreira. No entanto, a escolha do professor de Coimbra foi uma opção do próprio Sócrates, que não via no Avô Cantigas de trazer por casa um adversário directo ao seu esplendor e poder. Esta opção de Sócrates acabou por se revelar um fiasco, já que não evitou que o PSD assumisse a dianteira, do mesmo modo que não conseguiu estancar o crescimento do BE; a juntar a tudo isto, CDU e CDS-PP aumentaram também as suas votações.

Os resultados de 7 de Junho deverão levar José Sócrates a alterar a sua estratégia. Com o poder consolidado dentro do PS, o senhor com nome de filósofo estuda agora a próxima jogada, sendo certo que, desta feita, será ele quem irá ser (quase) directamente escrutinado. Fico curioso por saber que cartas irá jogar…

1 comentário:

Peter disse...

"a derrota nas Eleições Europeias foi o primeiro fiasco a sério de José Sócrates, que até se envolveu na campanha numa tentativa de segurar as pontas diante de uma prestação desastrada da Vital Moreira. No entanto, a escolha do professor de Coimbra foi uma opção do próprio Sócrates, que não via no Avô Cantigas de trazer por casa um adversário directo ao seu esplendor e poder. Esta opção de Sócrates acabou por se revelar um fiasco, já que não evitou que o PSD assumisse a dianteira, do mesmo modo que não conseguiu estancar o crescimento do BE; a juntar a tudo isto, CDU e CDS-PP aumentaram também as suas votações"

Uma boa análise, mas o BE que se cuide. Os votos que recebeu, serão devolvidos com juros. Talvez tivesse sido melhor para o partido ter ido o "missionário" para o PE e ficar o Portas à frente do Partido.