terça-feira, 30 de junho de 2009

A MANILHA VAI SECA (38): Dois estilos

Quem segue esta casa de jogo gerenciada pelo triste Dois de Paus que vos escreve, decerto já terá percebido que sou clara e totalmente a favor do casamento entre pessoas do mesmo sexo e clara e totalmente contra toda e qualquer forma de homofobia.

Talvez pelo facto de a religião escasso peso ter tido na minha educação, olho para o casamento não como um meio para procriar e fazer esse algo chamado constituir família, mas sim como um enlace onde a felicidade deve ser o valor fundamental. Por isso, não me faz qualquer confusão que dois homens ou duas mulheres decidam dar o nó. O que me faz confusão é que o Estado continue a negar esse direito a uma percentagem da população (estima-se que dez por cento dos portugueses sejam, de alguma forma, bissexuais ou homossexuais), que, na verdade, apenas deseja ser feliz – e, ainda por cima, estamos a falar de uma felicidade que em nada afecta os casamentos heterossexuais (como o meu, por exemplo).

Mas não é sobre o matrimónio entre pessoas do mesmo sexo que versa este post. Na verdade, introduzi este tema como forma de vos mostrar as diferenças de estilo entre Manuela Ferreira Leite e José Sócrates, depois de, em posts anteriores, ter analisado os pontos de convergência entre ambos.

Já sabemos que Sócrates e Ferreira Leite têm visões opostas sobre o tema. Mas a forma como demonstram essas diferenças leva-nos a uma outra diferença fulcral.

Passo a explicar.

Na sua primeira entrevista televisiva como presidente do PSD, Manuela Ferreira Leite teceu uma série de comentários altamente homofóbicos, dizendo mesmo que estava a discriminar os casais compostos por pessoas do mesmo sexo porque estes eram diferentes (e, subentende-se, inferiores) dos casais de pessoas de sexo diferente. Para Miss Política de Verdade, o casamento serve para fazer meninos e ponto final. Não se fala em felicidade, compreensão, carinho, companheirismo e, sobretudo, em amor (tudo conceitos que deverão ser completamente estranhos à senhora).

Por seu turno, José Sócrates, no último congresso do PS, anunciou que o casamento entre pessoas do mesmo sexo iria ser uma realidade na próxima legislatura, sendo esta uma forma de seguir os passos da vizinha Espanha (pelo menos, neste campo) e de acabar com uma discriminação que não faz qualquer sentido numa sociedade evoluída, tolerante e integradora.

Dito assim, seria fácil pensar que estou totalmente de acordo com Sócrates e absolutamente em desacordo com a quase-septuagenária que lidera do PSD.

Desenganem-se.

Uma vez na vida, Manuela Ferreira Leite foi frontal e directa. Não há como ser enganado: a mulher é homofóbica e preconceituosa, revelando uma mentalidade conservadora e ultramontana ao extremo. Para mim, que não gosto de homofóbicos, preconceituosos, conservadores e ultramontanos, não há problema: não voto na senhora e ponto final. Mas que ninguém diga que foi enganado.

Já Sócrates revela-se muito mais oportunista e bem menos frontal. Meses antes do Congresso de Espinho, Sócrates e o PS chumbaram propostas do BE e d’«Os Verdes» para legalizar o casamento entre pessoas do mesmo sexo, alegando que tais projectos vinham embebidos num flagrante oportunismo político. Meses depois, é o PS quem fala num projecto semelhante aos que havia chumbado e criticado, que há de ser apresentado e posto a votação quando Sócrates bem o entender e quando lhe der mais jeito. Ou seja, a igualdade de direitos e a felicidade de muitos milhares de pessoas podem esperar mais um bocadinho, até uma altura em que for conveniente, do ponto de vista político, às hostes do Largo do Rato. Se, em altura alguma da próxima legislatura, este assunto for conveniente ao PS, o mesmo será metido na gaveta (provavelmente, a mesma onde o partido tem guardado, há largos anos, o socialismo). Além do mais, está totalmente fora de questão aprovar projectos de outros partidos sobre este assunto, mesmo que as propostas sejam idênticas à que o PS pretende lançar - se os homossexuais querem casar, que o façam segundo um projecto-lei apresentado apenas e exclusivamente pelos socialistas.

Como já aqui disse, a minha visão sobre este tema é totalmente oposta à de Manuela Ferreira Leite, a quem, mentalmente, chamei de “puta” para baixo quando ouvi as célebres declarações sobre o casamento homossexual. Todavia, aprecio a sinceridade da senhora. Quanto a Sócrates, torço o nariz ao oportunismo e cinismo que revestem as suas posições sobre o assunto.

São dois estilos, meus amigos…

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