sábado, 20 de junho de 2009

A MANILHA VAI SECA (31): Não foi a vaidade, não foi a arrogância, foi a insegurança

Depois do desaire eleitoral de 7 de Junho, tornou-se um lugar-comum afirmar que foi a arrogância que perdeu José Sócrates.

Permitam-me que discorde: foi, isso sim, uma mescla de vaidade com muita insegurança.

Um dos maiores problemas deste PS absurdamente centrado na figura do seu líder é a incapacidade de criar espaço para outras figuras para além do secretário-geral. Sendo um homem extremamente vaidoso e algo egocêntrico, Sócrates quer ser o único a brilhar, mas, ao mesmo tempo, conhece como ninguém as suas próprias fragilidades. Não falo de eventuais rabos-de-palha (como a licenciatura da Universidade Independente), mas sim de fraquezas internas, de inseguranças que só ele conhece e que só ele consegue disfarçar como ninguém.

Sócrates é um homem inseguro.

E isso percebe-se em inúmeros detalhes.

O fecho desmesurado de urgências hospitalares, escolas e blocos de partos no interior do país faz-me lembrar que o nosso primeiro-ministro está registado como tendo nascido em Vilar de Maçada, no concelho transmontano de Alijó, apesar de, em rigor, ter vindo ao Mundo no Porto, na freguesia de Miragaia. Quando se vive em grandes cidades (especialmente em Lisboa), sei bem como as pessoas oriundas de pequenas terras do interior são estigmatizadas, como se, na verdade, fossem bichos raros. Só para vos citar um exemplo, tive professores que se referiam a um colega meu como “o madeirense”, quase como se falássemos de um estrangeiro no meio dos anónimos e obrigatórios lisboetas. Adivinho que, de alguma forma, Sócrates deverá ter sentido esse estigma nalgum momento da sua infância ou adolescência, facto que justifica uma certa raiva contra o interior… que, de repente, ficou quase sem maternidades.

Sócrates deve ter amaldiçoado os pais pelo facto de estes não o terem registado no Porto (onde, de facto, nasceu), embora acredite que, no âmago do seu ser, ele desejasse mesmo ser lisboeta - de preferência, de São Sebastião da Pedreira.

Estas inseguranças de Sócrates acabam por se reflectir em inúmeros outros aspectos e que começam logo na escolha do elenco ministerial deste Governo: não há uma única figura que lhe faça sombra. Na verdade, Sócrates parece ter algum prazer em escolher pessoas politicamente pouco aptas para cargos ministeriais, que, ao contrário do que algumas pessoas pensam, não são lugares puramente técnicos, mas sim políticos. Manuel Pinho, Mário Lino, Jaime Silva, Maria de Lurdes Rodrigues ou Augusto Santos Silva são cinco exemplos de pessoas que nunca deveriam ter assumido uma pasta ministerial, posto que, do ponto de vista comunicacional e de habilidade política, são verdadeiras nulidades (o que não invalida que não possam ter bons conhecimentos técnicos sobre as áreas que tutelam, embora isso seja uma exigência mais flagrante quando falamos de secretários de Estado).

Contudo, os nomes que acima citei não têm total responsabilidade nos insucessos que lhes são atribuídos. Isto porque Sócrates, através de um hábil jogo de luzes e sombras, reserva para si mesmo um dado papel na governação e, para os seus subordinados, outro papel completamente diferente.

Vamos a um exemplo.

Quando se fala de recuperação de escolas (uma das melhores apostas em termos de Educação), quem é que dá a cara? José Sócrates. Quando se fala da distribuição de Magalhães, que pretendem ser uma interessante arma de combate ao analfabetismo informático, quem é que dá a cara? José Sócrates.

Porém, quando se fala de um Estatuto do Aluno cheio de imbecilidades, quem é que dá a cara? Maria de Lurdes Rodrigues, a besta. Quando se fala da caótica avaliação dos professores, quem é que dá a cara? Maria de Lurdes Rodrigues, a que merece ser chamada de puta para baixo.

Assim se percebe que José Sócrates reclama para si as medidas simpáticas e deixa para os seus subordinados as tarefas ingratas, mesmo que tenha responsabilidades em todas as decisões. Reconheço que Sócrates é o melhor elemento do elenco governativo (não vale a pena escamotearem esta realidade), mas também sei perceber que ele faz tudo para parecer muito melhor do que realmente é.

Por isso, sempre que pensarem em José Sócrates como um arrogante animal político, lembrem-se: debaixo da pele de lobo, está um cordeiro amedrontado. O problema é que esta questão de peles e medos tem consequências para o País…

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