segunda-feira, 24 de agosto de 2009

PENSAMENTOS DO BURRO EM PÉ (20): Os melhores

“Para muitos, o primeiro passo para se ser o melhor será rebaixar os seus pares através da crítica injusta.”

Dr. Mento

domingo, 23 de agosto de 2009

PENSAMENTOS DO BURRO EM PÉ (19): Crianças

“Conheço milhares de crianças bem-comportadas, disciplinadas, obedientes, quietas e incapazes de fazer uma única birra: são os filhos que hão de ter aqueles que nunca foram pais”.

Dr. Mento

sábado, 22 de agosto de 2009

PENSAMENTOS DO BURRO EM PÉ (18): A passagem do tempo

“Sentirás que o tempo passou quando, ao chegares a uma cidade amada, realizares a maior parte das tuas visitas a entes queridos num só local: o cemitério.”

Dr. Mento

CARTAS DO QUINTO NAIPE (6): O comboio que passa nas Pontes de Marchil (Crónicas de Ossonoba - Parte III)

Há precisamente seis anos que não viajo entre Lisboa e Faro de comboio, rendido que estou aos encantos da A2 e das paragens para um café e um cigarro em Grândola. Hoje sinto que, ao deixar de utilizar o comboio, cortei de vez um dos laços que mais me ligava à infância, época em que os meus avós maternos se deslocavam, de propósito, a Lisboa para irem buscar o seu adorado neto para mais umas merecidas férias naquela casa cujo jardim, enorme, tinha ao meio um delicioso lago com peixinhos vermelhos.

Hoje, sei que o tempo se mede em fracções de segundo e que as velhas locomotivas Diesel teriam, mais cedo ou mais tarde, de dar lugar aos majestosos Alfa Pendular, sucessores directos do Intercidades, que, por seu turno, tomou o lugar do Sotavento, que começava a sua marcha na imunda estação do Barreiro A.

Sei que o progresso é como uma bola de neve a deslizar pela encosta de uma montanha íngreme. Sei que, em 2009, nenhum comboio se chama Sotavento, esse nome tosco e regional, numa época em que qualquer denominação deve exprimir noções de conforto, urbanidade e velocidade.

Mas sinto falta.

Sinto falta do som das locomotivas Diesel que passavam nas Pontes de Marchil, apitando à chegada aos limites da cidade de Faro. Sinto falta de ouvir, ao longe, esse estranho ruído que anunciava o final de mais uma viagem. Sinto falta. Sinto falta dessas viagens de comboio de outros anos, que demoravam toda uma tarde e nos deixavam sequiosos de um bom banho e uma saborosa refeição. Sinto falta das automotoras Diesel, dos seus ruídos possantes e incómodos, do bizarro rastro de fumo que deixavam à sua passagem.

Sinto falta. Sinto falta desta infância. E sinto, sobretudo, falta do companheiro de tantas e tantas viagens: o meu avô. Ele nunca deveria ter partido. Ainda tínhamos muitas viagens para fazer.



Nota: Actualmente, o limite da cidade de Faro situa-se nas Pontes de Marchil, justamente onde hoje se ergue o hotel Íbis. Mas, no tempo de muitas das minhas viagens a Ossonoba, a cidade começava no sítio onde hoje se ergue o estabelecimento prisional da cidade, no local onde ainda me lembro de se realizarem provas de bicross.

CARTAS DO QUINTO NAIPE (5): O telefone de rodinha (Crónicas de Ossonoba - Parte II)

Como se aperceberam pela leitura do post anterior, a habitação que me deu abrigo em Faro pertence a essa honrosa estirpe de casas antiquadas, paradas no tempo, condenadas à extinção. Se vos disser que a dita moradia não é regularmente habitada desde 1990, facilmente perceberão o porquê de tantos e tantos anacronismos perdidos naqueles 75 metros quadrados.

Mas, entre todos os anacronismos, há um em particular que me merece um post isolado. Refiro-me ao delicioso telefone de rodinha, daqueles que remonta aos tempos dos TLP e da época em que os números de telefone farenses tinham apenas cinco algarismos (mais o indicativo 089, para quem ligava de fora da região). Conheço casas onde ainda os há e esta é uma delas.

O som da campainha, metálico, argentino, repleto de nostalgia. É um som forte, alto, potente e inconfundível. É o som de um objecto que se dizia importante e que, nos primórdios da década de 90, ainda não se encontrava em todos os lares portugueses. Hoje, há telefones em todos os bolsos.

A rodinha. De plástico, com o número escrito num papel ao centro. Torna-se desconfortável quando temos de telefonar para várias pessoas numa mesma tarde (por exemplo, na véspera de Natal). Sempre que marcamos um algarismo, brinda-nos com o seu repetitivo “trec-trec”, som que nos relembra de quão importante foi, um dia, o acto de telefonar. Hoje, na banalidade, telefonamos apenas porque sim, sem som.

O “ting”. Som argentino, potente, que ecoa pelo corredor. Diz-nos que terminou, que findou. Mais uma conversa que termina, mais uma chamada que se apaga.

Há muito, muito, muito tempo, os telefones ainda não cabiam no bolso. Eram fixos, estáticos, criteriosamente posicionados num local da casa onde todos tivéssemos acesso fácil e rápido. Não ligávamos para x, ligávamos para casa de x e perguntávamos por ele/ela. Falávamos apenas e só escrevíamos em papel.

O telefone de rodinha lembra-nos a nós, mortais, quão importante já foi o acto de comunicar. Hoje, banalizou-se, ao ponto de me apetecer falar do assunto e, num ápice, o comunicar a todos vós. Sem ruído, de preferência.

ROYAL STRAIGHT FLUSH (5): Afinal, há vida sem Internet (Crónicas de Ossonoba - Parte I)

Nos dias que correm, dependemos da Internet como dependemos do oxigénio para respirar. Ou talvez não.

A minha recente estadia em Faro (que começo a relatar justamente neste post) fez-me pensar seriamente na artificialidade dessa dependência em relação a certos artefactos tecnológicos que, assim pensamos, se tornaram essenciais no nosso dia-a-dia. À partida para a capital algarvia, quis certificar-me que a tecnologia ficava quase toda para trás, com excepção do telemóvel e do mp3 de um dos ocupantes da casa que iria dar-me abrigo por uma semana. Tudo o mais seria excluído das nossas vidas por uma semana, como se os habitantes daquela moradia pretendessem realizar uma viagem no tempo até a meados da década de 80… ou mesmo antes disso.

Na casa onde fiquei, não existia microondas, pelo que os apreciadores de leite quente (nos quais não me incluo) viram-se obrigados a aquecer o saudável líquido num púcaro de metal. Veio mal algum ao Mundo? Não. Na mesma casa, a televisão tinha somente quatro canais e apresentava-se desprovida de telecomando (sim, é verdade), qual anacronismo esquecido na segunda divisão a contar da porta. Um problema na antena ditou que nem mesmo a esses míseros quatro canais tivéssemos acesso, pelo que muitas noites foram gastas a tagarelar numa deliciosa varanda com vista para um jardim onde o melhor da flora algarvia nos era dado a contemplar. De súbito, tornámo-nos actores dos nossos serões, ao invés de meros espectadores passivos e de ar bovino.

Na pequena moradia algarvia (sim, daqueles com terraço e chaminé típica) havia um aspirador, que útil teria sido para aspirar aquele corredor com onde metros de comprimento. Só que o dito electrodoméstico fez questão de não cooperar, de modo a que pudéssemos redescobrir o som das vassouras a passar pela velha alcatifa beije (sim, ainda há casas com alcatifa).

Ar condicionado? Só no carro. Ventoinha? Não vimos tal coisa. DVD? Nem pensar. Música? Também só há no carro (ou no mp3, enquanto este não perdeu o pio). Máquina de café? Nescafé também é bom. Tostadeira? Sandes sim, tosta mista não, que faz calor.

Porém, o computador foi o elemento mais ferozmente amputado desta semana. Antes de partir, ainda cogitei se deveria ou não guardar o portátil na bagageira, mas, no final, acabei por ceder. Nada de jogos, nada de Internet, nada de nada. O velho livro em papel ainda é, quer queiram, quer não, uma boa maneira de chamar longas horas de sono. E foi assim que, ao lado da almofada, depositei “A Rainha sem nome”, de Maria Gudín, com as suas viagens pela Península Ibérica das invasões visigóticas e suevas. O bom e velho Monopoly também matou muitas horas nocturnas, tornando desnecessário o Hotel (jogo que adoro), o qual acabou por nem sequer sair da caixa.

Senti falta das notícias ao minuto, dos blogues, dos sites que visito regularmente, daquelas doses cavalares de cultura inútil que pesquiso pela noite fora. Senti, confesso. Mas também me senti mais limpo, mais humano, menos electrónico. Senti mais a cidade, a praia, os bares, as caipi black, as pessoas, os cafés, as ruas, as árvores, as flores, o sol, a lua, o mar. Senti-me mais eu. Senti-me mais gente, menos Dr. Mento. Senti.

Afinal, há vida sem Internet. E é uma vida boa, como era a minha vida antes de ter Internet em casa, nos tempos idos das ligações a 56k.

O EDITOR VAI A JOGO (14): Pensamentos de Ossonoba

Após uns dias para reorganizar a minha vida (é incrível como, depois de uma semana de férias, possa haver tanta coisa para fazer e tantos detalhes para tratar), estou de volta com uma série de posts referentes à minha estadia em Faro. Para qualquer pessoa, poderia ser uma viagem perfeitamente corriqueira, não fosse o detalhe de a capital algarvia ser uma cidade com a qual mantenho ainda grandes laços afectivos.

Fiquem, pois, atentos às crónicas de Ossonoba.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

A Manilha vai seca (75): Mensagens do subconsciente?

A 10 de Agosto, num dos últimos posts que publiquei antes da minha agradabilíssima estadia na capital algarvia, falava eu das diferenças e semelhanças existentes entre PS e PSD, quando, de súbito, escrevi: “Mas, em rigor, são tão iguais como um Citroën C1 e um Peugeot 107.”

Na altura, nem me dei conta do que estava a escrever, mas, inadvertidamente, ocultei uma verdade bastante curiosa. O Peugeot 107 e o Citroën C1, tal como o Toyota Aygo, resultam de um projecto conjunto entre o Grupo PSA e o maior construtor japonês para a criação de um citadino, com três metros e meio de comprimento, o qual pretendia ser bom e barato - de comprar e de produzir. 95 por cento dos componentes destes três modelos são exactamente iguais, com as diferenças a residirem na estética das secções dianteira e traseira, nos preços, níveis de equipamento e políticas de venda/assistência de cada uma das marcas.

Sucede que já tive a oportunidade de alugar um destes trigémeos e andei com a citada viatura durante uma semana. E posso afiançar-vos que detestei o raio do carro, apesar de lhe gabar o comportamento são e o bom aproveitamento do espaço no habitáculo. Mas o motor 1.0 é um nojo (lento, lento, lento, lento e sem vida) e a qualidade de construção é tão lamentável que, num carro novo, até chovia lá dentro. Sem querer estar aqui a desprestigiar a Peugeot, a Citroën ou a Toyota, basicamente, considero que este projecto é um equívoco lamentável e que o carro é uma merda.

Sucede que, sem querer, comparei um carro, que considero ser uma merda, aos dois partidos do Bloco Central. Será uma mensagem oriunda dos confins do meu subconsciente?

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

O EDITOR VAI A JOGO (13): O regresso da cidade onde jaz Ramalho Ortigão

Após uma semana a banhos na capital algarvia, eis-me de regresso a casa, ao ONZE DE ESPADAS, à Internet (estive numa cursa de desintoxicação tecnológica, onde nem uma simples televisão de quatro canais cabia), à civilização e ao Mundo das coisas que vão acontecendo.

Nas próximas horas, vou tentar ligar-me às coisas que aconteceram nesta semana e prometo que, em breve, voltarei a postar.

Até já (tipo TMN).

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

O EDITOR VAI A JOGO (12): Este estabelecimento encontra-se encerrado para férias do pessoal

O ONZE DE ESPADAS informa os seus estimados leitores e seguidores que, nos próximos dias, o ilustre e mui sábio Dr. Mento vai a banhos na solarenga cidade dos seus nobres antepassados. Lá, emerso entre o aroma da alfarrobeira e o forte odor dos mares do Sul, os privilégios da Internet são única e simplesmente um velho resquício de um mundo que o nosso insano cronista deseja esquecer por momentos.

Sem mais a acrescentar,

Eternamente grato pela vossa preferência,


Dr. Mento

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

ESPADAS QUE PICAM (20): Não há Real Massamá (infelizmente, têm alguma razão os que criticam a épica falta de cultura geral que graça no jornalismo)

Longe vão os tempos em que os jornalistas (classe à qual pertenci até há escassos meses) eram vistos como gente culta e de saber, que sabiam um pouco de tudo e mais alguma coisa. Eram gente que, dizia-se, sabia muito de política, História, Geografia, Filosofia, Economia, desporto… e do que mais houvesse para saber.

Nos últimos anos, generalizou-se a ideia contrária, a de que os jornalistas, esses pseudo-fabricantes de notícias, são pessoas pouco trabalhadoras, de parcos escrúpulos, com formações académicas inadequadas, soberbamente remunerados e que não possuem os mais elementares rudimentos de cultura geral.

É certo que, para quem conhece o meio, a verdade está algures… no meio. Sim, há jornalistas que são autênticas enciclopédias ambulantes, que discorrem, em bela e sucinta prosa, sobre qualquer assunto. Há-os bem remunerados, mas, infelizmente, são uma elite (também há os que trabalham de graça ou perto disso). Há-os com e sem coluna vertebral, com e sem escrúpulos, com e sem habilidade para o ofício. Há trabalhadores e oportunistas, bons e maus, excelentes e péssimos.

Mas, por experiência própria, sei bem que se deixa entrar nas redacções gente sem qualquer vestígio de cultura geral (por vezes, com licenciaturas) e sem grande vontade de aprender mais e mais. E, quanto mais se organiza purgas nas redacções, mais se corre com os razoavelmente bem remunerados jornalistas «à antiga» (os tais que amavam a sua profissão e absorviam informações e novos dados como quem bebe água); no lugar destes últimos, temos, em muitos casos, uma geração de recém-licenciados de parca cultura e parca vontade de aprender, muitas vezes domados pelo um sonho de fama e reconhecimento social (especialmente, entre os amigos e conhecidos do café da esquina). Há recém-licenciados de grande qualidade, sei-o bem, mas há demasiados que não merecem qualquer título académico e que não deveriam estar, de forma alguma, numa redacção.

Toda a ânsia de lucro e de extermínio dos jornalistas «à antiga» tem levado a uma quebra de qualidade nos nossos meios de comunicação social, sendo tal perceptível, sobretudo, nos mais pequenos detalhes. Os textos deixam de ser bem revistos, opta-se mais pela Lusa, investiga-se e pesquisa-se menos. Fui apanhado nesta onda de "para quem é, bacalhau basta" e, ao cabo de meses de sofrimento (gosto de fazer as coisas bem feitas), bati com a porta e abandonei o velho mister.

Um bom exemplo de como a qualidade da informação tem vindo a decair pude encontrá-lo há escassos momentos na SIC-Notícias, numa peça onde se dava conta do estágio da Selecção A em Massamá.

Passo a esclarecer: o clube normalmente conhecido como Real Massamá chama-se, na verdade, Real Sport Clube, resultando da fusão do Grupo Desportivo de Queluz e do Clube Desportivo e Recreativo de Massamá. Os adeptos ODEIAM que se refiram ao clube como sendo de Massamá, já que as suas instalações estão divididas pelas três freguesias que compõem a cidade de Queluz: Queluz, Massamá e Monte Abraão. É precisamente em Monte Abraão (freguesia que corresponde à zona de Queluz Ocidental) que está o estádio do Real Sport Clube, onde a Selecção está em estágio. Se fosse só a SIC-Notícias a cometer essa gralha, o Mundo não parava, mas há mais gente que o faz com a mesma pseudo-seriedade com que se chama Nacional da Madeira ao Clube Desportivo Nacional.

Tudo bem, estamos a falar de preciosismos geográficos, mas, em tempos idos, isso seria importante no jornalismo, essa nobre arte de informar com precisão, rigor e isenção. Hoje, diz-se uma merda qualquer e trata-se o telespectador/leitor/ ouvinte como merda. Mas merda, merda é dizer Real Massamá - é tão mau como dizer a um lisboeta que ele nasceu na Amadora ou em Loures (sem desrespeito por estes dois concelhos).


Nota: Que me perdoem os bons e cultos jornalistas que ainda sobrevivem fazendo um trabalho de qualidade, com rigor, aprumo e, sobretudo, boa vontade. Este post não é, de forma alguma, uma crítica generalizada e exclui os profissionais de qualidade ou os que têm vontade de sê-lo. É apenas um desabafo em relação a uma realidade com a qual os bons jornalistas sabem que têm de lidar diariamente, com as consequências que acima apontei.

A MANILHA VAI SECA (74): Todos querem o PS, mas ninguém quer o PS (nem o PSD e tão pouco o PRD)

A História política portuguesa do pós-25 de Abril fica indelevelmente marcada por uma «paixão» do eleitorado por partidos moderados, daqueles que se dizem de centro, mas que, na realidade, não são carne, nem peixe. Depois de 48 anos de regimes autoritários (a Ditadura Militar e o Estado Novo), os portugueses parecem mais inclinados a não ceder a novos totalitarismos, mesmo que estes se digam de esquerda, optando antes por colocar a cruzinha no centrão, onde coabitam dois partidos que, sem serem conservadores, fascistas ou apologistas dos privilégios dos mais ricos e poderosos, também não andam por aquela esquerda radical, para a qual todos são povo e os ricos que morram à pedrada.

De certa forma, o partido ideal seria, em termos teóricos, o PS. Sem ceder a radicalismos marxistas, leninistas, estalinistas ou maoistas, este seria o partido da justiça social, do equilíbrio entre classes, da protecção dos mais desfavorecidos sem prejuízo da iniciativa privada. É, em termos puramente teóricos, o partido da democracia, da liberdade, da justiça social, da equidade de oportunidades, da defesa dos direitos humanos.

(Por favor, não se riam. Estou a falar em termos puramente teóricos).

Depois, como alternativa, há o PSD, social-democrata. É um partido muito semelhante ao PS, mas que, por ser taxado como sendo de direita, espanta sempre muitos eleitores que nele vêem resquícios de Salazar e seus comparsas. Mas, por outro lado, ao não ter contaminações marxistas (teoricamente - o PSD quis pertencer à II Internacional, mas Mário Soares e o PS vetaram a entrada do partido de Francisco Sá Carneiro), agrada mais às gentes da cruz, com muito bom sacerdote a recomendar às suas ovelhas que coloquem uma cruz naquele partido com a seta virada para o céu (ou, quem sabe, no partido com as setas viradas para Deus).

No fundo, PS e PSD são uma e a mesma coisa, com a diferença de o primeiro captar os que não podem ouvir falar de direita e o segundo os que fogem a sete pés do comunismo. Mas, em rigor, são tão iguais como um Citroën C1 e um Peugeot 107.

O problema é que PS e PSD nunca cumpriram, na íntegra, aquilo que deles se esperava. Em ambos os partidos, há inúmeros casos de tráfico de favores e influências, cedências aos interesses económicos, atitudes ditatoriais (estilo Secos e Molhados), atentados à liberdade de imprensa, de expressão e de opinião, entraves à iniciativa privada… e por aí adiante.

Estas lacunas do PS e do PSD não são de hoje e tal explica porque é que, entre 1985 e 1991, a vida política portuguesa ficou igualmente marcada pela presença de um PRD, nascido sob a égide de Ramalho Eanes. Basicamente, o PRD (Partido Renovador Democrático ou, segundo alguns, Partido Realmente Doido) era mais uma força política de centro, mas com a vantagem teórica de estar purgada do tráfico de interesses e lutas internas que encontrávamos em socialistas e sociais-democratas. Mas a coisa não correu bem e, com uns quantos tiros no pé, o PRD acabou sem representação parlamentar nas Legislativas de 1991 (altura em que até o Partido da Solidariedade Nacional, também conhecido como Partido dos Reformados, conseguiu eleger um deputado). Nos anos que se seguiram, o PRD entrou num acelerado declínio, que terminou com a sua inscrição e sedes nas mãos do Partido Renovador Nacional, o qual nada tem a ver com a força política criada por Ramalho Eanes (que muito desgostoso deve estar ao ver o seu antigo partido transfigurado em coutada de extrema-direita nacionalista).

Desde 1999, existe igualmente uma espécie de alternativa, chamada Bloco de Esquerda. Porém, não estamos a falar de um partido moderado, mas sim de uma força política de cariz radical devidamente adaptada aos tempos que correm. Em certa medida, o BE é, ao mesmo tempo, uma tentativa de actualização daquilo em que se tornaram o PS e o PCP, embora, ideologicamente, esteja muito mais próximo deste último. Ou seja, o Bloco é uma alternativa como voto de protesto dos descontentes (do PS, do PCP e, em muitos casos, até do PSD), mas não parece ser ainda a verdadeira alternativa de governação que muitos portugueses procuram e que, se tivesse tido juízo, o PRD poderia ter sido. O BE lá tem as suas virtudes (e defeitos, claro), mas desconfio que só seria poder se o país mergulhasse num casos absoluto e total que pedisse o surgimento de algo completamente diferente, sem ser o PCP ou o CDS-PP (que já esteve ligado a Governos do PS e PSD e, como tal, enferma de alguns dos males destes).

Vai daí e, nas próximas duas eleições, podemos até ter mais um partido de alternativa à moda do centro. Chama-se PTP (Partido Trabalhista Português e nada tem a ver com o Partido Trabalhista Democrático Português, de 1974), é liderado pelo advogado Amândio Madaleno e, de rajada, remete-me logo para o New Labour inglês (ou, se quiserem, para um New PS). Ainda por cima, o raio do partido diz-se de centro esquerda e preocupado com as necessidades sociais do país (há coisa mais vaga do que isto?), mas o seu presidente foi eleito pelas listas do PSD para a Assembleia Municipal do Fundão.

Bem, não sei se este PTP é o novo PS, o novo PSD ou o novo PRD. Porém, se quiserem ser alguma coisa, convinha apresentarem um site com um programa eleitoral em condições. É que, sinceramente, já procurei por ele na Internet e ainda não o encontrei. Alguém sabe onde está?

A MANILHA VAI SECA (73): Como se compra o silêncio de um homem e como esse mesmo homem, um prostituto, aceita vender o seu silêncio

Quem acompanha o ONZE DE ESPADAS sabe que considero a liderança de Luís Filipe Menezes como um dos maiores equívocos do PSD. Pródigo em dizer e desdizer-se, o edil de Vila Nova de Gaia é o exemplo acabado de como um incapaz (não obstante as suas virtudes como autarca) pode chegar à liderança de um partido político na actualidade, deixando-me a pensar se, nas próximas directas, não valeria a pena recolher assinaturas para fazer candidatar um dos meus cães à presidência do PSD (e, garanto-vos, os meus canídeos têm uma inteligência largamente superior à de muitas gentes que pululam pelos partidos cá do burgo).

Menezes bateu com a porta achando que, mesmo deixando a liderança do PSD, continuaria a ter uma significativa influência nos destinos do partido. Contudo, a coisa saiu-lhe mal e, com Manuela Ferreira Leite, o edil de Gaia foi totalmente subalternizado, voltando a ser apenas e tão só um dos muitos autarcas do PSD. Por isso, numa atitude de puro despeito, Menezes decidiu quebrar o silêncio a que se obrigara publicamente e passou a atacar forte e feio a sua sucessora. Durante largos meses, ouvimos Menezes, que prometera não falar da liderança que lhe sucedesse, a zurzir na liderança que lhe sucedeu, tentando dar voz ao provérbio: “Atrás de mim virá quem bom de mim fará”.

Só que Manuela Ferreira Leite não é tão burra como parece e, num ápice, decidiu cortar as vazas a Menezes. Por um lado, enquanto presidente do partido, cabe a Ferreira Leite a última palavra sobre as candidaturas autárquicas (que começam por ser aprovadas ao nível das concelhias, passando, em seguida, a ser votadas nas distritais, antes de irem ao Concelho Político Nacional) e a Dama de Espadas não colocou quaisquer entraves à continuidade de Menezes. Mas, mais do que isso, colocou o filho do edil de Gaia num lugar elegível pelo círculo eleitoral do Porto, calando de vez a voz do pai.

Menezes quis esboçar uma espécie de voz crítica dentro do PSD, mas não demorou muito a ser comprado. É um pobre Dois de Paus, que qualquer carta de trunfo corta facilmente.

Porém, e se é verdade que esta jogada de Ferreira Leite foi boa do ponto de vista da estratégia política interna, também não é menos verdade que deu mais uma machadada na parca credibilidade das gentes do Bloco Central. Qualquer observador independente pode falar em suborno (de Ferreira Leite) e em prostituição não-sexual (de Menezes). Quem beneficia com tudo isto é, curiosamente, um homem que não se vai candidatar a coisa alguma, mas que, ao não aceitar integrar as listas do seu partido por discordar de pontos-chave da actual legislatura (a começar pela revisão do Código do Trabalho), mostrou que, pelo menos, tem algumas vértebras na coluna: Manuel Alegre.

Numa altura em que os portugueses sentem, cada vez mais, estarem mergulhados num terrível pântano, estas não são boas notícias para a classe política, que, mais cedo ou mais tarde, pagará bem caras estas vazas cortadas. Escrevam o que vos digo: mais ano, menos ano, muita coisa mudará cá no burgo.

domingo, 9 de agosto de 2009

ESPADAS QUE PICAM (19): Três sinais, mais três passos a caminho do abismo da lusa insanidade colectiva

Em 1925, durante o julgamento dos responsáveis pela tentativa de golpe militar de 18 de Maio (o qual fora liderado por Sinel de Cordes), o promotor da Justiça António Óscar Fragoso Carmona profere uma frase que ficaria para a História: “A Pátria está doente... quando lá fora andam liberdade os causadores dos males da Pátria, eu vejo aqui oficiais deste valor no banco dos réus”. Os responsáveis pelo golpe acabaram por ser absolvidos num prenúncio de que a I República, bizarro período da História portuguesa, caminhava a largos passos para o seu fim. Na verdade, um ano e alguns dias após o golpe, uma novo levantamento militar, novamente com o dedo de Sinel de Cordes, põe termo à primeira experiência republicana portuguesa, a qual se traduziu em 16 anos de incrível instabilidade política, num desenrolar de episódios que só um Deus louco poderia conceber ou imaginar.

Hoje, olho para Portugal e, uma vez mais, vejo sinais de loucura, de fim de regime, de término de era. Não vejo um promotor da Justiça a absolver responsáveis por uma tentativa de revolução e tão pouco adivinho um poder militar/policial doentiamente obcecado por fazer cair Governos, mas vejo uma pátria doente, quiçá com maleitas ainda piores do que as que apontava Carmona em 1925. Sim, porque, neste momento, não vejo apenas uma classe política fétida e nojenta, entretida em batalhas campais enquanto o povo mergulha na mais profunda miséria. Vejo-os, loucos, em toda a parte.

E passo a citar três exemplos de uma pátria doente.

Numa viela do Bairro Alto, em Lisboa, por causa de um cigarro, uma discussão acaba com um jovem de 19 anos esfaqueado mortalmente. Numa pátria doente e sem valores, por dá-cá-aquela-palha, tira-se a vida a um rapaz que nem duas décadas de existência tinha.

Mais a Norte, no Porto, a eleição para o secretariado do PS da Sé do Porto, na sede da secção, terminou ao murro, à cadeirada e com ameaças de morte. O próprio presidente da Junta de Freguesia esteve entre os alegados agressores ao líder de uma lista contrária, numa clara demonstração de que a democracia, mui bela palavra, existe apenas e cada vez mais num velho documento chamado Constituição. Fora do texto que rege a Nação, reina a força dos punhos.

Já no Seixal, um funcionário da Câmara, ao saber que o edil Alfredo Monteiro havia assinado o despacho da sua exoneração, agarrou num camião do lixo, descarregou-o, dirigiu-se à moradia do presidente da Câmara, sita nos Foros de Amora e, após bater em vários carros, fez questão de atirar o veículo contra o muro da vivenda; em seguida, fez marcha-atrás, arrancou, despistou-se, capotou. Felizmente, ninguém saiu ferido, a não ser a sanidade mental de um indivíduo… e, porventura, de todo um povo, que aceita que se mate por um cigarro, que se decidam eleições ao murro e à cadeirada ou que se atirem camiões contra vivendas.

Se quisesse, poderia continuar a citar exemplos, mas, sinceramente, não me apetece mais. Vivo num país que me agonia e que se agonia a cada instante que passa.

A pátria está doente. Carmona tinha e tem razão. Mas que não me tragam como cura a peçonha que nos serviram entre 1926 e 1974.

sábado, 8 de agosto de 2009

CARTAS SEM NAIPE (3): Os humoristas não deviam morrer

Se há coisa que me custa realmente é ouvir anunciar a morte de um humorista.

É como se, de súbito, milhões de sorrisos se calassem.

O riso, esse dom tão humano e tão genial, representa um vislumbre do que pode ser a felicidade, ainda que de forma efémera.

Os humoristas dão-nos essa felicidade, esse prazer pelo qual vale a pena viver, apesar de tudo.

Não está certo.

Os humoristas jamais deviam morrer, posto que associar uma pessoa que nos faz rir ao verter de lágrimas de tristeza é algo que não pode, de forma alguma, fazer sentido.

Não, num Mundo justo, os humoristas viveriam para sempre.

Seriam eternos.

Bem, alguns são eternos.

Raul Solnado é um deles.

Ouvi dizer que ele partiu, mas sei que, no fundo, ele estará cá para sempre.

E está.

A fazer-nos rir.

Obrigado por tudo, Raul.

PENSAMENTOS DO BURRO EM PÉ (17): Existir

“Se existisse um Deus bom e justo, algumas pessoas jamais teriam nascido.”

Dr. Mento

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

CHARLIE E A FÁBRICA DE CARTAS (4): Breve reflexão sobre os dias de indefinição da imprensa tradicional (texto sem fórmulas milagrosas)

Robert Murdoch, o patrão da Media Corp, acredita que os dias das notícias grátis na Internet têm, definitivamente, os dias contados. “O jornalismo de qualidade não é barato. Uma indústria que oferece o seu conteúdo está apenas a canibalizar a capacidade para fazer boa cobertura jornalística”, disse o homem que controla títulos como o The Times, o The Sun, o The New York Post e o Wall Street Journal.

Em parte, Murdoch tem razão, mas a aplicação prática é mais difícil do que se pensa. É verdade que a Internet, aliada aos canais televisivos exclusivamente dedicados à cobertura noticiosa (que, de certa forma, são pagos, já que é necessário ter televisão por cabo para ter acesso a eles), criaram um fluxo de notícias constante e gratuito, o qual contribuiu para a perda de leitores dos jornais em papel. Com menos leitores, os jornais tradicionais vêem-se numa situação de aperto e despedem jornalistas (em Portugal, este fenómeno atinge dimensões escandalosas), sendo que os profissionais que ficam a aguentar o barco têm de fazer a mesma edição com menos meios, o que leva a que se realizem menos trabalhos próprios e se opte mais por ir buscar textos à agência Lusa; como as edições/jornais digitais já disponibilizam os textos da Lusa de graça (apesar de pagarem por eles), as pessoas sentem-se ainda menos inclinadas para pagar por um jornal que, na verdade, oferece as mesmas notícias que se podem ler de graça na Internet. E o fenómeno assume contornos de bola de neve a descer pela rampa abaixo.

Percebo a preocupação de Murdoch, que, acima de tudo, quer fazer com que o jornalismo de qualidade esteja salvaguardado. Faz ele muito bem, porque um jornalismo de qualidade é também sinónimo de liberdade. O problema está a pôr as pessoas a pagar por algo a que tinham acesso gratuitamente. Na indústria discográfica vive um fenómeno idêntico e, até agora, ninguém conseguiu arranjar uma solução para um problema que tem levado a que a presente década (especialmente, na segunda metade da mesma) tenha sido particularmente pobre em termos de lançamentos e do surgimento de novas correntes musicais.

Basicamente, esta ideia da Media Corp terá sucesso se TODOS seguirem o seu exemplo. A partir do momento em que a informação passa a ser paga em todas as fontes, os leitores não têm outra hipótese a não ser abrir os cordões à bolsa. Mas é preciso, neste contexto, ter atenção ao papel da blogosfera, onde há inúmeros jornalistas em acção, que podem utilizar os seus blogues como produtores de conteúdos gratuitos. Se pensarmos que muitos bloguistas trabalham para jornais e têm acesso a fontes e materiais destes (designadamente, o acesso a agências noticiosas pagas), podemos imaginar os blogues como substitutos futuros das edições online. Se olharem para a lista do lado, encontram mesmo alguns exemplos que até se enquadram nestes moldes.

Basicamente, o que deveria ser feito neste caso, seria uma acção de sensibilização dos consumidores, algo que não existiu na indústria discográfica. Se as grandes editoras tivessem sensibilizado as pessoas para a necessidade de estas contribuírem para a manutenção financeira das bandas, muitos artistas não estariam agora a passar um mau bocado, evitando novos lançamentos como o diabo evita a cruz. Todavia, neste momento, torna-se difícil sensibilizar toda uma geração que viu a sua vida facilitada, tendo acesso a músicas e álbuns inteiros sem ter de pagar um tostão e sem ter de se dar ao trabalho de ir a uma loja comprar um CD.

Com os jornais, passa-se algo semelhante. Se as pessoas estiverem consciencializadas para a necessidade de terem de contribuir por uma informação de qualidade (um garante de liberdade nos mais diversos sentidos), pode ser que a imprensa tradicional se salve.

Mas este não é o único caminho a seguir. Outra alternativa passa pela transformação dos jornais pagos em gratuitos, que, mantendo a qualidade, passariam a obter as suas receitas apenas através da publicidade. No caso português, tal será mais simples a partir do momento em que a publicidade institucional deixe de ser obrigatoriamente publicada em jornais pagos - o executivo de José Sócrates deu algumas indicações nesse sentido, falando-se mesmo de um portal estatal para agregar toda essa publicidade. Sem anúncios institucionais, alguns jornais em papel vão ter de se virar para outros caminhos. Porém, este é um processo que não se afigura nada simples, especialmente durante um período de retracção do mercado publicitário, que, por ora, será incapaz de cobrir as receitas perdidas com a eventual disponibilização gratuita dos jornais.

Tudo isto para chegarmos a uma só conclusão: a imprensa tradicional vai sofrer enormes mudanças nos anos vindouros. Há muitos caminhos possíveis e nenhum parece ser um garante de sucesso, o que deixa adivinhar, neste entretanto, a extinção de alguns títulos tradicionais na praça. Mas algo vai ter de mudar e até pode ser que o caminho apontado por Robert Murdoch seja o mais acertado. Se eu soubesse qual a fórmula de sucesso, garanto-vos que já me tinha atrevido a aplicá-la, mas isso esse é um segredo que só os deuses conhecem.

Esperemos para ver.

NÃO JOGAS COM O BARALHO TODO (4): A lista secreta para as Legislativas

Isaltino Morais, José Oliveira e Costa, Manuel Dias Loureiro, Valentim Loureiro, Arlindo de Carvalho, António Preto, Helena Lopes da Costa, António Carmona Rodrigues, Carlos Fontão de Carvalho, Eduarda Napoleão.

Em rigoroso exclusivo, eis a lista do PSD para o círculo eleitoral de… Custoias.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

CARTAS MARCADAS (4): Manuela Ferreira Leite (II)

“Minha querida e mui estimada Manuela:

Espero que esta carta te vá encontrar de boa saúde, em especial depois daquela má disposição que te atacou justo antes de ires ao Chão da Lagoa festejar a democracia madeirense junto dos teus companheiros insulares. Acredito, sinceramente, que tenhas ficado desolada ante a impossibilidade de não mais ires apertar mãos suadas, beijar faces pejadas de verrugas e assistires à queda de dirigíveis abatidos a tiros de caçadeira.

Mas não é sobre o primata que te quero dirigir umas palavras.

Sabes, amiga minha, estive a analisar cautelosamente as tuas escolhas para as listas de deputados. Analisei, analisei e analisei. E não te consigo perceber. Já te estás a arrepender de te teres metido nessa porcaria das directas e da presidência do PSD? Bem vês, na altura, disse-te que não tinhas mais idade para esses carrosséis, mas tu não me deste ouvidos e fizeste como bem te passou pela mona. Agora, arrependes-te amargamente e arranjas maneira de perderes as Eleições Legislativas, não vá o diabo tecê-las e o povão decidir que não quer mais o Sócrates. Queres bater com a porta, mas não queres bater com a porta e assim arranjas uma saída airosa com pezinhos de veludo. Bem pensado, de facto.

Só que, Manuela, há limites para tudo. Que queiras que a porra do PSD se foda de alto a baixo, é uma coisa. Mas não precisavas de enfiar o António Preto e a Helena Lopes da Costa na porcaria das listas, mulher. Isso até te fica mal, rapariga, que eles andam a contas com a Justiça e, se a coisa dá para o torno, ainda acabam como o Isaltino (vá lá, este não escolheste tu). Mais grave do que isso, só meteres o gordo do Pacheco como cabeça-de-lista por Santarém. Pacheco por Pacheco, antes preferia o Jaime, que, apesar de ter menos cabelo, tem mais cabeça do que o badocha.

Percebo que não queiras o Passos Coelho e o Relvas, que se fartaram de pedir a tua cabeça. Mas, sabes, quando perderes as Legislativas, a tua carola vai mesmo rolar pelo chão e eles vão estar lá, prontos a sentar o rabo na cadeira que já foi tua. Sei que te estás a cagar para quem vier atrás de ti e até lhes quiseste fazer a cama bem feita, deixando o Parlamento cheio de bonecada que não pode com o Passos Coelho nem pintado de ouro. Mas… o Pacheco, mulher? O que é que ele vai fazer para São Bento? Até já o imagino no púlpito: “Senhor primeiro-ministro, o senhor primeiro-ministro sabe que está a ser situacionista, carreirista, oportunista e jornalista, senhor primeiro-ministro. Se ler com atenção o Abrupto, senhor primeiro-ministro, o senhor primeiro-ministro vai ver que aquilo que está a dizer aos portugueses é mentira, senhor primeiro-ministro.”

E a Maria José Nogueira Pinto? Porra, mulher, o PS descabela-se todo para ver se para a Joana, mas essa, sabes, é tal e qual como o milho. Já a Zezinha, sem lhe faltar ao respeito, está um bocadinho ao estilo iogurte fora do prazo. Quem não deve ter gostado nada da brincadeira é o Portas (o Paulo, digo), mas como não vais ter que fazer coligações depois das Legislativas, porque não vais ganhar eleições nenhumas, até percebo que o queiras ver fodido e bem fodido. Ele merece.

Bem, já que vais mesmo bazar do PSD, bem posso convidar-te para jantar no dia 28 de Setembro, dia em que já não deverás ter grande coisa que fazer. Mas, por favor, não me tragas o Pacheco.

Beijinhos e beijinhos,

Do sempre teu,


Dr. Mento”

NÃO JOGAS COM O BARALHO TODO (3): PSD

Depois de olhar para as listas do PSD, fiquei com uma certeza: Deus não existe. O mesmo já não posso dizer em relação ao Diabo.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

A MANILHA VAI SECA (72): No fundo, isto é o PSD (vai falar-se de listas, deputados, ismos, istas e outras cousas a propósito)

Mal tinha acabado de fundar o PPD e já Francisco Sá Carneiro se tinha apercebido do terrível saco de gatos que criara, qual monstro autofágico e incapaz de viver em paz consigo mesmo. Desde a sua génese, o PSD tem vivido em permanente estado de guerra mais ou menos declarada, com os vários barões a posicionarem os seus peões num tabuleiro altamente complexo.

Certa vez, nos tempos primordiais deste humilde blog, satirizei a quantidade absurda de ismos e istas que existe dentro do PSD, sendo que uns mais não são do que filhos de outros ismos maiores. Por exemplo, a corrente ferreiraleitista, que actualmente controla o partido, é filha do cavaquismo, o qual nunca deixou de ter uma vasta expressão dentro do PSD.

Depois do fim do menezismo (corrente aliada do santanismo), a nova era ferreiraleitista anunciou que vinha para pôr os pontos nos i’s, quase anunciado uma prometida limpeza dentro do partido. Claro que o PSD não é o PCP e, salvo raras excepções, é quase impossível afastar, de facto, quem quer que seja do partido sem recorrer a purgas estalinistas e totalmente contra a forma de ser de uma força política democrática. Percebendo isso, Manuela Ferreira Leite tratou de estabelecer alianças com alguns destes ismos, a começar pela corrente santanista (sempre demasiado forte dentro do partido, embora sem a força de outras linhas), que viu o seu líder ser candidato à Câmara Municipal de Lisboa. Já em relação aos passoscoelhistas, as coisas passaram-se de maneira bem diferente, sendo que o próprio Pedro Passos Coelho, ao exigir taxativamente uma vitória do PSD nas Eleições Europeias, fez cair por terra qualquer possível acordo com os ferreiraleitistas.

As listas de deputados do PSD mostram bem essa crispação existente. Sem qualquer pudor, a actual líder afastou Pedro Passos Coelho das listas por Vila Real e Miguel Relvas de Santarém, mostrando à principal linha de opositores que é ela quem manda. A qualidade de A ou B para liderar um círculo eleitoral é o que menos interessa num jogo em que o poder é quem mais ordena. Em Santarém, parece-me óbvio que a escolha de José Pacheco Pereira revela que quem esteve ao lado de Ferreira Leite tem direito ao seu prémio. Simples.

Mas há algo menos visível em toda esta história e que revela bem que o filhadapustismo é a corrente política dominadora em toda a política portuguesa.

Manuela Ferreira Leite sabe que vai ter de comer muita papa Maizena para derrotar José Sócrates a 27 de Setembro. Até ao momento, as sondagens divulgadas são perfeitamente inconclusivas, podendo dar-se o caso de o PS vencer novamente… ou não. Na dúvida, Ferreira Leite opta por uma estratégia venenosa. Se a Dama de Espadas do PSD perder as próximas Legislativas, certo é que os passoscoelhistas virão a público exigir a cabeça da presidente do partido, eleições directas e, claro está, um congresso extraordinário. Neste cenário, Passos Coelho poderá avançar novamente para a liderança e, quem sabe, vencer as directas, tornando-se timoneiro de um partido que volta a sentar-se ao lado da oposição. Só que, sem lugar na Assembleia da República (minada de ferreiraleitistas e correntes que aderiram ao actual poder) e sem qualquer cargo político de relevo, Passos Coelho terá a sua tarefa automaticamente dificultada, já que não terá pessoas da sua confiança para enfrentar José Sócrates no Parlamento, nem um púlpito onde possa falar ao país (o que, em rigor, acontece actualmente com Manuela Ferreira Leite).

No fundo, mais do que um exercício de escolha baseado na competência, capacidades, honestidade ou, sequer, segundo um critério de renovação, a escolha das listas de deputados foi uma forma de Ferreira Leite poder minar uma eventual futura liderança de Pedro Passos Coelho, seu adversário nas directas e sua Nemesis desde a primeira hora.

A política é isto, meus amigos.

VALETE DE COPAS (6): Not again

Nos últimos dias, dou por mim a tentar escrever. A tentar, mas não a conseguir. Numa pasta, tenho já um punhado de textos falhados à espera de melhores dias. Os que passam de texto de Word a post também deixam muito a desejar.

Estou sem inspiração. Uma vez mais.

Estou sem ideias, sem ânimo, sem vontade e sem aquele quê que dá sal e pimenta a um amontoado de frases.

Talvez seja o Algarve a chamar por mim, como que murmurando: “Terás que regressar aos locais de outrora para edificar os locais do amanhã. Terás de lamentar o que perdeste e o que mudaste para conquistares novas terras. Terás de viver numa bizarra mescla entre passado e presente para poderes compreender o futuro. Terás que ver novamente os mares do Sul para entenderes o que, afinal, eles significavam para ti”.

Talvez seja isso.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

PENSAMENTOS DO BURRO EM PÉ (16): Coluna vertebral

“Ignora os paladinos da verticalidade e dobra a tua coluna vertebral todos os dias: quando estiveres a apertar os atacadores e nas aulas de yoga.”

Dr. Mento

A MANILHA VAI SECA (71): Porque a verdade é mais ou menos isto (vai falar-se de Isaltino e de outras cousas)

Com o aproximar das eleições, multiplicam-se as tomadas de posição ao estilo “eu sou bom, tu és mau, eu estou certo, tu estás errado”, como se alguém fosse dono e senhor da verdade. E se este discurso é comum entre os principais agentes políticos envolvidos nas Autárquicas ou nas Legislativas, também o encontramos em muitos outras vozes, inclusivamente na blogosfera.

Mas, afinal, o que é a verdade?

A minha resposta: ninguém pode dizer-se senhor do bem, acusando outrem de personificar o mal, quando, na verdade, o bem e o mal são realidades inerentes a cada um de nós e indissociáveis da nossa pessoa.

Um exemplo? Isaltino Morais.

Tempos houve em que lhe chamavam autarca-modelo, título que me parece amplamente exagerado por camuflar os inúmeros erros de gestão que Isaltino cometeu enquanto edil de Oeiras. Mas também sei que, certa vez, circunstâncias de índole profissional obrigaram-me a contactar diversos órgãos autárquicos de vários concelhos, onde ouvi gente de inúmeros partidos a tecer os mais rasgados elogios ao senhor que fuma charuto, mesmo que todos considerassem que Isaltino era homem de cometer muitas falcatruas. Um colega de lides jornalísticas, que conheceu Isaltino, dizia-me mesmo: “Eu sei que ele é corrupto e tudo o mais, mas ninguém me garante que quem vier atrás dele vá fazer um trabalho de melhor qualidade”. Fontes ligadas ao Ministério do Ambiente referiram-se igualmente a Isaltino em tons altamente elogiosos, especialmente em comparação com o seu sucessor, Amílcar Theias.

Percebem onde quero chegar, certo?

O mesmo homem que foi condenado a sete anos de prisão por ter sido provada a sua culpa em quatro tipos de crime (fraude fiscal, abuso de poder, corrupção passiva para acto ilícito e branqueamento de capitais) é, ao mesmo tempo, sobejamente elogiado por gentes de vários partidos, que lhe reconhecem qualidades ímpares, especialmente como presidente da Câmara de Oeiras.

Isaltino representa, na perfeição, uma estranha dualidade entre o bem e o mal: é corrupto e, como tal, não pode ser um bom autarca, mas tem qualidades a mais para deixar de ser um bom autarca. Isaltino não é bom, nem mau, não é herói, nem vilão, mas antes uma mescla de tudo isto, que dá origem a uma só pessoa.

A verdade é um lugar estranho. Muito estranho, mesmo.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

JOKER (12): O programa eleitoral do PS em versão top-secret

Sim, eu sei que o PS já apresentou o seu programa para as Legislativas. Só que ninguém vos explicou que programa era esse e eu, que tudo sei e tudo digo, digo-vos, porque sei, que o programa apresentado é apenas o programa do PS ao eleitorado. Trocando por miúdos, os socialistas apresentaram o programa do saca-votos.

Na verdade, segundo apurou este vosso escriba, existe um segundo programa do PS. É o programa de Governo, que está guardado a sete chaves numa gaveta do Largo do Rato, mesmo ao lado do socialismo. Só que o vosso Dr. Mento, doutorado na escola socrática, é especialista em encantamentos de serpentes e demais répteis e, com duas palavrinhas, lá conseguiu fazer com que uma empregada da limpeza fosse à dita gaveta tirar de lá o programa para poder ser lido e fotocopiado.

E aqui está ele, em rigoroso exclusivo para Vilar de Andorinho e, quem sabe, para o Mundo:

1 - A prioridade número um do Governo será fomentar o investimento público e a criação de novos postos de trabalho.

2 - Para fomentar o investimento público e a criação de novos postos de trabalho, o Governo vai lançar, com a máxima urgência, o concurso público para a construção de quatro novas linhas ferroviárias de alta velocidade, as quais levarão o país aos píncaros do progresso: Lisboa-Cacilhas, Porto-Gondomar, Faro-Patacão e Castelo Branco-Cebolais de Cima.

3 - Por decreto, o concurso público terminará com a adjudicação das quatro obras à Mota-Engil.

4 - Se o cabrão do algarvio se lembra de vetar esta merda, o Governo, por decreto, obriga-o a ler os DEZ cantos dos Lusíadas de trás para a frente.

5 - Para promover o investimento público, a criação de emprego e a coesão do território nacional, não mais será necessário optar pela construção de um novo Aeroporto Internacional de Lisboa na Ota ou em Alcochete, já que será construído um Aeroporto Internacional de Lisboa na Ota e outro Aeroporto Internacional de Lisboa em Alcochete.

6 - Os defensores da manutenção do actual Aeroporto Internacional de Lisboa poderão estar descansados, porque o Governo, para promover o investimento público, a criação de emprego e a coesão do território nacional, irá também construir um Aeroporto Internacional de Lisboa na Portela.

7 - Por decreto, o concurso público terminará com a adjudicação da construção dos três aeroportos à Mota-Engil.

8 - Se o filho-da-puta do algarvio mandar esta merda para o Tribunal Constitucional, o Governo obriga-o, por decreto, a comer VINTE bolos-rei enquanto responde a perguntas dos jornalistas.

9 - Para fomentar o investimento público e a criação de novos postos de trabalho, o Governo vai lançar um concurso público para a construção de uma nova auto-estrada paralela à A1 e de uma outra paralela à A2, para que os portugueses tenham mais oportunidades de escolha na hora de se deslocarem de automóvel, não ficando condicionados às vias anteriormente existentes.

10 - Por decreto, o concurso público terminará com a adjudicação destas duas empreitadas à Mota-Engil.

11 - Se o mangas-de-alpaca do algarvio se lembra de embirrar com esta merda, o Governo, por decreto, organizará um buzinão à porta do Palácio de Belém.

12 - Serão criados 150 mil novos postos de trabalho com base no investimento público.

13 -Por decreto, quem fizer piadinhas sobre os 150 mil novos postos de trabalho, será deportado para a Coreia do Norte.

14 - Por decreto, o Bernardino Soares será deportado para a Coreia do Norte, mesmo que não tenha feito piadinhas sobre os 150 mil novos postos de trabalho. Aliás, o gordo não necessita de fazer piadinhas, porque ele, por si só, já é uma piadinha de mau gosto.

15 - As energias renováveis serão a grande aposta do futuro, para promover o fim da dependência do país em relação ao petróleo e garantir a sustentabilidade do território, ao que se acrescenta a criação de novos postos de trabalho.

16 - Os parques naturais Peneda-Gerês, Sintra-Cascais e Arrábida serão incendiados, de molde a poder criar novos postos de trabalho nas corporações de bombeiros voluntários, sendo que os territórios ardidos estarão destinados a novos parques eólicos.

17 - A construção dos parques eólicos e remoção das árvores vai ser adjudicada directamente, por concurso público internacional, à Mota-Engil.

18 - Se o sacana do Algarvio levantar dúvidas em relação a esta merda, o Governo, por decreto, obriga-o a escrever mil vezes: “Não mais vetarei o Estatuto Político-administrativo dos Açores, posto que este é um documento brilhante, aprovado pelos deputados da Nação, criado por mentes sábias e deslumbrantes”.

19 - A Avenida da Liberdade, em Lisboa, será rebaptizada de Avenida José Eduardo dos Santos, em homenagem a um homem notável e brilhante, que potenciou a democracia e a liberdade em Angola, bem como o desenvolvimento económico e social do país, que é hoje uma referência em todo o Mundo.

20 - Por decreto, o PS aceita uma mala de dinheiro em forma de donativo e envia um obrigado ao cabrão do preto.

21 - Cada bebé nascidoserá subsidiado pelo Governo com 200 euros em acções do BPN.

22 - O casamento entre pessoas do mesmo sexo será uma prioridade do Governo para a próxima legislatura, altura em que o Governo anunciará ao país e ao Mundo que o casamento entre pessoas do mesmo sexo será uma prioridade do Governo para a próxima legislatura.

23 - Por decreto ministerial, os licenciados da Universidade Independente passam a ter equivalência directa ao doutoramento, sem necessidade de prestarem mais provas para além de um pequeno exame de Inglês Técnico, que poderá ser realizado em casa.

24 - Por decreto ministerial, Manuela Ferreira Leite será proibida de utilizar a expressão “piquenas e médias empresas”.

25 - Por decreto ministerial, Francisco Louça será proibido de utilizar a capacidade da fala.

26 - Por decreto, Mário Nogueira será obrigado a cortar o bigode e a leccionar duas horas de aulas por semana.

27 - O Governo reprimirá a violenta manifestação de professores que se seguirá, com a FENPROF a acusar o Governo de ter morto Mário Nogueira com tanto trabalho desumano e escravo.

28 - Por decreto, a ASAE será considerada constitucional e um garante das liberdades, direitos e garantias dos cidadãos.

29 - A ASAE fechará 90 por cento dos restaurantes e cafés do país, como forma de combater o ócio e a convivência subversiva entre pessoas de ideias subversivas, que vão para estes espaços pôr em dúvida a genialidade deste Governo.

30 - A ASAE encerrará as cozinhas das habitações de todos os subversivos, que falam de política à hora do jantar, quando deveriam, isso sim, comentar favoravelmente as maravilhas operadas pelo Governo do PS no desenvolvimento de Portugal.

31 - Os meios de comunicação social que não apoiem as iniciativas do Estado e revelem comportamentos subversivos e anti-progresso, serão encerrados e os seus proprietários multados.

32 - Só será conferida a Carteira de Jornalista a pessoas filiadas em partidos cujo símbolo contenha um punho erguido e cuja sigla contenha somente duas letras.

33 - Por decreto, o Governo, através da ERC, obrigará todos os blogues a conferirem espaços iguais para todas as forças políticas, sendo que os candidatos a cargos públicos não poderão postar durante os 128 meses anteriores à realização de um acto eleitoral ou referendo.


ADENDA AO PONTO 33: José Pacheco Pereira é considerado candidato. Não sabemos a quê, mas é.

NÃO JOGAS COM O BARALHO TODO (2): Olhó Benfica, pá!

O Sport Lisboa e Benfica prova, uma vez mais, ser o maior clube português de todos os tempos e, quem sabe, deste século. Num curto espaço de tempo, o mais glorioso de todos os gloriosos já colocou na sua prestigiada sala de glórias troféus de imenso prestígio como os referentes ao Torneio do Guadiana, ao Torneio de Amesterdão ou ao Torneio Cidade de Guimarães. O Sport Lisboa e Benfica repudia veementemente clubes de segunda linha e escasso prestigio que se vangloriam de conquistar pequenas taças de competições menores, como sejam a Liga dos Campeões, prova organizada por uma entidade desconhecida e na qual o prestigiado Sport Lisboa e Benfica se recusa a participar.

A MANILHA VAI SECA (70): A habilidosa jogadora de Sueca que aguarda a Manilha seca na mesa para poder lançar o Ás

Na Sueca, o jogador que tem o Ás de um dado naipe tem sempre como objectivo utilizar esta carta para comer a Manilha, especialmente quando esta última está na posse do par adversário.

Serve esta introdução para vos falar um pouco do programa do PSD e da paciência de jogadora de Manuela Ferreira Leite.

Neste momento, quase todos os principais partidos políticos portugueses já divulgaram os seus programas políticos tendo em vista as Legislativas de 27 de Setembro. Falta, como sabem, o PSD, que inúmeras críticas tem merecido pelos atrasos na divulgação das suas ideias-mestras para Portugal, havendo mesmo quem diga que, ao não ter um programa, os sociais-democratas pedem ao eleitorado que lhes passe um cheque em branco.

Desenganem-se. O PSD, por esta altura, já tem um programa. Mas, decerto, não o irá divulgar em pleno mês de Agosto, numa época em que os portugueses estão mais preocupados com a praia, os parques de campismo, os hotéis, as sardinhadas, os festivais, as viagens e sei lá mais o quê. Divulgar um programa eleitoral nesta altura seria como discursar para uma plateia de cadeiras vazias. É bem melhor esperar por Setembro, certo?

Todas as críticas feitas ao PSD pela ausência de programa favorecem, curiosamente, o próprio PSD, ao criarem uma enorme expectativa em relação ao documento do qual todos falam, mas que apenas uma escassa minoria terá visto. Provavelmente, esta expectativa vai levar muita gente a ler o programa do PSD, sendo que muitos dos que o irão fazer não tiveram pachorra para passar os olhos pelas propostas do PS, PCP, CDS-PP ou BE. Logo aqui, o PSD marca pontos.

Por fim, temos a data das eleições, 27 de Setembro. Tendo em conta que os programas eleitorais são documentos de muitas páginas, quem os lê apenas consegue fixar um par de ideias-chave, que irão variar de acordo com a sensibilidade de cada um para este ou aquele tema. Ao apresentar o programa mais tarde, o PSD joga na possibilidade de as ideias do seu manifesto ficarem mais frescas na mente de muitos portugueses, já que terão sido as últimas a serem lidas.

É claro que esta jogada tem os seus riscos e pede, acima de tudo, que o programa seja bom e não defraude as expectativas de quem aguarda pelo tão ansiado documento. Se houver um pouco de bom-senso dentro do PSD, pede-se um texto bem escrito, claro e conciso, de fácil assimilação e sem pontos obscuros ou susceptíveis de críticas cerradas por parte da oposição. Um punhado de boas propostas é também condição sine qua non para que este programa possa triunfar.

Por outro lado, esta expectativa em relação a um programa pode levar algumas pessoas a interessarem-se por esta questão e irem a correr ler o texto, mas há o risco de essas mesmas pessoas poderem querer comparar este programa com os dos partidos rivais; se tal suceder, o texto que ficará mais fresco na cabeça será o de um dos outros partidos e não o do PSD.

Apesar dos riscos inerentes a esta jogada, gabo a paciência de Manuela Ferreira Leite. José Sócrates devia estar longe de imaginar que teria pela frente uma adversária tão calculista e perigosa.

PENSAMENTOS DO BURRO EM PÉ (15): Ambição

“Por um troféu, alguns seriam capazes de vender a própria mãe. Mas por um tacho, muitos seriam capazes de vender a própria Humanidade.”

Dr. Mento

sexta-feira, 31 de julho de 2009

A MANILHA VAI SECA (69): Arroz de empato (técnico, pois claro)

A estranha expressão “empate técnico” continua bastante em voga, embora, na verdade, a mesma tenha um significado algo vago. Por norma, em sondagens eleitorais, costuma falar-se em empate técnico quando, estatisticamente, o erro máximo da amostra é superior à diferença percentual entre dois candidatos. Só que uma sondagem que inclui indecisos (para além de votos brancos e nulos) parte de uma base que, no dia das eleições, não tem representação, já que a indecisão não tem forma de ser exprimida em termos de votos - pode, quanto muito, resultar em abstenção.

De acordo com a mais recente sondagem RR/SIC/Expresso (feita pela Eurosondagem), esta situação aplica-se, actualmente, ao PS (33 por cento das intenções de voto) e ao PSD (31,1 por cento), para uma margem de erro de 3,04 por cento. Se não leram ainda os números da sondagem, refiro já que o BE aparece com 10 por cento, a CDU com 9,4 e o CDS-PP com 8,5. O número de indecisos anda pelos 22,8 por cento.

Independentemente do dito empate técnico, e descontando os possíveis erros subjacentes a qualquer sondagem, parecem bastante óbvias algumas tendências. Em primeiro lugar, estas eleições vão ser disputadas voto a voto, sendo que qualquer escândalo, declaração mal medida, incidente ou descoberta jornalística pode fazer pender a balança para um dos lados. Por outro lado, parece notório que os dois partidos do Bloco Central poderão não atingir 70 por cento dos votos, havendo também alguma dispersão pelas outras forças com representação parlamentar. Em termos de estabelecimento de coligações e acordos, as coisas podem complicar-se bastante, excepto se houver mesmo uma reedição do Bloco Central (cenário que, bem vistas as coisas, não pode ser completamente descartado, como já disse várias vezes).

No entanto, relembro que, nas Legislativas, o que conta mesmo é o número de deputados eleitos pelos vários círculos, através do Método d’Hondt. Isto explica porque é que há maiorias absolutas com menos de 50 por cento dos votos, embora, neste momento, essa hipótese pareça remota.

Seja como for, esta aproximação entre PS e PSD deverá, por um lado, produzir uma campanha extremamente animada, mas, por outro lado, deverá conduzir a trocas de insultos e acusações de parte a parte que nada dignificarão a política portuguesa. São também esperados muitos escândalos descobertos, por acaso, nesta altura, embora se reportem a factos acontecidos há alguns anos. Vai haver muita lavagem de roupa suja e uma crispação ideológica entre supostos bons e alegados maus. Teremos, igualmente, muito ruído por nada, como sucedeu no caso do convite a Joana Amaral Dias pelo PS, que, apesar de ter feito as delicias de comentadores e bloguistas, mais não foi do que um chinfrim dos diabos por nada.

As próximas semanas prometem muito barulho e uma ou outra ideia de jeito. Os debates poderão ter algum peso no resultado final de 27 de Setembro, mas tenho cá uma bola de cristal que me diz que serão os golpes baixos a definir quem vence e quem perde. Quanto às sondagens, depois das Europeias, vão deixar de influenciar o eleitorado da forma que o faziam anteriormente.

quinta-feira, 30 de julho de 2009

A MANILHA VAI SECA (68): Um metro de puro nojo

Quase nem nos apercebemos, mas as redes de transportes públicos, para além de servirem directamente as populações, são também um símbolo de desenvolvimento e de orgulho para uma cidade. Aliás, isto é de tal modo verdade que, durante largos anos, havia um complexo de superioridade de Lisboa em relação ao Porto (e de inferioridade no sentido inverso) por causa do metropolitano.

A secretária de Estado dos Transportes, Ana Paula Vitorino, tem sido o rosto do Governo no que toca à expansão das redes de metropolitano. Está presente em todos os anúncios oficiais e, discretamente, realiza as suas acções de propaganda a favor do Governo, mostrando como este Executivo é moderno e evoluído, apostando na expansão do metropolitano, esse símbolo do urbanismo e da modernidade.

Só que, meus amigos, esta Manilha vai seca e os trunfos que saltam são só duques, ternos e quadras.

Lembro-me de, no início de 2008, Ana Paula Vitorino ter anunciado a extensão da Linha Azul do Metropolitano de Lisboa até à Reboleira, num evento onde aproveitou também para falar da futura linha de metropolitano de superfície a unir os concelhos da Amadora e de Odivelas, ambos já servidos pelo metro alfacinha. Curiosamente, neste evento, ninguém mencionou a questão das datas, pelo que posso ter a esperança de que esta linha possa vir a ser utilizada pelos meus netos… que só nascerão daqui a muitos, muitos anos (ainda sou demasiado novo para ser avô).

Mais recentemente, veio o anúncio da chegada do metropolitano ao concelho de Loures. Na verdade, tal já estava previsto há muito tempo, uma vez que a expansão da Linha Vermelha entre o Oriente e o Aeroporto irá dar origem às estações da Encarnação (em Lisboa) e de Moscavide (que já pertence a Loures). Mas, neste caso, o anúncio referia-se à chegada da Linha Vermelha a Sacavém e da Linha Amarela ao Infantado… em 2014 e 2015, respectivamente. Ou seja, mesmo que o próximo Governo seja do PS, este não verá a conclusão das duas linhas acima citadas.

E já que o metro anda nas horas, é chegada a vez de Ana Paula Vitorino (sempre ela) anunciar que a Linha Azul vai atingir o Hospital Amadora-Sintra em 2015, num projecto que vai dar também origem às estações da Atalaia e Amadora-Centro.


Ainda não perceberam onde quero chegar, pois não?

Ora bem, vejamos quem são os edis dos municípios abarcados por todos estes projectos. Na Amadora, reina um socialista, Joaquim Raposo. Em Loures, é rei e senhor o vaidoso do bigode lustroso, Joaquim Teixeira, também ele do PS. Já em Odivelas, temos como edil uma senhora, Susana Amador… que, surpresa, é do PS. Ou seja, temos muitas obras do futuro para beneficiar concelhos geridos por socialistas, mas ninguém equaciona, em tempo algum, expandir o Metropolitano de Lisboa para o concelho de Sintra, que bem pode ser o mais populoso do país, mas que tem de pagar pelo facto de ser gerido por um social-democrata: Fernando Seara. Mete nojo, não mete?

Mas para que não seja só o PS a meter nojo, aqui vai outra história deste género. Já que falamos de Fernando Seara, convém lembrar que este careca sorridente tem o curioso hábito de favorecer certas freguesias em detrimento de outras. As outras, as menosprezadas, são as que se atreveram a votar no PS, quando, em Sintra, quem manda é a coligação PSD/CDS-PP/PPM/MPT. Lembram-se da escola básica em Monte Abraão cujo tecto ruiu a meio de uma aula? Pois é, a escola tinha um ano (sim, leram bem) e foi o único investimento visível deste executivo camarário numa freguesia onde a presidente da Junta, a socialista Maria de Fátima Campos, é totalmente hostil a Fernando Seara.

Percebem agora porque é que digo que sinto nojo dos partidos? Por muito que haja pessoas de valor aqui e ali, as lógicas de conquista de poder acabam por engolir as poucas coisas boas que vão sendo feitas, atirando os cidadãos para um pântano de incredulidade e nojo.

NÃO JOGAS COM O BARALHO TODO (1): A verdade sobre Sócrates

Com esta história de dar 200 euros por cada bebé, descobrimos todos que, afinal, José Sócrates não nos quer foder. Quer-nos a foder.

PENSAMENTOS DO BURRO EM PÉ (14): Mentira

“O sucesso é algo que me estará, para todo o sempre, vedado. Falta-me o dom da mentira.”

Dr. Mento

ESPADAS QUE PICAM (18): A verdade é um pouco assim

Diz-se, popularmente, que, em muitas áreas, o que é verdade hoje, pode deixar de sê-lo amanhã. O estranho regresso de Michael Schumacher à Fórmula 1 (no lugar do acidentado Felipe Massa) é bem um desses casos levados à letra.

No dia 28 de Julho, Willi Weber, manager do heptacampeão do Mundo, disse taxativamente ao The Daily Mail (traduzido): “Quem quer que se sente no carro [de Felipe Massa] na próxima corrida em Valência, não será Michael Schumacher. Tenho 100 por cento de certezas. Tenho 200 por cento de certezas”.

Pois.

Um dia depois, a Ferrari anunciou oficialmente que Michael Schumacher seria o substituto de Felipe Massa enquanto este último não estivesse em condições de voltar a pilotar, sendo que o regresso do piloto alemão teria lugar já no GP da Europa, a disputar na pista citadina de Valencia. Com que então, “200 por cento de certezas”

Na política, nos negócios, no desporto e em muito mais áreas, a verdade é, cada vez mais, algo muito relativo. Mente-se por tudo e por nada, mente-se com a mesma naturalidade com que se bebe um copo de água. Mas ninguém assume que mente: todos dizem que as circunstâncias é que mudaram.

Pois.

Circunstâncias.

Com o Acordo Ortográfico, “circunstâncias” até poderia passar a sinónimo de “mentira”. E “verdade” seria sinónimo de “Abominável Homem das Neves” - todos já ouviram falar de ambos, mas ninguém confirma que um ou outro exista.

Depois deste episódio, olho para Manuela Ferreira Leite e para a sua suposta política de verdade e penso que das duas uma: ou a mulher mente ainda mais do que os outros todos juntos ou é mesmo uma ave rara no mundo da política (e no mundo em geral). Vai na volta e até nem precisaremos de muito tempo para saber… pois, a verdade. Sim, essa mesma.

quarta-feira, 29 de julho de 2009

A MANILHA VAI SECA (67): Vaza cortada

Já nem me lembro em que data se começou a dar como certa a candidatura de Pedro Santana Lopes à Câmara Municipal de Lisboa. Mas foi há muito, muito tempo…

Durante largos meses, Santana esteve, por norma, num silêncio expectante, que nada parecia condizer com a sua personalidade expansiva. Só que o menino-guerreiro não esteve a dormir e, inteligentemente, foi estudando a matéria e preparando bem a lição, sabendo que o seu adversário principal é um homem que, por ter tido direito a somente meio mandato (Costa foi eleito apenas nas Intercalares de 2007), beneficiaria ainda de um certo estado de graça.

Tal como eu previ, o primeiro debate entre ambos centrou-se na questão dos números das dívidas e gastos da edilidade alfacinha. António Costa sabia que essa arma seria fundamental para encostar Santana Lopes às cordas, mas… com alguma surpresa, o menino-guerreiro parece ter-se tornado adulto e decidiu estudar bem as contas para poder ter uma resposta e, sobretudo, capacidade de contra-ataque. Tal foi visto no debate entre ambos, mas, sobretudo, antes do frente-a-frente, com Santana a sair parcialmente ilibado da acusação de ter atirado Lisboa para a ruína. De repente, toda a gente parece ter-se esquecido de episódios infelizes como os três milhões gastos na transferência das instalações da EPUL para Alvalade, num apontamento de despesismo que me chocou. Mas os números têm esta particularidade de englobarem tudo num só bolo, generalizando e apagando factos. Santana sabe disso e jogou esta carta, cortando a vaza a um desprevenido António Costa, que também soube usar os números para ganhar popularidade entre alfacinhas e não só.

Não sei se Santana Lopes é a melhor escolha para a Câmara de Lisboa, até porque, atrás dele, vêm umas criaturas chamadas santanistas, que, em certos casos, ampliam largamente os defeitos do mestre, sem terem as qualidades deste. Mas, quanto a Santana, elogio o facto de fazer bem os trabalhos de casa, qual aluno aplicado que quer ter 20 no exame.

Posso apontar-lhe inúmeros defeitos, mas Santana é, pelo menos, um homem que gosta e conhece Lisboa. Esse amor pela cidade que pretendemos governar é, quando a mim, um dado essencial, que, infelizmente, não se encontra em muitos presidentes de Câmara. Costa também deve gostar de Lisboa, mas, desde a primeira hora, não lhe senti aquele afecto genuíno pela cidade que sinto em Santana Lopes, apesar de ambos terem nascido na Capital.

Quando se aliou a Helena Roseta e José Sá Fernandes, António Costa partiu do princípio que a luta pela edilidade alfacinha não ia ser uma questão de favas contadas. E estava certo. Santana é mais forte do que algumas das suas fragilidades dão a entender.

JOKER (11): Poesia popular

Joana, boa moça e moça boa,
De olho azul, de cor de mar,
Deixa todo o homem à toa,
Deixa todo o homem a sonhar.

Joana, boa moça todos os dias,
Tinha dono, era a moça do Xico,
Homem sem demais alegrias,
Douto pobre, mas quase rico.

Certo dia, no meio da praça,
Passou um velho de Lisboa.
E olhando ele p’ra tanta graça,
Disse então à boa moça boa:

“Levava-te daqui para fora,
Fazia de ti mais que princesa,
Fujamos, sem mais demora,
Que a tenho mais que tesa!”

Foi-se a Joana com o idoso,
Ficou o Xico a esbracejar,
Mas um dia, volta ao pouso
Joana dos olhos cor de mar.

Gritou então o Xico irado:
“Não mais serás dirigente!”
Ficou ele ainda mais amuado,
Ficou ela mais longe da gente.

Só que Joana, mui pecadora,
Tinha mais um pretendente.
Era filósofo de hora a hora,
Era mentiroso indulgente.

Sorrindo para a moça do Xico,
Veio ele e então questionou:
“Pois que sou um homem rico,
O que a ti, bela Joana, te dou?”

“Vai-te daqui, filho de Barrabás,
Leva promessas e palavrinhas,
Sois corno e mau, sois Satanás,
Que cose seu pano com más linhas!”

Foi então a arrependida Joana
Relatar tudo a seu marido,
Que logo pegou na sua catana,
Dizendo: “Ele está mas é fodido!”

Houve sangue, houve lamentos,
Mas o filósofo até não morreu.
Virou-se ele para outros intentos
E nos braços de Miguel adormeceu.


(Está uma bela merda, eu sei)

terça-feira, 28 de julho de 2009

JOKER (10): O quinto poder (não levar a sério, por favor)

Quero fazer um novo blogue.

Quero fazer um blogue de apoio.

Quero fazer um blogue de apoio a qualquer coisa.

Já há blogues de esquerda, de direita, de centro, de extrema-direita, de extrema-esquerda.

Falta um blogue de extremo centro.

Faltava, porque vou criar um.

Um blogue de apoio ao movimento de extremo centro.

Que vai ser Governo.

Um dia destes.

Crio um perfil.

Como sou (bem, fui) jornalista, tenho credibilidade.

Todos os jornalistas têm credibilidade.

Todos os jornalistas têm um blogue.

Todos os jornalistas criticam a falta de credibilidade dos outros jornalistas que têm um blogue.

E eu passo a ser jornalista, com blogue, com credibilidade e com acusações de falta de credibilidade.

Crio o blogue.

Posto umas larachas e, em seguida, vou aos blogues de esquerda, de direita, de centro, de extrema-direita e de extrema-esquerda insultar toda a gente.

Em seguida, os bloguistas dos blogues de esquerda, de direita, de centro, de extrema-direita e de extrema-esquerda vêm ao meu blogue insultar-me e chamar-me de cabrão para baixo.

Depois, falo um post a queixar-me dos insultos de que fui alvo e de como os bloguistas dos blogues de esquerda, de direita, de centro, de extrema-direita e de extrema-esquerda são gente sem sentido democrático.

Entretanto, os bloguistas dos blogues de esquerda, de direita, de centro, de extrema-direita e de extrema-esquerda voltam ao meu blogue para dizerem que eu é que não tenho sentido democrático, que sou um fascista, um salazarista, um comunista, um motocilista e mais uns istas.

Amuo.

Posto mais umas larachas e, em seguida, vou aos blogues de esquerda, de direita, de centro, de extrema-direita e de extrema-esquerda insultar toda a gente.

As visitas ao meu blogue passam a fasquia de um milhão.

A Visão faz uma reportagem sobre o meu blogue.

A Sábado faz uma reportagem sobre o meu blogue.

Os blogues de esquerda, de direita, de centro, de extrema-direita e de extrema-esquerda dizem que a Visão e a Sábado não têm credibilidade.

A SIC descobre que existem blogues.

A SIC faz uma reportagem sobre a blogosfera e fala de mim.

Passo a barreira dos 10 milhões de visitas.

Passo a ter patrocínios da Sumol, EDP-Energias Renováveis, Vodafone, Galpenergia, Nissan, BES e Escapes Caravalho.

Ganho dinheiro.

Vou de férias para a Polinésia Francesa.

Faço um post sobre as minhas férias na Polinésia Francesa.

Os blogues de esquerda, de direita, de centro, de extrema-direita e de extrema-esquerda insultam-me por passar férias na Polinésia Francesa.

Vou aos blogues de esquerda, de direita, de centro, de extrema-direita e de extrema-esquerda insultar toda a gente que não passa férias na Polinésia Francesa e que tem inveja de quem tem bom gosto o suficiente para passar Férias na Polinésia Francesa.

Sou convidado para uma BlogConf.

Masturbo-me dez vezes depois de receber o convite.

Vejo o Sócrates em carne e osso.

Faço-lhe perguntas e ele responde-me.

Ele tem medo de mim.

E não se atreve a criticar-me.

A não ser quando está no seu blogue, a coberto de um pseudónimo.

Coisa que não uso, pois claro.

Sou importante.

Sou mais um na blogosfera.

SOU MEMBRO DO QUINTO PODER.

Ámen.

PENSAMENTOS DO BURRO EM PÉ (13): O bom e o mau

“Eu é que sou bom, tu é que és mau. Será sempre assim.”

Dr. Mento

A MANILHA VAI SECA (66): Estou triste

Sim, estou triste. Mas não estou bem triste. Triste é uma palavra forte. Estou, talvez, decepcionado. Muito decepcionado. Mesmo. Estou tão decepcionado (e, quiçá, triste) que sinto ganas de matar aquele velhaco barrigudo a golpes de catana.

Eram altas as minhas expectativas em relação ao discurso de Alberto João Jardim em Chão da Lagoa, mas o gordo mal-encarado não deve ter bebido o suficiente e fez um daqueles discursos… bem, fez um discursozinho que poderia ter sido feito por um qualquer. Essa de dizer que quem não cumpre promessas não pode governar Portugal seria digna de uma Manuela Ferreira Leite. Banal, banal, banal. O velho está a ficar velho. Já não diz duas de jeito. Ou melhor, diz. O que é grave. É o Alberto João Jardim, pá.

Onde é que estão os cubanos colonialistas do continente? Onde é que estão os filhos-da-puta dos jornalistas? Onde é que está o Marítimo que tinha o pássaro na mão e deixou-o foder? Onde é que estão o regabofe e o ramerrame dos jacobinos de Lisboa? Onde é que estão os fascistas vestidos de socialistas, que roubam milhões e milhões de euros à Madeira? Onde é que está a região autónoma comparada a uma prostituta cara e de gostos finos que alguém tem de manter?

Um discurso de Alerto João Jardim em Chão da Lagoa sem coisas destas, não pode ser um discurso de Alberto João Jardim. Já imaginaram Jerónimo de Sousa a discursar no final do Avante! sem utilizar a expressão “as malfeitorias deste Governo”? Não, não pode ser.

Bem, no meio de tanto mais-do-mesmo, valha-nos o PND-Madeira e o seu dirigível, abatido a tiros de caçadeira. Mas preferia que tivesse sido o próprio Jardim a fazê-lo, empunhando a espingarda em palco diante das câmaras de televisão. Esse, sim, seria o Jardim que todos (julgamos que) conhecemos: malvado e sem respeito pelos outros, boçal e violento, cruel e impiedoso, malcriado e antidemocrático.

Alberto João Jardim gastou os cartuchos todos que tinha antes do Chão da Lagoa. Está velho, acabado, gasto. Diz coisas que não chocam, que não ferem, que não aviltam, que não indignam (muito). Parece um político igual aos outros, um mangas-de-alpaca da pseudo-modernidade, daqueles que gosta de citar Dostoievski e que promete mundos, mas que não tem fundos para cumprir promessas.

Reforma-te quanto antes, Alberto. Um dia destes, estás a prometer 150 mil novos empregos.



Nota: Alberto João Jardim deve andar a ler o ONZE DE ESPADAS. Depois de eu ter dito que as palavras dele em Chão da Lagoa não tinham qualquer real importância, o velho decidiu também não dar importância às suas palavras em Chão da Lagoa. É um dia triste para a stand-up comedy nacional. Estou de luto.

Nota II: Como é óbvio, este post não é para ler cem por cento a sério.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

JOKER (9): O programa secreto do PSD para as Eleições Legislativas (em rigoroso exclusivo planetário)

O ONZE DE ESPADAS teve acesso ao programa eleitoral que o PSD vai apresentar para as eleições de 27 de Setembro. É bem provável que o programa que Manuela Ferreira Leite mostre aos portugueses seja um pouco diferente, mas uma série de fontes anónimas dentro do PSD mostrou ao Dr. Mento o verdadeiro programa eleitoral social-democrata, o qual sairá do papel para a prática se as hostes laranja conseguirem vencer as Legislativas.

Aqui vai o programa (em rigoroso exclusivo em toda a Via Láctea e, quem sabe, em toda a Europa):




1 - Imediatamente após a tomada de posse do novo Governo, a democracia será suspensa por seis meses, para que possam ser realizadas as necessárias reformas à evolução do país.

2 - Findos os seis meses de suspensão da democracia, a citada suspensão será revogada até que estejam em prática todas as reformas necessárias à evolução do país ou até que a Dra. Manuela Ferreira Leite sofra grave um acidente com uma cadeira de lona enquanto trata dos pés.

3 - Todos os homossexuais (que passarão a ser denominados de «panascas» ou «camionistas», consoante estejamos a falar de machos ou fêmeas) serão enviados para as Berlengas sem alimento e sem direito à obtenção de géneros vitais. Com esta medida, cria-se um local onde os panascas e as camionistas poderão viver em paz e sossego, longe da vista das pessoas de bem, que desejam procriar e encher Portugal de criancinhas.

4 - Todos os ucranianos e cabo-verdianos residentes em Portugal, independentemente da sua orientação sexual, serão igualmente enviados para as Berlengas, onde terão a seu cargo a construção das necessárias infra-estruturas para tornar a ilha habitável. Também não terão direito a víveres ou à obtenção destes.

5 - Todos os membros e simpatizantes da Quercus serão igualmente enviados para as Berlengas, depois de a associação ambientalista vir a público denunciar o grave crime ambiental que o Governo pretende cometer naquele arquipélago que se avista de Peniche. Os membros e simpatizantes de organizações subversivas como a Amnistia Internacional, a Solidariedade Imigrante ou a SOS Racismo serão para lá enviados em seguida. Alimentos e bens de primeira necessidade não lhes serão facultados, dado que o controle das finanças públicas não permite tais luxos.

6 - Vinte mil funcionários públicos serão executados em praça pública, de modo a reduzir a despesa do Estado e a controlar o défice das finanças públicas, seguindo à risca as directrizes do Banco Central Europeu.

7 - Um decreto ministerial decretará que o PS deixou o país de tanga. Um segundo decreto, que também não necessitará de ser apreciado na Assembleia da República (afinal, a democracia deverá estar suspensa), decretará o fim da crise.

8 - O companheiro José Manuel Durão Barroso será reeleito para a presidência da Comissão Europeia. Caso algumas nações ou forças políticas pretendam apresentar um candidato alternativo, o Estado português lança uma ameaça: enviar o Alberto João Jardim para o Parlamento Europeu.

9 - Com excepção do Governo e da Presidência da República, todos os demais serviços do Estado serão privatizados, sendo que os funcionários públicos que não forem absorvidos pelas novas entidades privadas deverão ser enviados para as Berlengas, ou, em alternativa, executados a golpes de machado e usados como fertilizante.

10 - As verbas angariadas com a privatização dos serviços do Estado serão usadas para apoiar a Região Autónoma da Madeira e as piquenas e médias empresas.

11 - O Ministério da Cultura será extinto. Não faz cá falta. Cultura é coisa de panascas e camionistas.

12 - As verbas anteriormente destinadas à Cultura serão usadas para apoiar a Região Autónoma da Madeira e as piquenas e médias empresas.

13 - A interrupção voluntária da gravidez vai voltar a ser ilegalizada, como forma de promover os apoios a clínicas espanholas e inglesas, que, recorde-se, são também piquenas e médias empresas.

14 - O divórcio será ilegalizado. Anteriores divórcios realizados serão considerados nulos à luz de Deus e do Espírito Santo. Ámen.

15 - Os partidos com a seta virada para o céu ou com as setas viradas para Deus poderão receber donativos em dinheiro vivo sem qualquer registo da sua proveniência. As piquenas e médias empresas poderão, se assim o entenderem, apoiar estes mesmos partidos com contribuições em cheque, dinheiro vivo ou por transferência bancária; também são aceites géneros, designadamente viaturas de cor preta.

16 - Serão dados apoios excepcionais às piquenas e médias empresas.

17 - Um decreto proibirá o investimento público. A construção de uma rede ferroviária de alta velocidade, de uma nova travessia sobre o Tejo ou de um novo aeroporto de Lisboa será concessionada a piquenas e médias empresas através de concurso público. As piquenas e médias empresas que contribuírem para o prestimoso funcionamento dos partidos com as setas viradas para o véu ou para Deus terão acesso a vencer os supracitados concursos públicos através do ajuste directo.

18 - Se o PSD for obrigado a fazer uma coligação com o CDS-PP, todos os estudantes de todos os graus de ensino serão obrigados a cantar o hino nacional antes do início das actividades lectivas de cada dia e antes mesmo de darem duas arrochadas na professora por causa de um telemóvel. Findo o cântico, serão igualmente obrigados a proferir, em voz convicta, a seguinte saudação: “VIVA PORTUGAL, VIVAM AS PIQUENAS E MÉDIAS EMPRESAS, VIVA!”

O EDITOR VAI A JOGO (11): Sem partidos, sem inteiros

Com a aproximação das Eleições Legislativas e Autárquicas, temos assistido ao nascimento de novos blogues de índole política, por norma, a favor ou contra este ou aquele partido. Muitos desses blogues contam, entre os seus colaboradores, com membros de outros blogues bastante conhecidos, que assim encontram espaço para discorrerem sobre as suas ideias ou filiações políticas.

Nada contra. A Internet é um espaço de liberdade e a Constituição dá-nos espaço para sermos acérrimos defensores de quem bem entendermos e de quem acharmos que é a melhor opção para conduzir os destinos de Portugal e dos seus órgãos autárquicos. Se feito com ponderação e educação, o debate de ideias pode ajudar-nos a perceber melhor as ideias de cada um dos partidos (e respectivos candidatos) que irá a votos em Setembro e Outubro. A todos estes blogues (sou visitante de muitos deles), desejo a melhor sorte do Mundo e muitos e bons posts.

Contudo, numa altura em que o debate político e a defesa das respectivas damas vai tornar-se cada vez mais aceso, convém fazer um esclarecimento quanto ao ONZE DE ESPADAS: Esta mesa não apoia quem quer que seja. Aqui, todos estão sujeitos ao escrutínio do Dr. Mento, que elogia, critica e analisa quem bem entender e quando bem entender, sem distinções partidárias. Como já o disse anteriormente, José Sócrates, Manuela Ferreira Leite e os demais líderes partidários são pessoas, são humanos, têm virtudes e defeitos. Interessa-me, sobretudo, analisar essas mesmas virtudes e defeitos, deixando a escolha final a cada um de vós.

Esclareço igualmente que não tenho qualquer filiação partidária, apesar de, em temos, ter estado filiado num dado partido (não interessa qual). Com o passar do tempo, desiludi-me com esse mesmo partido e, em grande medida, com muitas das pessoas que dominam a actual vida política portuguesa, as quais fazem questão de deixar na sombra gente de muito, muito valor. Além do mais, sou uma pessoa de princípios e estes incluem valores como a liberdade (de acção e de pensamento), os direitos humanos, a solidariedade e o progresso social, económico, tecnológico e ambiental. Bem sei que quase todos os partidos andam com estes valores na ponta da língua, mas também sei que muitos são metidos na gaveta logo na primeira oportunidade.


Nota final: Entretanto, reparei que muitos dos meus últimos posts têm andado em torno do PS (e nem sempre de forma muito elogiosa). Que não seja por isso. Sai um JOKER para o PSD. Há golpes de espada para uns, há golpes de espada para todos.

PENSAMENTOS DO BURRO EM PÉ (12): Ego

“Há pessoas tão egocêntricas, que, quando constantemente criticadas por tudo e todos, aceitam isso como uma conspiração invejosa contra a sua brilhante alma.”

Dr. Mento

JOKER (8): Senhor deputado, o senhor deputado sabe, senhor deputado, que eu também vou ser senhor deputado, senhor deputado

Minhas amigas e meus amigos, minhas senhoras e meus senhores.

Venho, por esta forma, comunicar-vos, a título puramente oficial e em primeiríssima mão, que um ilustre partido político português, cujo nome não vou revelar, endereçou, à minha douta pessoa, um honroso e mui estimado convite para integrar as suas listas de candidatos a deputados à Assembleia da República. Trata-se, sublinho, de um lugar perfeitamente elegível, com a ressalva de, caso o partido em questão vença as Eleições Legislativas, eu poder receber novo convite, desta feita para ocupar um qualquer lugar no novo Governo que nascerá dos resultados do sufrágio popular de 27 de Setembro.

Perante tão elogioso convite endereçado à minha genial, divina e modesta pessoa, confesso-vos que, numa primeira fase, me senti inclinado a declinar tão maravilhosa proposta, ainda para mais, feita por um partido de enormes pergaminhos na defesa da democracia e do bem-estar dos portugueses. Bem sei que a deusa Fortuna está cega e surda para as minhas preces e que a minha alma se arrasta por centros de emprego fétidos e imundos, mas senti que, em Portugal, haveria gente ainda menos qualificada do que eu para ocupar um lugar na Assembleia da República, o local onde se sentam os representantes da vontade do povo. Contudo, deitando ambos os joelhos por terra, um ilustre representante do citado partido implorou para que aceitasse. “Tu és o mais douto, os mais brilhante, o mais sábio de entre todos os que se julgam doutos, brilhantes e sábios”, disse-me o dirigente, com a face molhada em lágrimas.

Decidi então aceitar. Mas jurei a mim mesmo que, nos próximos meses, iria trabalhar com afinco para estar ao nível dos deputados da Nação, o que, sei-o bem, me obrigará a um substancial esforço até poder estar entre os piores. E para vos provar que estou mesmo apostado em me tornar um verdadeiro eleito digno de ter o meu lugar no célebre hemiciclo do Palácio de São Bento, anuncio, desde já, que, no próximo mês de Agosto, ao invés de ir a banhos, irei estar deitado numa mesa de operações para proceder à amputação de metade do meu encéfalo e à remoção integral da minha coluna vertebral.

Diante do espelho, ensaio já as minhas falas.

- Se o meu partido perder as Legislativas e for para a oposição: “Senhor primeiro-ministro, o senhor primeiro-ministro sabe, senhor primeiro-ministro, que o senhor primeiro-ministro está a mentir, senhor primeiro-ministro, porque aquilo que o senhor primeiro-ministro disse, senhor primeiro-ministro, não é verdade, senhor primeiro-ministro. O senhor primeiro-ministro disse uma coisa na semana passada, senhor primeiro-ministro, mas agora, senhor primeiro-ministro, o senhor primeiro-ministro vem dizer justamente o contrário, senhor primeiro-ministro. Em que é que ficamos, senhor primeiro-ministro?”

- Se o meu partido vencer as Legislativas e formar Governo: “Senhor deputado, o senhor deputado sabe, senhor deputado, que aquilo que o senhor deputado diz agora, senhor deputado, é o contrário daquilo que fez quando o seu partido estava no Governo, senhor deputado. Um dia, senhor deputado, o senhor deputado diz uma coisa, senhor deputado, mas, quando são os outros a dizer o mesmo, senhor deputado, o senhor deputado vem e diz o contrário, senhor deputado. O senhor deputado, senhor deputado, é que está a mentir aos portugueses, senhor deputado, e o senhor deputado sabe, senhor deputado, que não está a dizer a verdade, senhor deputado. Porque este Governo, senhor deputado, é um Governo que faz, senhor deputado, ao contrário do seu Governo, senhor deputado, que deixou o país de tanga, senhor deputado e o senhor deputado faz essa cara mas sabe que é verdade, senhor deputado.”

Contudo, quero aqui salientar que, apesar de ter aceite um convite que me irá guindar para a Assembleia da República e, quiçá, até mesmo para um cargo ministerial, jamais deixarei de ser a mesma pessoa que todos conheceram. Jamais me deixarei corromper, seja no que for, e sempre pautarei a minha acção e palavras, seja neste blog, seja no dia-a-dia, pela isenção, pela justiça, pela verdade. A propósito, já vos disse que ainda está para nascer um primeiro-ministro que faça mais por Portugal do que José Sócrates?

domingo, 26 de julho de 2009

CARTAS DO QUINTO NAIPE (4): Nós e o Universo

(Mais uma dose de nostalgia pura)

Desconheço que sentimento de nostalgia se terá apoderado de mim, mas o que é certo é que, nos últimos tempos, andava dominado por um desejo irresistível de voltar a abrir um livro que, de certa forma, marcou a minha infância. Confesso que o julgava perdido para sempre e até já tinha equacionado a possibilidade de procurar um exemplar nalgum alfarrabista ou, quem sabe, no e-bay, onde tudo se compra e tudo se vende (menos a própria mãe). Felizmente, o dito livro não estava perdido e, quase por milagre, encontrei o meu «menino» na casa da minha mãe - e sem qualquer esforço.

O título completo é pomposo: Nós e o Universo - Da imensidão do espaço aos píncaros das montanhas às entranhas da Terra e ao fundo dos mares. O título original, em inglês, não é menos simples: About the big sky, about the high hills, about the rich earth ... and the deep sea (só encontrei a capa deste, mas a da edição portuguesa é bastante semelhante). O autor é o Joe Kaufman e a edição original é de 1978; em Portugal, a Verbo editou-o somente em 1982.

Muitos foram os livros infantis que me passaram pelas mãos, mas este foi dos que mais gostei. As informações eram bastante completas para um livro infantil (apesar de algumas, como as referentes a Plutão, estarem já desactualizadas), os textos eram apelativos, os conteúdos eram ricos e interessantes e as ilustrações bem simpáticas (os bonecos estavam sempre a sorrir, o que ajuda a cativar qualquer um).

Os planetas, as estrelas, o Sol, a Lua, a Gravidade, o ar, o tempo, as nuvens, os relâmpagos, os trovões, os tornados, os furacões, as tempestades de neve, as estações do ano, o clima, as planícies, os montes, os planaltos, as montanhas, os desertos, as árvores, as florestas, as selvas, as zonas polares, os continentes, o subsolo, as grutas, as rochas, os minerais, os cristais, a água, os oceanos - tudo isto e muito mais estava lá, bem explicado e de forma a cativar a criança que há muito deixei de ser (ou não). Brilhante, no mínimo.

Não sei se, hoje em dia, já não se fazem livros assim. Quero acreditar que sim, que o meu filho também terá algo como um Nós e o Universo actualizado e adaptado ao século XXI. Se não tiver, o pai empresta-lhe o dele.

PENSAMENTOS DO BURRO EM PÉ (11): Insegurança

“Somos obrigados a colocar grades nas janelas e a fazer das nossas casas prisões, apenas porque a justiça não mete na prisão aqueles que nos obrigam a meter grades nas janelas.”

Dr. Mento

A MANILHA VAI SECA (65): Uma simples curiosidade a propósito de nomes (um texto verdadeiramente inútil)

Enquanto redigia o post anterior, veio-me à mente um facto curioso relacionado com Miguel Vale de Almeida, Joana Amaral Dias e os nomes «oficiais» dos políticos portugueses. O texto que se segue é apenas uma mera curiosidade inútil, mas que serve para desmistificar uma questão relacionada com nomes à esquerda e à direita, a qual até já foi parodiada pelos Gato Fedorento.

Diz-se que, por tradição, um político de esquerda deve utilizar apenas um nome e um apelido - por norma, o primeiro e último, respectivamente. Se olharmos para os partidos do lado esquerdo do hemiciclo, encontramos inúmeros exemplos que corroboram esta «tradição»: Jerónimo de Sousa, Manuel Alegre, Francisco Louçã, António Guterres, Miguel Portas, Odete Santos, Ana Drago, João Soares, Mário Soares, Jorge Sampaio, Bernardino Soares, Fernando Rosas, Ana Gomes, António Costa, Heloísa Apolónia, Vítor Constâncio, Álvaro Cunhal, Jaime Gama, Elisa Ferreira, Luís Fazenda… e por aí adiante.

Já na direita, em especial no PSD, as supostas «regras» são bem diferentes, com o privilégio pela opção de um nome (muitas vezes omitido no dia-a-dia) e dois apelidos. E não faltam exemplos desta «tradição»: Manuela Ferreira Leite, Aníbal Cavaco Silva, Francisco Pinto Balsemão, Francisco Sá Carneiro, Pedro Santana Lopes, Joaquim Magalhães Mota, Nuno Morais Sarmento, Paula Teixeira da Cruz, Luís Marques Mendes, António Carmona Rodrigues, Marcelo Rebelo de Sousa… e ficamos por aqui. Aceitável, no PSD, é ainda a «norma» dos dois apelidos antecedidos por dois nomes, como sucede com José Manuel Durão Barroso ou José Pedro Aguiar-Branco.

Curiosamente, o CDS-PP nunca foi englobado na regra dos de nome-apelido ou na de nome-dois apelidos, havendo uma certa divisão em matéria de nomes. Assim, de um lado, encontramos Adelino Amaro da Costa, António Bagão Félix (que, na verdade, só foi militante por pouco tempo), José Ribeiro e Castro, Jaime Nogueira Pinto, Miguel Anacoreta Correia, Luís Nobre Guedes e até Diogo Freitas do Amaral (que há muito deixou de contar pela direita). Mas os adeptos do nome-apelido também têm muita força, como comprovam Paulo Portas, Nuno Melo, Celeste Cardona, Manuel Monteiro, Telmo Correia ou Diogo Feio.

Contudo, a verdade verdadeira é que esta suposta «regra» dos nomes nunca teve qualquer cunho oficial, facto que explica porque é que existem bastantes excepções em ambos os lados (sobretudo, no PS e no PSD). Com apenas dois nomes, encontramos sociais-democratas como Paulo Rangel, Isaltino Morais, Valentim Loureiro, Pedro Lynce, Miguel Cadilhe, Leonor Beleza, Fernando Nogueira, Fernando Seara, António Capucho, Rui Rio, Álvaro Barreto, Fernando Negrão, António Mexia, Roberto Carneiro… e há muitos mais.

Já na esquerda, o que não falta são políticos a utilizar a regra de um nome e dois apelidos, a começar por Eduardo Ferro Rodrigues, Fernando Teixeira dos Santos, Guilherme d’Oliveira Martins, Nuno Severiano Teixeira, Francisco Nunes Correia, Augusto Santos Silva, Pedro Silva Pereira (neste caso, Pedro nem é o primeiro nome dele, mas sim o segundo), José Vieira da Silva, António Correia de Campos, Joaquim Pina Moura, José Vera Jardim, Luís Capoulas Santos, António de Almeida Santos… ou, se quiserem acrescentar mais dois nomes, temos os protagonistas do post anterior, Miguel Vale de Almeida e Joana Amaral Dias.

Em ambos os lados, há igualmente aqueles que optam por dois nomes e um apelido, como Maria de Lurdes Rodrigues, Luís Filipe Menezes, Alberto João Jardim ou Luís Filipe Pereira.

Claro que, nesta lista, falta um nome óbvio: O do actual primeiro-ministro. Sucede que o cavalheiro em questão utiliza, por norma, os seus dois nomes próprios, situação que é bastante rara, mas não totalmente inédita, já que, por exemplo, os deputados comunistas António Filipe e Miguel Tiago também o fazem.