terça-feira, 4 de agosto de 2009

A MANILHA VAI SECA (71): Porque a verdade é mais ou menos isto (vai falar-se de Isaltino e de outras cousas)

Com o aproximar das eleições, multiplicam-se as tomadas de posição ao estilo “eu sou bom, tu és mau, eu estou certo, tu estás errado”, como se alguém fosse dono e senhor da verdade. E se este discurso é comum entre os principais agentes políticos envolvidos nas Autárquicas ou nas Legislativas, também o encontramos em muitos outras vozes, inclusivamente na blogosfera.

Mas, afinal, o que é a verdade?

A minha resposta: ninguém pode dizer-se senhor do bem, acusando outrem de personificar o mal, quando, na verdade, o bem e o mal são realidades inerentes a cada um de nós e indissociáveis da nossa pessoa.

Um exemplo? Isaltino Morais.

Tempos houve em que lhe chamavam autarca-modelo, título que me parece amplamente exagerado por camuflar os inúmeros erros de gestão que Isaltino cometeu enquanto edil de Oeiras. Mas também sei que, certa vez, circunstâncias de índole profissional obrigaram-me a contactar diversos órgãos autárquicos de vários concelhos, onde ouvi gente de inúmeros partidos a tecer os mais rasgados elogios ao senhor que fuma charuto, mesmo que todos considerassem que Isaltino era homem de cometer muitas falcatruas. Um colega de lides jornalísticas, que conheceu Isaltino, dizia-me mesmo: “Eu sei que ele é corrupto e tudo o mais, mas ninguém me garante que quem vier atrás dele vá fazer um trabalho de melhor qualidade”. Fontes ligadas ao Ministério do Ambiente referiram-se igualmente a Isaltino em tons altamente elogiosos, especialmente em comparação com o seu sucessor, Amílcar Theias.

Percebem onde quero chegar, certo?

O mesmo homem que foi condenado a sete anos de prisão por ter sido provada a sua culpa em quatro tipos de crime (fraude fiscal, abuso de poder, corrupção passiva para acto ilícito e branqueamento de capitais) é, ao mesmo tempo, sobejamente elogiado por gentes de vários partidos, que lhe reconhecem qualidades ímpares, especialmente como presidente da Câmara de Oeiras.

Isaltino representa, na perfeição, uma estranha dualidade entre o bem e o mal: é corrupto e, como tal, não pode ser um bom autarca, mas tem qualidades a mais para deixar de ser um bom autarca. Isaltino não é bom, nem mau, não é herói, nem vilão, mas antes uma mescla de tudo isto, que dá origem a uma só pessoa.

A verdade é um lugar estranho. Muito estranho, mesmo.

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