segunda-feira, 10 de agosto de 2009

ESPADAS QUE PICAM (20): Não há Real Massamá (infelizmente, têm alguma razão os que criticam a épica falta de cultura geral que graça no jornalismo)

Longe vão os tempos em que os jornalistas (classe à qual pertenci até há escassos meses) eram vistos como gente culta e de saber, que sabiam um pouco de tudo e mais alguma coisa. Eram gente que, dizia-se, sabia muito de política, História, Geografia, Filosofia, Economia, desporto… e do que mais houvesse para saber.

Nos últimos anos, generalizou-se a ideia contrária, a de que os jornalistas, esses pseudo-fabricantes de notícias, são pessoas pouco trabalhadoras, de parcos escrúpulos, com formações académicas inadequadas, soberbamente remunerados e que não possuem os mais elementares rudimentos de cultura geral.

É certo que, para quem conhece o meio, a verdade está algures… no meio. Sim, há jornalistas que são autênticas enciclopédias ambulantes, que discorrem, em bela e sucinta prosa, sobre qualquer assunto. Há-os bem remunerados, mas, infelizmente, são uma elite (também há os que trabalham de graça ou perto disso). Há-os com e sem coluna vertebral, com e sem escrúpulos, com e sem habilidade para o ofício. Há trabalhadores e oportunistas, bons e maus, excelentes e péssimos.

Mas, por experiência própria, sei bem que se deixa entrar nas redacções gente sem qualquer vestígio de cultura geral (por vezes, com licenciaturas) e sem grande vontade de aprender mais e mais. E, quanto mais se organiza purgas nas redacções, mais se corre com os razoavelmente bem remunerados jornalistas «à antiga» (os tais que amavam a sua profissão e absorviam informações e novos dados como quem bebe água); no lugar destes últimos, temos, em muitos casos, uma geração de recém-licenciados de parca cultura e parca vontade de aprender, muitas vezes domados pelo um sonho de fama e reconhecimento social (especialmente, entre os amigos e conhecidos do café da esquina). Há recém-licenciados de grande qualidade, sei-o bem, mas há demasiados que não merecem qualquer título académico e que não deveriam estar, de forma alguma, numa redacção.

Toda a ânsia de lucro e de extermínio dos jornalistas «à antiga» tem levado a uma quebra de qualidade nos nossos meios de comunicação social, sendo tal perceptível, sobretudo, nos mais pequenos detalhes. Os textos deixam de ser bem revistos, opta-se mais pela Lusa, investiga-se e pesquisa-se menos. Fui apanhado nesta onda de "para quem é, bacalhau basta" e, ao cabo de meses de sofrimento (gosto de fazer as coisas bem feitas), bati com a porta e abandonei o velho mister.

Um bom exemplo de como a qualidade da informação tem vindo a decair pude encontrá-lo há escassos momentos na SIC-Notícias, numa peça onde se dava conta do estágio da Selecção A em Massamá.

Passo a esclarecer: o clube normalmente conhecido como Real Massamá chama-se, na verdade, Real Sport Clube, resultando da fusão do Grupo Desportivo de Queluz e do Clube Desportivo e Recreativo de Massamá. Os adeptos ODEIAM que se refiram ao clube como sendo de Massamá, já que as suas instalações estão divididas pelas três freguesias que compõem a cidade de Queluz: Queluz, Massamá e Monte Abraão. É precisamente em Monte Abraão (freguesia que corresponde à zona de Queluz Ocidental) que está o estádio do Real Sport Clube, onde a Selecção está em estágio. Se fosse só a SIC-Notícias a cometer essa gralha, o Mundo não parava, mas há mais gente que o faz com a mesma pseudo-seriedade com que se chama Nacional da Madeira ao Clube Desportivo Nacional.

Tudo bem, estamos a falar de preciosismos geográficos, mas, em tempos idos, isso seria importante no jornalismo, essa nobre arte de informar com precisão, rigor e isenção. Hoje, diz-se uma merda qualquer e trata-se o telespectador/leitor/ ouvinte como merda. Mas merda, merda é dizer Real Massamá - é tão mau como dizer a um lisboeta que ele nasceu na Amadora ou em Loures (sem desrespeito por estes dois concelhos).


Nota: Que me perdoem os bons e cultos jornalistas que ainda sobrevivem fazendo um trabalho de qualidade, com rigor, aprumo e, sobretudo, boa vontade. Este post não é, de forma alguma, uma crítica generalizada e exclui os profissionais de qualidade ou os que têm vontade de sê-lo. É apenas um desabafo em relação a uma realidade com a qual os bons jornalistas sabem que têm de lidar diariamente, com as consequências que acima apontei.

1 comentário:

Susete Evaristo disse...

Caro Dr. Mento
Tem o Sr. toda a razão no que diz. O jornalismo de facto, já não é o que era porque os "jornalistas" de hoje, são "fabricados" em linhas de montagem sem dar impotância ao que mais importante é na informação ou seja, a credebilidade e a língua portuguesa.
Tenho ouvido e lido cada barbaridade!
Devo dizer no entanto que este engano nas Freguesias de Queluz, é mais comum do que às vezes nos damos conta. Ainda há quem morando em Monte Abraão diga que mora em Queluz Ocidental e quando tentamos fazer a correcção nos respondem que Monte Abraão "é apenas lá para cima" referindo-se à parte mais alta da Freguesia.
Também a Lisboa Transportes e a Vimeca persistem em chamar à Estação de Monte Abraão, Estação de Queluz Massamá.