quarta-feira, 5 de agosto de 2009

A MANILHA VAI SECA (72): No fundo, isto é o PSD (vai falar-se de listas, deputados, ismos, istas e outras cousas a propósito)

Mal tinha acabado de fundar o PPD e já Francisco Sá Carneiro se tinha apercebido do terrível saco de gatos que criara, qual monstro autofágico e incapaz de viver em paz consigo mesmo. Desde a sua génese, o PSD tem vivido em permanente estado de guerra mais ou menos declarada, com os vários barões a posicionarem os seus peões num tabuleiro altamente complexo.

Certa vez, nos tempos primordiais deste humilde blog, satirizei a quantidade absurda de ismos e istas que existe dentro do PSD, sendo que uns mais não são do que filhos de outros ismos maiores. Por exemplo, a corrente ferreiraleitista, que actualmente controla o partido, é filha do cavaquismo, o qual nunca deixou de ter uma vasta expressão dentro do PSD.

Depois do fim do menezismo (corrente aliada do santanismo), a nova era ferreiraleitista anunciou que vinha para pôr os pontos nos i’s, quase anunciado uma prometida limpeza dentro do partido. Claro que o PSD não é o PCP e, salvo raras excepções, é quase impossível afastar, de facto, quem quer que seja do partido sem recorrer a purgas estalinistas e totalmente contra a forma de ser de uma força política democrática. Percebendo isso, Manuela Ferreira Leite tratou de estabelecer alianças com alguns destes ismos, a começar pela corrente santanista (sempre demasiado forte dentro do partido, embora sem a força de outras linhas), que viu o seu líder ser candidato à Câmara Municipal de Lisboa. Já em relação aos passoscoelhistas, as coisas passaram-se de maneira bem diferente, sendo que o próprio Pedro Passos Coelho, ao exigir taxativamente uma vitória do PSD nas Eleições Europeias, fez cair por terra qualquer possível acordo com os ferreiraleitistas.

As listas de deputados do PSD mostram bem essa crispação existente. Sem qualquer pudor, a actual líder afastou Pedro Passos Coelho das listas por Vila Real e Miguel Relvas de Santarém, mostrando à principal linha de opositores que é ela quem manda. A qualidade de A ou B para liderar um círculo eleitoral é o que menos interessa num jogo em que o poder é quem mais ordena. Em Santarém, parece-me óbvio que a escolha de José Pacheco Pereira revela que quem esteve ao lado de Ferreira Leite tem direito ao seu prémio. Simples.

Mas há algo menos visível em toda esta história e que revela bem que o filhadapustismo é a corrente política dominadora em toda a política portuguesa.

Manuela Ferreira Leite sabe que vai ter de comer muita papa Maizena para derrotar José Sócrates a 27 de Setembro. Até ao momento, as sondagens divulgadas são perfeitamente inconclusivas, podendo dar-se o caso de o PS vencer novamente… ou não. Na dúvida, Ferreira Leite opta por uma estratégia venenosa. Se a Dama de Espadas do PSD perder as próximas Legislativas, certo é que os passoscoelhistas virão a público exigir a cabeça da presidente do partido, eleições directas e, claro está, um congresso extraordinário. Neste cenário, Passos Coelho poderá avançar novamente para a liderança e, quem sabe, vencer as directas, tornando-se timoneiro de um partido que volta a sentar-se ao lado da oposição. Só que, sem lugar na Assembleia da República (minada de ferreiraleitistas e correntes que aderiram ao actual poder) e sem qualquer cargo político de relevo, Passos Coelho terá a sua tarefa automaticamente dificultada, já que não terá pessoas da sua confiança para enfrentar José Sócrates no Parlamento, nem um púlpito onde possa falar ao país (o que, em rigor, acontece actualmente com Manuela Ferreira Leite).

No fundo, mais do que um exercício de escolha baseado na competência, capacidades, honestidade ou, sequer, segundo um critério de renovação, a escolha das listas de deputados foi uma forma de Ferreira Leite poder minar uma eventual futura liderança de Pedro Passos Coelho, seu adversário nas directas e sua Nemesis desde a primeira hora.

A política é isto, meus amigos.

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