
Hoje, sei que o tempo se mede em fracções de segundo e que as velhas locomotivas Diesel teriam, mais cedo ou mais tarde, de dar lugar aos majestosos Alfa Pendular, sucessores directos do Intercidades, que, por seu turno, tomou o lugar do Sotavento, que começava a sua marcha na imunda estação do Barreiro A.
Sei que o progresso é como uma bola de neve a deslizar pela encosta de uma montanha íngreme. Sei que, em 2009, nenhum comboio se chama Sotavento, esse nome tosco e regional, numa época em que qualquer denominação deve exprimir noções de conforto, urbanidade e velocidade.
Mas sinto falta.
Sinto falta do som das locomotivas Diesel que passavam nas Pontes de Marchil, apitando à chegada aos limites da cidade de Faro. Sinto falta de ouvir, ao longe, esse estranho ruído que anunciava o final de mais uma viagem. Sinto falta. Sinto falta dessas viagens de comboio de outros anos, que demoravam toda uma tarde e nos deixavam sequiosos de um bom banho e uma saborosa refeição. Sinto falta das automotoras Diesel, dos seus ruídos possantes e incómodos, do bizarro rastro de fumo que deixavam à sua passagem.
Sinto falta. Sinto falta desta infância. E sinto, sobretudo, falta do companheiro de tantas e tantas viagens: o meu avô. Ele nunca deveria ter partido. Ainda tínhamos muitas viagens para fazer.
Nota: Actualmente, o limite da cidade de Faro situa-se nas Pontes de Marchil, justamente onde hoje se ergue o hotel Íbis. Mas, no tempo de muitas das minhas viagens a Ossonoba, a cidade começava no sítio onde hoje se ergue o estabelecimento prisional da cidade, no local onde ainda me lembro de se realizarem provas de bicross.
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