segunda-feira, 3 de agosto de 2009

A MANILHA VAI SECA (70): A habilidosa jogadora de Sueca que aguarda a Manilha seca na mesa para poder lançar o Ás

Na Sueca, o jogador que tem o Ás de um dado naipe tem sempre como objectivo utilizar esta carta para comer a Manilha, especialmente quando esta última está na posse do par adversário.

Serve esta introdução para vos falar um pouco do programa do PSD e da paciência de jogadora de Manuela Ferreira Leite.

Neste momento, quase todos os principais partidos políticos portugueses já divulgaram os seus programas políticos tendo em vista as Legislativas de 27 de Setembro. Falta, como sabem, o PSD, que inúmeras críticas tem merecido pelos atrasos na divulgação das suas ideias-mestras para Portugal, havendo mesmo quem diga que, ao não ter um programa, os sociais-democratas pedem ao eleitorado que lhes passe um cheque em branco.

Desenganem-se. O PSD, por esta altura, já tem um programa. Mas, decerto, não o irá divulgar em pleno mês de Agosto, numa época em que os portugueses estão mais preocupados com a praia, os parques de campismo, os hotéis, as sardinhadas, os festivais, as viagens e sei lá mais o quê. Divulgar um programa eleitoral nesta altura seria como discursar para uma plateia de cadeiras vazias. É bem melhor esperar por Setembro, certo?

Todas as críticas feitas ao PSD pela ausência de programa favorecem, curiosamente, o próprio PSD, ao criarem uma enorme expectativa em relação ao documento do qual todos falam, mas que apenas uma escassa minoria terá visto. Provavelmente, esta expectativa vai levar muita gente a ler o programa do PSD, sendo que muitos dos que o irão fazer não tiveram pachorra para passar os olhos pelas propostas do PS, PCP, CDS-PP ou BE. Logo aqui, o PSD marca pontos.

Por fim, temos a data das eleições, 27 de Setembro. Tendo em conta que os programas eleitorais são documentos de muitas páginas, quem os lê apenas consegue fixar um par de ideias-chave, que irão variar de acordo com a sensibilidade de cada um para este ou aquele tema. Ao apresentar o programa mais tarde, o PSD joga na possibilidade de as ideias do seu manifesto ficarem mais frescas na mente de muitos portugueses, já que terão sido as últimas a serem lidas.

É claro que esta jogada tem os seus riscos e pede, acima de tudo, que o programa seja bom e não defraude as expectativas de quem aguarda pelo tão ansiado documento. Se houver um pouco de bom-senso dentro do PSD, pede-se um texto bem escrito, claro e conciso, de fácil assimilação e sem pontos obscuros ou susceptíveis de críticas cerradas por parte da oposição. Um punhado de boas propostas é também condição sine qua non para que este programa possa triunfar.

Por outro lado, esta expectativa em relação a um programa pode levar algumas pessoas a interessarem-se por esta questão e irem a correr ler o texto, mas há o risco de essas mesmas pessoas poderem querer comparar este programa com os dos partidos rivais; se tal suceder, o texto que ficará mais fresco na cabeça será o de um dos outros partidos e não o do PSD.

Apesar dos riscos inerentes a esta jogada, gabo a paciência de Manuela Ferreira Leite. José Sócrates devia estar longe de imaginar que teria pela frente uma adversária tão calculista e perigosa.

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