segunda-feira, 10 de agosto de 2009

A MANILHA VAI SECA (74): Todos querem o PS, mas ninguém quer o PS (nem o PSD e tão pouco o PRD)

A História política portuguesa do pós-25 de Abril fica indelevelmente marcada por uma «paixão» do eleitorado por partidos moderados, daqueles que se dizem de centro, mas que, na realidade, não são carne, nem peixe. Depois de 48 anos de regimes autoritários (a Ditadura Militar e o Estado Novo), os portugueses parecem mais inclinados a não ceder a novos totalitarismos, mesmo que estes se digam de esquerda, optando antes por colocar a cruzinha no centrão, onde coabitam dois partidos que, sem serem conservadores, fascistas ou apologistas dos privilégios dos mais ricos e poderosos, também não andam por aquela esquerda radical, para a qual todos são povo e os ricos que morram à pedrada.

De certa forma, o partido ideal seria, em termos teóricos, o PS. Sem ceder a radicalismos marxistas, leninistas, estalinistas ou maoistas, este seria o partido da justiça social, do equilíbrio entre classes, da protecção dos mais desfavorecidos sem prejuízo da iniciativa privada. É, em termos puramente teóricos, o partido da democracia, da liberdade, da justiça social, da equidade de oportunidades, da defesa dos direitos humanos.

(Por favor, não se riam. Estou a falar em termos puramente teóricos).

Depois, como alternativa, há o PSD, social-democrata. É um partido muito semelhante ao PS, mas que, por ser taxado como sendo de direita, espanta sempre muitos eleitores que nele vêem resquícios de Salazar e seus comparsas. Mas, por outro lado, ao não ter contaminações marxistas (teoricamente - o PSD quis pertencer à II Internacional, mas Mário Soares e o PS vetaram a entrada do partido de Francisco Sá Carneiro), agrada mais às gentes da cruz, com muito bom sacerdote a recomendar às suas ovelhas que coloquem uma cruz naquele partido com a seta virada para o céu (ou, quem sabe, no partido com as setas viradas para Deus).

No fundo, PS e PSD são uma e a mesma coisa, com a diferença de o primeiro captar os que não podem ouvir falar de direita e o segundo os que fogem a sete pés do comunismo. Mas, em rigor, são tão iguais como um Citroën C1 e um Peugeot 107.

O problema é que PS e PSD nunca cumpriram, na íntegra, aquilo que deles se esperava. Em ambos os partidos, há inúmeros casos de tráfico de favores e influências, cedências aos interesses económicos, atitudes ditatoriais (estilo Secos e Molhados), atentados à liberdade de imprensa, de expressão e de opinião, entraves à iniciativa privada… e por aí adiante.

Estas lacunas do PS e do PSD não são de hoje e tal explica porque é que, entre 1985 e 1991, a vida política portuguesa ficou igualmente marcada pela presença de um PRD, nascido sob a égide de Ramalho Eanes. Basicamente, o PRD (Partido Renovador Democrático ou, segundo alguns, Partido Realmente Doido) era mais uma força política de centro, mas com a vantagem teórica de estar purgada do tráfico de interesses e lutas internas que encontrávamos em socialistas e sociais-democratas. Mas a coisa não correu bem e, com uns quantos tiros no pé, o PRD acabou sem representação parlamentar nas Legislativas de 1991 (altura em que até o Partido da Solidariedade Nacional, também conhecido como Partido dos Reformados, conseguiu eleger um deputado). Nos anos que se seguiram, o PRD entrou num acelerado declínio, que terminou com a sua inscrição e sedes nas mãos do Partido Renovador Nacional, o qual nada tem a ver com a força política criada por Ramalho Eanes (que muito desgostoso deve estar ao ver o seu antigo partido transfigurado em coutada de extrema-direita nacionalista).

Desde 1999, existe igualmente uma espécie de alternativa, chamada Bloco de Esquerda. Porém, não estamos a falar de um partido moderado, mas sim de uma força política de cariz radical devidamente adaptada aos tempos que correm. Em certa medida, o BE é, ao mesmo tempo, uma tentativa de actualização daquilo em que se tornaram o PS e o PCP, embora, ideologicamente, esteja muito mais próximo deste último. Ou seja, o Bloco é uma alternativa como voto de protesto dos descontentes (do PS, do PCP e, em muitos casos, até do PSD), mas não parece ser ainda a verdadeira alternativa de governação que muitos portugueses procuram e que, se tivesse tido juízo, o PRD poderia ter sido. O BE lá tem as suas virtudes (e defeitos, claro), mas desconfio que só seria poder se o país mergulhasse num casos absoluto e total que pedisse o surgimento de algo completamente diferente, sem ser o PCP ou o CDS-PP (que já esteve ligado a Governos do PS e PSD e, como tal, enferma de alguns dos males destes).

Vai daí e, nas próximas duas eleições, podemos até ter mais um partido de alternativa à moda do centro. Chama-se PTP (Partido Trabalhista Português e nada tem a ver com o Partido Trabalhista Democrático Português, de 1974), é liderado pelo advogado Amândio Madaleno e, de rajada, remete-me logo para o New Labour inglês (ou, se quiserem, para um New PS). Ainda por cima, o raio do partido diz-se de centro esquerda e preocupado com as necessidades sociais do país (há coisa mais vaga do que isto?), mas o seu presidente foi eleito pelas listas do PSD para a Assembleia Municipal do Fundão.

Bem, não sei se este PTP é o novo PS, o novo PSD ou o novo PRD. Porém, se quiserem ser alguma coisa, convinha apresentarem um site com um programa eleitoral em condições. É que, sinceramente, já procurei por ele na Internet e ainda não o encontrei. Alguém sabe onde está?

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