
Menezes bateu com a porta achando que, mesmo deixando a liderança do PSD, continuaria a ter uma significativa influência nos destinos do partido. Contudo, a coisa saiu-lhe mal e, com Manuela Ferreira Leite, o edil de Gaia foi totalmente subalternizado, voltando a ser apenas e tão só um dos muitos autarcas do PSD. Por isso, numa atitude de puro despeito, Menezes decidiu quebrar o silêncio a que se obrigara publicamente e passou a atacar forte e feio a sua sucessora. Durante largos meses, ouvimos Menezes, que prometera não falar da liderança que lhe sucedesse, a zurzir na liderança que lhe sucedeu, tentando dar voz ao provérbio: “Atrás de mim virá quem bom de mim fará”.
Só que Manuela Ferreira Leite não é tão burra como parece e, num ápice, decidiu cortar as vazas a Menezes. Por um lado, enquanto presidente do partido, cabe a Ferreira Leite a última palavra sobre as candidaturas autárquicas (que começam por ser aprovadas ao nível das concelhias, passando, em seguida, a ser votadas nas distritais, antes de irem ao Concelho Político Nacional) e a Dama de Espadas não colocou quaisquer entraves à continuidade de Menezes. Mas, mais do que isso, colocou o filho do edil de Gaia num lugar elegível pelo círculo eleitoral do Porto, calando de vez a voz do pai.
Menezes quis esboçar uma espécie de voz crítica dentro do PSD, mas não demorou muito a ser comprado. É um pobre Dois de Paus, que qualquer carta de trunfo corta facilmente.
Porém, e se é verdade que esta jogada de Ferreira Leite foi boa do ponto de vista da estratégia política interna, também não é menos verdade que deu mais uma machadada na parca credibilidade das gentes do Bloco Central. Qualquer observador independente pode falar em suborno (de Ferreira Leite) e em prostituição não-sexual (de Menezes). Quem beneficia com tudo isto é, curiosamente, um homem que não se vai candidatar a coisa alguma, mas que, ao não aceitar integrar as listas do seu partido por discordar de pontos-chave da actual legislatura (a começar pela revisão do Código do Trabalho), mostrou que, pelo menos, tem algumas vértebras na coluna: Manuel Alegre.
Numa altura em que os portugueses sentem, cada vez mais, estarem mergulhados num terrível pântano, estas não são boas notícias para a classe política, que, mais cedo ou mais tarde, pagará bem caras estas vazas cortadas. Escrevam o que vos digo: mais ano, menos ano, muita coisa mudará cá no burgo.
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