sábado, 18 de julho de 2009

A MANILHA VAI SECA (57): PS, oportunismo e realidade

Já várias referi que considero o interesse de José Sócrates pelo casamento entre pessoas do mesmo sexo como uma estratégia puramente eleitoralista, marcada por um cinismo que me choca. Afinal, o PS chumbou os projectos do BE e do PEV para legalizar o casamento entre pessoas do mesmo sexo (acusando ambos os partidos de oportunismo político) e, logo em seguida, Sócrates anunciou justamente que o matrimónio entre homossexuais seria uma realidade na próxima legislatura. Ou seja, Sócrates quis usar os homossexuais como forma de piscar o olho a uma série de socialistas descontes, que, cada vez mais, vão pôr a cruzinha no BE (desde sempre, o partido mais genuíno na defesa dos LGBT). E convém sublinhar que, em Portugal, cerca de dez por cento da população será homo ou bissexual, o que, na hora de contar os votos, pode dar um jeito do caneco.

O que é verdade é que este Governo se está nas tintas para os homossexuais, ao ponto de o Ministério da Saúde proibir estes de poderem dar sangue. Mas só os homossexuais masculinos, para a discriminação ser mesmo a sério. Afinal, já não bastavam todas as discriminações que os homossexuais já sofriam. Agora têm mais esta: São considerados um grupo de risco, apesar de a SIDA estar a alastrar, curiosamente, entre heterossexuais. Neste particular, não deixa de ser interessante verificar que os bissexuais (mesmo masculinos) e as lésbicas não constituem grupos de risco. Ou seja, quem tiver relações sexuais com mulheres, mesmo que também tenha com homens, está na boa. Fazer sexo só com homens é que não, que isso faz mal.

No fundo, o que se passa é que Ana Jorge, a titular da pasta da Saúde, é, na verdade, tão homofóbica como Manuela Ferreira Leite, que, como se sabe, é uma homofóbica declarada. Ora, se o PS nos oferece um Governo com posturas homofóbicas e se isso choca alguém (a mim choca-me), mais vale votar no PSD… ou no BE.

Em tempos, achei que José Sócrates iria fazer uma ponta final de mandato verdadeiramente enérgica, de molde a vencer as Legislativas ou, pelo menos, para tentar vender cara a derrota. Só que Sócrates é uma coisa, os seus ministros são outra, apesar de caber ao líder do Governo a escolha da sua equipa. Ao optar por gente pouco qualificada do ponto de vista político, Sócrates conseguiu brilhar como o número um do Governo, mas agora arrisca-se a deitar tudo a perder. É que, depois dos cornos de Manuel Pinho, esta homofobia declarada de Ana Jorge é mesmo boa para deitar votos no lixo… ou nos dois principais adversários na corrida de 27 de Setembro.

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