domingo, 12 de julho de 2009

A MANILHA VAI SECA (53): Outro que se posiciona

Até ao dia 7 de Junho, a ideia de uma derrota do PS nas Eleições Legislativas deste ano parecia uma possibilidade verdadeiramente remota, apesar de, aqui e ali, sinais claros de descontentamento popular anunciarem que o vento poderia começar a soprar para outro lado. Depois, veio o dia das Eleições Europeias e, num ápice, a ideia de uma derrota de José Sócrates e/ou de uma vitória de Manuela Ferreira Leite começou, rapidamente, a ganhar forma.

Ao sentirem que os dias de ouro de José Sócrates podem estar a chegar ao fim, muitas correntes e grupelhos internos do PS (demasiado parecidos com os que existem no PSD) começaram logo a contar espingardas à pressa, tendo em vista que, no dia 27 de Setembro, as coisas podem correr mal e os socialistas perderem as eleições. Se Sócrates sair derrotado daqui a dois meses e meio, certo é que, logo na noite das eleições, anunciará a sua demissão do cargo de secretário-geral do PS.

No post anterior, falei-vos da minha suspeita em relação à possibilidade de António Costa entrar na eventual corrida para a liderança do PS. Mas o que vos digo é que outro nome forte do PS pode igualmente entrar na corrida e estamos a falar, nem mais, nem menos, do que em Manuel Alegre.

Sócrates e Alegre começaram por disputar as Eleições Directas do PS (juntamente com João Soares), que levaram à vitória do primeiro sobre o segundo. Em seguida, foi o chumbo a uma candidatura presidencial de Alegre em detrimento de uma nova investida de Mário Soares. Depois de Alegre ter ficado à frente de Soares nas Presidenciais e de quase ter obrigado Cavaco Silva a ir a uma segunda volta, o deputado-poeta passou a ter uma ideia palpável da sua influência dentro do PS e na própria sociedade, pelo que começou a assumir uma postura de subgrupo dentro do próprio partido. Basicamente, Alegre imagina-se como o homem que poderá retirar o socialismo da gaveta, fazendo com que o PS regresse aos dias da pureza original.

Agora que Sócrates começa a patinar na sua corrida para um segundo mandato, Alegre posiciona-se como o seu possível sucessor, apesar de já ter batido na fasquia dos 73 anos. O artigo de opinião que o deputado-poeta publicou no Expresso deixa o gato escondido com o rabo de fora, apesar de o texto começar com uma espécie de apelo ao voto no PS contra o alegado terror que se avizinha se Manuela Ferreira Leite for eleita: “Nas europeias, não foi o PSD que teve um aumento significativo de votação, foi o PS que perdeu grande parte da sua base social, a ponto de, pela primeira vez, ter ficado aquém de um milhão de votos. Várias vezes falei de um buraco negro na esquerda. A soma da abstenção com os resultados do BE e do PCP mostram que esse buraco se situa na área do PS. Não é crível que personalidades de direita consigam recuperar para o PS o eleitorado que este perdeu para a abstenção e para a esquerda. Os socialistas não podem ter um discurso emprestado. Não se combate o liberalismo ultra com o liberalismo suave. Nem se vence o PSD com ex-ideólogos do PSD. Ainda é possível dar a volta. Mas algo tem de acontecer. Apesar dos erros, a bandeira do PS não está no chão. Mais política e menos marketing. Mais socialistas e menos figurantes. Um pouco mais de esquerda. Ou, como diria Mário Cesariny, "um acordar". Para que um dia destes não estejamos a perguntar-nos como é que se perdeu mais uma oportunidade e como é que um país maioritariamente de esquerda pode acabar uma vez mais a ser governado pela direita”.

Trocando por miúdos, Alegre, que não integrará as listas do PS nas próximas Legislativas (é a primeira vez que vai ficar de fora desde que há democracia em Portugal), parece pouco ou nada convencido com a capacidade de José Sócrates para vencer as eleições. Alegre bem diz que “a bandeira do PS não está no chão”, mas escusa-se a falar de José Sócrates, como que, implicitamente, responsabilizando o actuar líder por uma eventual derrota (e é por isso que surge o apelo “mais política e menos marketing”).

Claro que José Sócrates ainda não está derrotado. Mas, perante essa possibilidade, Alegre e Costa vão reunindo trunfos e apoios, preparando-se para a eventualidade de, no dia 27 de Setembro, o PS ficar sem líder. É que ninguém que ser apanhado com a Manilha seca na mão no momento em que o Ás saltar para cima da mesa…

1 comentário:

SILÊNCIO CULPADO disse...

Dr.Mento


Tristeza. É tudo muito triste. O País está nas lonas e estes jogos de bastidores enojam-me. Já o disse no post anterior em relação ao António Costa. Sou fã do Manuel Alegre como poeta e como escritor. É para mim uma referência dum resistente pela liberdade. Mas deprime-me esta luta cinzenta à procura de protagonismos que ora o tornam mais rosa, ora mais vermelho, ora coisa nenhuma.
Abraço