domingo, 5 de julho de 2009

CARTAS MARCADAS (2): Pacheco Pereira

“Meu muito estimado e auto-elogiado Zé:

Espero, do fundo mais profundo do coração, que esta cartinha te encontre de boa saúde, apesar de achar que uma dieta não te faria mal algum. Se queres que te diga (e perdoa-me, desde já, a sinceridade), acho que a SIC te paga o suficiente para te inscreveres num ginásio, embora saiba que má cara farás a esta observação, porque um Zé como tu, mas com sobrenome de filósofo grego no lugar de um comum apelido de árvore, se lembrou de baixar o IVA das mensalidades dos ginásios de 21 para cinco por cento. Sim, eu sei que não gostas do homem, mas essa barriguinha… não sei não, parece que tens um Rei (de Paus) escondido lá dentro.

Mas não é sobre o teu abdómen que desejava trocar umas palavras contigo.

Sabes que, há coisa de dias, estive no teu blogue e li lá uma coisa que muito apreensivo me deixou: “os blogues são uma boa coisa, a blogosfera (política) está muito má. Má, intriguista, mesquinha, superficial, amiguista e revanchista, muito longe do país, que desconhece, muito longe da vida, que não vive”.

Ó pá, pareces-me o siracusano que diz que todos os siracusanos são mentirosos. Sendo ele siracusano e sendo todos os siracusanos mentirosos, tal significa que está a mentir e que todos os siracusanos são verdadeiros… embora o facto de ele ser siracusano e estar a mentir invalide que todos os siracusanos sejam verdadeiros.

Mas percebes onde quero chegar, certo? Tu tens um blogue político desde o ano da pedra lascada e vais a esse mesmo blogue político dizer que todos os blogues políticos são muito maus e cheios de vícios. Ora como tu tens um blogue político, isso significa que o Abrupto é muito mau e cheio de vícios, certo? Ou estarei enganado? Ah, para ti há uma excepção absolutamente excepcional que confirma a regra de forma excepcional. Muito bem, muito me contas tu…

Depois, dizes tu: “Duas notas: uma de fundo, outra de circunstância. A de fundo tem a ver com a ideia que a intervenção política implica uma capitis diminutio da opinião, e a sua redução a algo que torna ‘suspeita’ a intervenção no espaço público”.

Homem, não escrevas para o teu umbigo. Escreve para as pessoas, pá. Eu sei que és pessoa letrada e de boa escrita, mas frases como aquela que copiei do teu blogue não são sexo, são masturbação. Em bom português: Queres foder a torto e a direito, mas sai-te punheta. É o que acontece a quem não tenta cativar um parceiro ou parceira.

Não, não estou a ser malcriado. Isso é o Pinho, que faz cornos na Assembleia da República. Estou só a ser teu amigo e a avisar-te. E avisto-te já que uma dieta e umas horas de ginásio fariam maravilhas pela tua rubicunda silhueta.

Mas o que me preocupa mesmo é a tua mania de estares sempre a falar mal dos jornalistas e dos jornais portugueses. Volta e meia, até dizes que, se as pessoas soubessem como são feitos os jornais, não mais os comprariam. Bem sei que há muita merda nas redacções, mas tu, que diabo, tu escreves para o Público e para a Sábado. Se as pessoas não comprarem jornais, ninguém lê o que tu escreves, homem.

Além do mais, tens ganas de chamar merda aos jornais, mas não te dão os escrúpulos na hora de receberes umas moedas pelas tuas colunas, pois não? Homem, o que tu estás a fazer é algo como seres convidado para ir jantar a casa de um amigo, chegares lá e dizeres: “És um falhado, a tua mulher é uma puta, o teu filho é um maricas, os canapés sabem a esterco, os cortinados da sala deviam ser queimados e estás mais gordo. O que é o jantar?”

Ainda por cima, como se não bastasses o que mal dizes dos jornalistas em papel, ainda vais vociferar contra eles na SIC-Notícias e no Rádio Clube, onde, não sei se sabes, também há jornalistas. Pagam-te o jantar e ainda os insultas. Isso não é ter a espinha erecta, é ter falta de bom-senso. Pior: É seres Janus, comendo com uma boca e vociferando com outra.

Bem, a carta já vai longa e mais não me quero alongar. Por isso, deixo para outras núpcias a tua adoração nada escondida pela Forreta Leite, que defendes com um amor, um carinho, uma convicção, uma destreza, uma ferocidade que quase comovem as pedras da calçada. Ai homem, se não és tu que te perdes a ti mesmo, há de ser um rabo de saia. Ainda por cima, AQUELE rabo, que se esconde atrás DAQUELA saia. Mas pode ser que ela engrace contigo e que te arranje uma panelinha no Governo. Pois, pois, dizes que não, mas, se ela te acenar com o tacho, vais a correr como um cãozinho atrás da bola. Depois diz-me se não é verdade.

Não leves a mal os reparos que te faço. São de valor, porque são sinceros, escritos do fundo mais profundo da alma. E, das profundezas te digo: dieta e ginásio, saladas e suores.

Um abraço,

Do teu sempre amigo,

Dr. Mento

PS (sem D): Esqueci-me de te dizer, mas uma boa dieta e umas valentes horas de ginásio fariam milagres por ti. Vai na volta, até ficavas mais bem-disposto com a vida e paravas de andar sempre de caçadeira em punho a matar pardais, para depois os servires na ceia da dama com cara de bruxa.”

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