domingo, 19 de julho de 2009

A MANILHA VAI SECA (59): Querem continuar a ser pobres?

Um dos truques políticos mais curiosos é uma espécie de chantagem que certos políticos fazem com o eleitorado, sendo que, neste capítulo, José Sócrates é mestre na arte de ameaçar subtilmente o eleitorado.

Por isso, no encerramento do Fórum Novas Fronteiras 2009-2013, no Porto, o secretário-geral do PS anunciou que o programa eleitoral dos socialistas vai incluir um novo subsídio para as famílias, sendo que a nova prestação social (que, obviamente, já não é para esta legislatura) irá beneficiar os casais que trabalham e têm filhos, mas cujo rendimento per capita do agregado familiar é inferior ao limiar da pobreza.

No discurso em que fez este anúncio, Sócrates abordou inúmeras vezes as políticas sociais desenvolvidas por este Governo. De súbito, fez-me lembrar o seu antecessor (e colega de Governo), Eduardo Ferro Rodrigues, que, nas legislativas de 2002, não parava de enaltecer as medidas sociais do Executivo de António Guterres. Se Ferro falasse do novo aeroporto de Lisboa, chamar-lhe-ia “aeroporto social” - aliás, ele próprio liderou o Ministério do Equipamento Social, uma designação à socialista para a pasta das Obras Públicas. Claro que Sócrates não falou em “aeroporto social”, mas andou pela mesma linha, ao lembrar a criação do complemento social para idosos e do abono pré-natal e os aumentos do salário mínimo nacional, do abono de família e da acção social escolar.

Só que as palavras de Sócrates são como uma espécie de ameaça escondida ao eleitorado. Não vou discutir se estas medidas sociais são boas ou más, até porque iniciativas deste género são sempre como as moedas: Têm dois lados. Basta ver uma das grandes criações de Guterres, o Rendimento Mínimo Garantido.

Basicamente, o que o primeiro-ministro quer dizer é algo como: “Se votarem em nós, o Governo vem, dá subsídios e ajuda os pobrezinhos. Se votarem no PSD, vêm os mauzões da direita e tira-nos isso tudo, para deixarem as criancinhas a passar fome”. Sócrates nunca diz quem paga esses subsídios (não interessa se são justos ou injustos), porque, se o fizesse, uma parte do eleitorado fugiria a sete pés do PS. A verdade, quando a há, fica sempre pela metade.

Esta estratégia de acenar com os papões da direita costuma produzir bons frutos para a esquerda (e até para o PS), ao ponto de, para alguns sectores menos informados da população, o Governo de Durão Barroso ter ficado conhecido como o carrasco do Rendimento Mínimo Garantido, quando o que fez foi, na verdade, mudar-lhe o nome e alterar um pouco as condições de acesso à dita prestação.

Quando a campanha eleitoral começar mesmo a sério, vamos voltar a ouvir falar nos papões da direita, nos mauzões que querem um Estado mínimo que se está a cagar para toda a gente, menos para uma pequena clique que transacciona favores e dinheiros de forma mais ou menos legal, mas sempre imoral. Muitos dos que se dizem de esquerda (e há tantos assim no PS) adoram este tipo de discurso maniqueísta e, muitas vezes, recheado de inverdades.

Querem um exemplo? Na segunda volta das presidenciais de 1986, muita gente no PCP pôs a correr os mais incríveis boatos do que aconteceria a Portugal se Freitas do Amaral ganhasse as eleições, havendo quem dissesse que iríamos voltar aos tempos de Mr. Salazar. E foi assim que muita gente, mesmo não gostando de Mário Soares, lá entregou o seu voto vitorioso ao fundador do PS. 19 anos depois, o mesmo Freitas do Amaral que era pior do que Salazar acabou num Governo do partido do Soares que salvou o país do fascismo.

O tempo é um excelente conselheiro, meus amigos.

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