terça-feira, 7 de julho de 2009

JOKER (7): Agarrem-me, que eu vou para o Brasil!!!

Pois é, meus caros amigos, o vosso Dr. Mento vai deixar-vos. Na verdade, não sois vós quem eu abandono, mas sim esta pátria ingrata e cruel, onde a insana voracidade de uns abandona os demais, seus iguais à nascença, à mais triste e desditosa das sortes. Amargo, sim, quiçá inclemente e irredutível, mas eis chegada a hora de partir, dizer adeus, contemplar as gentes que acenam e não mais voltar a olhar para trás.

Nesta altura da minha vida, é chegada a hora de uma decisão. A minha está tomada: tal como os meus antepassados de quinhentos, parto numa nau de madeira e velas de pano em busca da minha terra prometida, onde erguerei a Veraz Cruz dos meus sonhos. Portugal, mesquinha piolheira, será passado. Brasil, terra de esperanças mil, será futuro enquanto não passar a presente.

Por cá, viu vilipendiado, ignorado, desprezado, hostilizado. Lá, no país dos sonhos em tens de verde e amarelo, sei que os meus mil talentos e saberes serão merecedores de mil elogios, mil reconhecimentos, mil aplausos. São gentes civilizadas, aquelas, sedentas de novos génios incompreendidos aos quais saberão dar o devido reconhecimento. Bem sei que todos os génios são incompreendidos. E a mim ninguém me compreende.

NÃO, NÃO E NÃO!

Escusam de se prostrar num gesto clemente, deitando por terra vossos joelhos. A decisão está tomada e mais do que tomada. O primeiro avião que me deixar em Jundiaí será o meu passaporte para a liberdade, para a felicidade. Em Jundiaí, erguerei o meu castelo, não de sonhos por cumprir, mas de pedras nascidas do suor dos meus talentos.

NÃO! JÁ DISSE! ESCUSAM DE IMPLORAR!

Vou para o Brasil para ser feliz, voltando costas a um país abjecto que me voltou as costas.

NÃO RECONSIDERO COISA NENHUMA!

Eu vou. Já estou a fazer as malas. Em breve, não mais português serei quando a minha nacionalidade brasileira mostrar ao Mundo as feridas que a lusa pátria abriu no meu coração. A mim e a tantos outros, meus pares na desgraça infinda. Maria João Pires já foi, Miguel Sousa Tavares já vai e o Padre Frederico já lá está. Todos, à sua maneira, gentes de talento, gentes escorraçadas por um país avaro para os seus talentos. Ó, inglória pátria, que nem um mísero subsídio me dais para pôr em marcha os meus mil projectos e sonhos.

NÃO! EU…

O quê? Uma contra-proposta? Como assim?

Ah!, pois.

Mas… num banco? Ainda por cima na Caixa Geral de Depósitos? Têm mesmo a certeza? Eu nem percebo grande coisa de bancos, finanças, economia, gestão…

Pois. Sim, compreendo. É para ser administrador não executivo. Estou a perceber. Vou lá uma vez por semana, pico o ponto, recebo o meu e tenho carro com motorista pago pela Caixa. O que fizer com os meus dias é da minha inteira responsabilidade, que a Caixa nada tem a ver com isso. Pois, faz sentido, se não percebo nada de bancos, não vale a pena ir lá muitas vezes e nem sequer iria fazer muito sentido ir às reuniões para fazer figura de corpo presente. Para isso, fico esquecido na cama, no vale dos meus lençóis.

Sim, nesses termos vale a pena. Se bem que se me dessem um subsidiozinho…

Ah!, tenho que almoçar com o ministro. Não faz mal. Mas a conta do almoço é paga pela Caixa, que eu não sou rico para andar a desbaratar dinheiro com poucas-vergonhas.

Bem, pois é…

O tempo… está calor, não está?

Pois, pois, pois…

Enfim…

Ai, ai...

Sendo assim...

PUTA QUE PARIU O BRASIL!

(Sem ofensa!)

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