terça-feira, 7 de julho de 2009

ESPADAS QUE PICAM (12): O povo não tem pão? Que comam com o circo!

Numa primeira apreciação, ver 85 mil pessoas num estádio (com bilhetes pagos) para verem a apresentação de um único jogador de futebol parece-me um exercício de puro non-sense.

Mas, bem vistas as coisas, faz todo o sentido.

Toda a paranóia em torno da ida de Cristiano Ronaldo para o Real Madrid parece um momento de histeria colectiva, mas a realidade está bem distante dos números da transferência (94 milhões, uma bagatela face àquilo que o Real vai lucrar com a brincadeira), do ordenado e outras remunerações de CR9… ou até do seu valor como jogador (que não está minimamente e causa).

Na verdade, tudo não passa de um momento de circo quando o povo não tem pão. Portugal e Espanha param para ver a chegada do homem das fintas e das mudanças de velocidade estonteantes numa altura em que a crise económica castiga estes dois países de forma impiedosa. Na Península Ibérica, o desemprego atinge valores tenebrosos e o desespero chega a demasiados lares. Como nenhum dos executivos socialistas da Península Ibérica arranja soluções milagrosas para a crise (e, sobretudo, para o desemprego), milhares de pessoas (merengues ou não) aplaudem a chegada ao Santiago Bernabéu do homem que melhor tem sabido ignorar a crise: Ele ganha o quer bem quer e lhe apetece e até se dá ao luxo de escolher para quem deseja trabalhar, numa altura em que milhares de ibéricos andam de mão estendida em busca de um emprego qualquer.

Cristiano Ronaldo, mais do que um extremo velocíssimo (ok, também pode jogar como ponta-de-lança), é o sonho personificado de toda uma Península Ibérica. É o herói de um espectáculo de circo, onde o povo que assiste, por momentos, se esquece do pão que não lhes deram e que muita falta lhes faz. De rosto bovino e de olhos pregados à televisão (ou ao relvado do Bernabéu), a crise parece nem existir.

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