sábado, 18 de julho de 2009

A MANILHA VAI SECA (58): O impacto de Chão da Lagoa

Há quem lhe chame ditador, vigarista, malcriado, boçal e o diabo a sete, mas não falta quem lhe gabe a obra feita e a determinação. O que é verdade é que ninguém fica indiferente a Alberto João Jardim, o enfant terrible da política portuguesa, que, volta e meia, faz declarações de pôr os cabelos em pé a um santo. Na festa anual do PSD/Madeira, em Chão da Lagoa, costumam surgir discursos dos mais incríveis que há memória em Portugal, alguns deles ofensivos para os continentais, para todos os portugueses e, por vezes, até para os madeirenses.

Só que Jardim tem a importância que tem porque todos dão às suas palavras demasiada importância. Por mim, já deixei de dar para esse peditório e vejo o discurso de Chão da Lagoa como um dos melhores momentos de stand-up comedy do ano. Ainda por cima, Jardim, quando fala, nunca está sóbrio, o que torna a coisa ainda mais divertida e surpreendente (e o homem consegue ser dos poucos bêbados que não é chato e não diz que ama toda a gente).

Mas… sendo assim, porque é que se dá tanta importância às palavras de um barrigudo mal-encarado com uma tosga daquelas?

Meus amigos, este ano, a festa de Chão da Lagoa realiza-se a 26 de Julho.

Estão bem a ver a data? É em pleno Verão, altura em que, nas redacções de todo o país, o pessoal se contorce para arranjar notícias de jeito que possam fazer as primeiras páginas. Se houver muitos incêndios, dá para encher páginas com isso, mas, se chover um bocadinho em pleno Agosto, a coisa fica preta. É que até a porcaria da Assembleia da República está de férias (ou seja, não há cornos, nem deputados remetidos para o caralho) e não há debates para animar a malta. Se os conselhos de ministros que se forem realizando não tiverem nada de jeito, pior ainda. Como não dá para ter reportagens bombásticas todos os dias, a realização de uma primeira página nesta época torna-se uma tarefa algo penosa.

É neste contexto que surge Chão da Lagoa. Jardim aproveita um certo vazio de coisas novas no mundo da política para dizer o que lhe der na real gana. E di-lo mesmo com o intuito de chocar, para ganhar protagonismo, para ser manchete. Se o dia em questão for particularmente morto em termos noticiosos, Jardim tem umas quantas primeiras páginas garantidas com um par de bujardas contra este e contra aquele e contra tudo o que mexe.

É simples, demasiado simples. E, em rigor, pouco importante.

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