sexta-feira, 17 de julho de 2009

A MANILHA VAI SECA (56): Alvo muito bem definido

A estratégia não é nova. Tem qualquer coisa como dez anos de vida.

Ao longo de uma década de existência, o Bloco de Esquerda tem sobrevivido graças aos descontentes com o rumo que o PS tem vindo a tomar. Foi assim em 1999, quando, nas Legislativas, os dois deputados eleitos pelo BE roubaram a esperada maioria absoluta ao PS de António Guterres, o qual ainda aparentava ser um pouco mais socialista do que o PS de José Sócrates.

Mais do que uma soma de três forças políticas (UDP, PSR e Política XXI) com uns quantos intelectuais de esquerda, o BE começa, cada vez mais, a querer ser o PS que muitos socialistas gostavam de ter, mas não têm. Apesar de, em muitos aspectos, o BE ainda se assemelhar aos velhos partidos de esquerda radical (designadamente ao PCP), a estratégia do partido de Francisco Louçã passa, antes de tudo o mais, por ir esvaziando este PS onde o socialismo repousa numa gaveta secreta do Largo do Rato. E uma simples parcela de um discurso de Louçã em Lisboa revela-nos bem que os descontentes com o PS são um alvo mais do que definido: “É preciso esquerda, uma esquerda solidária, socialista, que saiba o que quer e que lute pelo que quer”.

“Uma esquerda solidária, socialista”. Gostei do pormenor do “socialista”. É como se Louçã dissesse sem dizer: “Socialistas, olhai para o Bloco de Esquerda, o verdadeiro partido socialista”.

É verdade que o BE poderia captar votos do PCP, partido que, ao longo dos anos, tem resistido à mudança de forma absolutamente heróica e sem mexer uma vírgula nos seus ideais. E digo heróica porque o Mundo mudou - e muito - mas o PCP consegue manter-se bem vivo, mesmo algo anacrónico. Só que Louçã sabe que o eleitor tradicional do PCP não é muito dado a mudanças e, entre os eleitores ferrenhos dos comunistas, há gente a quem fará muita confusão que pessoas do mesmo sexo possam casar-se ou que os animais (especialmente os touros) possam ter direitos.

Não quero com isto afirmar que o BE é mesmo um novo PS, até porque as linhas programáticas de ambos os partidos estão demasiadamente afastadas (o PS, até na sua própria génese, é demasiado parecido com o PSD para poder ser confundido com o Bloco). Mas Francisco Louçã, hábil, sabe que é ali, entre os descontentes do PS, que estão os votos.

É a política, meus amigos.

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