quarta-feira, 8 de julho de 2009

A MANILHA VAI SECA (49): Sou advogado do Diabo e vou defender o lado bom de Maria de Lurdes Rodrigues

CALMA!

Já leram o título, não leram? Pois bem, deixem-me, desde já, salientar uma coisa: Para mim, Maria de Lurdes Rodrigues foi uma das piores coisas que já passou pelo Ministério da Educação.

Não que critique o uso do Magalhães, que pode ser uma interessante arma para combater o analfabetismo informático, embora isso seja algo que só se vai perceber daqui a muitos anos. Não que critique o programa de renovação de escolas, já que muitos estabelecimentos de ensino (e podemos começar pela Secundária Filipa de Lencastre, cuja biblioteca tresanda a mofo) necessitam mesmo de obras. Não que critique e existência, por si só, de um modelo de avaliação de professores, desde que a mesma seja feita com pés e cabeça. Não que critique o combate a certos corporativismos sindicais, personificados num tal Mário Nogueira, que, para além de necessitar urgentemente de cortar aquele bigode, precisava de dar umas quantas aulas antes de ter legitimidade para vir defender os que, de facto, fazem do ensino a sua actividade profissional.

Em teoria, o Ministério da Educação até tinha boas intenções. Só que, de boas intenções, está o Inferno cheio e a forma como a tutela acabou por gerir certos dossiers, acabou por transformar tudo numa gigantesca trapalhada, que só serviu para arrasar completamente com o ensino público português. Se algum ultra neoliberal vier a terreiro defender a privatização completa do ensino público, decerto encontrará e Maria de Lurdes Rodrigues a sua musa inspiradora, já que ela transformou a escola oficial num local a evitar por quem tiver capacidades (financeiras, obviamente) para tal.

Mas, em tudo, há sempre um lado bom. Até mesmo em Maria de Lurdes Rodrigues.

Há coisa de uma década (ou década e meia, vá lá), era comum dizer-se: “Se não arranjares o que fazer, vais dar aulas. Se quiseres ganhar mais algum, vais dar umas aulas”. Ou seja, qualquer gato-pingado que quisesse fazer mais uns trocos ou não tivesse competência para coisa alguma, poderia aventurar-se no ensino, mesmo que a sua vocação fosse zero ou menos do que isso. Esta mentalidade fez com que o ensino público ficasse cheio de pessoas, que, apesar de terem nas mãos o amanhã dos nossos filhos, se estavam pura e simplesmente a cagar para eles.

Agora, nada disso acontece.

Neste momento, para se ser professor, há que ter a consciência de que o ensino público é um meio inacreditavelmente agreste e difícil - e o último local onde os pára-quedistas de ocasião vão querer estar. Tudo isto pode conduzir a que, dentro de algum tempo, só vá para o ensino quem realmente GOSTA de ensinar e têm vocação para tal. No fundo, só vai entrar na maratona quem quiser correr por gosto, que são sempre os que não se cansam. A médio prazo, a escola pública portuguesa até pode beneficiar alguma coisa com esta curiosa purga involuntária, ainda que os jovens que atravessaram estes anos de convulsão do consulado de Maria de Lurdes Rodrigues tenham de ser os mártires de todo este processo.

Ainda assim, dá para encontrar alguma coisa de bom nos anos de Maria de Lurdes Rodrigues. Mas, se não se importam, preferia um (ou uma) titular da pasta da Educação ao qual não fosse tão difícil apontar qualidades e que a melhor delas seja justamente uma purga. Não é por nada…

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