(Já detectei uma gralha tenebrosa neste texto. A mesma foi corrigida. Peço desculpa. Devo ter desligado o cérebro por instantes)
Confesso que os resultados do Bloco de Esquerda nas Eleições Europeias não me surpreenderam minimamente. Espantei-me, isso sim, com as percentagens avançadas por muitas sondagens, que, apesar de reconhecerem um crescimento do BE, indicavam que o partido de Francisco Louçã se ficaria pelos dois eurodeputados e abaixo da margem simbólica dos dois dígitos.
Há muito que desconfiava solenemente destas sondagens, que, suspeito, poderão ter tido o dedo de gente ligada ao Bloco Central. E quem me deu essa indicação não foram pessoas ligadas a empresas de sondagens (que, até prova em contrário, continuam a ser credíveis, apesar de falíveis), mas sim o PS e o PSD. Havia no ar demasiados sintomas de que o BE poderia incomodar, e muito, os rabos gordos e acomodados do Bloco Central, que não querem entregar as suas teias de influências a gente fora do «sistema».
Há muito que percebi o incómodo de alguns posts (no Abrupto) e declarações de José Pacheco em relação a um Bloco de Esquerda apresentado como um papão que, se não fosse travado, iria conduzir Portugal à mais profunda ruína. Em blogues de gente ligada ou com simpatias pelo PSD, o mesmo sentimento, as mesmas palavras, a mesma ira contida e não disfarçada, a mesma diabolização. Em muitos destes espaços, o sentimento continuou ontem à noite.
Esta diabolização do BE serve, sobretudo, para escamotear a grande derrota do PSD nas Europeias: a incapacidade de roubar votos de descontentes com o PS. É, neste momento, um ponto fraco do PSD e as hostes sociais-democratas deveriam reflectir seriamente sobre esta matéria, ao invés de elegerem terceiros à categoria de vilões - aliás, a táctica da diabolização deu asneira da grossa quando Vital Moreira e o PS decidiram apostar nela em força.
Responsabilizarem o BE pela criação de uma situação de ingovernabilidade do país é um disparate sem pés nem cabeça e um desrespeito pela vontade do eleitorado. Mais pessoas (muitas delas, tradicionais eleitores do Bloco Central) votaram no BE porque vêem nele uma alternativa, uma oportunidade de mudança e um programa que lhes agrada. Desrespeitar isso é desrespeitar a vontade do principal órgão de soberania em Portugal: o eleitorado.
Quanto ao PS, os sinais são muito anteriores e tiveram um dos seus pontos altos na escolha de Vital Moreira para cabeça-de-lista nas Europeias. Um ex-comunista para tentar roubar votos à dita extrema-esquerda. Uma aposta destas (ao invés da opção por um moderado) mostra, silenciosamente, que o BE é uma ameaça real (ao domínio eleitoral recente do PS e dos partidos do Bloco Central). Depois, seguiram-se muitas críticas acesas ao Bloco, que mais me pareciam declarações de medo do que acusações com pés e cabeça.
Por fim, o lançamento de uma lei de levantamento do sigilo bancário em Conselho de Ministros e a aprovação, por parte do PS, de uma proposta semelhante apresentada pelo BE na Assembleia da República. Este episódio surge semanas após Sócrates ter anunciado, para a próxima legislatura, a legalização do casamento entre pessoas do mesmo sexo, que, como se sabe, é uma das bandeiras do Bloco.
Estes dois últimos exemplos mostravam, há alguns meses, um PS a tentar colar-se desesperadamente ao BE, para tentar ver se salvava uma eventual transferência de votos para as hostes de Francisco Louçã.
Suspeito que, internamente, PS e PSD dispunham, há muito tempo, de sondagens que apontavam para um crescimento fortíssimo e sustentado do BE. Ambos tentaram atirar areia para os olhos, mas, no final, o povo foi quem mais ordenou.
Agora, se querem recuperar os votos que fugiram para o BE, só posso dar um conselho às gentes do PS e PSD: TRABALHEM MAIS E MELHOR. Em democracia, o poder não é um direito conquistado à nascença por partido algum.
Sócrates de novo
Há 2 horas
1 comentário:
Dr.Mento
O BE registou uma subida aliciante embora seja um partido cujo projecto se desconhece. Beneficiou largamente do descontentamento que incide sobre o Eng.Sócrates, Maria de Lurdes Rodrigues, sistema de justiça, SNS, desemprego e todo um conjunto de dificuldades que se abatem sobre a maioria da população.
No entanto estas eleições têm características diferentes das legislativas e, como se pôde ver pela abstenção, foram altamente desmobilizadoras.
Um maior número de pessoas a exercerem o direito de voto pode alterar este quadro de resultados.
Abraço
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