quinta-feira, 30 de abril de 2009

A MANILHA VAI SECA (1): Vital Moreira, o europeu

Quando José Sócrates apresentou Vital Moreira como cabeça-de-lista do PS às Eleições Europeias, muito boa gente interpretou esta opção política como uma jogada de Copas, em que o primeiro-ministro tentava apelar ao coração de toda a esquerda portuguesa.

Contudo, com o passar do tempo, o Rei de Copas de Sócrates começa mais a parecer um duque de um naipe qualquer, que o próprio ainda não percebeu qual é ao certo. De comunista ferrenho (de proletário bigode e tudo), Vital Moreira passou a socialista em part-time (ou seja, mais socialista do que a maior parte dos militantes e dirigentes do Partido Socialista) e, um dia destes, ainda o vemos a meter a cruzinha no partido do Dr. Paulo Portas.

Num debate promovido pela JS na Faculdade de Economia do Porto, Vital Moreira considerou o PS “o partido mais europeísta” de Portugal, recordando que foi Mário Soares, então primeiro-ministro do I Governo Constitucional, quem, pela primeira vez, em 1976, defendeu a integração de Portugal na CEE. Vital Moreira relembrou igualmente que a proposta «A Europa connosco» não foi apoiada por qualquer outro partido… inclusivamente pelo próprio PCP, partido em cuja bancada parlamentar havia um deputado chamado Vital Moreira.

Ou seja, Vital Moreira defende agora o partido mais europeísta de Portugal e diz que o PS é o partido mais europeísta de Portugal porque ele, que não era do partido mais europeísta de Portugal, sabia já em 1976 que o PS era o partido mais europeísta de Portugal. E critica os do seu antigo partido (que nunca foi o mais europeísta de Portugal) por continuarem a ser dos menos europeístas de Portugal, quando ele, Vital Moreira, é agora o mais europeísta dos europeístas de Portugal.

Confuso, não?

Já vi gente renunciar a ideias que defendeu no passado e até acho que tal pode ser saudável, uma vez que as pessoas mudam na medida em que o Mundo à sua volta também muda. Mas Vital Moreira não mudou - transfigurou-se no oposto daquilo que foi em tempos e critica acerrimamente os que ficaram agarrados àquilo que ele deixou para trás. Vital Moreira, com a mesma garra com que já atacou a União Europeia, vem agora defende-la e atacar os que a atacam. Qual será a próxima dama que irá defender? A suspensão da democracia por seis meses (ou mais) para que se possam realizar umas quantas reformas na sociedade portuguesa?

Não sei porquê, e até posso estar redondamente enganado, mas não consigo confiar num gajo destes…

Nota adicional (edição do post): Já sei porque é que não consigo confiar em Vital Moreira. No meu subconsciente, lembro-me de um tal Pina Moura, homem com um percurso político algo semelhante e que... pois, sabem o resultado da passagem dele pelos dois Governos de António Guterres, não sabem? Mesmo assim, continuo a dizer: espero sinceramente estar muito enganado.

JOKER (2): Também quero um ismo

Em 35 anos, o PSD deu à sociedade democrática portuguesa um importe legado: os ismos (e respectivos istas).

Isto porque os principais ismos foram devidamente acondicionados noutras coutadas: o PCP reclamou para si o comunismo e o marxismo-leninismo, o PNR ficou com o fascismo, o BE deitou a mão ao trotskismo (que tem que dividir com o pequeno POUS), o PCTP/MRPP alinhou com o maoísmo, o PPM quis o saudosismo (outro nome para monárquico), o PEV apanhou o ecologismo, o MPT diz-se amigo do ambientalismo e do ruralismo, o CDS/PP arranjou-se com o conservadorismo (a meias com o dissidente PND), o MMS tem muitos laivos de neoliberalismo e… bem, o PS diz que o socialismo é dele, mas parece que o tem guardado algures numa gaveta, bem fechado à chave.

Ora, depois de toda a gente se lambuzar com os seus ismos, restava ao PSD ficar com a social-democracia… que não é um ismo. Todavia, posto que estamos a falar de um dos maiores partidos portugueses, as gentes da Rua de São Caetano à Lapa trataram imediatamente de resolver o problema e criaram os seus próprios ismos, que, rapidamente, se transfiguraram em istas.

É por isso que, hoje em dia, o PSD está pejado de cavaquistas, leitistas, barrosistas, menezistas, marquesmendistas, santanistas, jardinistas, marcelistas, sá-carneiristas, coelhistas, sarmentistas e sabe-se-lá-mais-o-quê-istas. Uns mais elitistas, outros mais populistas, mas todos cem por cento istas.

Perante este cenário, venho, por aqui lançar-vos um repto: TAMBÉM EU QUERO TER O MEU PRÓPRIO ISMO.

Sim, um ismo verdadeiramente ismo, cheio de istas em meu redor - curvando a espinha a 180 graus diante da minha presença, implorando, de mãos suplicantes e trémulas, que abençoe as suas humildes vidas com um punhado de cargos.

Por isso, queridos amigos, peço o vosso apoio para, juntos, formarmos o nosso próprio ismo «laranja». E não precisamos de muito: concorremos à presidência do PSD nas próximas directas, levamos uma tareia de todo o tamanho, mas passamos a existir… e a funcionar como uma pedra no sapato para os istas que se sentarem na cadeira do poder. Se a coisa correr bem, até nos deixam disputar umas eleições - perguntem ao Santana Lopes, que ele é mestre nesta arte.

Minhas amigas, meus amigos, este País e este partido (o PSD) necessita de uma mudança. Necessita de mais um ismo. Mas não será um ismo qualquer. Será o melhor de todos os ismos: O TERRORISMO.

Por favor, ajudem-me. Não quero ser mais uma carta fora do baralho.


E agora cantem comigo: “Paz, pão, povo e liberdade, todos sempre unidos no caminho da verdade...”



quarta-feira, 29 de abril de 2009

JOKER (1): O fabuloso destino de José Sócrates

E se, de facto, José Sócrates for mesmo culpado de tudo aquilo que o acusam no caso Freeport?

Imaginemos que Sócrates tinha mesmo recebido quatro milhões de euros para aprovar uma nova ZPE na zona em que nasceu o Freeport. Imaginemos que tal ficava mesmo provado em tribunal.

Bem, se Sócrates estivesse no Governo, certo é que Cavaco Silva trataria de o demitir imediatamente, sem apelo, nem agravo. Em consequência, Sócrates demitir-se-ia da liderança do PS, deixando os «barões» soaristas, alegristas, ferristas, guterristas, sampaístas e, quem sabe, socialistas, à bulha por um lugar na cadeira do poder.

Se fosse condenado em tribunal, Sócrates teria, provavelmente, de pagar uma multa. Coisa de cinco mil euros - moedas, para quem recebera quatro milhões. Recentemente, o administrador da Bragaparques Domingos Névoa foi condenado a uma multa de cinco mil euros por tentativa de suborno ao vereador José Sá Fernandes, a quem ofereceu 200 mil euros para que este desistisse de um processo a propósito da permuta de terrenos da Feira Popular e do Parque Mayer. Baseado neste exemplo, sou levado a crer que Sócrates não deveria pagar mais de cinco mil euros… isto se ele não apresentasse recurso, atrasando o cumprimento da sentença por tempo indefinido e indeterminado (foi também o que fez Domingos Névoa).

Depois de ser condenado em tribunal e de ser espoliado dos seus cargos, Sócrates seria conduzido a um cargo de administrador não executivo na Caixa Geral de Depósitos. Aliás, é neste banco, que, regra Geral, se fazem os Depósitos de antigos detentores de cargos políticos, que assim passam a auferir gordos salários a troco de um lugar onde nada fazem.

Como Sócrates não é homem de ficar a carpir as suas mágoas, de imediato trataria de mover processos contra todos os jornais e órgãos de comunicação social em Portugal, por causa das notícias publicadas sobre o caso Freeport. De imediato, os tribunais alegariam que, apesar de as notícias serem verdadeiras, as mesmas prejudicaram o ilustre cidadão José Sócrates. Por isso, os órgãos de comunicação social seriam obrigados a pagar indemnizações de largos milhões de euros cada um, mesmo ficando provado que disseram a verdade e desmascararam um facínora corrupto. Algo semelhante aconteceu com o Público a propósito de uma notícia sobre o Sporting.

Depois de se encher de dinheiro, Sócrates compraria uma quinta no Alentejo, onde iria passar largos meses a escrever um livro, onde denunciaria as campanhas negras contra si movidas. O livro venderia como pãezinhos quentes e Sócrates ficaria ainda mais rico.

Mais rico e desdenhoso em relação a todos os que sempre viveram de acordo com a lei.

Mais rico e desdenhoso em relação a todos os que sempre se recusaram a vergar a espinha dorsal.

CARTAS MARCADAS (1): Manuela Ferreira Leite



“Querida Manuela:

Desde já, peço desculpa por tratar-te por tu, mas, sinceramente, não me imagino a tratar-te de outra forma. Afinal de contas, esta mesa de jogo é minha e quem dita as regras sou eu. No fundo, é como se, durante seis meses, não houvesse democracia neste espaço, coisa que, ao que sei, poderá até nem te incomodar de todo.

Decerto que, neste momento, já te estarás a perguntar sobre o motivo que me leva a escrever-te estas calorosas linhas sob a forma de carta. Pois bem, querida amiga, sinto-me na obrigação de te dar alguns conselhos, isto apesar de sentir que, por vezes, a minha amizade não te é querida - nem a minha, nem a de 10,6 milhões de pessoas.

Sabes, Manuela, até aprecio a tua ideia de quereres dizer a verdade aos portugueses. Mas, sabes, um amigo meu costumava dizer-me que ‘há muitas maneiras de se dizer a verdade e outras tantas de não se dizer a verdade’. E tu, Manuela, não nos estás a dizer a verdade toda, toda, toda… pelos menos, não dizes por palavras, o que, em rigor, vai dar ao mesmo.

Sim, eu sei que o deus Apolo estaria muito ocupado no dia em que tu nasceste, mas também pouco tens feito para pareceres menos… tenho de dizê-lo: FEIA. Manuela, uma ida a outro cabeleireiro, um par de dias num spa e um banho de compras poderiam fazer milagres pela tua imagem, que, temos de admitir, não é a imagem da dama de ferro que tu julgas que és e que pretendes ser. Na verdade, o teu problema é pareceres mesmo uma bruxa. Em Portugal, ouço já muita mãe a dizer ao seu mais novo rebento: Ou comes a sopa ou eu vou chamar a Ferreira Leite! Pelo menos, tens ajudado muita criança a alimentar-se melhor, mas…

Mas não é esse o teu único problema. O gordo do Durão também não era um primor em termos de imagem e vê lá onde é que ele está agora.

O teu maior problema, neste momento, é a tua relação com a verdade. Encheste o País de cartazes com a tua foto em tamanho grande, causaste milhares de acidentes e prometeste verdades aos portugueses. Mas não prometeste verdade alguma em concreto.

Ou não?

Ao olhar para os teus cartazes de fundo cinzento, percebi que, na verdade, estavas a transmitir-nos uma mensagem. Uma mensagem de verdade, claro. Dizes-nos, cromaticamente (e verdadeiramente), que o nosso futuro é cinzento. Por outras palavras (ou cores), queres dizer-nos que não há dinheiro para o que quer que seja e que estamos todos fodidos e bem fodidos. E através deste jogo de cores e palavras por soletrar, vais-nos dizendo a tal verdade.

Porém, Manuela, a verdade é que há muitas verdades e a tua é só uma delas. Estamos de tanga, como diria o Durão? Tudo bem, os portugueses elegem-te… MAS PARA RESOLVERES ESSE PROBLEMA! Não quero ouvir desculpas, não quero saber se há dinheiro ou não, se a crise fode tudo ou se fode alguns, se a economia está na merda ou nas nuvens. Se te elegermos é para que resolvas essa porra de uma vez: pões a economia e as exportações em alta, o défice em baixa, reduzes os impostos, dás mais abonos e ponto final. É para isso que pagamos a um primeiro-ministro, mulher!

Se não és capaz, problema teu: não concorras às Legislativas. Se é para encolheres os ombros, criticares o Sócrates e seres uma figura meramente decorativa, mais vale votar na Joana Amaral Dias ou na Ana Drago - elas, pelo menos, podem MESMO ser decorativas.

Espero que não te tenhas ofendido com os meus conselhos.

Muitas cartas de copas para ti e cumprimentos à família,

Do sempre teu,


Dr. Mento

terça-feira, 28 de abril de 2009

O EDITOR VAI A JOGO (1): A abertura

Ilustres convidados desta célebre casa de jogo de má fama, a equipa de edição tem o grato prazer de informar que as cartas já estão distribuídas. Todos são obrigados a ir a jogo e não são permitidas renúncias. Também não são permitidas queixas sobre o jogo que vos calhou em sorte. Aliás, falar em má sorte é conversa de mau jogador.

Nesta mesa de jogo, todas as cartas são permitidas. Até mesmo o Onze de Espadas, carta que, segundo os melhores especialistas internacionais em tarologia, significa: “Maledicência em estado puro. Atroz infâmia. Degredo intelectual sob a forma de calúnia desbragada”.

Se vos saiu o Onze de Espadas, não se queixem. O Dois de Paus poderia ser bem pior.



P’lo ilustre e magnânimo editor,

Dr. Mento