Antes mesmo de Manuela Ferreira Leite ter anunciado quem seria o cabeça-de-lista do PSD para as Eleições Europeias, já choviam críticas de toda a parte. Quando Paulo Rangel foi anunciado, choveram ainda mais críticas, ao ponto de o pântano onde os sociais-democratas chafurdavam se ter transformado num fétido lago de merda.
Na época, inúmeros analistas políticos e jornalistas (e bloguistas, já agora) consideraram a escolha de Paulo Rangel para cabeça-de-lista como um disparate monumental da líder social-democrata, já que o até então líder da bancada parlamentar do PSD era uma figura desconhecida do grande público, sem a projecção de um Luís Marques Mendes ou de um Marcelo Rebelo de Sousa (nomes que chegaram a ser amplamente falados, se bem se recordam). Houve muito quem também criticasse o facto de Manuela Ferreira Leite ter optado por divulgar o cabeça-de-lista às Europeias muito depois dos seus principais adversários na corrida ao Parlamento Europeu.
Curiosamente, no dia em que Paulo Rangel foi anunciado, elogiei, numa coluna de opinião (não digo onde a publiquei), a opção política de Manuela Ferreira Leite. Apesar de não gostar minimamente da senhora, confesso que fiquei favoravelmente surpreendido com o tacto político de uma figura que, reconheço, até então julgava ser um calhau com olhos. Foi a partir deste momento que reconheci que estava a subestimar a senhora e comecei a dar mais crédito a Ferreira Leite, apesar de continuar a achá-la homofóbica, racista e nada transparente nas suas políticas supostamente de verdade.
O que me levou a elogiar Paulo Rangel quando quase ninguém o fazia? Várias coisas.
Em primeiro lugar, é preciso ter em linha de conta que, com Legislativas e Autárquicas no horizonte mais próximo, nenhum partido vai querer jogar Ases e Manilhas numa vaza que muitos portugueses nem sequer sabem para que serve. Por isso, a generalidade dos partidos opta antes por lançar Valetes e Damas, que, ainda assim, têm de fazer alguns bons e saborosos pontos. Paulo Rangel ainda não é um Ás do PSD, mas pareceu-me um excelente Valete, com a vantagem de ser bastante jovem e de não estar conotado (e queimado) com anteriores governos de Cavaco Silva ou Durão Barroso (apesar de ter sido secretário de Estado no efémero executivo de Pedro Santana Lopes). Em suma, era uma figura pouco gasta, que representava, ao mesmo tempo, renovação e juventude, algo que figurões como Luís Marques Mendes não poderiam apresentar. Além do mais, por ser um homem de Manuela Ferreira Leite, Rangel evitava que um eventual sucesso nas Europeias não ficasse totalmente dissociado da líder, como sucederia no caso de Marques Mendes ou Marcelo avançarem - na verdade, se estes dois últimos vencessem, muita gente acharia que eles seriam melhores líderes do que a própria Ferreira Leite, o que só iria agravar a instabilidade dentro do PSD. Por fim, lembro-me (e é pena não ter o texto comigo) de elogiar o timing do anúncio - por ser demasiado tardio, pôs toda a gente a falar da escolha de Paulo Rangel e deu visibilidade a um candidato que muito carecia dela.
Há coisa de dois meses (quando esta mesa ainda nem um projecto era), consegui ver tudo isto. Tenho pena que muitos dos que falam em Rangel como a nova estrela da política portuguesa (há quem diga que será o futuro líder do PSD) não tenham percebido as vantagens deste candidato em tempo devido, sendo que as mesmas poderiam ser descortinadas com um pouco de reflexão sobre o assunto.
Na verdade, essa necessidade de reflexão é que me leva a não comentar os resultados das Europeias demasiadamente em cima do apuramento dos resultados. Até porque, se reflectirmos bem, os resultados escondem muitas verdades ocultas…
Notícias Ao Fim Da Tarde
Há 3 horas
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