Contemplar um céu nocturno polvilhado de estrelas e mais estrelas (embora muitas sejam planetas) é um daqueles prazeres que, por mais que tente, não consigo descrever por palavras. Por mais ateu que seja, é no momento em que olho para o céu que percebo a pequenez do meu ser diante da grandeza do Universo, esse todo abstracto e repleto de mistérios, essa entidade que quase se confunde com a divindade.
No entanto, esse é um prazer que raras vezes tenho. Para vos ser sincero, da janela do escritório cá de casa, vejo, isso sim, betão, betão e mais betão. Nada que me inspire, nada que me tire do estado depressivo em que, não raras vezes, me encontro. Porém, mesmo que quisesse contemplar o céu estrelado, tal prazer ser-me-ia vedado. Eu sou um dos muitos europeus que já não conseguem ver a Via Láctea.
No momento em que estas linhas são escritas, decorre em Sevilha a iniciativa Starlight, evento onde a real dimensão do problema da poluição luminosa foi posto a nu desta forma: 99 por cento dos europeus não conseguem observar as estrelas a partir das suas casas.
Em traços gerais, a poluição luminosa deve-se “à dispersão de luz na atmosfera durante a noite. A sua causa principal é a perda de quase 40 por cento de toda a luz artificial gerada na terra que, pela forma como está colocada, deixa escapar o fluxo de luz muito além da área a ser iluminada. Esse brilho nocturno acaba por ser prejudicial para o ambiente, consumindo mais energia do que é necessário e impedindo a visão dos objectos na Via Láctea, nomeadamente as estrelas” (citação de um texto da Lusa).
Ver as estrelas, mais do que um mero prazer banal, é um gesto de reflexão, um momento de poesia introspectiva, um instante de adoração divina (mesmo para um ateu como eu, sublinho). Sem esse prazer, deixamos de ser gente, somos resumidos a meros pedaços de carne e vísceras encaixotados entre paredes de betão.
Notícias Ao Fim Da Tarde
Há 3 horas
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