Cavaco Silva tinha de tomar uma decisão sobre a data para as Eleições Legislativas. Optou por marcá-las para 27 de Setembro, duas semanas antes das Autárquicas, que foram marcadas pelo Governo para 11 de Outubro.
Pessoalmente, até concordo com a decisão do Presidente da República, embora consiga ver vantagens e desvantagens em ambas as opções. Cavaco, que ouviu os seis partidos com assento parlamentar, teve igualmente de pesar muitos prós e contras.
Por isso, decidi fazer um exercício mental e tentar analisar os prós e contras de ambas as opções em cima da mesa e cheguei a estas opções (se descobrirem mais, por favor, apitem na caixa de comentários):
ARGUMENTOS A FAVOR DAS ELEIÇÕES NO MESMO DIA
- Numa altura de crise, seria necessário pagar apenas uma vez aos membros que irão integrar as mesas de voto.
- Os orçamentos das campanhas poderiam sofrer alguns cortes, já que os líderes partidários poderiam aproveitar um comício local para falar na mesma altura em que os candidatos às autarquias locais; por exemplo, se Manuela Ferreira Leite fosse fazer campanha em Sintra, poderia aproveitar para realizar acções conjuntas com Fernando Seara, o que sempre daria para poupar alguns cobres.
- Não perturbaria, duas vezes, o normal funcionamento das aulas em muitas escolas, logo no início de mais um ano lectivo.
- As Eleições Autárquicas costumam ser as mais participadas. A junção das Legislativas no mesmo dia seria uma forma de combater a abstenção nestas últimas.
- Realizar Eleições Autárquicas e Legislativas no mesmo dia, com quatro boletins de voto por eleitor (um para a Assembleia da República, outro para a Câmara Municipal, outro para a Assembleia Municipal e outro para a Assembleia de Freguesia) poderia ser uma prova de maturidade democrática para todo um povo e um elogio à sociedade civil; a confusão entre candidatos pode não ser assim tão grande quando recordo que, nas últimas Autárquicas, o PS venceu as eleições para a Assembleia de Freguesia onde moro (cuja presidente da Junta tem feito um óptimo trabalho), embora o PSD tenha sido, na mesma freguesia, a força mais votada para a Câmara e para a Assembleia Municipal - ou seja, os eleitores mostraram que sabem quem estão a eleger e souberam separar as águas.
ARGUMENTOS CONTRA AS ELEIÇÕES NO MESMO DIA
- Com campanhas simultâneas, iria gerar-se um enorme ruído de informação, com muita gente a não perceber se é x ou y quem promete uma nova estrada, uma nova escola, um novo centro de saúde, um novo hospital. Isto levaria, por exemplo, que os tempos de antena fossem um molho de brócolos sem nome e que as campanhas falassem, ao mesmo tempo, de fontanários em Serpins da Beira e de linhas ferroviárias de alta velocidade em bitola europeia como projecto estruturante ou ruinoso para o País.
- Os partidos iriam apelar ao voto de uma forma indiferenciada, desvalorizando os projectos locais em prol das campanhas nacionais. Por exemplo, o PS viria com a história de que era o partido que combate a crise, apelando a um voto generalizado, que não faz qualquer sentido quando existem 308 projectos concelhios e 4260 projectos a nível de freguesias, embora só haja um projecto de Governo nacional e de linha de acção para a bancada parlamentar.
- Quem, por impulso, sentir uma raiva enorme do Governo e quiser penalizá-lo fortemente, pode sentir-se tentado a votar, por exemplo, no PSD, nos quatro boletins de voto (o que poderia levar muita gente a fazer coisas como votar em Santana Lopes para a Câmara de Lisboa como forma de penalizar José Sócrates, o que, convenhamos, não faz qualquer sentido). A exploração deste sentimento anti-Governo e anti-Sócrates era o motivo inconfessável que levou o PSD a desejar ardentemente que as eleições se realizassem todas no mesmo dia.
- Os votos nas autárquicas poderiam, por outro lado, reproduzir-se nos votos para as Legislativas. Isto favoreceria também o PSD, mas o PS e a CDU também teriam a ganhar, já que têm uma boa expressão autárquica. Já o CDS-PP e o BE, que têm boa representação nacional e menor dimensão autárquica, poderiam ser penalizados no meio da confusão.
- Em muitos concelhos, há coligações entre partidos que não se repetem a nível nacional. Imaginemos, por exemplo, a campanha em Lisboa, Sintra ou Cascais, onde PSD e CDS-PP concorrem coligados e são muito amigos e tentemos transportar esta realidade para o País, onde tal aliança não existe, nem existirá; imaginemos Paulo Portas em campanha nestes concelhos, a dizer qualquer coisa como: “Aqui, o PSD é bom e é nosso amigo, mas, no resto do país, é uma merda de partido” (as palavras não serão estas, mas a ideia está lá).
Nota final: Este exercício é uma forma de demonstrar que cada opção tem coisas boas e más. Em política, tal como no futebol, são comuns as opiniões extremadas, as clubites agudas e uma posição de “eu estou certo, tu estás errado e és uma merda”. Nada disso. Se reflectirmos bem, a maior parte das opções que fazemos têm sempre prós e contras e ambos devem ser bem ponderados. Saliento que este exercício pode ser uma boa forma de pensarem bem em quem votar nas duas eleições que se adivinham - como não há candidatos perfeitos, analisem bem cada candidatura, pesem bem o que gostam e o que não gostam em cada uma e deixem que a balança do vosso intelecto vos dê um resultado final.
Notícias Ao Fim Da Tarde
Há 3 horas
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