As próximas Eleições Autárquicas vão ser as primeiras em que o mais populoso concelho do País não será Lisboa, mas sim Sintra. O facto de, neste momento, estarmos a falar do concelho onde mora mais gente (e gente a mais, digo eu), deveria levar as várias forças políticas à escolha de candidatos de primeiríssima linha, mas Sintra é um município estranho onde acontecem coisas estranhas.
Na verdade, Sintra é o concelho onde os partidos (refiro-me, sobretudo, aos do Bloco Central) deixam Duques, Ternos e Quadras em vez de Reis, Manilhas e Ases.
Do lado do PS, a escolha recaiu em Ana Gomes, a eurodeputada que muita notoriedade ganhou pelo barulho que fez em torno dos voos da CIA. Mais recentemente, Ana Gomes esteve envolvida numa polémica, juntamente com Elisa Ferreira, por causa do facto de ser cabeça-de-lista à Câmara de Sintra escassos meses após ter integrado e ter sido eleita pela lista do PS ao Parlamento Europeu.
O simples gesto de Ana Gomes em querer manter-se num lugar elegível para o Parlamento Europeu quando vai disputar as Autárquicas em Sintra mostra, para muitos, a táctica de jogar pelo seguro. Contudo, se pensarmos bem, mostra, isso sim, que Ana Gomes acredita tanto numa vitória em Sintra como em ganhar o Euromilhões e que o próprio PS sente que, no concelho mais populoso do País, nada há a fazer.
A escolha de Ana Gomes é tanto mais curiosa quando a própria concorreu à liderança da concelhia local… e perdeu. Curiosamente, uma das «bandeiras» que Ana Gomes tentou apresentar na sua candidatura à concelhia de Sintra foi a possibilidade de Fátima Campos, a conhecida presidente da Junta de Freguesia de Monte Abraão (sim, a autarca que travou uma luta duríssima contra a REN por causa da Linha de Muito Alta Tensão Famões-Trajouce), ser a cabeça-de-lista do PS para a Câmara de Sintra. Curiosamente, Ana Gomes usou Fátima Campos como «isco» para ver se conseguia ganhar a concelhia, mas não perguntou à própria se estaria interessada - e, de facto, Fátima Campos não está para isso (quem a conhece, surpreender-se-ia com o oposto). Ou seja, o PS escolhe para a Câmara um nome que, internamente, já havia sido derrotado.
Isto significa que, salvo alguma catástrofe, a Câmara de Sintra continuará a ser liderada pelo ilustre benfiquista Fernando Seara e pela Coligação Mais Sintra (PSD/CDS-PP/PPM/MPT).
Porém, em 2001, a história era diferente. Na época, ninguém, no seu perfeito juízo, apostava numa derrota do PS e de Edite Estrela em Sintra, sendo que mesmo as primeiras projecções de resultados (feitas com base nas sondagens à boca da urna, as mais fiáveis que se produzem) davam como mais provável a vitória da estrelinha cor-de-rosa. Para surpresa de muitos, foi, na verdade, Fernando Seara quem ganhou, ele que aceitara concorrer a Sintra numa perspectiva de fazer campanha, perder e ir à sua vida. Só que o benfiquista de plantão ganhou e teve de fazer pela vida em Sintra (mesmo perdendo dinheiro com esta opção, como ele próprio confessou a alguém próximo do vosso Dr. Mento).
Pelo meio, tivemos a candidatura de João Soares em 2005. Sim, é um nome forte, mas… sabem, nesta altura, já o filho do fundador do partido tinha perdido as Autárquicas em Lisboa (em 2001, para Pedro Santana Lopes) e as Directas no PS (para José Sócrates). Sintra foi mesmo um último recurso e uma boa maneira de o habilidoso Sócrates atirar o seu antigo adversário (e o segundo grande nome da corrente soarista dentro do PS, logo atrás do pai) para uma derrota capaz de o incapacitar politicamente para todo o sempre. Meses depois, com a derrota de Mário Soares nas Presidenciais, ficou escrito o epitáfio do poder dos soaristas dentro do PS.
Notícias Ao Fim Da Tarde
Há 3 horas
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