terça-feira, 26 de maio de 2009

A MANILHA VAI SECA (13): Estrasburgo e o meu querido mês de Junho

Uma das maiores falhas da União Europeia é a inexistência de uma lei eleitoral única para as Eleições Europeias, que, salvo umas quantas normas, continuam a realizar-se ao abrigo das legislações eleitorais vigentes em cada um dos 27 estados-membros. Uma das poucas normas comuns diz respeito justamente ao facto de as eleições terem de se realizar entre a quinta-feira e o domingo de uma mesma semana.

Isto significa que, apesar de a legislação eleitoral portuguesa conferir ao Presidente da República o poder (e a obrigação) de marcar a data para as Eleições Europeias (desde que o faça com 60 dias de antecedência), na prática, Cavaco Silva só tinha como alternativa o dia 7 de Junho.

Sucede que este domingo antecede uma semana com dois feriados (10, quarta-feira e 11, quinta-feira), que, decerto, será aproveitada por muitos para uma semana de repouso, justamente num dos meses mais agradáveis do ano. Na verdade, com apenas três dias de férias, será possível gozar nove dias de descanso, o que não deixa de ser um excelente negócio para muitos trabalhadores portugueses.

Esta semana mágica começará na tarde/noite de sexta-feira, dia 5, e só terminará ao cair do dia 14, domingo. Isto significa que as Eleições Europeias, que registam sempre níveis de abstenção brutais em toda a Europa, vão calhar a meio desta semana sacrossanta.

“Espero que a campanha decorra com serenidade, que seja uma campanha esclarecedora e que mobilize os portugueses para que, no dia 7 de Junho, não fiquem em casa, não vão de férias, não aproveitem os feriados que vêm a seguir e compareçam nos locais de voto e exerçam o seu direito cívico”. Quem tais palavras proferiu chama-se Aníbal António Cavaco Silva e é um ilustre economista e político português, que, nascido em Boliqueime ao 15.º dia do mês de Julho do ano de 1939, guindou a sua bem-sucedida carreira pública até subir ao mais alto degrau que um cidadão luso pode almejar: a Presidência da República.

Pois é, meu caro Aníbal, bem te podes queixar da má sorte de teres de marcar eleições para uma semana tão repleta de tão saborosos feriados (o 13 de Junho, em Lisboa, não conta, porque calha a um sábado). Ainda por cima, a semana de doces dias de lazer tem lugar naquele mês em que as tépidas águas do mar bailam por entre areais dourados, que, com o seu chamamento mágico, fazem cair nas suas garras (ou areias) centos e mais centos de eleitores.

Contudo, a verdade é que a realização da semana das Eleições Europeias é decidida em Estrasburgo, uma cidade sem praias, nem mar. Poder-se-ia argumentar que o Parlamento Europeu não pode tomar em atenção todas as especificidades locais de todos os 27 estados-membros e que os ilustres eurodeputados não podem estar a marcar as eleições noutra data por causa de Portugal, das suas praias e dos seus calores amenos de Junho.

Na verdade, há quem argumente que o Parlamento Europeu se está a cagar para Portugal. Mas se em Portugal e nas suas especificidades cagam, que os eurodeputados não contem com a merda do voto dos portugueses.

3 comentários:

FERNANDINHA & POEMAS disse...

OLÁ AMIGO... ADOREI O TEXTO, MARAVILHOSA VISÃO DA REALIDADE... ABRAÇO DE CARINHO,
FERNANDINHA

SILÊNCIO CULPADO disse...

Dr.Mento

Num País recessado e cheio de dificuldades quem preferir a praia ao dever cívico de contribuir para a necessária mudança merece a sorte que lhe couber.
Ainda bem que as eleições são a 7 de Junho.


Abraço

Mª João C.Martins disse...

Caro Dr. Mento

Hoje coloquei a leitura do teu blogue em dia. Andei tão "distraída" a trabalhar que me esqueci de como o tempo passa rápido e do quanto me deixei atrasar...
Mas li tudo direitinho, e quantas novidades aqui encontrei... até ao YouTube fui, para ver o noticiário de sexta... imagina como tenho andado distraída mesmo!
Bem, mas sobre as eleicões, a praia e o dever cívico, ocorre-me dizer-te o seguinte:
É certo que andamos todos tristes, desiludidos, deprimidos, revoltados e muito mais...
Mas já andamos a enfiar a cabeça, o pescoço e tudo o resto na areia, há demasiado tempo, e por isso não passamos " da cepa torta" que de tão torta já nem dá uva nem parra.
Parece-me pois, urgente, sacudir a poeira e tomar posições face ao que realmente desejamos que mude.
Caso contrário o protesto a posteriori, será como colocar trancas na porta da casa que já se deixou roubar!

Um abraço