sexta-feira, 31 de julho de 2009

A MANILHA VAI SECA (69): Arroz de empato (técnico, pois claro)

A estranha expressão “empate técnico” continua bastante em voga, embora, na verdade, a mesma tenha um significado algo vago. Por norma, em sondagens eleitorais, costuma falar-se em empate técnico quando, estatisticamente, o erro máximo da amostra é superior à diferença percentual entre dois candidatos. Só que uma sondagem que inclui indecisos (para além de votos brancos e nulos) parte de uma base que, no dia das eleições, não tem representação, já que a indecisão não tem forma de ser exprimida em termos de votos - pode, quanto muito, resultar em abstenção.

De acordo com a mais recente sondagem RR/SIC/Expresso (feita pela Eurosondagem), esta situação aplica-se, actualmente, ao PS (33 por cento das intenções de voto) e ao PSD (31,1 por cento), para uma margem de erro de 3,04 por cento. Se não leram ainda os números da sondagem, refiro já que o BE aparece com 10 por cento, a CDU com 9,4 e o CDS-PP com 8,5. O número de indecisos anda pelos 22,8 por cento.

Independentemente do dito empate técnico, e descontando os possíveis erros subjacentes a qualquer sondagem, parecem bastante óbvias algumas tendências. Em primeiro lugar, estas eleições vão ser disputadas voto a voto, sendo que qualquer escândalo, declaração mal medida, incidente ou descoberta jornalística pode fazer pender a balança para um dos lados. Por outro lado, parece notório que os dois partidos do Bloco Central poderão não atingir 70 por cento dos votos, havendo também alguma dispersão pelas outras forças com representação parlamentar. Em termos de estabelecimento de coligações e acordos, as coisas podem complicar-se bastante, excepto se houver mesmo uma reedição do Bloco Central (cenário que, bem vistas as coisas, não pode ser completamente descartado, como já disse várias vezes).

No entanto, relembro que, nas Legislativas, o que conta mesmo é o número de deputados eleitos pelos vários círculos, através do Método d’Hondt. Isto explica porque é que há maiorias absolutas com menos de 50 por cento dos votos, embora, neste momento, essa hipótese pareça remota.

Seja como for, esta aproximação entre PS e PSD deverá, por um lado, produzir uma campanha extremamente animada, mas, por outro lado, deverá conduzir a trocas de insultos e acusações de parte a parte que nada dignificarão a política portuguesa. São também esperados muitos escândalos descobertos, por acaso, nesta altura, embora se reportem a factos acontecidos há alguns anos. Vai haver muita lavagem de roupa suja e uma crispação ideológica entre supostos bons e alegados maus. Teremos, igualmente, muito ruído por nada, como sucedeu no caso do convite a Joana Amaral Dias pelo PS, que, apesar de ter feito as delicias de comentadores e bloguistas, mais não foi do que um chinfrim dos diabos por nada.

As próximas semanas prometem muito barulho e uma ou outra ideia de jeito. Os debates poderão ter algum peso no resultado final de 27 de Setembro, mas tenho cá uma bola de cristal que me diz que serão os golpes baixos a definir quem vence e quem perde. Quanto às sondagens, depois das Europeias, vão deixar de influenciar o eleitorado da forma que o faziam anteriormente.

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