Vamos partir do princípio que José Sócrates e o PS estão mesmo na mó de baixo, sem ânimo para esboçarem uma jogada de contra-ataque até ao dia das Eleições Legislativas. Vamos mesmo partir do princípio que o primeiro-ministro está farto de o ser e que, a partir de finais de Setembro, quer é sopas e descanso e, por isso, até vai agradecer se perder as eleições.
Se Sócrates perde, é Manuela Ferreira Leite quem ganha, não é?
Se calhar… não.
O PSD tem, no dia 27 de Setembro, uma oportunidade histórica para poder regressar ao poder. Mas, este arrisca-se a ser um Governo inacreditavelmente efémero, se Manuela Ferreira Leite não se aperceber da ratoeira que lhe estão a preparar. Por isso, se Ferreira Leite quer mesmo ser primeira-ministra por mais do que uns meses, vai mesmo ter de arranjar uma maioria absoluta, seja apenas com os votos do PSD, ou através de uma coligação que reedite a AD ou o Bloco Central.
Mas por que cargas de água estou eu a traçar tal cenário, tão drástico e aparentemente exagerado?
Por esta altura, já a população portuguesa está mais do que preparada para o pior. Dia a dia, vou perdendo a conta os novos infectados e, bem vistas as coisas, estamos ainda em pleno Verão. Quando chegar o Outono, o número de infectados vai subir drasticamente, especialmente nas escolas e jardins-de-infância, onde a concentração de pessoas numa pequena sala é propícia a todo o tipo de contaminações; muitas pequenas e médias empresas não têm dinheiro para planos de prevenção face à Gripe A e assumem mesmo que confiam na sorte. Para juntar a tudo isto, o Ministério da Saúde já fez saber que as vacinas para a Gripe A estarão disponíveis lá para finais de Novembro, depois de passado o pico das contaminações.
Trocando por miúdos, as estimativas que apontam para a possibilidade de 25 por cento da população portuguesa acabar por ser contaminada começam a parecer-me estranhamente realistas e, se calhar, optimistas. Mas já se sabe que o Sistema Nacional de Saúde não tem capacidade para fazer face a uma pandemia de Gripe A.
Temo mesmo que o pior possa acontecer e que, em Portugal, haja vítimas mortais por causa da Gripe A. E se, entre as vítimas, estiverem crianças, já se sabe que a comunicação social vai explorar o caso ao máximo, criando aquele discurso de pedir a cabeça dos responsáveis. Só que, partindo do cenário descrito anteriormente, quem estará na liderança do Governo nesta altura será justamente o PSD, embora a trapalhada das vacinas seja da responsabilidade do PS. Mas se o PSD não tiver forma de resolver o problema no mais curto espaço de tempo, certo é que cabeças vão rolar - provavelmente, o primeiro ministro da Saúde não irá nem aquecer a cadeira.
Logo em seguida, teremos as outras consequências indirectas da Gripe A, como sejam as escolas fechadas e os atrasos nas aulas e programas para o ano lectivo. As empresas poderão sofrer horrores, com muitos trabalhadores de baixa, seja para tratarem da própria gripe, seja para prestarem assistência a familiares.
Perante um cenário destes, o que podem fazer os partidos da oposição diante de um Governo minoritário a quem toda a gente pede responsabilidades pela pandemia de Gripe A?
APRESENTAR UMA MOÇÃO DE CENSURA.
Se 116 deputados votarem favoravelmente a moção de censura, o Governo cairá imediatamente, consoante o que vem expresso na alínea f do artigo 195.º da Constituição da República Portuguesa.
Perante tal cenário, o Presidente da República será chamado a desempenhar um papel decisivo na matéria, mas Cavaco Silva teria de jogar habilidosamente com a situação, já que também ele irá a votos no início de 2011. Ou seja, os níveis de popularidade do Governo e a possibilidade ou não de o PSD ser eleito num novo sufrágio irão determinar a decisão de Cavaco Silva, que não quererá manchar a sua própria imagem a pouco tempo de ele próprio ir disputar uma eleição.
Basicamente, Cavaco pode nomear um novo Governo do PSD, provavelmente sem Manuela Ferreira Leite, mas só o fará se as sondagens disserem claramente que a manutenção dos sociais-democratas no poder representa a vontade da maioria. Caso Cavaco actue para beneficiar o PSD contra a opinião dos portugueses, estará a comprometer, em definitivo, a sua reeleição. Por isso, em caso de dúvida, Cavaco deverá optar por convocar novas eleições, as quais darão a vitória… ao PS? Ao BE? Ao PNR? Bem, para adivinhar o hipotético vencedor de umas eleições altamente hipotéticas que sucederão a um Governo ainda hipotético, nem os meus dotes de leitura de cartas de Tarot chegam.
Mas o que é verdade é que, para o português comum, a saúde é um dos bens que estão à frente de tudo o mais. E quando digo à frente, quero dizer que supera a importância dada, por exemplo, à educação, à cultura, às finanças ou à economia. Caso se confirme a contaminação de 25 por cento da população, Portugal em peso irá voltar-se contra o Governo que não protegeu os cidadãos da Gripe A, ainda que as responsabilidades de um Executivo recém-empossado possam até ser relativamente reduzidas.
Por isso, Manuela, se queres manter o rabo sentado na cadeira do poder por mais do que uns meses, toma atenção ao que eu te digo: Ataca, logo desde início, a Gripe A e faz o que for possível e impossível para que os efeitos da pandemia quase nem se façam sentir. Isto, é claro, se venceres as eleições a 27 de Setembro, tarefa que ainda não demonstraste ser capaz de cumprir.
O que eles disseram faz agora dez anos
Há 1 hora
Sem comentários:
Enviar um comentário