“No dia 7 de Junho, vamos mesmo votar para quê?”
A pergunta foi-me dirigida por uma amiga na passada sexta-feira, a meio de uma amena cavaqueira. Curiosamente, já outras pessoas me tinham feito a mesma questão.
Há cartazes e outdoors por toda a parte. Há notícias e debates nos jornais, nas rádios, nas televisões. Há comícios e iniciativas políticas por toda a parte. Ninguém liga. De súbito, Portugal é tomado por uma estranha letargia que faz com que toda a elite política cá do burgo se tivesse transformado em algo tão visível como um Dez de Paus num jogo de Sueca.
Eleições Europeias.
Diz-vos alguma coisa?
Se calhar, o problema não será exactamente esse. Se calhar, deveria colocar a questão noutros termos: Europa, diz-vos alguma coisa?
Sabemos que somos europeus porque tal nos foi ensinado na escola. Geograficamente, faz sentido. Além do mais, sabemos que não somos africanos, nem asiáticos. Ou seja, devemos ser europeus. E acabou por aí. O “Nós, Europeus” de Vital Moreira e do PS é muito bonito, dá um ar sofisticado à coisa, mas nada diz à esmagadora maioria dos portugueses. Na verdade, nada diz à esmagadora maioria da classe política portuguesa, que parece mais interessada em discutir assuntos de índole interna (já com as Legislativas em mira) do que em debater as verdadeiras questões da União Europeia, as quais não se esgotam na adesão da Turquia ou no Tratado de Lisboa. Há matérias relacionadas com trabalho, direitos humanos, migrações, ambiente, economia, finanças e muitos outros temas que deveriam fazer parte dos debates e das conversas do dia-a-dia…
Isto se os portugueses fossem, de facto, europeus.
Uma das questões mais analisadas quando se olha para a tabela da Liga Sagres é ver quem consegue o acesso às competições europeias. “Ir à Europa”, como vulgarmente se diz. Dito assim, parece que os clubes portugueses jogam num campeonato extra-europeu, um pouco como sucede com Israel.
Quando José Manuel Durão Barroso abdicou do cargo de primeiro-ministro de Portugal para presidir à Comissão Europeia, muitos proferiram a sentença: “Fugiu para a Europa”. Não só não fugiu, como, tecnicamente, nunca deixou de estar no Velho Continente. Mas, na prática, Lisboa e Bruxelas pertencem a continentes diferentes.
Há, em tudo isto, um resquício do “Orgulhosamente Sós” do Estado Novo. Mas há também uma forma de sentir de um povo, que imagina a Europa como sendo composta por países como a Alemanha, França, Grã-Bretanha, Bélgica, Suécia, Dinamarca, Finlândia ou os Países Baixos. Há um povo que sente que, entre Portugal e Espanha, há um fosso de desenvolvimento (que começa nas próprias mentalidades) demasiado grande para poder considerar que ambos os países pertencem ao mesmo continente. E se tão grande é a distância de Lisboa para Madrid, o que não dizer do caminho para Paris, Londres ou Berlim. Tomamos como referência os mais desenvolvidos países do Velho Continente e sentimo-nos pequeninos, insignificantes, distantes… e diferentes dos europeus.
É um estado de alma.
Por isso, o Dr. Mento não necessita de ver as cartas que saíram a cada um para saber como vai acabar este jogo: Com uma abstenção superior a 60 por cento.
Querem apostar?
domingo, 24 de maio de 2009
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1 comentário:
Dr.Mento
As próximas eleições vão decorrer num período particularmente amorfo no que respeita à UE, aos seus projectos e ao seu significado.
Penso que ninguém está motivado para estas eleições até porque, a ser reeleito Durão Barroso, não podemos esperar grandes mudanças. Mudanças aliás absolutamente necessárias face aos novos paradigmas surgidos da crise económica global e da UE em particular.
No entanto o voto pode exercer-se num determinado sentido de contestação a esta UE decrépida da qual faz parte um Portugal diminuído e recessado.
Abraço
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