quarta-feira, 27 de maio de 2009

CHARLIE E A FÁBRICA DE CARTAS (2): A felicidade como arma para combater a crise

Crise, felicidade e Jenson Button num mesmo post?

Não, não, não, o Dr. Mento (ainda) não ensandeceu de vez.

Pelo menos, por enquanto.

Tudo faz sentido e todas as peças podem encaixar-se.

O percurso do inglês Jenson Button no mundial de Fórmula 1 é, na verdade, o exemplo perfeito de como um empregado feliz pode ajudar a sua empresa a conseguir tudo aquilo que almeja: mais produção, mais resultados, mais lucros, mais quota de mercado. Porém, esta história mostra-nos também que, para um empregado poder estar a 200 por cento numa empresa, esta necessita, primeiramente, de mostrar qualidades àqueles que emprega. Para muitos empresários, é o empregado quem deve mostrar aquilo que vale, mas Button mostra-nos precisamente o contrário.

Há muitos anos que acompanho o mundial de F1 e, mentalmente, já havia classificado Jenson Button como mais um “good, but not good enough” (“bom, mas não bom o suficiente” [para ser campeão, entenda-se]”.

Enganei-me.

Lembro-me perfeitamente do bom ano de estreia na Williams, em 2000 e do facto de, aos 20 anos, se ter tornado no mais jovem piloto de sempre a pontuar num Grande Prémio de F1 (o recorde manteve-se intacto até 2007). Como o contrato de Button com a Williams era válido apenas por um ano (a equipa de Sir Frank queria apenas aquecer o lugar para o colombiano Juan-Pablo Montoya, então visto como o próximo génio do automobilismo internacional), o jovem inglês encontrou um volante na Benetton, que então realizava a sua temporada de despedida após ter sido comprada pela Renault. Com um carro difícil nas mãos, Button teve uma temporada miserável e quase foi despedido, mas acabou por ser mantido em 2002, ano que assinalou o regresso da equipa Renault à F1. Em 2002, Button melhorou de forma, mas nada que justificasse as expectativas geradas pela imprensa britânica após a temporada de 2000.

Em 2003, Jenson Button muda-se para a BAR-Honda, onde encontra um ex-campeão do Mundo, Jacques Villeneuve, como companheiro de equipa. Button não só ofuscou completamente Villeneuve, como conquistou os favores do patrão da BAR, David Richards. Em 2004, ano de domínio completo da Ferrari, a BAR acabou por ser guindada à segunda posição do mundial de construtores, muito graças às excelentes exibições de Jenson Button, que, curiosamente, só conseguiu subir a um pódio na sua quinta época na categoria máxima. Em 2005, apesar de vários contratempos (nomeadamente a suspensão da BAR por duas corridas devido a uma falcatrua encontrada no depósito de combustível), Button tem uma nova temporada de bom nível.

Em 2006, a BAR é comprada pela Honda, que assim voltava a ter uma equipa a tempo inteiro na F1. Com um carro bastante bom, Button vence o Grande Prémio da Hungria e tem uma segunda parte de temporada de altíssimo nível. Porém, em 2007 e 2008, a Honda produz monolugares de fraquíssima qualidade e os resultados de Button ressentem-se disso mesmo - em dois anos, o melhor que conseguiu foi um quinto posto. Mas, para 2009, as expectativas eram bem superiores, já que o monolugar havia sido concebido sob a direcção técnica do inglês Ross Brawn, um dos grandes responsáveis pelos títulos de Michael Schumacher na Benetton (1994 e 1995) e na Ferrari (de 2000 a 2004).

Entretanto, vem a crise financeira mundial, geradora de uma outra crise, desta feita no sector automóvel. Diante de quedas de vendas absolutamente abismais (especialmente no mercado norte-americano), a Honda decide desfazer-se da sua equipa de F1 e, após um processo negocial bastante delicado, opta por um management buyout - ou seja, a equipa é trespassada aos anteriores gestores, com a Honda a assegurar apenas uma parte do orçamento para a temporada. Como todos sabem, foi assim que nasceu a Brawn GP, liderada pelo «mago» Ross Brawn, que chegou ao primeiro Grande Prémio do ano com um carro muito bem-nascido, apesar de pouquíssimo testado.

Com um excelente carro nas mãos e uma equipa inteiramente do seu lado, Jenson Button é agora um homem feliz. Como a felicidade nunca é demais, decidiu fazer também de Ross Brawn um homem feliz, vencendo cinco das seis corridas até agora disputadas. Com um estilo de pilotagem limpo, Button é daqueles pilotos que apenas dá tudo por tudo nos momentos em que tem que dar, o que explica, por exemplo, algumas pole-positions de última hora - ou seja, com Button a conquistar o melhor tempo na terceira qualificação (a que define os dez primeiros lugares da grelha), quando não havia sido o mais rápido nas duas primeiras mangas.

Button está feliz, está a pilotar de forma soberba e autoritária e é um seríssimo candidato a vencer o mundial deste ano. Na verdade, há quem diga que já tem o título no bolso.

Acarinhado e estimado por Ross Brawn, Jenson Button é um empregado produtivo e altamente rentável. Curiosamente, quando passou pela Benetton e pela Renault, este jovem inglês era fortemente criticado pelo seu «chefe», o italiano Flávio Briatore, o que acabou por ter naturais reflexos nos resultados conquistados. Briatore e Button nunca fizeram uma boa dupla patrão-empregado.

Jenson Button não é o piloto mais completo da actual F1, faltando-lhe, por exemplo, aquela capacidade de trabalho que se via num Michael Schumacher. Não é capaz de milagres como os de um Ayrton Senna e não baterá os recordes de juventude de Lewis Hamilton ou de Sebastien Vettel. Também não faz ultrapassagens loucas e inacreditáveis como as de Gilles e Jacques Villeneuve (pai e filho) ou as de Juan Pablo Montoya.

Contudo, é um bom piloto, detentor de um estilo limpo à Jackie Stewart ou à Alain Prost. Precisa de ser acarinhado para estar motivado e precisa que a equipa trabalhe bem para ele poder trabalhar bem. Precisa estar feliz para poder espalhar a felicidade à sua volta.

Muitos patrões não compreendem o valor da felicidade daqueles que empregam. Se percebessem, seriam muito mais ricos… e campeões, como, decerto, Ross Brawn vai ser este ano.

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