segunda-feira, 11 de maio de 2009

A MANILHA VAI SECA (5): Um rápido mergulho na blocosfera

A menos de um mês das eleições, deveríamos estar todos a falar de Europeias. Mas não, fala-se de Legislativas e, mais do que isso, fala-se do que vai acontecer depois das Legislativas.

Nos últimos dias, a agenda política nacional parece ter sido apoderada por uma questão: e se, depois das Legislativas, houver um novo Bloco Central, reeditando a coligação que existiu entre 1983 e 1985, com Mário Soares como primeiro-ministro?

A esta pergunta, muitas figuras do PS e PSD respondem com um veemente não, alegando que, actualmente, os dois partidos estão nos antípodas do Mundo, apresentando programas eleitorais e/ou de Governo que não só não são convergentes, como também não são conciliáveis. Depois, há aqueles que, como José Pacheco Pereira, alegam que, na verdade, a reedição do Bloco Central mais não é do que uma invenção de uma classe desprezível de jornalistas, que, ao invés de se centrarem nos factos, inventam-nos e lançam-nos para a praça pública.

Porém, meu caro Pacheco Pereira, certo é que, em política, há muitas formas de se dizer a verdade e outras tantas de não se dizer a verdade. E as verdades, já se sabe, são como os chapéus: há muitas. E a tua verdade é apenas mais uma. Na verdade, nem sequer é mesmo uma verdade, do mesmo modo que, nesta questão, tu não consegues ser isento.

Vejamos umas quantas coisas.

Por culpa da crise económica e financeira, mas também muito por culpa própria, o PS não vai conseguir reeditar a maioria absoluta nas Legislativas de 2009. Na realidade, pode nem sequer conseguir qualquer maioria, se a situação do País se agudizar a um ponto tal que leve o eleitorado a gritar: “Livrem-nos do Sócrates, que venha a bruxa!” Mas, mesmo que o PSD de Manuela Ferreira Leite vença as Legislativas, será sempre em situação de maioria relativa. É por isso que a questão do Bloco Central já era falada há algum tempo, embora sem grande alarido.

Sendo assim, o que terá feito ressuscitar este fantasma da década das botas de borracha com olhos de sapo? Basicamente, a entrevista de Jorge Sampaio ao Diário Económico, na qual o ex-Presidente da República admite publicamente a possibilidade de haver um novo Bloco Central. E, muito sinceramente, não creio que estas palavras tenham sido proferidas sem segundas intenções. Na verdade, nem me surpreenderia se Sampaio fosse um pau-mandado do próprio Sócrates.

Desde que disputou as primeiras eleições, em 1999, até hoje, o Bloco de Esquerda tem vindo sempre a subir, transformando-se numa anomalia bizarra e ilógica na história política portuguesa. Nunca, desde 1974, um partido saiu das margens do espectro político português para a Assembleia da República, mantendo a sua representação parlamentar. Mas o BE fez mais do que isso: aumentou a sua representação, ganhou o respeito da sociedade e, neste momento, há muitas sondagens que indicam que será a terceira força política logo a seguir ao Bloco Central.

Logo em 1999, quando nasceu, o BE fez a vida negra ao PS, ao desviar votos de uns quantos descontentes com o partido que só é socialista de nome. Na época, se bem se recordam, António Guterres ficou sem a maioria absoluta por causa da eleição dos dois deputados do Bloco. Actualmente, as sondagens dizem que o PS de José Sócrates pode vir a sofrer um revés semelhante, mas com um Bloco de Esquerda mais poderoso e capaz mesmo de tentar uma aliança com o grupo de Manuel Alegre.

Ora, Sócrates sabe o perigo que o BE representa e é por isso que quer, a todo o custo, travá-lo antes que seja tarde demais. Por isso, usando Sampaio como mensageiro (e o nosso ex-Presidente é homem para se prestar a um papel destes), o PS faz chegar a ameaça a eleitorado: “Ou vocês votam todos no PS ou nós montamos um novo Bloco Central”.

Entre os que são/que se dizem de esquerda, especialmente entre a malta que andará pelos 30 anos, ninguém quer ouvir falar no nome de Manuela Ferreira Leite… e muito menos imaginar a senhora instalada num Governo com José Sócrates.

No fundo, o Bloco Central é, sobretudo, uma ameaça e uma tentativa desesperada de (re)bipolarizar a vida política portuguesa em torno de PS e PSD. É uma jogada desesperada, mas Sócrates é um homem desesperado, especialmente depois de ter perdido votos e credibilidade com os inúmeros casos judiciais/jornalísticos em que o seu nome surgiu envolvido.

Mas não se pense que não haverá Bloco Central depois das Legislativas, embora isso seja assunto para outro post, que este já vai longo. Seja como for, acredito que uma nova união entre PS e PSD não é um tema a descartar completamente.

Para finalizar, queria só dizer uma coisa: Curiosamente, se houver um Bloco Central, quem mais ganhará com isso será o próprio Bloco de Esquerda. Se as Legislativas confirmarem o BE como terceira força política no Parlamento, um Bloco Central promove automaticamente o outro Bloco, o de Esquerda, à liderança da oposição. Como não se espera que um Governo do Bloco Central seja um mar de rosas ou, sequer, que termine bem, o partido de Francisco Louçã poderá ter, finalmente, uma oportunidade de ouro para ganhar as eleições. E Louçã é hábil e talentoso o suficiente para conseguir captar os portugueses - aliás, esse é um dos factores que explica a longevidade do BE na Assembleia da República.

1 comentário:

SILÊNCIO CULPADO disse...

Dr.Mento

A situação do País, e a situação da Europa em que o País se insere, só podem ser resolvidas com medidas de fundo que, por sua vez, só podem ser implementadas por quem não esteja comprometido com as anteriores governações.
Os USA estão a dar sinais positivos, ainda que ténues, porque tiveram a sorte de ter um Barack Obama com ideias novas ainda que num quadro de comprometimento com figuras do passado admitindo que, para sair da crise as rupturas possam ser perigosas.
Nós temos que recomeçar sem Sampaios, nem Pachecos, nem Soaristas, nem Ferreiristas, nem Cavacos ou Cavaquistas nem Portas nem todos os afins dos atrás citados.
Precisamos de alguém que apresente um projecto diferente em que se acredite.
Abraço