Diz o Wall Street Journal que o Google está a desenvolver um algoritmo capaz de identificar todos os trabalhadores susceptíveis de poderem abandonar a empresa. Isto porque o celebro grupo com sede na Califórnia perdeu recentemente vários quadros superiores e quer, a todo o custo, estancar aquilo a que o Wall Street Journal chamou de “hemorragia de cérebros”.
Basicamente, o Google, para continuar a ser competitivo no ultracompetitivo universo da Internet (onde é um dos grandes nomes de peso), quer manter os seus melhores empregados.
Só que, claro está, isto passa-se nos Estados Unidos. No mundo civilizado, acrescenta-vos o Dr. Mento.
Em Portugal, uma das razões que explica a parca competitividade de muitas das nossas empresas reside justamente no pouco valor dado às qualificações, habilitações literárias e desempenho profissional dos trabalhadores. O privilégio vai todo para a mediocridade e para os baixos salários, o que, em sectores altamente especializados e/ou competitivos, é algo totalmente irrealista.
A aposta nos baixos salários como forma de poder apresentar um produto a baixo custo só funciona em países em vias de desenvolvimento e que não queiram dar o salto para o patamar seguinte. E, neste aspecto, Portugal está terrivelmente mal posicionado, já que não tem salários tão baixos como outros países (o que origina as temidas deslocalizações), está situado na periferia da Europa (algo terrível em tempos de alta do preço do crude), mas não tem uma cultura empresarial e laboral digna do estrato seguinte.
No fundo, Portugal é um país entre dois degraus, num equilíbrio precário que a crise do crédito de risco norte-americano veio desfazer por completo.
Quando a economia, em termos globais, começar a recuperar, todos os países/mercados/empresas que, ao longo dos anos, apostaram em força em I&D (acho piada a esta forma de escrever “investigação e desenvolvimento”), vão estar numa posição substancialmente mais forte, já que poderão ter soluções/produtos/serviços inovadores e competitivos para apresentar quando os mercados entrarem na retoma.
Há muito quem, neste momento, tenha ases de trunfo para jogar, mas que tenta guardá-los para uma vaza que não tenha apenas duques, ternos e quadras (lembro-me, por exemplo, da General Motors com o Chevrolet Volt, o automóvel que promete dar o passo seguinte na massificação dos híbridos). Mas há também quem aproveite a crise para jogar cartas altas, de molde a conseguir, pelo menos, fazer os pontos que permitam sobreviver a este jogo muito duro que está, neste momento, em cima da mesa.
Ainda assim, sei que há empresas que privilegiam os seus cérebros e que fazem de tudo para que estes estejam felizes. A essas, o meu aplauso, que, obviamente, não é extensível à generalidade do tecido empresarial luso, onde encontramos grandes empresas geridas de uma forma que levaria uma mercearia de bairro à falência em três tempos (conheço inúmeros casos assim).
Na verdade, como é que podemos esperar que os nossos patrões dêem valor algum aos seus cérebros, quando eles próprios são desprovidos de um?
Belles toujours
Há 2 horas
3 comentários:
Dr.Mento
Os patrões não estão desprovidos de cérebro. Se estivessem não enriqueciam como enriquecem e basta ver como se vendem os "topo de gama" de carros andares e viagens.
Poderás dizer que quem vive apenas para enriquecer numa cultura egocêntrica e sem calor humano, é alguém muito pobre apesar dos bens que acumulou e dos consumos de elite que os mesmos lhe permitem.
Claro que esta cultura do rebaixamento das qualificações diminui o país que as pratica porque estas coisas só acontecem com conivências a alto nível. Ainda recentemente, o grande Belmiro de Azevedo (não tem cérebro?) afirmou que ou se despedem metade dos empregados ou se pagam metade dos salários. E isto tendo em conta que as empresas do Grupo Sonae pagam mal e porcamente mesmo sem estas medidas de correcção.
Que fazer então? Votar contra os interesses instalados não permitindo que eles continuem através da eleição dos partidos que os sustentam.
Abraço
Estava a ler o teu artigo e inevitávelmente pensei na minha profissão, na desvalorização que tem sofrido, numa conjuntura marcada por um discurso político " incentivador" da formação e qualificação pessoal e profissional.
Neste momento, existem Enfermeiros recem licenciados a ganharem três euros à hora ou então apenas o subsídio de refeição para poderem trabalhar e obterem experiência. Trabalham como outro colega qualquer, ganham menos do que se tivessem feito apenas o 12º ano e fossem trabalhar para qualquer superficie comercial do Sr. Belmiro Azevedo.
O incentivo à formação não pode ser outra coisa senão hipocrisia, apenas a mão de obra barata é factor de competitividade no nosso País. Infelizmente!
O mais grave é que os nossos jovens começam a aperceber-se disso...
Um beijinho
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