(É, provavelmente, o tema mais falado na blogosfera)
Confesso que não vi em directo, mas o YouTube é um velho companheiro de cartas e contou-me tudo o que se passou (com imagens e som). Pois é, falo-vos da peixeirada entre Manuela Moura Guedes e Marinho Pinto, em directo, no Jornal Nacional da TVI de sexta-feira.
Aparentemente, o que se passou foi o seguinte: Manuela Moura Guedes irritou solenemente Marinho Pinto, que, por seu turno, se exaltou até ao limite e insultou a pivot da TVI de todas as formas e feitios, deixando a senhora da boca larga sem pio.
Sucede que esta história tem muito mais que se lhe diga.
Acreditam mesmo que a irritação de Marinho Pinto foi cem por cento genuína e espontânea? Se já deram para esse peditório, desenganem-se e revejam o vídeo no YouTube. Há uma frase em que o bastonário da Ordem dos Advogados deixa escapar que, na verdade, já ia prontíssimo para este ataque e só estava à espera de ver Manuela Moura Guedes a pôr o pé em ramo verde. Claro está, não foi preciso esperar muito até que a Lady TVI começasse a ser deveras malcriada com Marinho Pinto, que, por seu turno, sacou de um Joker que tinha escondido na manga e, em pleno jogo de Sueca, decidiu cortar o Às de trunfo à senhora das avantajadas beiçolas.
O objectivo de Marinho Pinto era mais do que claro: Descredibilizar ao máximo Manuela Moura Guedes e o Jornal Nacional da TVI (só a edição de sexta-feira). Astuto, o bastonário optou por acertar em cheio num alvo bem definido, ao invés de se pôr a disparatar e insultar toda a classe jornalística, táctica que, de resto, é seguida por muito boa gente (e podem começar por Alberto João Jardim e acabar em José Sócrates). Na verdade, ao atingir Manuela Moura Guedes, Marinho Pinto consegue a simpatia de muitas pessoas, a começar por centenas de jornalistas, que não podem minimamente com a senhora várias vezes citada nestas linhas.
Não vou estar aqui a tecer grandes juízos de valor sobre a forma como Manuela Moura Guedes apresenta o seu telejornal (sim, a edição de sexta-feira do Jornal Nacional é propriedade exclusiva da senhora das mil plásticas e do seu inflado ego). Basicamente, a pivot da TVI recupera uma forma de fazer jornalismo que fez escola com o extinto O Independente, semanário criado em 1988 com o objectivo de ser uma forma de contra-poder, um ponto de ataque ao Governo em funções (neste caso, o de Cavaco Silva). No fundo, O Independente gostava de ser o jornal justiceiro, que desvendava todos os «podres» (ou pseudo-podres) do cavaquismo e incomodava quem tivesse que incomodar… desde que fosse do PSD e/ou do Governo.
Ora, Manuela Moura Guedes sempre se reviu nesta forma de jornalismo protagonizada por Paulo Portas, que, curiosamente, é líder do mesmo partido que elegeu como deputada (independente) a célebre pivot da TVI. O problema é que, reconhecidamente, Manuela Moura Guedes não tem metade da classe e do astuto brilhantismo de Paulo Portas (e de muitos dos que fizeram O Independente, a começar pelo estranho Miguel Esteves Cardoso), optando antes por um registo popularucho e exageradamente centrado na sua própria pessoa, que assim acaba por ser a grande «estrela» do noticiário de sexta-feira da TVI.
O estilo da célebre pivot da TVI (não sei se reparam, mas eu nunca lhe chamo jornalista) é tudo menos cinzento e aproxima-se, em grande medida, a um programa de entretenimento. É um estilo de apresentar como outro qualquer, mas que deixa demasiado espaço de manobra a quem quiser criticar a senhora que é casada com o director da estação de Queluz de Baixo. Até aquele sorriso idiota e repuxado (fruto de centenas e centenas de cirurgias plásticas substancialmente mal sucedidas) é capaz de estremecer violentamente o sistema nervoso do mais empedernido santo.
Mas, quem não gosta de ver Manuela Moura Guedes a apresentar um espaço noticioso, tem sempre um bom remédio: Mudar de canal. Eu, pessoalmente, não gosto da senhora em questão e nem tão pouco a reconheço como jornalista (não basta que a Comissão da Carteira de Jornalista o faça, meus amigos), mas isso é problema meu.
Marinho Pinto aceitou estar em directo no Jornal Nacional da TVI já com o objectivo de ferir a senhora em questão. E fê-lo de uma maneira, que, curiosamente, tem enormes semelhanças com o estilo… de Manuela Moura Guedes. Tal como a célebre pivot, Marinho Pinto não deixou a sua interlocutora falar, foi rude, teceu juízos de valor como bem entendeu e, qual juiz popular, ditou a sua sentença: a esposa de José Eduardo Moniz é uma vergonha para a TVI, para a classe jornalística e para o país. Marinho Pinto sabia que muita gente pensava justamente o mesmo e aproveitou-se disso para o dizer em voz alta, cara-a-cara com a senhora, em directo e em prime-time.
Perto disto, a discussão em directo entre Manuela Moura Guedes e Miguel Sousa Tavares foi apenas um foguete ao lado de uma bomba atómica.
Curiosamente, um dos momentos que despontou a ira estudada de Marinho Pinto foi o momento em que o bastonário foi acusado de fazer fretes políticos a José Sócrates. Ora, intencionalmente ou não, o líder da Ordem dos Advogados fez um gigantesco frete ao primeiro-ministro e secretário-geral do PS, ao descredibilizar e humilhar publicamente um espaço televisivo que, por norma, se dedicava (e dedica) a perseguir José Sócrates e/ou o PS.
Com a peixeirada de sexta-feira, Marinho Pinto pode ter conquistado a admiração de muitos, mas também ganhou a repulsa de várias pessoas, que agora se sentem tentadas a apoiar Manuela Moura Guedes. Seja como for, fazer inimigos não é uma novidade para Marinho Pinto, que, recorde-se, é contestado até dentro da Ordem dos Advogados (e, se calhar, mais ainda fora dela).
Mas, seja de quem for a razão, uma coisa é certa: Foi um momento muito, muito, muito triste para todo um País.
No momento em que escrevo estas linhas, não sei se a pivot vai continuar a apresentar o seu telejornal, mas é provável que a senhora ainda não seja carta fora do baralho. Afinal de contas, a estação de José Eduardo Moniz até pode ter alguma coisa a ganhar com isto, já que toda a gente vai sintonizar a TVI à hora do Jornal Nacional de sexta-feira, para ver se há mais peixeirada ou não.
Resta saber se alguma figura pública vai querer pôr os pés naquele estúdio de Queluz de Baixo quando lá estiver a pivot da boca grande…
domingo, 24 de maio de 2009
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1 comentário:
Dr.Mento
Concordo com a análise mas infelizmente MMG não é caso único de mau jornalismo ao serviço das tendências.
De forma mais soft Fátima Campos Ferreira na RTP1, no programa prós e prós, só dá voz e defende o que for benéfico ao PS.
E pior que a TVI aqui é o dinheiro do contribuinte que paga o embuste.
Abraço
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