segunda-feira, 24 de agosto de 2009

PENSAMENTOS DO BURRO EM PÉ (20): Os melhores

“Para muitos, o primeiro passo para se ser o melhor será rebaixar os seus pares através da crítica injusta.”

Dr. Mento

domingo, 23 de agosto de 2009

PENSAMENTOS DO BURRO EM PÉ (19): Crianças

“Conheço milhares de crianças bem-comportadas, disciplinadas, obedientes, quietas e incapazes de fazer uma única birra: são os filhos que hão de ter aqueles que nunca foram pais”.

Dr. Mento

sábado, 22 de agosto de 2009

PENSAMENTOS DO BURRO EM PÉ (18): A passagem do tempo

“Sentirás que o tempo passou quando, ao chegares a uma cidade amada, realizares a maior parte das tuas visitas a entes queridos num só local: o cemitério.”

Dr. Mento

CARTAS DO QUINTO NAIPE (6): O comboio que passa nas Pontes de Marchil (Crónicas de Ossonoba - Parte III)

Há precisamente seis anos que não viajo entre Lisboa e Faro de comboio, rendido que estou aos encantos da A2 e das paragens para um café e um cigarro em Grândola. Hoje sinto que, ao deixar de utilizar o comboio, cortei de vez um dos laços que mais me ligava à infância, época em que os meus avós maternos se deslocavam, de propósito, a Lisboa para irem buscar o seu adorado neto para mais umas merecidas férias naquela casa cujo jardim, enorme, tinha ao meio um delicioso lago com peixinhos vermelhos.

Hoje, sei que o tempo se mede em fracções de segundo e que as velhas locomotivas Diesel teriam, mais cedo ou mais tarde, de dar lugar aos majestosos Alfa Pendular, sucessores directos do Intercidades, que, por seu turno, tomou o lugar do Sotavento, que começava a sua marcha na imunda estação do Barreiro A.

Sei que o progresso é como uma bola de neve a deslizar pela encosta de uma montanha íngreme. Sei que, em 2009, nenhum comboio se chama Sotavento, esse nome tosco e regional, numa época em que qualquer denominação deve exprimir noções de conforto, urbanidade e velocidade.

Mas sinto falta.

Sinto falta do som das locomotivas Diesel que passavam nas Pontes de Marchil, apitando à chegada aos limites da cidade de Faro. Sinto falta de ouvir, ao longe, esse estranho ruído que anunciava o final de mais uma viagem. Sinto falta. Sinto falta dessas viagens de comboio de outros anos, que demoravam toda uma tarde e nos deixavam sequiosos de um bom banho e uma saborosa refeição. Sinto falta das automotoras Diesel, dos seus ruídos possantes e incómodos, do bizarro rastro de fumo que deixavam à sua passagem.

Sinto falta. Sinto falta desta infância. E sinto, sobretudo, falta do companheiro de tantas e tantas viagens: o meu avô. Ele nunca deveria ter partido. Ainda tínhamos muitas viagens para fazer.



Nota: Actualmente, o limite da cidade de Faro situa-se nas Pontes de Marchil, justamente onde hoje se ergue o hotel Íbis. Mas, no tempo de muitas das minhas viagens a Ossonoba, a cidade começava no sítio onde hoje se ergue o estabelecimento prisional da cidade, no local onde ainda me lembro de se realizarem provas de bicross.

CARTAS DO QUINTO NAIPE (5): O telefone de rodinha (Crónicas de Ossonoba - Parte II)

Como se aperceberam pela leitura do post anterior, a habitação que me deu abrigo em Faro pertence a essa honrosa estirpe de casas antiquadas, paradas no tempo, condenadas à extinção. Se vos disser que a dita moradia não é regularmente habitada desde 1990, facilmente perceberão o porquê de tantos e tantos anacronismos perdidos naqueles 75 metros quadrados.

Mas, entre todos os anacronismos, há um em particular que me merece um post isolado. Refiro-me ao delicioso telefone de rodinha, daqueles que remonta aos tempos dos TLP e da época em que os números de telefone farenses tinham apenas cinco algarismos (mais o indicativo 089, para quem ligava de fora da região). Conheço casas onde ainda os há e esta é uma delas.

O som da campainha, metálico, argentino, repleto de nostalgia. É um som forte, alto, potente e inconfundível. É o som de um objecto que se dizia importante e que, nos primórdios da década de 90, ainda não se encontrava em todos os lares portugueses. Hoje, há telefones em todos os bolsos.

A rodinha. De plástico, com o número escrito num papel ao centro. Torna-se desconfortável quando temos de telefonar para várias pessoas numa mesma tarde (por exemplo, na véspera de Natal). Sempre que marcamos um algarismo, brinda-nos com o seu repetitivo “trec-trec”, som que nos relembra de quão importante foi, um dia, o acto de telefonar. Hoje, na banalidade, telefonamos apenas porque sim, sem som.

O “ting”. Som argentino, potente, que ecoa pelo corredor. Diz-nos que terminou, que findou. Mais uma conversa que termina, mais uma chamada que se apaga.

Há muito, muito, muito tempo, os telefones ainda não cabiam no bolso. Eram fixos, estáticos, criteriosamente posicionados num local da casa onde todos tivéssemos acesso fácil e rápido. Não ligávamos para x, ligávamos para casa de x e perguntávamos por ele/ela. Falávamos apenas e só escrevíamos em papel.

O telefone de rodinha lembra-nos a nós, mortais, quão importante já foi o acto de comunicar. Hoje, banalizou-se, ao ponto de me apetecer falar do assunto e, num ápice, o comunicar a todos vós. Sem ruído, de preferência.

ROYAL STRAIGHT FLUSH (5): Afinal, há vida sem Internet (Crónicas de Ossonoba - Parte I)

Nos dias que correm, dependemos da Internet como dependemos do oxigénio para respirar. Ou talvez não.

A minha recente estadia em Faro (que começo a relatar justamente neste post) fez-me pensar seriamente na artificialidade dessa dependência em relação a certos artefactos tecnológicos que, assim pensamos, se tornaram essenciais no nosso dia-a-dia. À partida para a capital algarvia, quis certificar-me que a tecnologia ficava quase toda para trás, com excepção do telemóvel e do mp3 de um dos ocupantes da casa que iria dar-me abrigo por uma semana. Tudo o mais seria excluído das nossas vidas por uma semana, como se os habitantes daquela moradia pretendessem realizar uma viagem no tempo até a meados da década de 80… ou mesmo antes disso.

Na casa onde fiquei, não existia microondas, pelo que os apreciadores de leite quente (nos quais não me incluo) viram-se obrigados a aquecer o saudável líquido num púcaro de metal. Veio mal algum ao Mundo? Não. Na mesma casa, a televisão tinha somente quatro canais e apresentava-se desprovida de telecomando (sim, é verdade), qual anacronismo esquecido na segunda divisão a contar da porta. Um problema na antena ditou que nem mesmo a esses míseros quatro canais tivéssemos acesso, pelo que muitas noites foram gastas a tagarelar numa deliciosa varanda com vista para um jardim onde o melhor da flora algarvia nos era dado a contemplar. De súbito, tornámo-nos actores dos nossos serões, ao invés de meros espectadores passivos e de ar bovino.

Na pequena moradia algarvia (sim, daqueles com terraço e chaminé típica) havia um aspirador, que útil teria sido para aspirar aquele corredor com onde metros de comprimento. Só que o dito electrodoméstico fez questão de não cooperar, de modo a que pudéssemos redescobrir o som das vassouras a passar pela velha alcatifa beije (sim, ainda há casas com alcatifa).

Ar condicionado? Só no carro. Ventoinha? Não vimos tal coisa. DVD? Nem pensar. Música? Também só há no carro (ou no mp3, enquanto este não perdeu o pio). Máquina de café? Nescafé também é bom. Tostadeira? Sandes sim, tosta mista não, que faz calor.

Porém, o computador foi o elemento mais ferozmente amputado desta semana. Antes de partir, ainda cogitei se deveria ou não guardar o portátil na bagageira, mas, no final, acabei por ceder. Nada de jogos, nada de Internet, nada de nada. O velho livro em papel ainda é, quer queiram, quer não, uma boa maneira de chamar longas horas de sono. E foi assim que, ao lado da almofada, depositei “A Rainha sem nome”, de Maria Gudín, com as suas viagens pela Península Ibérica das invasões visigóticas e suevas. O bom e velho Monopoly também matou muitas horas nocturnas, tornando desnecessário o Hotel (jogo que adoro), o qual acabou por nem sequer sair da caixa.

Senti falta das notícias ao minuto, dos blogues, dos sites que visito regularmente, daquelas doses cavalares de cultura inútil que pesquiso pela noite fora. Senti, confesso. Mas também me senti mais limpo, mais humano, menos electrónico. Senti mais a cidade, a praia, os bares, as caipi black, as pessoas, os cafés, as ruas, as árvores, as flores, o sol, a lua, o mar. Senti-me mais eu. Senti-me mais gente, menos Dr. Mento. Senti.

Afinal, há vida sem Internet. E é uma vida boa, como era a minha vida antes de ter Internet em casa, nos tempos idos das ligações a 56k.

O EDITOR VAI A JOGO (14): Pensamentos de Ossonoba

Após uns dias para reorganizar a minha vida (é incrível como, depois de uma semana de férias, possa haver tanta coisa para fazer e tantos detalhes para tratar), estou de volta com uma série de posts referentes à minha estadia em Faro. Para qualquer pessoa, poderia ser uma viagem perfeitamente corriqueira, não fosse o detalhe de a capital algarvia ser uma cidade com a qual mantenho ainda grandes laços afectivos.

Fiquem, pois, atentos às crónicas de Ossonoba.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

A Manilha vai seca (75): Mensagens do subconsciente?

A 10 de Agosto, num dos últimos posts que publiquei antes da minha agradabilíssima estadia na capital algarvia, falava eu das diferenças e semelhanças existentes entre PS e PSD, quando, de súbito, escrevi: “Mas, em rigor, são tão iguais como um Citroën C1 e um Peugeot 107.”

Na altura, nem me dei conta do que estava a escrever, mas, inadvertidamente, ocultei uma verdade bastante curiosa. O Peugeot 107 e o Citroën C1, tal como o Toyota Aygo, resultam de um projecto conjunto entre o Grupo PSA e o maior construtor japonês para a criação de um citadino, com três metros e meio de comprimento, o qual pretendia ser bom e barato - de comprar e de produzir. 95 por cento dos componentes destes três modelos são exactamente iguais, com as diferenças a residirem na estética das secções dianteira e traseira, nos preços, níveis de equipamento e políticas de venda/assistência de cada uma das marcas.

Sucede que já tive a oportunidade de alugar um destes trigémeos e andei com a citada viatura durante uma semana. E posso afiançar-vos que detestei o raio do carro, apesar de lhe gabar o comportamento são e o bom aproveitamento do espaço no habitáculo. Mas o motor 1.0 é um nojo (lento, lento, lento, lento e sem vida) e a qualidade de construção é tão lamentável que, num carro novo, até chovia lá dentro. Sem querer estar aqui a desprestigiar a Peugeot, a Citroën ou a Toyota, basicamente, considero que este projecto é um equívoco lamentável e que o carro é uma merda.

Sucede que, sem querer, comparei um carro, que considero ser uma merda, aos dois partidos do Bloco Central. Será uma mensagem oriunda dos confins do meu subconsciente?

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

O EDITOR VAI A JOGO (13): O regresso da cidade onde jaz Ramalho Ortigão

Após uma semana a banhos na capital algarvia, eis-me de regresso a casa, ao ONZE DE ESPADAS, à Internet (estive numa cursa de desintoxicação tecnológica, onde nem uma simples televisão de quatro canais cabia), à civilização e ao Mundo das coisas que vão acontecendo.

Nas próximas horas, vou tentar ligar-me às coisas que aconteceram nesta semana e prometo que, em breve, voltarei a postar.

Até já (tipo TMN).

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

O EDITOR VAI A JOGO (12): Este estabelecimento encontra-se encerrado para férias do pessoal

O ONZE DE ESPADAS informa os seus estimados leitores e seguidores que, nos próximos dias, o ilustre e mui sábio Dr. Mento vai a banhos na solarenga cidade dos seus nobres antepassados. Lá, emerso entre o aroma da alfarrobeira e o forte odor dos mares do Sul, os privilégios da Internet são única e simplesmente um velho resquício de um mundo que o nosso insano cronista deseja esquecer por momentos.

Sem mais a acrescentar,

Eternamente grato pela vossa preferência,


Dr. Mento

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

ESPADAS QUE PICAM (20): Não há Real Massamá (infelizmente, têm alguma razão os que criticam a épica falta de cultura geral que graça no jornalismo)

Longe vão os tempos em que os jornalistas (classe à qual pertenci até há escassos meses) eram vistos como gente culta e de saber, que sabiam um pouco de tudo e mais alguma coisa. Eram gente que, dizia-se, sabia muito de política, História, Geografia, Filosofia, Economia, desporto… e do que mais houvesse para saber.

Nos últimos anos, generalizou-se a ideia contrária, a de que os jornalistas, esses pseudo-fabricantes de notícias, são pessoas pouco trabalhadoras, de parcos escrúpulos, com formações académicas inadequadas, soberbamente remunerados e que não possuem os mais elementares rudimentos de cultura geral.

É certo que, para quem conhece o meio, a verdade está algures… no meio. Sim, há jornalistas que são autênticas enciclopédias ambulantes, que discorrem, em bela e sucinta prosa, sobre qualquer assunto. Há-os bem remunerados, mas, infelizmente, são uma elite (também há os que trabalham de graça ou perto disso). Há-os com e sem coluna vertebral, com e sem escrúpulos, com e sem habilidade para o ofício. Há trabalhadores e oportunistas, bons e maus, excelentes e péssimos.

Mas, por experiência própria, sei bem que se deixa entrar nas redacções gente sem qualquer vestígio de cultura geral (por vezes, com licenciaturas) e sem grande vontade de aprender mais e mais. E, quanto mais se organiza purgas nas redacções, mais se corre com os razoavelmente bem remunerados jornalistas «à antiga» (os tais que amavam a sua profissão e absorviam informações e novos dados como quem bebe água); no lugar destes últimos, temos, em muitos casos, uma geração de recém-licenciados de parca cultura e parca vontade de aprender, muitas vezes domados pelo um sonho de fama e reconhecimento social (especialmente, entre os amigos e conhecidos do café da esquina). Há recém-licenciados de grande qualidade, sei-o bem, mas há demasiados que não merecem qualquer título académico e que não deveriam estar, de forma alguma, numa redacção.

Toda a ânsia de lucro e de extermínio dos jornalistas «à antiga» tem levado a uma quebra de qualidade nos nossos meios de comunicação social, sendo tal perceptível, sobretudo, nos mais pequenos detalhes. Os textos deixam de ser bem revistos, opta-se mais pela Lusa, investiga-se e pesquisa-se menos. Fui apanhado nesta onda de "para quem é, bacalhau basta" e, ao cabo de meses de sofrimento (gosto de fazer as coisas bem feitas), bati com a porta e abandonei o velho mister.

Um bom exemplo de como a qualidade da informação tem vindo a decair pude encontrá-lo há escassos momentos na SIC-Notícias, numa peça onde se dava conta do estágio da Selecção A em Massamá.

Passo a esclarecer: o clube normalmente conhecido como Real Massamá chama-se, na verdade, Real Sport Clube, resultando da fusão do Grupo Desportivo de Queluz e do Clube Desportivo e Recreativo de Massamá. Os adeptos ODEIAM que se refiram ao clube como sendo de Massamá, já que as suas instalações estão divididas pelas três freguesias que compõem a cidade de Queluz: Queluz, Massamá e Monte Abraão. É precisamente em Monte Abraão (freguesia que corresponde à zona de Queluz Ocidental) que está o estádio do Real Sport Clube, onde a Selecção está em estágio. Se fosse só a SIC-Notícias a cometer essa gralha, o Mundo não parava, mas há mais gente que o faz com a mesma pseudo-seriedade com que se chama Nacional da Madeira ao Clube Desportivo Nacional.

Tudo bem, estamos a falar de preciosismos geográficos, mas, em tempos idos, isso seria importante no jornalismo, essa nobre arte de informar com precisão, rigor e isenção. Hoje, diz-se uma merda qualquer e trata-se o telespectador/leitor/ ouvinte como merda. Mas merda, merda é dizer Real Massamá - é tão mau como dizer a um lisboeta que ele nasceu na Amadora ou em Loures (sem desrespeito por estes dois concelhos).


Nota: Que me perdoem os bons e cultos jornalistas que ainda sobrevivem fazendo um trabalho de qualidade, com rigor, aprumo e, sobretudo, boa vontade. Este post não é, de forma alguma, uma crítica generalizada e exclui os profissionais de qualidade ou os que têm vontade de sê-lo. É apenas um desabafo em relação a uma realidade com a qual os bons jornalistas sabem que têm de lidar diariamente, com as consequências que acima apontei.

A MANILHA VAI SECA (74): Todos querem o PS, mas ninguém quer o PS (nem o PSD e tão pouco o PRD)

A História política portuguesa do pós-25 de Abril fica indelevelmente marcada por uma «paixão» do eleitorado por partidos moderados, daqueles que se dizem de centro, mas que, na realidade, não são carne, nem peixe. Depois de 48 anos de regimes autoritários (a Ditadura Militar e o Estado Novo), os portugueses parecem mais inclinados a não ceder a novos totalitarismos, mesmo que estes se digam de esquerda, optando antes por colocar a cruzinha no centrão, onde coabitam dois partidos que, sem serem conservadores, fascistas ou apologistas dos privilégios dos mais ricos e poderosos, também não andam por aquela esquerda radical, para a qual todos são povo e os ricos que morram à pedrada.

De certa forma, o partido ideal seria, em termos teóricos, o PS. Sem ceder a radicalismos marxistas, leninistas, estalinistas ou maoistas, este seria o partido da justiça social, do equilíbrio entre classes, da protecção dos mais desfavorecidos sem prejuízo da iniciativa privada. É, em termos puramente teóricos, o partido da democracia, da liberdade, da justiça social, da equidade de oportunidades, da defesa dos direitos humanos.

(Por favor, não se riam. Estou a falar em termos puramente teóricos).

Depois, como alternativa, há o PSD, social-democrata. É um partido muito semelhante ao PS, mas que, por ser taxado como sendo de direita, espanta sempre muitos eleitores que nele vêem resquícios de Salazar e seus comparsas. Mas, por outro lado, ao não ter contaminações marxistas (teoricamente - o PSD quis pertencer à II Internacional, mas Mário Soares e o PS vetaram a entrada do partido de Francisco Sá Carneiro), agrada mais às gentes da cruz, com muito bom sacerdote a recomendar às suas ovelhas que coloquem uma cruz naquele partido com a seta virada para o céu (ou, quem sabe, no partido com as setas viradas para Deus).

No fundo, PS e PSD são uma e a mesma coisa, com a diferença de o primeiro captar os que não podem ouvir falar de direita e o segundo os que fogem a sete pés do comunismo. Mas, em rigor, são tão iguais como um Citroën C1 e um Peugeot 107.

O problema é que PS e PSD nunca cumpriram, na íntegra, aquilo que deles se esperava. Em ambos os partidos, há inúmeros casos de tráfico de favores e influências, cedências aos interesses económicos, atitudes ditatoriais (estilo Secos e Molhados), atentados à liberdade de imprensa, de expressão e de opinião, entraves à iniciativa privada… e por aí adiante.

Estas lacunas do PS e do PSD não são de hoje e tal explica porque é que, entre 1985 e 1991, a vida política portuguesa ficou igualmente marcada pela presença de um PRD, nascido sob a égide de Ramalho Eanes. Basicamente, o PRD (Partido Renovador Democrático ou, segundo alguns, Partido Realmente Doido) era mais uma força política de centro, mas com a vantagem teórica de estar purgada do tráfico de interesses e lutas internas que encontrávamos em socialistas e sociais-democratas. Mas a coisa não correu bem e, com uns quantos tiros no pé, o PRD acabou sem representação parlamentar nas Legislativas de 1991 (altura em que até o Partido da Solidariedade Nacional, também conhecido como Partido dos Reformados, conseguiu eleger um deputado). Nos anos que se seguiram, o PRD entrou num acelerado declínio, que terminou com a sua inscrição e sedes nas mãos do Partido Renovador Nacional, o qual nada tem a ver com a força política criada por Ramalho Eanes (que muito desgostoso deve estar ao ver o seu antigo partido transfigurado em coutada de extrema-direita nacionalista).

Desde 1999, existe igualmente uma espécie de alternativa, chamada Bloco de Esquerda. Porém, não estamos a falar de um partido moderado, mas sim de uma força política de cariz radical devidamente adaptada aos tempos que correm. Em certa medida, o BE é, ao mesmo tempo, uma tentativa de actualização daquilo em que se tornaram o PS e o PCP, embora, ideologicamente, esteja muito mais próximo deste último. Ou seja, o Bloco é uma alternativa como voto de protesto dos descontentes (do PS, do PCP e, em muitos casos, até do PSD), mas não parece ser ainda a verdadeira alternativa de governação que muitos portugueses procuram e que, se tivesse tido juízo, o PRD poderia ter sido. O BE lá tem as suas virtudes (e defeitos, claro), mas desconfio que só seria poder se o país mergulhasse num casos absoluto e total que pedisse o surgimento de algo completamente diferente, sem ser o PCP ou o CDS-PP (que já esteve ligado a Governos do PS e PSD e, como tal, enferma de alguns dos males destes).

Vai daí e, nas próximas duas eleições, podemos até ter mais um partido de alternativa à moda do centro. Chama-se PTP (Partido Trabalhista Português e nada tem a ver com o Partido Trabalhista Democrático Português, de 1974), é liderado pelo advogado Amândio Madaleno e, de rajada, remete-me logo para o New Labour inglês (ou, se quiserem, para um New PS). Ainda por cima, o raio do partido diz-se de centro esquerda e preocupado com as necessidades sociais do país (há coisa mais vaga do que isto?), mas o seu presidente foi eleito pelas listas do PSD para a Assembleia Municipal do Fundão.

Bem, não sei se este PTP é o novo PS, o novo PSD ou o novo PRD. Porém, se quiserem ser alguma coisa, convinha apresentarem um site com um programa eleitoral em condições. É que, sinceramente, já procurei por ele na Internet e ainda não o encontrei. Alguém sabe onde está?

A MANILHA VAI SECA (73): Como se compra o silêncio de um homem e como esse mesmo homem, um prostituto, aceita vender o seu silêncio

Quem acompanha o ONZE DE ESPADAS sabe que considero a liderança de Luís Filipe Menezes como um dos maiores equívocos do PSD. Pródigo em dizer e desdizer-se, o edil de Vila Nova de Gaia é o exemplo acabado de como um incapaz (não obstante as suas virtudes como autarca) pode chegar à liderança de um partido político na actualidade, deixando-me a pensar se, nas próximas directas, não valeria a pena recolher assinaturas para fazer candidatar um dos meus cães à presidência do PSD (e, garanto-vos, os meus canídeos têm uma inteligência largamente superior à de muitas gentes que pululam pelos partidos cá do burgo).

Menezes bateu com a porta achando que, mesmo deixando a liderança do PSD, continuaria a ter uma significativa influência nos destinos do partido. Contudo, a coisa saiu-lhe mal e, com Manuela Ferreira Leite, o edil de Gaia foi totalmente subalternizado, voltando a ser apenas e tão só um dos muitos autarcas do PSD. Por isso, numa atitude de puro despeito, Menezes decidiu quebrar o silêncio a que se obrigara publicamente e passou a atacar forte e feio a sua sucessora. Durante largos meses, ouvimos Menezes, que prometera não falar da liderança que lhe sucedesse, a zurzir na liderança que lhe sucedeu, tentando dar voz ao provérbio: “Atrás de mim virá quem bom de mim fará”.

Só que Manuela Ferreira Leite não é tão burra como parece e, num ápice, decidiu cortar as vazas a Menezes. Por um lado, enquanto presidente do partido, cabe a Ferreira Leite a última palavra sobre as candidaturas autárquicas (que começam por ser aprovadas ao nível das concelhias, passando, em seguida, a ser votadas nas distritais, antes de irem ao Concelho Político Nacional) e a Dama de Espadas não colocou quaisquer entraves à continuidade de Menezes. Mas, mais do que isso, colocou o filho do edil de Gaia num lugar elegível pelo círculo eleitoral do Porto, calando de vez a voz do pai.

Menezes quis esboçar uma espécie de voz crítica dentro do PSD, mas não demorou muito a ser comprado. É um pobre Dois de Paus, que qualquer carta de trunfo corta facilmente.

Porém, e se é verdade que esta jogada de Ferreira Leite foi boa do ponto de vista da estratégia política interna, também não é menos verdade que deu mais uma machadada na parca credibilidade das gentes do Bloco Central. Qualquer observador independente pode falar em suborno (de Ferreira Leite) e em prostituição não-sexual (de Menezes). Quem beneficia com tudo isto é, curiosamente, um homem que não se vai candidatar a coisa alguma, mas que, ao não aceitar integrar as listas do seu partido por discordar de pontos-chave da actual legislatura (a começar pela revisão do Código do Trabalho), mostrou que, pelo menos, tem algumas vértebras na coluna: Manuel Alegre.

Numa altura em que os portugueses sentem, cada vez mais, estarem mergulhados num terrível pântano, estas não são boas notícias para a classe política, que, mais cedo ou mais tarde, pagará bem caras estas vazas cortadas. Escrevam o que vos digo: mais ano, menos ano, muita coisa mudará cá no burgo.

domingo, 9 de agosto de 2009

ESPADAS QUE PICAM (19): Três sinais, mais três passos a caminho do abismo da lusa insanidade colectiva

Em 1925, durante o julgamento dos responsáveis pela tentativa de golpe militar de 18 de Maio (o qual fora liderado por Sinel de Cordes), o promotor da Justiça António Óscar Fragoso Carmona profere uma frase que ficaria para a História: “A Pátria está doente... quando lá fora andam liberdade os causadores dos males da Pátria, eu vejo aqui oficiais deste valor no banco dos réus”. Os responsáveis pelo golpe acabaram por ser absolvidos num prenúncio de que a I República, bizarro período da História portuguesa, caminhava a largos passos para o seu fim. Na verdade, um ano e alguns dias após o golpe, uma novo levantamento militar, novamente com o dedo de Sinel de Cordes, põe termo à primeira experiência republicana portuguesa, a qual se traduziu em 16 anos de incrível instabilidade política, num desenrolar de episódios que só um Deus louco poderia conceber ou imaginar.

Hoje, olho para Portugal e, uma vez mais, vejo sinais de loucura, de fim de regime, de término de era. Não vejo um promotor da Justiça a absolver responsáveis por uma tentativa de revolução e tão pouco adivinho um poder militar/policial doentiamente obcecado por fazer cair Governos, mas vejo uma pátria doente, quiçá com maleitas ainda piores do que as que apontava Carmona em 1925. Sim, porque, neste momento, não vejo apenas uma classe política fétida e nojenta, entretida em batalhas campais enquanto o povo mergulha na mais profunda miséria. Vejo-os, loucos, em toda a parte.

E passo a citar três exemplos de uma pátria doente.

Numa viela do Bairro Alto, em Lisboa, por causa de um cigarro, uma discussão acaba com um jovem de 19 anos esfaqueado mortalmente. Numa pátria doente e sem valores, por dá-cá-aquela-palha, tira-se a vida a um rapaz que nem duas décadas de existência tinha.

Mais a Norte, no Porto, a eleição para o secretariado do PS da Sé do Porto, na sede da secção, terminou ao murro, à cadeirada e com ameaças de morte. O próprio presidente da Junta de Freguesia esteve entre os alegados agressores ao líder de uma lista contrária, numa clara demonstração de que a democracia, mui bela palavra, existe apenas e cada vez mais num velho documento chamado Constituição. Fora do texto que rege a Nação, reina a força dos punhos.

Já no Seixal, um funcionário da Câmara, ao saber que o edil Alfredo Monteiro havia assinado o despacho da sua exoneração, agarrou num camião do lixo, descarregou-o, dirigiu-se à moradia do presidente da Câmara, sita nos Foros de Amora e, após bater em vários carros, fez questão de atirar o veículo contra o muro da vivenda; em seguida, fez marcha-atrás, arrancou, despistou-se, capotou. Felizmente, ninguém saiu ferido, a não ser a sanidade mental de um indivíduo… e, porventura, de todo um povo, que aceita que se mate por um cigarro, que se decidam eleições ao murro e à cadeirada ou que se atirem camiões contra vivendas.

Se quisesse, poderia continuar a citar exemplos, mas, sinceramente, não me apetece mais. Vivo num país que me agonia e que se agonia a cada instante que passa.

A pátria está doente. Carmona tinha e tem razão. Mas que não me tragam como cura a peçonha que nos serviram entre 1926 e 1974.

sábado, 8 de agosto de 2009

CARTAS SEM NAIPE (3): Os humoristas não deviam morrer

Se há coisa que me custa realmente é ouvir anunciar a morte de um humorista.

É como se, de súbito, milhões de sorrisos se calassem.

O riso, esse dom tão humano e tão genial, representa um vislumbre do que pode ser a felicidade, ainda que de forma efémera.

Os humoristas dão-nos essa felicidade, esse prazer pelo qual vale a pena viver, apesar de tudo.

Não está certo.

Os humoristas jamais deviam morrer, posto que associar uma pessoa que nos faz rir ao verter de lágrimas de tristeza é algo que não pode, de forma alguma, fazer sentido.

Não, num Mundo justo, os humoristas viveriam para sempre.

Seriam eternos.

Bem, alguns são eternos.

Raul Solnado é um deles.

Ouvi dizer que ele partiu, mas sei que, no fundo, ele estará cá para sempre.

E está.

A fazer-nos rir.

Obrigado por tudo, Raul.

PENSAMENTOS DO BURRO EM PÉ (17): Existir

“Se existisse um Deus bom e justo, algumas pessoas jamais teriam nascido.”

Dr. Mento

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

CHARLIE E A FÁBRICA DE CARTAS (4): Breve reflexão sobre os dias de indefinição da imprensa tradicional (texto sem fórmulas milagrosas)

Robert Murdoch, o patrão da Media Corp, acredita que os dias das notícias grátis na Internet têm, definitivamente, os dias contados. “O jornalismo de qualidade não é barato. Uma indústria que oferece o seu conteúdo está apenas a canibalizar a capacidade para fazer boa cobertura jornalística”, disse o homem que controla títulos como o The Times, o The Sun, o The New York Post e o Wall Street Journal.

Em parte, Murdoch tem razão, mas a aplicação prática é mais difícil do que se pensa. É verdade que a Internet, aliada aos canais televisivos exclusivamente dedicados à cobertura noticiosa (que, de certa forma, são pagos, já que é necessário ter televisão por cabo para ter acesso a eles), criaram um fluxo de notícias constante e gratuito, o qual contribuiu para a perda de leitores dos jornais em papel. Com menos leitores, os jornais tradicionais vêem-se numa situação de aperto e despedem jornalistas (em Portugal, este fenómeno atinge dimensões escandalosas), sendo que os profissionais que ficam a aguentar o barco têm de fazer a mesma edição com menos meios, o que leva a que se realizem menos trabalhos próprios e se opte mais por ir buscar textos à agência Lusa; como as edições/jornais digitais já disponibilizam os textos da Lusa de graça (apesar de pagarem por eles), as pessoas sentem-se ainda menos inclinadas para pagar por um jornal que, na verdade, oferece as mesmas notícias que se podem ler de graça na Internet. E o fenómeno assume contornos de bola de neve a descer pela rampa abaixo.

Percebo a preocupação de Murdoch, que, acima de tudo, quer fazer com que o jornalismo de qualidade esteja salvaguardado. Faz ele muito bem, porque um jornalismo de qualidade é também sinónimo de liberdade. O problema está a pôr as pessoas a pagar por algo a que tinham acesso gratuitamente. Na indústria discográfica vive um fenómeno idêntico e, até agora, ninguém conseguiu arranjar uma solução para um problema que tem levado a que a presente década (especialmente, na segunda metade da mesma) tenha sido particularmente pobre em termos de lançamentos e do surgimento de novas correntes musicais.

Basicamente, esta ideia da Media Corp terá sucesso se TODOS seguirem o seu exemplo. A partir do momento em que a informação passa a ser paga em todas as fontes, os leitores não têm outra hipótese a não ser abrir os cordões à bolsa. Mas é preciso, neste contexto, ter atenção ao papel da blogosfera, onde há inúmeros jornalistas em acção, que podem utilizar os seus blogues como produtores de conteúdos gratuitos. Se pensarmos que muitos bloguistas trabalham para jornais e têm acesso a fontes e materiais destes (designadamente, o acesso a agências noticiosas pagas), podemos imaginar os blogues como substitutos futuros das edições online. Se olharem para a lista do lado, encontram mesmo alguns exemplos que até se enquadram nestes moldes.

Basicamente, o que deveria ser feito neste caso, seria uma acção de sensibilização dos consumidores, algo que não existiu na indústria discográfica. Se as grandes editoras tivessem sensibilizado as pessoas para a necessidade de estas contribuírem para a manutenção financeira das bandas, muitos artistas não estariam agora a passar um mau bocado, evitando novos lançamentos como o diabo evita a cruz. Todavia, neste momento, torna-se difícil sensibilizar toda uma geração que viu a sua vida facilitada, tendo acesso a músicas e álbuns inteiros sem ter de pagar um tostão e sem ter de se dar ao trabalho de ir a uma loja comprar um CD.

Com os jornais, passa-se algo semelhante. Se as pessoas estiverem consciencializadas para a necessidade de terem de contribuir por uma informação de qualidade (um garante de liberdade nos mais diversos sentidos), pode ser que a imprensa tradicional se salve.

Mas este não é o único caminho a seguir. Outra alternativa passa pela transformação dos jornais pagos em gratuitos, que, mantendo a qualidade, passariam a obter as suas receitas apenas através da publicidade. No caso português, tal será mais simples a partir do momento em que a publicidade institucional deixe de ser obrigatoriamente publicada em jornais pagos - o executivo de José Sócrates deu algumas indicações nesse sentido, falando-se mesmo de um portal estatal para agregar toda essa publicidade. Sem anúncios institucionais, alguns jornais em papel vão ter de se virar para outros caminhos. Porém, este é um processo que não se afigura nada simples, especialmente durante um período de retracção do mercado publicitário, que, por ora, será incapaz de cobrir as receitas perdidas com a eventual disponibilização gratuita dos jornais.

Tudo isto para chegarmos a uma só conclusão: a imprensa tradicional vai sofrer enormes mudanças nos anos vindouros. Há muitos caminhos possíveis e nenhum parece ser um garante de sucesso, o que deixa adivinhar, neste entretanto, a extinção de alguns títulos tradicionais na praça. Mas algo vai ter de mudar e até pode ser que o caminho apontado por Robert Murdoch seja o mais acertado. Se eu soubesse qual a fórmula de sucesso, garanto-vos que já me tinha atrevido a aplicá-la, mas isso esse é um segredo que só os deuses conhecem.

Esperemos para ver.

NÃO JOGAS COM O BARALHO TODO (4): A lista secreta para as Legislativas

Isaltino Morais, José Oliveira e Costa, Manuel Dias Loureiro, Valentim Loureiro, Arlindo de Carvalho, António Preto, Helena Lopes da Costa, António Carmona Rodrigues, Carlos Fontão de Carvalho, Eduarda Napoleão.

Em rigoroso exclusivo, eis a lista do PSD para o círculo eleitoral de… Custoias.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

CARTAS MARCADAS (4): Manuela Ferreira Leite (II)

“Minha querida e mui estimada Manuela:

Espero que esta carta te vá encontrar de boa saúde, em especial depois daquela má disposição que te atacou justo antes de ires ao Chão da Lagoa festejar a democracia madeirense junto dos teus companheiros insulares. Acredito, sinceramente, que tenhas ficado desolada ante a impossibilidade de não mais ires apertar mãos suadas, beijar faces pejadas de verrugas e assistires à queda de dirigíveis abatidos a tiros de caçadeira.

Mas não é sobre o primata que te quero dirigir umas palavras.

Sabes, amiga minha, estive a analisar cautelosamente as tuas escolhas para as listas de deputados. Analisei, analisei e analisei. E não te consigo perceber. Já te estás a arrepender de te teres metido nessa porcaria das directas e da presidência do PSD? Bem vês, na altura, disse-te que não tinhas mais idade para esses carrosséis, mas tu não me deste ouvidos e fizeste como bem te passou pela mona. Agora, arrependes-te amargamente e arranjas maneira de perderes as Eleições Legislativas, não vá o diabo tecê-las e o povão decidir que não quer mais o Sócrates. Queres bater com a porta, mas não queres bater com a porta e assim arranjas uma saída airosa com pezinhos de veludo. Bem pensado, de facto.

Só que, Manuela, há limites para tudo. Que queiras que a porra do PSD se foda de alto a baixo, é uma coisa. Mas não precisavas de enfiar o António Preto e a Helena Lopes da Costa na porcaria das listas, mulher. Isso até te fica mal, rapariga, que eles andam a contas com a Justiça e, se a coisa dá para o torno, ainda acabam como o Isaltino (vá lá, este não escolheste tu). Mais grave do que isso, só meteres o gordo do Pacheco como cabeça-de-lista por Santarém. Pacheco por Pacheco, antes preferia o Jaime, que, apesar de ter menos cabelo, tem mais cabeça do que o badocha.

Percebo que não queiras o Passos Coelho e o Relvas, que se fartaram de pedir a tua cabeça. Mas, sabes, quando perderes as Legislativas, a tua carola vai mesmo rolar pelo chão e eles vão estar lá, prontos a sentar o rabo na cadeira que já foi tua. Sei que te estás a cagar para quem vier atrás de ti e até lhes quiseste fazer a cama bem feita, deixando o Parlamento cheio de bonecada que não pode com o Passos Coelho nem pintado de ouro. Mas… o Pacheco, mulher? O que é que ele vai fazer para São Bento? Até já o imagino no púlpito: “Senhor primeiro-ministro, o senhor primeiro-ministro sabe que está a ser situacionista, carreirista, oportunista e jornalista, senhor primeiro-ministro. Se ler com atenção o Abrupto, senhor primeiro-ministro, o senhor primeiro-ministro vai ver que aquilo que está a dizer aos portugueses é mentira, senhor primeiro-ministro.”

E a Maria José Nogueira Pinto? Porra, mulher, o PS descabela-se todo para ver se para a Joana, mas essa, sabes, é tal e qual como o milho. Já a Zezinha, sem lhe faltar ao respeito, está um bocadinho ao estilo iogurte fora do prazo. Quem não deve ter gostado nada da brincadeira é o Portas (o Paulo, digo), mas como não vais ter que fazer coligações depois das Legislativas, porque não vais ganhar eleições nenhumas, até percebo que o queiras ver fodido e bem fodido. Ele merece.

Bem, já que vais mesmo bazar do PSD, bem posso convidar-te para jantar no dia 28 de Setembro, dia em que já não deverás ter grande coisa que fazer. Mas, por favor, não me tragas o Pacheco.

Beijinhos e beijinhos,

Do sempre teu,


Dr. Mento”

NÃO JOGAS COM O BARALHO TODO (3): PSD

Depois de olhar para as listas do PSD, fiquei com uma certeza: Deus não existe. O mesmo já não posso dizer em relação ao Diabo.